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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A Mecânica do Coração, Mathias Malzieu [Opinião]




Título Original: La Mécanique du coeur
Autoria: Mathias Malzieu
Editora: Contraponto
Nº. Páginas: 143
Tradução: Irene Daun e Lorena & Nuno Daun e Lorena


Sinopse:

Edimburgo, 1874. Jack nasce no dia mais frio de sempre, com o coração… congelado. A Dr.ª Madeleine, a parteira (segundo alguns, uma bruxa) que o trouxe ao mundo, consegue salvar-lhe a vida instalando um mecanismo – um relógio de madeira – no seu peito, para ajudar o coração a funcionar. A prótese resulta e Jack sobrevive, mas com uma contrapartida: terá sempre de se proteger de sobrecargas emocionais. Nada de raiva e, sobretudo, nada de amor. A Dr.ª Madeleine, que o adopta e zela pelo seu mecanismo, avisa: «O amor é perigoso para o teu coraçãozinho.» Mas não há mecânica capaz de fazer frente à vida e, um dia, uma pequena cantora de rua arrebata o coração – o mecânico e o verdadeiro – de Jack. Disposto a tudo para a conquistar, Jack parte numa peregrinação sentimental até à Andaluzia, a terra natal da sua amada, onde encontrará as delícias do amor... e a sua crueldade.


Opinião:

Existe um sentimento sombrio, inebriante e absolutamente único, que resiste a tudo para lá do tempo e do espaço, ao qual nem o mais frágil, o mais cuidado e protegido dos corações consegue sobreviver. Um sentimento que se entranha, que cria raízes no mais fundo do nosso ser. Um sentimento impossível de extinguir, de acalmar, de combater. Um sentimento que, uma vez ganho, para sempre ficará connosco, nos nossos pequenos ovos de recordações, nos nossos tiquetaques de existência, nos nossos... corações embelezados pelos mais ricos, os mais efémeros e invulgares relógios de cuco.

A Mecânica do Coração é bem capaz de ser o «conto» mais brilhante e, ao mesmo tempo, inquietante que tive o prazer de ler. Sobre um amor que fugiu por entre os dedos, sobre uma familiaridade escondida por trás de uma mentira protegedora, sobre amizades peculiares que subsistiram ao longo do tempo, e sobre uma demanda, uma viagem e uma aventura, em busca do bem mais precioso e mais bem preservado do mundo, esta é uma narrativa singular que, mais cedo ou mais tarde, mais ao início ou mais a caminho do fim, atingirá o leitor com uma força e um estrondo tão espectacular, tão gigantesco que nada o poderá alguma vez preparar para o misto de sentimentos e reflexões que daí advirão.
Mathias Malzieu possui uma escrita muito própria, com um tom único e encantatório, até algo melancólico. Nas suas palavras estão presentes as mais variadas emoções e, com o avançar da trama, todos esses vislumbres de sensações são transmitidos ao leitor, ao ponto de este se deixar embalar por completo na melodia narrativa que esta história com laivos de conto frui.

Um pouco confuso e estranho ao início, até ligeiramente apressado, este é um enredo que, com o fluir das páginas, vai cativando e emocionando. E embora as personagens que povoam esta fábula sem igual não sejam desenvolvidas ao seu máximo, compreendidas em toda a sua magnitude, muito é mostrado e ainda mais é deixado para ponderação, para posterior reflexão por parte do leitor.
Little Jack, por sua vez, é o instrumento que não cessa de tocar, o coração que insiste em pulsar, a lágrima rebelde que corre livremente por um rosto inexpressivo. Sendo a figura deste romance, este Homem Sem Efeitos Especiais é aquele que persegue um amor impossível com quem somente trocou uns tantos versos e um curto olhar. Mas esse amor, essa impossibilidade de alcançar, esse sonho que não desaparece, é o alento que Jack secretamente guarda no pensamento e pelo qual será capaz de lutar, de procurar até ao fim do universo.

Também Miss Acácia e Madeleine são intervenientes de peso, cada uma à sua maneira. Enquanto a primeira é os olhos que não querem ver, a realidade que prefere distorcer mas o afecto que guarda para aquele que verdadeiramente ama, a segunda é a mãe que nunca foi mas sempre quis ser, a feiticeira que cura, a mulher que ajuda sem nada pedir em troca, a não ser a recusa perante a muito provável fatalidade de um coração precário.
Os cenários são outro aspecto importante e delicioso. Desde a transmutável cidade de Edimburgo que viu nasceu, no dia mais frio de sempre, o rapaz que, no lugar de um coração humano, exibe um relógio de madeira, à localidade que esconde um circo Extraordinarium, enriquecido por uma série de atracções femininas e assustadoras, todos os locais são fruto de pequenos pormenores importantes mas estes dois, em particular, são o palco dos melhores e dos piores momentos na vida de Jack.

Ainda que A Mecânica do Coração seja uma história fabulada, as mensagens que transmite, que conserva, são impagáveis. Recordo-me de pensar, ao ler este livro, num ditado muito popular que diz: «Quem espera, sempre alcança.», e no caso de Jack, a esperança e a vontade de conseguir algo que deseja tão ardentemente conferiu-lhe toda uma vida de alegrias e desilusões, mas todos eles sentimentos, situações que nunca esquecerá. Acima de tudo, este é um livro que ensina a não desistir do amor, dos sonhos. Ensina a não matar a esperança, mesmo quando o que nos torna únicos e especiais e diferentes é motivo de chacota e receio por parte de outros. Essencialmente, trata-se de uma alegoria que, de uma forma bela e poética, mostra que, por vezes, o facto de tomarmos riscos, de não olharmos para trás, de, simplesmente, nos atirarmos precipício fora, pode trazer uma imensidão de benesses e de desejos concretizados. Ou seja, diz-nos para nunca desistirmos de sonhar.

Quanto a mim, está bastante claro que esta foi uma leitura que me agradou sobremaneira, e ainda que inicialmente me tenha sentido algo perdida num enorme lago de descrições temporais breves e de uma prosa etérea, no final, todo o desespero e toda a não compreensão iniciais compensou. Penso que, principalmente, este é um romance que exige uma mente aberta e uma atenção muito particular por parte do leitor, além de um coração forte.
Uma excelente aposta por parte da Contraponto que, com publicações destas, marca totalmente a diferença. Interessante, belo e singular, aconselho vivamente.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Novidade Contraponto - «Senhor Monstro», Dan Wells


A monstruosa continuação de Não Sou Um Serial Killer

Título: Senhor Monstro
Autoria: Dan Wells
N.º Páginas: 264

Lançamento: Já disponível
PVP.: 16,60€

Sinopse: Em Não Sou Um Serial Killer, ficámos a conhecer John Wayne Cleaver, um rapaz bem-comportado, tímido, reservado (e obcecado com a morte, mais especificamente com homicídios), que salvou a sua cidade de um assassino ainda mais aterrador que os serial killers que estuda obsessivamente. 
No entanto, como rapidamente descobre, até os demónios têm amigos, e o desaparecimento daquele que John matou atraiu outro monstro ao condado de Clayton. As suas vítimas vão aparecendo na casa mortuária onde John trabalha, e ele tenta resolver o mistério, uma vez mais. Desta vez, contudo, há uma diferença: John já provou o sabor da morte, e a parte mais escura da sua personalidade pode descontrolar-se, com consequências imprevisíveis mas muito perigosas. Ninguém em Clayton estará seguro se John não conseguir derrotar estes dois adversários tremendos: o demónio desconhecido que tem de caçar, e o seu próprio demónio interior - a criatura sedenta de sangue a que ele chama «Senhor Monstro»...

Sobre o autor: 
Dan Wells nasceu no Utah, nos EUA, em 1977. Os pais eram leitores ávidos e apreciadores de ficção científica e fantástica; Dan viu A Guerra das Estrelas aos quatro meses de idade e o pai leu-lhe O Hobbit aos seis anos. Foi então que decidiu ser escritor e passou grande parte da juventude a ler, a escrever e a aprender tudo o que conseguia acerca de Literatura - de Victor Hugo a Tolkien, de Dostoiévski a Neil Gaiman. Viajou bastante, trabalhou como copywriter para publicidade e escrever críticas a videojogos e de ficção científica para publicações especializadas. Vive na Alemanha, com a mulher e os filhos. 

Da mesma série:


segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O Lar da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares, Ransom Riggs [Opinião]




Título Original: Miss Peregrine’s Home for Peculiar Children
Autoria: Ransom Riggs
Editora: Contraponto
Nº. Páginas: 335


Sinopse:

Uma ilha misteriosa. Uma casa abandonada. Uma estranha colecção de fotografias peculiares. 
Uma terrível tragédia familiar leva Jacob, um jovem de dezasseis anos, a uma ilha remota na costa do País de Gales, onde vai encontrar as ruínas do lar para crianças peculiares, criado pela senhora Peregrine. 
Ao explorar os quartos e corredores abandonados, apercebe-se de que as crianças do lar eram mais do que apenas peculiares; podiam também ser perigosas. É possível que tenham sido mantidas enclausuradas numa ilha quase deserta por um bom motivo. E, por incrível que pareça, podem ainda estar vivas... 


Opinião:

Há algo de peculiar na magia que os aquece por dentro, no fervor com que revivem o dia que outrora assinalará as suas mortes e no controlo exercido por uma figura de poder, uma mulher de grande afinco, que os guardará com a própria vida. Mas nem tudo aparenta possuir a serenidade com que estas criaturas com dons extraordinários persistem em transparecer, e quando o mal que assoma a sua espécie adquire traços bem reais, bem próximos, medidas têm de ser tomadas e, com elas, decisões exteriores que nunca antes foram sequer pensadas...

O Lar da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares trata-se de uma narrativa de enorme originalidade, tecida num enredo que apela ao ímpeto da leitura por parte de um leitor sequioso por informação, sequioso por um pequeno vislumbre de um final feliz, ao mesmo tempo que mostra quão especiais podem ser as peculiaridades que atingem, que constituem aqueles que, à primeira vista, pouco mais do que humanos ostentam ser. Através de uma monstruosa voz que se constrói, que se esboça com o avançar das páginas, o leitor vê-se enredado numa aventura sem fim, incrivelmente atmosférica, e que promete surpreender com revelações tanto inesperadas quanto curiosas.
Ramson Riggs tem uma escrita muito própria, cadenciada e intuitiva, que, ao ser complementada com imagens de teor invulgar e palpável, adquire contornos ainda mais perceptíveis, ainda mais concretos, numa trama que ao longo do seu desenrolar vai cada vez mais exibindo vestígios de um sobrenatural harmónico e peculiar. Ainda que transmitindo o essencial narrativo para aliciar os mais jovens, clara está a essência estranha e reluzente que todo o enredo transpõe, aliciando a camada madura de leitores que, dentro deste género, procura algo diferente, algo mais do que o comum e que aqui, nesta história, neste imaginário, irá certamente encontrar.

Numa edição luxuosa em que tudo grita mistério e suspense, foi com enorme agrado que constatei que o conteúdo, tal como a «embalagem», cumpriu com a ambiência prometida apresentando um começo de história fortemente pontuado pelos segredos impossíveis, inacreditáveis, de um avô que busca no seu único neto as aptidões que outrora estiveram ao seu alcance. Contando-lhe histórias sobrenaturais sobre a sua infância, ao mesmo tempo que lhe foi incutindo um medo supremo pelos monstros que espreitam ao virar da esquina, este avô deixou em Jacob a promessa de um desalento, de um amor fraternal impossível de substituir e que se verá a par com os mais traumatizantes e inimagináveis episódios na vida de um jovem adolescente que, no fundo, bem lá no íntimo, só quer ser aceite.
Jacob é o típico protagonista interessante que apela à curiosidade do leitor, maioritariamente devido ao episódio traumático com que teve de lidar e à forma como a sua credibilidade rapidamente se viu arrancada de qualquer verdade. Ele é elegante na sua demanda pelo imaginário do avô, enigmático e persistente, algo corajoso e deveras estável na sua instabilidade emocional. Contudo, creio que a sua personalidade vincada e até um pouco madura se viu destituída de poder, de força, em todas as ocasiões em que atravessou para o lado peculiar, adquirindo aí os seus mais vincados traços inconstantes e juvenis.

No primeiro terço da narrativa sente-se uma certa ambiência assombrada e de mistério, que curiosamente roça um terror mais suave, mas passada essa fase e uma vez abandonada a averiguação da casa decrépita descrita pelo avô, e muito devido às opções criativas do autor, a componente adolescente da obra sobrepõem-se um pouco a tudo o resto. É nesse «Antes» e «Depois», em tudo igual ao «Antes» e «Depois» do próprio protagonista, que o enredo parece dividir-se em duas atmosferas, duas essências, prevalecendo aquela que julguei ser a secundária e, por isso, a menos passível de exploração. Porém, toda a criatividade permanece bem presente ao longo do enredo, e Ransom soube exactamente como manter o leitor expectante, abordando com suavidade alguns laivos de um romance bem peculiar, desenvolvendo personagens secundárias que em tudo se mostram especiais, e aprofundado enigmas do sobrenatural que conferem um certo magnetismo febril ao próprio enredo em si.

Com igual firmeza e deslumbre encontram-se os vários retratos que auxiliam a narrativa, embalando a trama numa veracidade impressionante tendo em conta a autenticidade que cada um deles emana. Possuindo traços que vão muito para além do mero ilustrativo, estas fotografias antigas, com o seu quê de vintage, permitem ao leitor criar uma visão mais corpórea, mais consistente de todo um leque de intervenientes e situações ao mesmo tempo que a descrição dos mesmos lança pormenores e surpresas que visam surpreender. Assim, embora a sua componente artística visual que oferece ao livro em si um «pacote» bastante atractivo e dinâmico seja imensa, o seu real propósito permanece na carga emocional e real que confere ao enredo, precipitando o leitor numa viagem narrativa que visa mexer com as pequenas mas poderosas sensações misteriosas e de suspense que um livro deste género pretende agitar.

Esta foi, para mim, uma leitura vertiginosa, pontuada por alguns altos e baixos mas que, ainda assim, não deixou de me surpreender e, principalmente, agradar. Fiquei curiosa com o talento do autor e espero, sinceramente, que a continuação desta maravilhosa história pelos vários contornos da história não tarde muito a surgir no meio literário.
Uma excelente aposta por parte da Contraponto que, numa edição adornada pelo que de mais interessante o respectivo enredo contém, conseguiu, sem dúvida, marcar a diferença. Um livro que vale a pena.

Resultado do Passatempo "A Ilha", de Elin Hilderbrand


Com mais um passatempo terminado, chega o momento de anunciar o vencedor! Com o fabuloso apoio da Contraponto, esteve a sorteio um exemplar de A lha, da autora Elin Hilderbrand.
Sem mais demoras, o vencedor é:

115. Mário (…) Esteves

Parabéns ao feliz contemplado! Espero que aprecie a leitura, tanto ou mais quanto eu!
Mas aos que não ganharam, nada de desesperos! Haverão mais passatempos em breve…

Boas Leituras!

Booktrailer - "O Lar da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares", de Ransom Riggs



Um video no mínimo... peculiar, não acham?

domingo, 4 de novembro de 2012

Monster High 2 - Os Zombies do Lado, Lisi Harrison [Opinião]




Título Original: Monster High – The Ghoul Next Door
Autoria: Lisi Harrison
Editora: Contraponto
Nº. Páginas: 214
Tradução: Irene Guimarães


Sinopse:

Cleo está furiosa com Frankie e Melody: não param de lhe roubar o protagonismo e estão a passar a sua reportagem de moda para segundo plano, com um filme em que os DAR vão ser os protagonistas. 
Frankie deixou-se levar por Brett uma vez e jura a si mesma que isso não vai voltar a acontecer. A verdade é que não tem outra opção, pois Bekka continua agarrada ao ex como película aderente. Contudo, quando Brett surge com um plano que podia ajudar os DAR a obterem a liberdade, as faíscas entre os dois soltam-se e Bekka não olha a meios para apagar as chamas... mesmo que isso implique destruir toda a comunidade de monstros.
O relógio não pára... Melody tem um prazo limitado para salvar o namorado, Jackson, de ser denunciado por Bekka, desejosa de vingança. No entanto, Cleo está a dificultar as coisas aos DAR... um grupo com o qual Melody suspeita ter mais em comum do que alguma vez pensara. 


Opinião:

Quem nunca desejou ser diferente?
E quem nunca ansiou por um pouco de normalidade?
Seja como for, o importante é sermos capazes de aceitar cada uma das nossas peculiaridades, e aprendermos a viver com todas elas. E é nesse aspecto que acredito que este livro atinge a sua maior amplitude, ao lançar pequenas mensagens, pequenos ensinamentos e reflexões sobre como é ser-se distinto bem no centro de uma comunidade onde tudo o que não é comum, tudo o que não é conhecido ou popular, tem necessariamente de ser errado.

Monster High – Os Zombies do Lado trata-se da electrizante continuação de uma série que veio revitalizar a palavra «monstro», dando-lhe uma conotação tanto divertida quanto, no mínimo, peculiar. Acompanhando as consequências dos acontecimentos ocorridos no volume anterior, o leitor vê-se agora a par com o frenesim imparável de uma Melody que luta pela segurança do seu namorado, com o egoísmo e decréscimo de protagonismo de uma Cleo que prefere concentrar as suas atenções nas jóias da família, e com uma tomada de atitude por parte de uma Frankie tímida e contida, que vê finalmente surgir a sua oportunidade de revelação.
Lisi Harrison possui um estilo muito próprio e inconfundível, ao abordar a adolescência de forma directa e até algo enigmática, o que cria uma certa dinâmica bastante apreciada que, por sua vez, permite a um público ligeiramente mais velho e maduro desfrutar, em igual medida, desta leitura. O seu humor é delicioso e o modo como conjuga, na perfeição, drama, romance e suspense é de se louvar, tendo em conta o género e a camada de leitores que se pretende alcançar.

Grande parte do interesse deste romance com laivos de sobrenatural reside, precisamente, na extensa e espectacular comunidade DAR que vem agraciar um universo sem dúvida juvenil com uma perspectiva singular de como a vida deve ser encarada – principalmente quando se é diferente –, e do que estão dispostos a fazer, a ceder, para serem respeitados e aceites por todos. Lutando pelos seus direitos, ainda que sem revelarem o seu verdadeiro eu, estes fabulosos seres irão não somente surpreender o leitor com todos os truques e maravilhas que escondem dentro da manga como, e em igual medida, irão espicaçar a curiosidade do leitor, deixando-o sequioso por saber o que irão eles fazer a seguir, como serão as suas reacções face as últimas novidades escandalosas e até que ponto conseguirão manter-se unidos, fortes, contra uma realidade poderosa em preconceito e escrutínio. Em concordância com os DAR encontram-se os NUDI, uma pequena associação de humanos que valoriza estas criaturas e que luta pela harmonia entre as duas espécies mas, infelizmente, a sua voz não é suficientemente clara, suficientemente audível para quebrar as frustrações, medos e decepções que, de uma forma ou de outra, atacam por todos os lados.

A linguagem é outra das componentes mais atractivas nesta obra, apelando ao lado mais jovem que existe em cada leitor. As várias referências à cultura pop voltam a preencher o enredo de forma fantástica, e a própria locução desinibida das personagens, a par com a narração, somente vem conferir hilaridade a uma história que na sua essência se constrói por observações mistificadas da realidade actual. Contudo, a recta final de Monster High – Os Zombies do Lado deixa uma certa sensação agridoce pelo simples facto de não existir um desfecho em concreto. Temos uma situação que deixa uma série de questões em aberto e, de um momento para o outro, é lançada uma segunda bomba arrebatadora que deixa o leitor em comoção antes de a última página ser voltada e o fim do segundo volume ganhar dimensão face a curiosidade e a necessidade de mais informação que fica estática, que fica em suspenso, por parte do leitor.

Quanto a mim, é sempre agradável ler um pouco mais sobre personagens tão apelativas e invulgares quanto Frankie, Cleo ou Lala, para nomear algumas, e embora esta seja uma série decididamente juvenil, com cenários e comportamentos próprios da camada estudantil, é com relativa facilidade que percorro estas páginas e me divirto com acontecimentos que tanto têm de inesperado quanto de interessante. Ainda assim, Monster High é uma leitura que recomendo maioritariamente à camada mais nova de leitores, no sentido em que muitas das mensagens contidas nas entrelinhas serão melhor empregues e assimiladas por aqueles que, diariamente, se deparam com o mesmo tipo de situações e dilemas que estas personagens.
Uma aposta inteligente e particular por parte da Contraponto que, sem dúvida, continua a pontuar pela diferença.

Novidade Contraponto - "Ilusões", Aprilynne Pike«


O terceiro volume da série Wings chegou, finalmente, a Portugal!

Título: Ilusões
Autoria: Aprilynne Pike
N.º Páginas: 304

Lançamento: Já disponível
PVP.: 16,60€

Sinopse: Laurel não via Tamani desde que num momento de raiva, há um ano atrás, o mandou embora. E, por muito que o seu coração ainda doa, Laurel sabe que David foi a escolha certa. Agora que a sua vida estava a voltar ao normal, Laurel descobre que um inimigo oculto está a cercá-la. Mais uma vez, Laurel vai ter de pedir ajuda a Tamani para a proteger e ajudar, uma vez que o perigo que agora ameaça Avalon é mais poderoso do que aquele que uma fada poderia imaginar - e, pela primeira vez, Laurel não pode ter a certeza de que o seu lado sairá vencedor. 

Sobre a autora:
Aprilynne Pike escreve histórias de fadas desde que era criança com uma imaginação hiperactiva. Aos vinte anos realizou uma especialização em Escrita Criativa na Faculdade Lewis-Clark, em Lewiston, Idaho. 
Quanto não está a escrever, Aprilynne pode ser encontrada no ginásio; também gosta de cantar, representar, ler, e trabalhar com grávidas como educadora de parto. Aprilynne  regressou recentemente a Arizona com o seu marido e três filhos para gozar do Sol. 

Imprensa:
«Aprilynne Pike inovou a já aclamada série Wings com este novo livro, cheio de reviravoltas e personagens magistralmente construídas que, como que por magia, fazem voar as páginas.»
Romantic Times

«A série Wings dá uma grande reviravolta neste novo livro. O empolgante final vai deixar os leitores ansiosos pelo próximo volume.»
Booklist

«Os fãs vão deleitar-se com a riqueza das personagens, a provocante tensão amorosa e o perigo iminente.»
Kirkus Reviews

«Quem poderia imaginar que as fadas poderiam ser tão cool? Ilusões tem tudo. É fascinante, empolgante e romântico, e tece uma emocionante trama de fantasia.»
Lisa McMann, autora da trilogia Caçadora de Sonhos

Da mesma série:

   
Opinião                         Opinião

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Fun Home - Uma Tragicomédia Familiar, Alison Bechdel [Opinião]




Título Original: Fun Home – A Family Tragicomic
Autoria: Alison Bechdel
Editora: Contraponto
Nº. Páginas: 238
Tradução: Duarte Sousa Tavares


Sinopse:

Exigente e distante, Bruce Bechdel era professor de Inglês e dirigia uma casa funerária – a que Alison e a família chamavam, numa pequena piada privada, a «Fun Home». Só quando estava na universidade é que Alison, que recentemente admitira aos pais que era lésbica, descobriu que o pai era gay. Umas semanas depois desta revelação, Bruce morreu, num suposto acidente, deixando à filha um legado de mistério, complexos e solidão.


Opinião:

«Aos quadradinhos» pode ser a melhor forma, a única forma, de contar, transmitir, todas aquelas histórias passadas que primam pela intensidade e veracidade dos momentos vividos, muito para além do que nos torna «nós». Ocasiões que prometem um relato real, uma introspecção emotiva, e que esmeram, analisam e reflectem todos os sentimentos, todas as mágoas e cicatrizes, todos os dissabores e alegrias de uma existência que tem de significar, que tem de instigar algo mais. São relações difíceis, perdões desperdiçados e bênçãos que ficaram esquecidas, soterradas em superficialidades benignas e ocultas de um íntimo bem mais profundo, bem mais rigoroso e corrosivo do que o que aparenta, exteriormente, ser.

Fun Home – Uma Tragicomédia Familiar trata-se de uma biografia íntima, um livro de memórias onde se encontram exploradas as várias feições, contornos de uma relação fortemente pontuada pela palavra escrita, entre um pai e uma filha que muito mais mostram ter em comum, nas suas diversas fases da vida, do que aquilo que interagem – e, a dada altura, interagiram – um com o outro. Essa falha de comunicação, de carinho e conforto parental torna-se marcante e, com ela, podem advir nostalgias e batalhas internas expectáveis e que pouco ou nada poderão alguma vez oferecer de certeza, de cumplicidade.
Alison Bechdel volta a ser criança, adolescente e novamente adulta numa exposição carente e objectiva daquilo que experienciou, do modo como se sentiu, aquando de cada estádio etário. Ela mostra-se ao longo das páginas, dos vários pedaços narrativos, simples e honesta, e dá-se a conhecer ao leitor ao mesmo tempo que essa empatia, essa ligação se vai estendendo ao seu pai, uma personagem fulcral nesta obra, criando assim uma teia muito palpável, muito autêntica com as expectativas, dilemas e problemas com que a própria autora lidou. E é esse manifesto, essa percepção, que fortemente cativa o leitor e o prende numa vida que se viu vivamente assinalada pela dúvida, pela descoberta e pela falta de afecto, de uma presença, paternal.

Tratando-se de uma novela gráfica que aborda o real, e sendo a relação entre leitor e autora do mais resistente e evidente possível, foi com grande apreço que constatei que houve, igualmente, um cuidado extra, uma beleza efémera contida na ilustração que acompanha o texto, transformando esta num elemento tão essencial e importante quanto a exposição narrativa. É que não só a própria arte do desenho é apelativa, consistente e interessante como, e principalmente, os pormenores, os pequenos detalhes encontrados em cada quadradinho, em cada visão pelos olhos de Alison, estão magnificamente postados. E essa componente mais simples e invulgar numa obra que se apresenta bastante densa em conteúdo, até mesmo um pouco esmagadora e obsessiva, é algo de extremo valor e relevância.
Em contraste, nota-se uma certa percepção elucidativa à medida que se vai avançando na obra, deixando a sensação de que Alison vai ao encontro de explicações que justifiquem algumas das atitudes, dos actos, levados a cabo pelo seu pai. Assim, e a dado ponto, a própria narrativa adquire traços muito próximos da homenagem, numa necessidade de realização por parte da autora, em reconhecer a importância que o pai teve na sua vida, e nas várias formas como este tentou alcançá-la, com um significado, uma mensagem ou um caminho, através da paixão inerente que sentia pela literatura.

Outro dos aspectos que agraciam esta novela é, sem sombra de dúvida, a diversidade de temáticas que aborda e o modo como estas afectaram e, com certeza, ainda afectam as «personagens» ditadas na narrativa. A homossexualidade, a incoerência familiar, a auto-descoberta e a inabilidade em se assumir algo que faz parte de nós, por entre outras situações, são somente alguns dos temas que podem ser encontrados e sobre o qual o leitor irá, certamente, reflectir. Para mim, este foi um dos elementos mais atractivos com que me deparei e, claro está, dos que maior curiosidade me suscitou.
Em última instância, penso que Fun Home é uma busca por um sentido, por uma realidade que deixou de existir, por um pai que nunca o foi – no verdadeiro quê da palavra –, por uma resposta, um significado perante uma ausência inexplicada, por uma felicidade plena que persiste em manter-se incompleta. E, nesse aspecto, Alison soube como seduzir... como se revelar, como descrever cada comportamento da sua família, cada palavra que ficou por dizer, cada carta que foi escrita e cada gesto que nunca virá.

É relativamente fácil escrever uma opinião sobre algo ficcional, mas quando a realidade é o texto que nos atinge, quase tudo se transforma numa suposição, na leitura que cada um retirou. Ainda assim, estas são apostas magnificas por parte da Contraponto, que não desilude nem engana na sua diferença e qualidade.

Novidade Contraponto - "O Lar da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares", Ransom Riggs


Um romance arrepiante, ilustrado com fantasmagóricas fotografias vintage, que fará as delícias de adultos, jovens e todos aqueles que apreciam o suspense.

Título: O Lar da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares
Autoria: Ransom Riggs
N.º Páginas: 344

Lançamento: Já disponível
PVP.: 17,70€

Sinopse: Uma ilha misteriosa. Uma casa abandonada. Uma estranha colecção de fotografias peculiares. 
Uma terrível tragédia familiar leva Jacob, um jovem de dezasseis anos, a uma ilha remota na costa do País de Gales, onde vai encontrar as ruínas do lar para crianças peculiares, criado pela senhora Peregrine. 
Ao explorar os quartos e corredores abandonados, apercebe-se de que as crianças do lar eram mais do que apenas peculiares; podiam também ser perigosas. É possível que tenham sido mantidas enclausuradas numa ilha quase deserta por um bom motivo. E, por incrível que pareça, podem ainda estar vivas... 

Sobre o autor:
Ransom Riggs cresceu na Florida, mas actualmente vive na terra das crianças peculiares - Los Angeles. Realizador de várias curtas-metragens premiadas, os seus artigos e ensaios sobre viagens, Strange Geographies, podem ser lidos em mentalfloss.com ou ransomriggs.com. Este é o seu primeiro romance. 

Imprensa:
«Uma leitura original e deliciosa, pontuada por personagens bem construídas e alguns monstros muito assustadores. Um romance tão sombrio quanto entusiasmante.»
Publishers Weekly

«Uma leitura assustadora e original; a narrativa na primeira pessoa é cativante e credível, e cada pormenor magnificamente descrito cria um todo inesquecível. Intercalado com fotografias, este é um romance verdadeiramente atmosférico, com voltas, reviravoltas e surpresas que deliciarão os leitores de todas as idades.»
Amazon.com

«Um romance tenso, comovente e maravilhosamente estranho. As fotografias e o texto formam um conjunto brilhante, criando uma história inesquecível.»
John Green, autor de Paper Towns e Looking for Alaska, bestsellers do New York Times

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Novidade Contraponto - "Monster High 2 - Os Zombies do Lado", Lisi Harrison


Os monstros mais divertidos de sempre estão... de volta!

Título: Monster High 2 - Os Zombies do Lado
Autoria: Lisi Harrison
N.º Páginas: 216

Lançamento: Já disponível
PVP.: 15,50€

Sinopse: Cleo está furiosa com Frankie e Melody: não param de lhe roubar o protagonismo e estão a passar a sua reportagem de moda para segundo plano, com um filme em que os DAR vão ser os protagonistas. 
Frankie deixou-se levar por Brett uma vez e jura a si mesma que isso não vai voltar a acontecer. A verdade é que não tem outra opção, pois Bekka continua agarrada ao ex como película aderente. Contudo, quando Brett surge com um plano que podia ajudar os DAR a obterem a liberdade, as faíscas entre os dois soltam-se e Bekka não olha a meios para apagar as chamas... mesmo que isso implique destruir toda a comunidade de monstros.
O relógio não pára... Melody tem um prazo limitado para salvar o namorado, Jackson, de ser denunciado por Bekka, desejosa de vingança. No entanto, Cleo está a dificultar as coisas aos DAR... um grupo com o qual Melody suspeita ter mais em comum do que alguma vez pensara. 

Sobre a autora: 
Reconhecida autora de romances juvenis, Lisi Harrison nasceu no Canadá e trabalhou durante doze anos na MTV como guionista, desde então dedica-se exclusivamente à escrita literária e vive em Laguna Beach, na Califórnia. 

Da mesma série:


quarta-feira, 3 de outubro de 2012

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Persépolis, Marjane Satrapi [Opinião]




Título Original: Persepolis
Autoria: Marjane Satrapi
Editora: Contraponto
Nº. Páginas: 351
Tradução: Duarte Sousa Tavares


Sinopse:

Com uma memória inteligente, divertida e comovente de uma rapariga que cresce no Irão durante a Revolução Islâmica, Marjane Satrapi consegue transmitir uma mensagem universal de liberdade e tolerância. 
‹‹Estamos em 1979 e, no Irão, sopram os ventos de mudança. O Xá foi deposto, mas a revolução foi desviada do seu objectivo secular pelo Ayatollah e os seus mercenários fundamentalistas. Marjane Satrapi é uma criança de dez anos irreverente e rebelde, filha de um casal de classe alta e convicções marxistas. Vive em Teerão e, apesar de conhecer bem o materialismo dialético, ter um fetiche por Che Guevara e acreditar que consegue falar directamente com Deus, é uma criança como qualquer outra, mergulhada em circunstâncias extraordinárias. 
Nesta autobiografia gráfica, narrada com ilustrações monocromáticas simples mas muito eloquentes, Satrapi conta a história de uma adolescência durante a qual familiares e amigos "desaparecem", mulheres e raparigas são obrigadas a usar véu, os bombardeamentos iraquianos fazem parte do quotidiano e a música rock é ilegal. Contudo, a sua família resiste, tentando viver uma vida com um sentido de normalidade. Um livro inteligente, muito relevante e profundamente humano.››BBC
Em 2007, Persépolis foi adaptado ao cinema e das muitas nomeações para prémios que teve destaca-se a do Óscar para melhor filme de animação. 


Opinião:

Encaro a novela gráfica, muitas vezes, como um método peculiar e algo suavizado de transmitir, ao leitor, toda uma série de ensinamentos e mensagens importantes. Enquanto umas narrativas se centram no comic em si, enfatizando a espectacularidade da personagem protagonista ou o seu irrealismo como super herói numa sociedade moderna, outras mostram-se intensamente pessoais, ricas em sentimento, e propícias a atingir o leitor da forma mais arrebatadora possível.

Persépolis é precisamente tudo isso e muito mais. É uma visão inteiramente diferente, para um povo claramente ocidental, de uma realidade extremista que afectou toda uma nação. É um relato impressionante da vida de uma jovem rebelde, de uma jovem que deseja ser livre de expressar os seus gostos, as suas revoltas, num país onde a liberdade foi uma das primeiras componentes sociais e individuais a ser cortada. É a demonstração gráfica da importância da união familiar, quando tudo o resto falha, quando tudo se torna opressivo, tirânico, perseguido. É o refúgio de um intelecto único, de uma inteligência fora de série, numa comunidade perigosa, numa comunidade que não tem medo de infligir a dor e a morte aos seus habitantes, sejam eles homens ou mulheres.
Marjane Satrapi escreve de forma sincera, de forma tocante. Através dos seus olhos de criança crescida, e da sua imensa ligação com uns pais revolucionários e uma avó que só quer o seu bem, a sua felicidade, o leitor vê-se catapultado para o seio de uma família que de tudo fará para proteger os seus. Acompanhada de ilustrações elegantes e muitas vezes funestas, Marjane expõe a sua voz enquanto lutadora, enquanto sobrevivente num mundo onde a imagem da mulher adquiriu – e ainda adquire – contornos excessivamente irreais e incompreensíveis, inaceitáveis.

Esta foi uma leitura explosiva, uma viagem alucinante até uma realidade verdadeiramente aterradora, onde a caracterização da própria morte, algo que deveria de ser digno, de ser pessoal, é feita de maneira fria e cruel. Quantos não se sacrificaram em prol de um futuro e regime melhores?! Quantos não se manifestaram pelas ruas, lutaram contra ataques policiais, infringiram as regras por entre quatro paredes?! Mas quantos desses não foram mortos, foram perseguidos, mutilados, torturados, de formas atrozes, inumanas?
O medo é uma arma poderosa, imponente até, e a sensação aceite de perigo constante, seja através dos instáveis bombardeamentos ou da promessa de morte iminente, é o suficiente para oprimir todo um povo que somente batalha por alcançar, novamente, um passado onde a grandiosidade, a notoriedade foi soberana, onde a distinção, face o resto do mundo, se traduzia em avanços capazes e intelectuais.

Ainda assim, o que mais impressiona e cativa é a vontade própria, a força que Marjane foi outrora e que, certamente, persiste em ser. Ela é um exemplo de como levar uma vivência de reclusa déspota pode afectar o comportamento de uma pessoa uma vez atingida a liberdade, tanto de expressão como de pensamento. Penso que, em certa medida, a sociedade iraniana levou a que esta figura majestosa, na história do seu regresso, se manifestasse de forma extremamente rebelde e curiosa e que, de certa forma, essa declaração pessoal lesou o seu íntimo enquanto pessoa, uma vez regressada à sua pátria. Marjane foi uma criança que se viu obrigada a crescer demasiado cedo, que se viu destituída do seu real sentido de infância e que, mais tarde, sofreu o despoletar de um acesso de raiva, de revolta, tanto para com a sua comunidade de nascença, como também para com a relutante aceitação estrangeira da sua própria nacionalidade. Nos países ocidentais persistiu – e ainda persiste, por vezes – a ideia de que todas as nações radicais e extremistas, assim como respectivas populações, são fruto da mesma semente. Não existem distinções, não existem diferenciações. Todos são representantes de um mesmo fruto podre.

Muito fica por dizer aquando a leitura destas novelas gráficas corajosamente reais. Relatos de memórias passadas que ficarão eternizadas no interior de quem as viveu, de quem as assumiu como suas. Para mim, Persépolis é uma exímia lição de vida e uma grande fonte de conhecimento, relatada na primeira pessoa, numa narração inesperada. Uma obra única que certamente marca pela diferença, pela evolução, pela carga emocional que alberga ao longo das páginas. Um livro absolutamente marcante, que encantará muitos leitores, não só de banda desenhada, como de qualquer género literário. Uma brilhante aposta Contraponto, numa grafia que merece todo o destaque possível.

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