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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Acácia - Presságios de Inverno, David A. Durham



Título Original: Acacia – The War with the Mein
Autoria: David Anthony Durham
Editora: Saída de Emergência
Nº. Páginas: 341
Tradução: Maria Correia


Sinopse:

Há muito que o Reino de Acácia deixou de ser governado em paz a partir de uma ilha idílica por um rei pacificador e pela dinastia Akaran. O cruel assassinato do rei trouxe muitas mudanças e grande sofrimento. Com a conquista do Trono do Mundo Conhecido por parte de Hanish Mein, os filhos de Leodan Akaran são forçados a refugiarem-se em zonas longínquas que desconhecem. Sem tempo para fazer o luto pelo seu pai, os jovens príncipes são separados e jogados à sua sorte num mundo cada vez mais hostil. E é entre piratas, deuses lendários, povos guerreiros e espíritos de feiticeiros que encontram a sua força e a sua verdadeira essência. Entretanto, Hanish continua empenhado na sua missão de libertar os seus antepassados e finalmente entregar-lhes a paz depois da morte. Mas para isso, os Tunishnevre precisam de derramar o sangue dos príncipes herdeiros...
Conseguirá Hanish capturar os filhos do falecido rei Akaran? Voltarão a cruar-se os caminhos dos quatro irmãos? Estará o coração de Corinn corrompido e rendido à paixão por Hanish ou dormirá com o inimigo apenas para planear a reconquista do Trono de Acácia? E se, de olhos postos na vitória, os herdeiros de Akaran voltarem a sofrer o mais duro dos golpes?


Opinião:

Quando a paz ilusória que percorre a imensidão de todo um novo mundo e comércio governantes é substituída pelo terror de uma guerra que se aproxima, e de uma revolta extremamente desejada e apoiada por muitos, a benevolência e graça prestadas poderão ser igualmente moldadas numa enlouquecedora cobrança de favores e mérito. Nas mãos de uns está o poder ancestral de uma linhagem de puro sangue... nas mãos de outros, a devoção para com uma nação marcada pela escravidão e pela droga. Qual das duas frentes sairá vencedora? E, pelo meio, quantos terão de perecer para, no final, o objectivo máximo ser alcançado por aquele que tiver a maior e mais forte ambição?

Acácia – Presságios de Inverno trata-se da tão aguardada – pelo menos, por mim – continuação de Acácia – Ventos do Norte. Com uma primeira parte pontuada pela tensão e mudança em torno de um povo gerido a mão leve, desenvolvida numa escrita aliciante e pausada, atenta aos pormenores e ao conhecimento, Acácia – Presságios de Inverno seria o livro que iria revolucionar tudo. Bem dito, bem o certo. Apresentando um começo algo explicativo e que vai ao encontro do estilo do volume que o antecede, nada seria suficientemente possante de modo a preparar o leitor para a explosão de acontecimentos, surpresas avassaladoras e alianças inimagináveis que compõe as mais de duzentas páginas que se seguem. Vários foram os momentos em que fiquei boquiaberta, em que recuei algumas linhas mais de forma a voltar a maravilhar-me não só com a escrita do autor – de que tanto gosto – como com a própria situação retratada. Para mim, não existem palavras para descrever todo um conteúdo alucinante, num livro que, à primeira vista, julgamos saber mais ou menos como se vai desenrolar. A verdade é que Acácia – Presságios de Inverno é uma obra enganadora, na medida em que, com relativa facilidade, surpreende o leitor a um nível, por poucos, alcançado.

Continuando com a mesma divisão de perspectivas por capítulos curtos, esta narrativa proporciona ao leitor uma forte e estruturada consolidação de conhecimento face às personagens que encarnam os papéis mais importantes e de maior destaque para o desenvolver da mesma. Assim, seguimos as passadas de Hanish Mein na sua tentativa de reavivar os Tunishnevre; os anseios e íntimos desejos de uma Corinn Akaran consciente do presente, e futuro, que a aguardam; a revolta e aceitação dos seus destinos por parte de Mena, Dariel e Aliver Akaran e mais uma ou outra personalidades que, embora não tenham uma percentagem tão grande de protagonismo, servem, de igual modo, um propósito muito específico para a conclusão enigmática deste primeiro volume (no seu todo) da trilogia.
A um nível inteiramente pessoal, confesso ter ficado positivamente admirada pela determinação, engenho e monstruosidade residentes no interior de uma aparência tão calma e segura como presenciada no caso de Corinn. Esta foi, para mim, a personagem deste livro. As suas lutas – interiores e exteriores –, os seus ideais e convicções, e as suas acções desmedidas são dos momentos mais altos e marcantes de toda a história do primeiro volume (por inteiro). Nunca pensei que tal personagem pudesse, alguma vez, agir da forma como agiu e em prol de algo que, ainda neste instante, me deixa irrequieta e ansiosa.

É, sem sombra de dúvida, a construção e a conclusão deste segundo livro que levam o leitor a querer descobrir o que mais esconde David A. Durham, bem no fundo da manga. Por entre mortes preciosas, guerras físicas e espirituais e alianças forjadas não só por necessidade mas, sempre, por interesse, Acácia – Presságios de Inverno unifica parte das peças soltas de modo a criar toda uma parafernália de acontecimentos que, no seu conjunto, são simplesmente maravilhosos. Adorei as descrições impetuosas da «grande guerra», as emoções tanto lidas como sentidas que envolvem as várias reuniões, e abandonos, presentes ao longo da trama e, claro, as mensagens e segundos sentidos escondidos em muitas das acções que as personagens levam a cabo.
O final em aberto deixa no ar um gigantesco ponto de interrogação sobre o que poderá acontecer no próximo volume. De certo que surgirão incontáveis confrontos familiares, muito devido a alianças duvidosas e situações mantidas em mistério, possivelmente originados pelas opiniões divergentes que povoam um mesmo palácio, contínuas promessas de guerra e posse e, claro, inúmeros conflitos emocionais e espirituais.

Admito, um dos motivos pelos quais estou a gostar tanto desta trilogia reside no facto de David A. Durham não ter qualquer problema em chocar o leitor ao matar personagens importantes para a história. Infelizmente, penso que uma das mortes em Acácia – Presságios de Inverno foi demasiado prematura podendo, inclusive, ter sido delineada para mais tarde mas, tudo está em aberto e muito pode ainda acontecer, principalmente quando existe magia envolvida. Desse modo, mesmo com este pensamento «menos positivo» para com o enredo, continuo a admirar a destreza do autor, a beleza com que escreve e a naturalidade com que cativa o seu leitor – pelo menos, a mim cativou-me!
Numa aposta que considero estrondosa por parte da Saída de Emergência, este é um autor e obra que qualquer aficionado por fantasia quererá ler. Para quem tem receios ou leu o primeiro Acácia e não se sentiu surpreendido por aí além apenas digo: continuem a ler, dêem mais uma hipótese a esta trilogia e prometo que não sairão desiludidos.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Acácia - Ventos do Norte, David Anthony Durham



Título Original: Acacia – The War with the Mein
Autoria: David Anthony Durham
Editora: Saída de Emergência
Nº. Páginas: 339
Tradução: Maria Correia


Sinopse:

Leodan Akaran, rei soberano do Mundo Conhecido, herdou o trono em aparente paz e prosperidade, conquistadas há gerações pelos seus antepassados.
Viúvo, com uma inteligência superior, governa os destinos do reino a partir da ilha idílica de Acácia. O amor profundo que tem pelos seus quatro filhos, obriga-o a ocultar-lhes a realidade sombria do tráfico de drogas e de vidas humanas, dos quais depende toda a riqueza do Império. Leodan sonha terminar com esse comércio vil, mas existem forças poderosas que se lhe opõem.
Então, um terrível assassino enviado pelo povo dos Mein, exilado há muito numa fortaleza no norte gelado, ataca Leodan no coração de Acácia, enquanto o exercito Mein empreende vários ataques por todo o império. Leodan, consegue tempo para colocar em prática um plano secreto que há muito preparara. Haverá esperança para o povo de Acácia? Poderão os seus filhos ser a chave para a redenção?


Opinião:

Apaixonei-me por Acácia – Ventos do Norte ainda antes de lhe ter pegado, pela primeira vez. Segui, avidamente, as publicações da Saída de Emergência no Facebook e procurei opiniões e comentários que intensificassem ainda mais a minha vontade de me debruçar em tão promissora história. Ao virar da última página, posso dizer que a espera valeu bem a pena.
David Anthony Durham soube construir o seu mundo e as suas personagens, apresentando nesta primeira parte do primeiro volume da trilogia, um universo complexo, bem pensado e estruturado, com uma base sólida de apresentação e localização. Ficando o leitor a conhecer os vários povos que habitam um pouco por todo o reino, torna-se muito mais fácil para este seguir as passadas das personagens que perfazem esta obra e o próprio decorrer da narrativa. Escrito com entusiasmo, dedicação e amor, Acácia pode não ser totalmente “algo de novo” dentro do género mas uma coisa é certa, o aborrecimento ao longo da leitura está longe de aparecer e a curiosidade em saber no que é que todas as pequenas e (quase) insignificantes acções e pormenores criadas pelas personagens irão dar permanece activa do principio ao fim.

O conceito que rege a história não é complicado. Temos um Império que é governado por um rei que de soberano pouco tem – de mãos e pés atados em várias frentes, quase nada é aquilo que ele pode efectivamente mudar. Concentrando-se assim no tempo que tem de despender com os filhos e nas longas horas de relaxamento, Leodan Akaran sofre pelas possíveis consequências que as suas acções (ou falta delas) poderão originar no futuro. Os filhos, esses, vivem na inocência face os horrores que estabelecem a base da economia sobre a qual o império prospera, vivendo unicamente para o pai e para o destino que os aguarda. Porém, um perigoso assassino encontra-se a caminho da bela Acácia com o objectivo de assassinar o rei e, com ele, leva a promessa de uma guerra premeditada e assombrosamente avassaladora. Conseguirá este homem chegar junto do rei? E se a guerra despoletar, o que será de Acácia e dos seus amados filhos? Os ventos sopram vindos do norte... e não auguram nada de bom.

Um dos pontos fulcrais que estimula o interesse em redor desta obra é, claramente, a qualidade histórica e social do mundo que David A. Durham retrata, tornando este não só uma leitura intricada como chamativa. A apresentação dos locais, povos, costumes e crenças religiosas permite que o leitor vá juntando, aos poucos, as várias peças que constituem este tão intrigante enredo assim como, em parte, se vá apercebendo das semelhanças que este mundo épico tem com o nosso actual. Estas dádivas, oferecidas em primeira mão pelas personagens, fazem parte de um interesse comum em querer conhecer os muitos pilares sobre os quais os vários intervenientes foram moldados assim como entender o porquê da necessidade do Mein em destruir Acácia, o que, em suma, é a maior fatia do bolo nesta primeira parte.

A forma como o livro está organizado é outro dos aspectos positivos. Com capítulos curtos e dedicados, em exclusivo, a cada uma das personagens de maior reverência, a fluidez da leitura é permanente, o que ajuda o leitor no período inicial de habituação ao cenário onde se desenrola a acção, tal como à tomada de consciência das motivações, pensamentos e sentimentos que movem as personagens e que, mais cedo ou mais tarde, irão influenciar o decorrer da narrativa.

Relativamente às personagens em si, embora estejamos perante um primeiro volume introdutório, começam já a surgir algumas questões e ambiguidades em redor das mesmas. A vontade em conhecer mais sobre elas e sobre o futuro que as espera, principalmente em relação aos quatro irmãos Akaran, é gigantesca e isso sucede maioritariamente devido ao véu que ainda permanece muito rente ao chão e que, por isso, não permite que se conheça o impacto que os recentes acontecimentos verdadeiramente teve em quem os viveu – de perto ou de longe.
Dou destaque a Leodan pelos conflitos interiores que vive ao longo da primeira metade do livro e que serve de tormento ao próprio leitor, fazendo-o sentir-se impotente e inútil; Thaddeus pela duplicidade que desempenha confundido o leitor e levando a que este constantemente se questione sobre a autenticidade das acções da personagem; Hanish pela revolta que sente, em sintonia com o seu povo, e pela audácia em engendrar um plano maquiavélico cujo intuito se cinge em derrubar Leodan do trono; e, um pouco mais a nível pessoal, Dariel pelo crescimento e espírito rebelde e destemido que acaba por o atingir com a idade e Corinn pelo lado sombrio que, lentamente, começa a vir ao de cima.

Para terminar e numa vertente negativa, não posso deixar de referir a infelicidade que foi ver o primeiro volume de Acácia dividido em duas partes, principalmente por o livro terminar quando a “verdadeira” história começa a ganhar forma. Pelo número de páginas que cada uma das partes terá, penso que não faz grande sentido esta divisão, contudo, espero que este factor não seja motivo para que muitos leitores amantes deste género não se deixem levar pelas maravilhas de um reino que muita brutalidade ainda terá pela frente. Eu, adorei este livro. A capa é espectacular, as personagens são interessantes e o conteúdo deixa grandes promessas no ar. A meu ver, mais uma excelente e promissora aposta da Saída de Emergência, a não perder. 
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