Controlo
Uma religião ou uma ideologia são mecanismos de pacificação mental. Ao dispor de uma estrutura explicativa seja do mundo externo, social ou íntimo, protege o crente de um oceano de questões e decisões. Ao querer impossível a pergunta, ao tornar desnecessário a opção, promete aos seus uma vivência simplificada. Este sistema é protegido quer por mecanismos de censura (o index que proíbe textos e imagens de outras perspectivas) quer por auto-censura (graças à excepcional facilidade que temos em isolar certas crenças de qualquer introspecção crítica). Uma sociedade deste tipo usa livremente os media e as escolas como instrumentos de uniformização bem como a polícia e as próprias pessoas como sistema imunitário à diferença, à opinião e à acção não formatada. O inimigo não se encontra necessariamente fora nem dentro, é imanente em tudo o que se faz e pensa e, assim, tudo o que se faz e pensa é potencialmente gerador de culpa, um crime ou pecado. Para a manutenção desta dinâmica viciada, uma das questões essenciais é manter isolado o mecanismo mental da dúvida. A acção em vez da introspecção, a repetição em vez do original, tudo são processos para fixar automatismos e afogar o único de cada pessoa. Felizmente, não é fácil extrair a dúvida totalmente de uma pessoa sem a reduzir a uma sombra. Mesmo que seja possível construir uma sociedade de sombras ela dificilmente se mantém, o nosso passado genético não é o da colmeia. E quanto mais reprimida uma sociedade for, quanto maior o esforço para mantê-la controlada, mais exposta se torna à dúvida que pretende destruir.