quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

O rap na história. nani




Capoeira, camaradas!






O livro infanto-juvenil Capoeira Camará, de Cesar cardoso, que saiu no ano passado pela Editora Paulus, ilustrado pela Graça Lima, foi selecionado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil para fazer parte do catálogo brasileiro que a FNLIJ levará para a Feira Internacional do Livro Infantil de Bolonha, na Itália, a principal feira do mundo no seu gênero e que acontecerá em final de março desse ano.


Comemoremos o Cesar!

teoria um das partes do universo



as partículas da água  o andar dos bichos
as marés dos vermes  o boxe dos astros
os bobos os bonecos-ô os borralhos ocos

os andares da morada o vago simpático
as ruas abotoadas o aparelho dos reinos
os linhos-cru os ecoo-ôs os afrescos nôs

as patas do gado o ritmo das via-lácteas
o labéu dos lábios a rodela dos frascos
os pregos os pespegos-ê pegos o soco

o estômago dos lufa o sopro da lama
a alma das gemas o ouro dos bocós
o riso-cu ê do ê boi-um boeira-ronco

a alva do alvar a claridade do poste
a bosta do boi o estrume do cheiro
o risco-ô bordado o eco-ê q, desdê

(oswaldo martins)

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Banca imobiliária


Quanto valerá um despejo?
Quanto valerá a destruição da história?
Quanto, os despejados?
Quanto, a desfaçatez oficial?
Quanto, a falta de ética?
Quanto, o sarcasmo?
Quanto, o vale tudo?


Quanto, a mão boba?
Quanto, a tranquilidade burguesa?
Quanto, o achaque?
Quanto, a especulação imobiliária?
Quanto, o peculato?
Quanto, a desídia?

Quanto, uma cidade destruída?
Quanto, a educação calhorda?
Quanto, a cavilosa educação?
Quanto, a corrupção das mentes?
Quanto, o absurdo?
Quanto, os homens terrificados?
Quanto, os homens trancafiados?

Quanto?
Quanto?
Quanto?

O mercado dos desvalores?
O mercado dos desvalidos?
O mercado dos prostituídos
Sequazes do capitalismo?


(oswaldo martins)

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Capas do Eugênio Hirsch 1



Eugênio Hirsch

LIA DE ITAMARACÁ - MAMÃE OXUM / CIRANDA DO AMOR :: 15 de ABRIL de 2011 :...

Morrer aos poucos


CARLOS ALEXANDRE AZEVEDO (1972-2013)

Morrer aos poucos
Por Luciano Martins Costa em 12/02/2013 na edição 733 Observatório da Imprensa

O técnico de computadores Carlos Alexandre Azevedo morreu no sábado (16/2), após ingerir uma quantidade excessiva de medicamentos. Ele sofria de depressão e apresentava quadro crônico de fobia social. Era filho do jornalista e doutor em Ciências Políticas Dermi Azevedo, que foi, entre outras atividades, repórter da Folha de S. Paulo.
Ao 40 anos, Carlos Azevedo pôs fim a uma vida atormentada, dois meses após seu pai ter publicado um livro de memórias no qual relata sua participação na resistência contra a ditadura militar. Travessias torturadas é o título do livro, e bem poderia ser também o título de um desses obituários em estilo literário que a Folha de S.Paulo costuma publicar.
Carlos Alexandre Azevedo foi provavelmente a vítima mais jovem a ser submetida a violência por parte dos agentes da ditadura. Ele tinha apenas um ano e oito meses quando foi arrancado de sua casa e torturado na sede do Dops paulista. Foi submetido a choques elétricos e outros sofrimentos. Seus pais, Dermi e a pedagoga Darcy Andozia Azevedo, eram acusados de dar guarida a militantes de esquerda, principalmente aos integrantes da ala progressista da igreja católica.
Dermi já estava preso na madrugada do dia 14 de janeiro de 1974, quando a equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury chegou à casa onde Darcy estava abrigada, em São Bernardo do Campo, levando o bebê, que havia sido retirado da residência da família. Ela havia saído em busca de ajuda para libertar o marido. Os policiais derrubaram a porta e um deles, irritado com o choro do menino, que ainda não havia sido alimentado, atirou-o ao chão, provocando ferimentos em sua cabeça.
Com a prisão de Darcy, também o bebê foi levado ao Dops, onde chegou a ser torturado com pancadas e choques elétricos.
Depois de ganhar a liberdade, a família mudou várias vezes de cidade, em busca de um recomeço. Dermi e Darcy conseguiram retomar a vida e tiveram outros três filhos, mas Carlos Alexandre nunca se recuperou. Aos 37 anos, teve reconhecida sua condição de vítima da ditadura e recebeu uma indenização, mas nunca pôde trabalhar regularmente.
Aprendeu a lidar com computadores, mas vivia atormentado pelo trauma. Ainda menino, segundo relato da família, sofria alucinações nas quais ouvia o som dos trens que trafegavam na linha ferroviária atrás da sede do Dops.
Para não esquecer
O jornalista Dermi Azevedo poderia ser lembrado pelas redações dos jornais no meio das especulações sobre a renúncia do papa Bento 16. Ele é especialista em Relações Internacionais, autor de um estudo sobre a política externa do Vaticano, e doutor em Ciência Política com uma tese sobre igreja e democracia.
Poderia também ser uma fonte para a imprensa sobre a questão dos direitos humanos, à qual se dedicou durante quase toda sua vida, tendo atuado em entidades civis e organismos oficiais. Mas seu testemunho como vítima da violência do Estado autoritário é a história que precisa ser contada, principalmente quando a falta de memória da sociedade brasileira estimula um grupo de jovens a recriar a Arena, o arremedo de partido político com o qual a ditadura tentou se legitimar.
A morte de Carlos Alexandre é a coroa de espinhos numa vida de dores insuperáveis, e talvez a imposição de tortura a um bebê tenha sido o ponto mais degradante no histórico de crimes dos agentes do Dops.
A imprensa não costuma dar divulgação a casos de suicídio, por uma série controversa de motivos. No entanto, a morte de Carlos Alexandre Azevedo suplanta todos esses argumentos. Os amigos, conhecidos e ex-colegas de Dermi Azevedo foram informados da morte de seu filho pelas redes sociais, por meio de uma nota na qual o jornalista expressa como pode sua dor.
A imprensa poderia lhe fazer alguma justiça. Por exemplo, identificando os integrantes da equipe que na noite de 13 de janeiro de 1974 saiu à caça da família Azevedo. Contar que Dermi, Darcy e seu filho foram presos porque os agentes encontraram em sua casa um livro intitulado Educação moral e cívica e escalada fascista no Brasil, coordenado pela educadora Maria Nilde Mascellani. Era um estudo encomendado pelo Conselho Mundial de Igrejas.
Contando histórias como essa, a imprensa poderia oferecer um pouco de luz para os alienados que ainda usam as redes sociais para pedir a volta da ditadura.

desimitação de orides fontela


hécate
deusa vampira

vem
noiva profunda

vem apodítica feiticeira
bárbara rainha

dos desejos

vem e deposita-me
os óleos

endurece
os infernais aparelhos

de ogou, o ferreiro

vem
cadela

que teu cio de puta
entorpece os sentidos

e põe mais alerta
o caralho de eros

(oswaldo martins)

Grandes Damas 7



Tintoreto

sábado, 16 de fevereiro de 2013

para fabiana


barbacena rola ladeira abaixo
(tonico mercador)

era madrugada o trem
em vias de extinção
passava oblíquo como uma névoa

os fantasmas brincavam de esconder
com longínquos antepassados

a cidade descia suas ladeiras
mundo afora

dormiam seus habitantes
nas bibliotecas fechadas

como nos contos de schultz
a poeira os livros
eram maçanetas abertas

a cidade era bela flagrada
desde sua diáspora

(oswaldo martins)


Willem de Kooning

Grandes Damas 6



Pintura Chinesa

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Pintura 1



Pinturas eróticas do shunga chinês raro da Turquia do gongo de Sroll “chun “da dinastia de Qing (1742-1786)

Grandes damas 5



Mihael Parkes

antiode para os tatibitates


os tatibitates com suas cláusulas atemporais inventam privadas famílias privados usos do poder e privadas privadas onde defecam suas fezes de jantares funestos os tatibitates usam touca ao anoitecer para aquecer os miolos com a febre as hemoptises os hivs

e as modorras das novelas dos jornais que pingam sangue e medo nos lares face-burguês nas explosões do cabo das pontes que não caíram aqui ou alhures onde lhes aprouver a intenção falaciosa do inimigo da hora

reinventam as muriçocas da dengue da febre amarela das utis ceias de bactérias e caixotes imensos onde o corpo se deixa ficar quieto esperando o atestado o intestado instrumento que louva a morte profiláctica e limpa

os tatibitates se comovem com a noite e rezam quando o mundo os surpreendem com as calças o pinto murcho na mão e os fundilhos rotos da miséria alheia quando reagem às bossas dos artistas de pacotilha e infinitas solidões intimistas

choram os tatibitates assim revelados como gansos desafogados cheios de romantismos idealizações com que privam das privativas sensações do pseudo abandono da pseuda dor dos que ao fazerem poemas são os defeca dores sentimentais da poesia

os tatibitates preferem despir as mulheres às oito horas e proibi-las no curso livre das passistas de corpo rechonchudo que balançam ao ritmo do dia nas catracas das lotações das latas d’água na cabeça e no tufão dos quadris

os tatibitates preferem as pererecas robustas das barrigas trabalhadas nas academias de busto americano e coxas-tanque preferem o uso dos eufemismos à bela palavra tabasca, que babacas são os tatibitates os tatibabacas dos tatibobocas

com estes que tatibabaqueiam cuidado
que são os que tatiboboqueiam avessos aos boquetes aos minetes à alegria do sexo

tatibitates que usam na bô boca cruéis regimentos de leis e ordem e progresso ou a pátria sempre enquanto nas deltas de vênus agem como agiam os funestos deuses do latrocínio e do assassínio aos poucos na asfixia do crédito na mão boba
dos dez por cento
do toma lá da cá que o chiquinho eternizou
com seus delírios de pobreza e víveres retirados aos pobres
os taitibitates não comem à santa mesa o corpo de santa clara madalena
e preferem foder o cu do pobre com o conservadorismo do papa alemão

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Poesia 2013 sete Ascenso Ferreira


A FESTA


Minha filhinha, Papai Noel!

É uma figura tragicômica!

Não se iluda com os seus enredos!

Pois que no meio dos seus brinquedos!

Virá um dia a bomba atômica!.

(Ascenso Ferreira)

Poesia 2013 seis


AS PALAVRAS
(Tradução: Haroldo de Campos)

Girar em torno delas,
virá-las pela cauda (guinchem, putas),
chicoteá-las,
dar-lhes açucar na boca, às renitentes,
inflá-las, globos, furá-las,
chupar-lhes sangue e medula,
secá-las,
capá-las,
cobri-las, galo, galante,
torcer-lhes o gasnete, cozinheiro,
depená-las, touro,
bois, arrastá-las,
fazer, poeta,
fazer com que engulam todas as suas palavras.


(Octavio Paz)

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Prosa 4

__ Devo dizer-lhe que, desde que o caro Ogou não dá mais no couro, sou obrigada a buscar parceiros entre os mortais, e eles não estão à altura, naturalmente. Posso trepar facilmente um mês inteiro sem parar.
__ Para fazer amor o ano inteiro, é preciso...
__ Escute, meu jovem, os humanos fazem amor, mas os deuses trepam.

(Dany Laferrière - País sem chapéu - Editora 34)

Grandes Damas 3



Emmanuel Nery

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

maravilha

As grandes damas 1



Alone Toulousse Lautrec

Prosa 3

Escrevo: pássaro. Uma manga cai. Escrevo: manga. As crianças jogam bola  na rua entre os carros. Escrevo : crianças, bola, carros. Pareço até um pintor primitivo. Aí está, é isso, achei. Sou um escritor primitivo. (Dany Laferrièrre - País sem chapéu - Editora 34)

Frases de lá e daqui 1

"Entretanto, em Roma, o Papa apela à calma e à serenidade". (Pedro Eiras - Os 3 desejos de Octávio C. Oficina Raquel)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

para umas e outras


os olhos destas meninas
estranhos cintilam

ao andarem por aí
na ponta do cigarro

nas roupas coloridas
que algumas escondem

(oswaldo martins)

os romancistas


nas margens das páginas preenchidas
evocam às vezes num desenho um deus
e dedicam-se com denodo a seu ofício
de censor mas deixam algumas pistas

do que fora o átimo da palavra original
e a retorcem no ritmo de um sutil
murmúrio no qual as vestes tomam
um circular movimento de música

jogam bananas com os dados
tão comezinhos que dir-se-ia
sequer terem em si um deus
cínico como machado de assis

(oswaldo martins)

orvalho



meus dedos vasculham
umidades  em teu corpo.

elesbão ribeiro
03/02/13

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Pilulinha 29


Beleza e tristeza, de Yasunari Kawabata, editado pela Estação Liberdade, em 2008, é um romance de construção ao mesmo tempo delicada e furiosa. A partir da criação dos diversos envolvimentos amorosos, o autor desenvolve uma trama em que os pequenos detalhes sobrevivem ao todo da narrativa. A sedução dos personagens ao se mesclar à sedução da narrativa cria um ambiente em que as pequenas perversões se desenvolve quase sem que se as perceba.

As pequenas descrições que tangem a mordida dada no dedo mínimo ou nos ombros de algum personagem vão se desenvolvendo ao largo das discussões “sérias” sobre a arte pictórica e a escrita do romance e com elas fazem um elo sutil, um desenho intenso disfarçado sobre a leveza do traço. A perversão nos romances de Kawabata está sempre presente – uma das mais belas formas de perversão aparece no não menos belo A casa das belas adormecidas – e a serviço da descoberta dos traços mínimos que se deslocam aos poucos até tomarem a forma difusa com que transtorna a própria narrativa, que se pensava se r sobre algo que não é.

Há, portanto, diversos níveis narrativos no romance do autor. Como uma escrita em palimpsesto, Kawabata mais esconde que mostra os traços vigorosos das personalidades humanas, os traços mais tênues e desumanos da solidão e do abandono. A maestria do autor permite que se leia Beleza e tristeza na duplicidade de uma suavidade colérica de que não escapam sequer os menos atentos leitores, presas desta narrativa que incomoda e faz vibrar de pavor e alegria a capacidade de compreensão de si mesmos e da realidade que os circunda.

(oswaldo martins)

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Os LPS







Prosa 2


Do alto da serra do ouro preto, depois da Chácara do Manso, à sinistra do Hospício de Terra Santa, ele via Vila Rica adormecida, esparramada pelas encostas dos morros e vales lá embaixo.

Não volte nunca mais, meu filho. Nunca mais vai poder me ver, disse o pai, e naqueles olhos duros e obstinados na teimosia ou na aceitação da sina, na cara crestada pelo sol das lavras, nos ribeiros e faisqueiras, Januário acreditou ver (quis, forcejava mesmo o coração) muito longe um brilho de lágrima, uma marca de dor.

A voz pesada e grossa do pai, cavernosa, arrancada das entranhas. Aquilo que ele disse sem nenhuma reserva, pudor ou vergonha, chamando-o de meu filho, ainda doía bulindo dentro dele, como ondas, ecos redondos de volta das serras e quebradas, redobrando, de um sino-mestre tocado a uma distância infinita. Dentro dele na memória, agora ainda , sempre.

(DOURADO, Autran. Os sinos da Agonia. Rio de Janeiro. Expressão e Cultura. 1975)

Poesia 2013 cinco Ossip Mandelstam


Não é a lua


Não é a lua, não, é um mostrador.
Que culpa tenho se as estrelas baças
Me parecem leitosas, sem fulgor?

Batiúshkov não merece piedade.
"Que horas são?", perguntaram-lhe uma vez,
E ele só respondeu: "Eternidade."



MANDELSTAM, Ossip. "Não é a lua". Trad. de Augusto de Campos. In: CAMPOS, Augusto. Poesia da recusa. São Paulo: Perspectiva, 2006.

*

O corpo me é dado-e com que fim,
Meu corpo único,tão de mim?

Pela alegria chã de respirar,
Silenciosa,a quem devo louvar?

Sou jardineiro e sou flor- cativo
Na prisão do mundo sozinho não vivo.

E já nos vidros da eternidade
Cai meu calor,meu sopro respirado.

Nela se grava um desenho pra sempre,
Irreconhecível de tão recente.

Escorra do momento a água turva-
O desenho amado não esbate à chuva.


MANDELSTAM, Ossip. Trad. Nina Guerra e Felipe Guerra. Lisboa Assirio & Alvim