as marias pretas com seus carrões
suas prisões
suas botas, fuzis e porrada
fizeram anna sofrer
silenciaram sua voz
mas anna viveu ali onde seu povo
estava
à sombra distante do amor de amadeo
as botinas dos gendarmes paulistas
as botinas dos polícias comandos
pelo conforto dos palácios
pelo conforto do superfaturamento
dos transportes públicos
pelo conforto dos bem nascidos de
helicópteros
sentam porrada e fuzis
silenciam as vozes ali bem ali
à sombra do amor dos estudantes
à sombra do amor que toma os
cinemas
que toma os bondes
que toma as esquinas
que toma as escolas
as botinas dos rotas dos bopes
amam os estudantes
amam os professores
amam os manifestantes em geral
por isso sentam a pua
senta o cacete
como os pais desavisados castigavam
seus filhos
com surras homéricas
e castigos ferazes
os bopes os rotas são filhos da
puta
de filhos da puta maiores
e como filhos da putinha
agem truculentos como os filhos da
candinha
agem às escondidas em suas redomas
de paraíso fiscal
junto aos deuses junto aos
preceitos sagrados do primeiro
o meu o meu o meu o meu
com o que carnificinam as
estruturas da sociedade
estes senhores e oficiais do hades
moderno
buscam calar a rua
buscam calar as inquietações
buscam calar geral
que não há outra possível para as
ordens
para os costumes
senão o dissabor da pimenta e da
borracha
senão o dissabor da navalha na
carne
o dissabor das desclassificações
sociais
puta bicha sapata traveco
desocupado
vândalos das minhas neblinas frias!
balancem a pemba
balancem o saco
requebrem a bunda
siririquem o xibiu
que a ordem se treme toda quando
a nu é posta nua
quando lhes resta apenas a ação
acanalhada
dos urubus de gravata
(oswaldo martins)