Cristianismo e Arte (II)
Ainda há dias os anjinhos choravam, não por milagre, mas porque a água que escorria do tecto da Igreja de S. José dos Carpinteiros lhes caía em cima.
Dedicado à descoberta e divulgação do património histórico e cultural da Cidade de Lisboa,
o SÉTIMA COLINA é simultaneamente um espaço libertário, de cidadania, aberto à cooperação estratégica com quem partilha a paixão pela Cidade Branca
Ainda há dias os anjinhos choravam, não por milagre, mas porque a água que escorria do tecto da Igreja de S. José dos Carpinteiros lhes caía em cima.
Publicado por ABA @ 22:51
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Técnicos da Direcção Municipal de Conservação e Reabilitação Urbana da Câmara de Lisboa fizeram, anteontem, uma minuciosa vistoria à igreja de S. José dos Carpinteiros e à Casa dos 24, em Lisboa, cujas instalações se encontram muito degradadas.
Em causa estão as infiltrações e fissuras existentes naquele edifício do século XVI, classificado como imóvel de interesse público. Dentro de vários dias, será feito um relatório sobre a situação, que poderá dar origem a obras de salvaguarda da igreja.
A vistoria foi feita a pedido do Grupo de Amigos da Igreja de S. José dos Carpinteiros, que está a reunir fundos para reabilitar o templo, através de donativos e da organização de eventos.
A vistoria dos técnicos da Câmara coincidiu com uma visita de elementos dos museus do Azulejo e de Arte Antiga, e ainda com a retirada da Imagem da Senhora da Fé, que estava a ser fortemente atingida com infiltrações de água e de queda de pedaços de talha.O Grupo de Amigos pretende que estas entidades procedam a uma "intervenção com carácter de urgência no sentido de ser colocada uma cobertura provisória na Igreja e "Casa dos 24", evitando maiores perigos e danos". Entendem ainda que "deverão ser realizadas obras nos dois edifícios que incluam a reparação integral das coberturas, algerozes, tubos de queda, estancando a sua degradação, travando a entrada de águas pluviais e resolvendo os problemas de outras infiltrações e humidades. Para dia 8, está marcada uma visita da Comissão de Acompanhamento da Cultura da Assembleia Municipal.
Publicado por ABA @ 11:05
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Quatro artistas na Capela do Rato
Há um artista plástico inspirado pela poesia, o deserto e a música, um compositor a criar uma missa para uma função cívica. E ainda uma artista que trará um Anjo de Berlim e uma outra que talvez crie uma árvore da vida. Há ainda um padre que desafiou todas estas pessoas e uma galerista que os pôs a todos à conversa. Na Capela do Rato, em Lisboa, o espaço religioso converte-se em lugar de instalação artística.
O projecto Arte Contemporânea e Sagrado foi inaugurado ontem à noite com a instalação da obra Quando o Segundo Sol Chegar, de Rui Moreira. O desenho ficará exposto até princípio de Maio, quando será substituído por uma obra de Gabriela Albergaria. No final do ano, coincidindo com o tempo litúrgico do Advento, será expostoAnjo de Berlim, de Lourdes Castro. E a 23 de Maio, uma missa de Pentecostes, composta por João Madureira, terá a sua estreia na capela, cantada pelos Sete Lágrimas. A iniciativa ficará registada num livro a ser editado no final do ano pela Assírio & Alvim.
A ideia nasceu do padre José Tolentino Mendonça e de um "núcleo curatorial" que a ele se agregou - entre outros, a galerista Vera Cortês. Responsável pela Capela do Rato, o poeta, autor do recente e já premiado O Viajante Sem Sono, quis que a tradição de diálogo daquele espaço religioso se renovasse: "A capela foi um espaço de diálogo entre a fé e a democracia, entre a consciência cristã e a causa da justiça e da paz, entre a liturgia e a busca de novas linguagens celebrativas", diz ao P2.
O projecto - que poderá continuar, depois deste primeiro conjunto de obras e artistas - "nasce da consciência cada vez mais forte na comunidade eclesial de que a Igreja precisa de se reencontrar com a dimensão da beleza e da estética". Um objectivo a que o próprio Papa Bento XVI se referiu, no recente encontro com artistas, no Vaticano, em Novembro. E ao qual não deixará de referir-se num encontro semelhante que decorrerá no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, a 12 de Maio, durante a próxima visita a Portugal.
"É importante responder ao desafio do Papa, de uma nova estação na indagação da beleza. É algo que queremos levar a sério", diz Tolentino Mendonça.
As obras irão distribuir-se ao longo dos tempos principais do ano litúrgico: o desenho de Rui Moreira ficará durante a Quaresma, tempo de preparação para a Páscoa, durante o qual os crentes são desafiados à reflexão sobre os seus limites e incapacidades. A obra de Gabriela Albergaria (que provavelmente será uma Árvore da Vida) acompanha o tempo pós-pascal e o tempo litúrgico comum. A de Lourdes Castro, Anjo de Berlim, acompanha a preparação do Natal - nunca foi, aliás, visto em Portugal.
"Quisemos que o diálogo integrasse a própria experiência comunitária. E também que a intervenção fosse mais profunda, convocando todos os sentidos, como acontece na liturgia: o visual, o sonoro, o sabor, o tacto..."
Essa relação com uma comunidade concreta é destacada por João Madureira, um dos compositores do projecto Silêncio, apresentado em Novembro pelos Sete Lágrimas e tão bem recebido pela crítica. "O projecto da missa é mais aberto, tenho que o pensar para uma função cívica, algo comunitário, que não se destina em primeiro lugar à fruição individual."
Em relação ao projecto, João Madureira encara como desafiador o facto de se cruzarem diferentes artes: "Interessa-me perceber o que andamos a procurar nas diferentes áreas." E entende que "a dimensão espiritual presente em muita arte contemporânea deve ser acolhida".
O cruzamento com outras expressões e inspirações está presente também na obra de Rui Moreira: o título, Quando o Segundo Sol Chegar, foi Rui Moreira buscá-lo a uma música da brasileira Cássia Eller. O deserto e as cidades árabes como Fez (Marrocos) e o poema A Máquina de Emaranhar Paisagens, de Herberto Helder, onde o poeta junta excertos dos livros bíblicos do Génesis e Apocalipse, de François Villon, Dante, Camões e uma frase de sua própria autoria, são outras fontes de inspiração.
"O título dá ideia de espera, de esperança", diz o artista plástico. Não sendo crente, Rui Moreira aceitou o convite por vir de alguém como Tolentino Mendonça, que só conhecia pela poesia. "Vê-se pela poesia que, sendo membro da Igreja, é alguém aberto e à procura de qualquer coisa. E sendo alguém que quer dialogar com artistas, isso é fantástico. E eu seria preconceituoso se não aceitasse dialogar."
Rui Moreira vai buscar oAndrei Rubliov filmado por Tarkovsky, para ver "o drama do pintor e as suas contradições". Mas defende que é necessária liberdade para os artistas poderem criar como entendem. "No Renascimento, havia liberdade e muita genialidade."
Vera Cortês olha para o projecto que está a nascer como algo importante no diálogo entre cristianismo e arte: "Não é por não acreditar em Deus que não se tem uma dimensão espiritual. Existem diferentes maneiras de viver a fé e a espiritualidade e o bom é poder discutir essas coisas."
Capela de Nossa Senhora da Bonança?
Calçada Bento da Rocha Cabral, 1-B (ao Rato), Lisboa Segunda a sexta, 10h às 17h ?(tocando à porta); domingos, 12h-14h (missa às 12h30)
Publicado por ABA @ 11:34
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