Quando o assunto é o nazismo, muitos se perguntam: afinal de contas, como os alemães puderam apoiar Adolf Hitler? Trata-se de uma difícil questão, e muitos foram os estudiosos que tentaram respondê-la. Um deles foi Siegfried Kracauer, que em 1947 publicou o livro “De Caligari a Hitler: uma história psicológica do cinema alemão”. Escrita por um autor que teve que fugir da Alemanha nazista para Paris em 1933, indo depois para os Estados Unidos em 1941, a obra é um esforço de Kracauer em tentar entender o processo que levou Hitler ao poder.
A hipótese trabalhada no livro é instigante: havia entre os alemães um “mal-estar psicológico” já durante a década de 1910. Sob esse prisma, o autor se volta para as produções do cinema alemão das primeiras décadas do século 20 e afirma: “através de uma análise dos filmes alemães, pode-se expor as profundas tendências psicológicas predominantes na Alemanha de 1918 a 1933, tendências que influenciaram o curso dos acontecimentos no período de tempo acima mencionado”.
Kracauer analisa os aspectos estéticos e os temas recorrentes em tais produções e observa que muitos dos filmes da época contavam histórias sombrias, de homicídios, tiranos, violência, etc. Por ser o cinema uma arte coletiva voltada para o consumo das massas, o autor defende que tais aspectos do cinema alemão daquele período dialogavam perfeitamente com o “padrão psicológico vigente” na Alemanha, padrão esse que, segundo Kracauer, esteve intimamente relacionado tanto à ascensão de Hitler ao poder quanto ao holocausto.
O que dizer de tal hipótese? É certo que o livro foi publicado após a 2ª Guerra Mundial, quando os horrores do extermínio dos judeus já eram conhecidos. Neste sentido, por vezes, Kracauer parece procurar a qualquer custo paralelos entre as histórias contadas nos filmes e as histórias reais em torno do nazismo. Por outro lado, um filme como ‘ “Homunculus”, de 1916, chama a atenção ao contar a história de um sofrido homem que foi criado em um tubo de ensaio e que se torna ditador de um grande país, sendo o responsável por uma guerra mundial. Tais semelhanças com Hitler impressionam Kracauer, e também a nós, seus leitores.
Concordemos ou não com a análise feita nas páginas do livro, o fato é que o cinema alemão em suas primeiras décadas parece mesmo ter antecipado eventos atinentes ao nazismo. Como bem disse Kracauer, “importantes personagens cinematográficos se tornaram verdadeiros na vida real” da Alemanha. É mesmo para se pensar…
(Texto originalmente publicado na Coluna do NEHAC do Jornal Correio de Uberlândia de 16 de agosto de 2013.)
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