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junho 15, 2010

janeiro 25, 2010

Fronteira

Uma fronteira não existe para isolar totalmente o interior do exterior. Se assim fosse, seria pior que uma prisão, seria uma sentença de morte. A fronteira não é uma parede que isola mas uma porta de dois sentidos que preserva. E por ela atravessa, filtrado, o necessário para alimentar ou limpar o que lá está dentro.

julho 13, 2009

Agência

Entre a norma e a descrição, entre o desejo e o facto, entre o que devia ser e o que é, uma luta incessante entre nós, os outros e a realidade. Sempre fácil a separação binária, dois lados a fazerem-se opostos: a autoridade e a autonomia, a cooperação e o egoísmo, a igualdade e a liberdade, esquerda e direita. Olhamo-nos como pontos numa linha recta, projectando e comprimindo, com excessiva simplicidade, as matizes que em cada um nos destingue. Mas como evitar as fronteiras? Mesmo que multipliquemos essa linha sobre novos planos ortogonais, mesmo que o número de dimensões seja suficiente para satisfazer a nossa sede de complexidade, mesmo considerando o nevoeiro que sempre a esbate, ainda que por nós seja traçada, como evitar a classificação que se impõe, quando o tempo acaba e é necessário escolher um lado, responsabilizar uma acção, decidir?

junho 09, 2009

Partilha

Aquilo que em mim se chama 'eu' é um fluxo que se reflecte no corpo que habita. Como um conquistador, mexo-lhe os braços, pernas, uso-lhe os sentidos, gerindo o melhor possível a sua manutenção pois sei, como qualquer monarca, que nada sou sem o domínio que me sustenta e, socialmente, me define. Chamo a isto tudo 'eu' porque é fácil desenhar a fronteira na pele que nos separa do mundo, e porque assim me ensinaram enquanto criança. Mas porque chamar estranho àquilo que não domino? Porquê este sobrevalorizar do controle? Não seria melhor estender aos outros, ao mundo, esse cuidado que me mantém?

junho 01, 2009

O elo mais fraco

O individual e o social são dois aspectos inseparáveis e antagónicos à pessoa humana. Inseparáveis porque um sem o outro ser-nos-ia insuportável (a anarquia absoluta ou um qualquer 1984 são falhanços extremos de uma cultura). Antagónicas porque são inevitáveis os momentos em que expandir um implica necessariamente restringir o outro (e daí a necessidade da política). A liberdade e a igualdade têm de ser geridas por políticas baseadas numa ética que determina certos aspectos inalienáveis fora do âmbito de qualquer lei escrita ou tradicional (como o direito à vida ou da liberdade de expressão), que estejam cientes das limitações naturais (por exemplo, da fisiologia humana ou das leis científicas, o que eliminaria desde já políticas baseadas no sobrenatural, como a religião), e que utilizem argumentos racionais para decidir qual dos aspectos, em cada nova situação, deve ser privilegiado (se for o caso em que não podem ser ambos satisfeitos). A meu ver, nos casos de fronteira (que os haverá sempre) quando não há argumentos mais fortes de um lado nem do outro, deve-se tomar o lado do mais fraco, i.e., do individuo, não do social.

maio 25, 2009

Sacrifício

Houve sempre quem namorasse a distância entre o sublime e o obsceno. Talvez seja a mesma tensão de, do alto, ao ver-se o abismo convulso aos nossos pés, inspirar fundo, de olhos fechados, e imaginar o vento, a velocidade e a vertigem dessa queda última. Trocar a eternidade por esse instante. Eis a provocação máxima, o acto individual absoluto.

março 13, 2009

Gestão

Para definir e manter um grupo, para assegurar as vantagens de ser-se parte e cobrar a despesa dessa participação, é necessário que a fronteira que o define se destaque e que não seja fácil de cruzar, mudar ou esbater. É preciso que o respectivo regulamento seja tão díficil de actualizar como os comportamentos partilhados pela conquista da comunidade. É preciso que o preço seja alto para o serviço ter valor. É preciso que os preconceitos desfavoreçam a intimidade com o estrangeiro para que só se encontre dentro, com os seus, o que se necessita. Quanto mais coesa for uma comunidade, quanto maior for a confiança cega entre os seus membros, maior será o medo de uma dissolução, do evaporar desse centro ordenado pela caótica mudança da periferia, mais fácil o cultivar de um sentimento xenófobo em relação aos outros. Ao reduzir e simplificar o social, ao limitar o favorecimento aos eleitos, movimentos como nacionalismos, sexismos, fundamentalismos ou racismos nunca serão soluções morais para as questões que pretendem resolver ou minimizar. Prescrever fronteiras para classificar pessoas é, infelizmente, uma velha e lucrativa fórmula de gerir recursos e criar problemas.

fevereiro 16, 2009

Big Bangs

Os momentos únicos são pontos focais no definir de fronteiras. Quando quase tudo é difuso e progressivo, uma mudança brusca, uma alteração de estado atrai-nos o olhar, a atenção, até a capacidade de julgar. Por exemplo, na vida de um indivíduo, muitos dão relevo ao momento da concepção, outros ao parto. Mas poucos discutem o período em que o feto se torna suficiente em termos somáticos ou a criança se torna psicologicamente independente, passos tão importantes, ou mais, na formação dessa pessoa.

maio 09, 2007

Desenho

Qualquer definir de fronteira é arbitrário. Por isso, cada vez que criamos uma é preciso questionar a bondade ou a justeza dessa nova linha desenhada. E desconfiar, principalmente, daqueles que nela se revêem.

janeiro 17, 2006

Conformidade

Quando desviamos as fronteiras do normal e do inaceitável, muitos que viviam nessa difusa região entre ambos (os desvios socialmente tolerados) são obrigados a mudar não tanto o comportamento mas a expressão desse comportamento. Raramente o aumento das máscaras que temos de usar é bom sinal de alguma coisa. E quanto mais se diminui a nação da normalidade - quer por devoção, por ignorância, por culpa - mais se acumula um peso que a todos nos torna mais distantes.

janeiro 05, 2006

Divisória

É na fronteira que reside o fascínio. Não é a consumação mas a sua expectativa, não é a chegada mas o não saber do caminho, não a certeza da vitória mas a mútua hipótese da derrota. O momento exangue após o acto é o anseio que nos avança, tudo o resto, passado, futuro, só regiões que o definem.

novembro 10, 2005

Escolhas

Há uma distância variável entre o querer e o fazer. Neste espaço cabem tanto a bestialidade que a reduz a um quase nada, como as morais nos seus labirintos de desejos retidos. E ao escolher a ética e as leis que emanam desta distância, observamos quem as faça límpidas mesmo que com isso se vejam falhas, e quem as transforme num imaculado padrão lógico de regras por cumprir.

outubro 18, 2005

Divisória

O que me impede de sofrer a tua dor? Onde estão as comportas que a detêm? Qual o custo de as abrir, sabendo nós dos mil outros ao nosso lado? Que arquipélago é este e qual o mar que o limita?

setembro 12, 2005

Chaves

A chave nasce da necessidade de limitar. Ou a liberdade dos outros para proteger a nossa, ou a nossa para proteger a dos outros. Entre a privacidade e o cativeiro residem as restantes, como a porta fechada de quem é só, o encerrar de algo esquecido, o olhar que não se adivinha.

junho 24, 2005

Inevitabilidade

(c) Jeff Arthur
 
O cruzar de uma fronteira encerra sempre uma ameaça de conflito. Mas como e porque evitá-lo?

maio 12, 2005

Separação

As fronteiras não dividem só países, o normal do extraordinário, o legal do ilegítimo, a vida do resto, dividem o eu do outro, os nós do eles, o que sou mas gostaria de ser. E, mesmo que pareçam, não são desenhadas em linhas rectas mas em nevoeiro, em curvas fractais, em filigranas ínfimos geradores de conflito e assombro. Não é fácil saber onde se situam todos os problemas e também por isso há juízes, médicos, filósofos, cientistas para carregarem a decisão que alguém tem de tomar.

abril 08, 2005

Intransmissibilidade

Há dores que são só minhas (nossas). Como impressões digitais, só a mim me cabem, não se passam nem se explicam ao outro que tu és.

março 22, 2005

Atalhos


Uma ponte é caminho entre margens, nada garante ser seguro. Um espelho é reflexo da tua cara, nada assegura que te reconheças. O silêncio é outra forma de palavra, nada te diz que carregue verdade.

março 15, 2005

Diferença

Aprendemos a tolerar os outros, as opiniões dos outros. Não vivemos isolados, somos parte não centro das atenções, partilhamos um caminho negociado todos os dias. Mas disso o que aceitamos? Que diferença entre o que respondemos por educação e o que comungamos? O que nos faz trocar algo já nosso pelo possível de uma promessa?

novembro 29, 2004

Nome e Identidade

A identidade é a expressão do eu que não se reconhece nos outros. O resto é conformidade, pacote pronto a servir pela sociedade que nos deu um nome.