Público Local, 07.06.2009, Luís Filipe Sebastião
É o "elefante branco" de Isaltino Morais para uns, outros acreditam nas vantagens ambientais do sistema, que continua a cavar um grande buraco financeiro
O Sistema Automático de Transporte Urbano (SATU) de Oeiras completa hoje cinco anos de entrada em funcionamento. O minicomboio que circula, muitas vezes praticamente vazio, entre a estação ferroviária de Paço de Arcos e o centro comercial Oeiras Parque, acumula prejuízos e críticas. A segunda fase até ao Lagoas Park tarda a sair do papel e o presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais, já admitiu parar o SATU.
Foi a 7 de Junho de 2004 que o SATU começou a circular entre as três estações da primeira fase, numa distância de 1150 metros. O pequeno comboio terá nascido da inspiração de Isaltino Morais numa deslocação a Sydney (Austrália). O então autarca do PSD anteviu as vantagens de um meio de transporte não poluente para pequenas deslocações no concelho. A empresa Teixeira Duarte associou-se à autarquia na criação de uma empresa municipal com vista a concretizar o projecto, em duas fases, de ligar a estação de Paço de Arcos ao seu empreendimento empresarial Lagoas Park, na freguesia de Porto Salvo.
A estação dos Navegantes, com uma ligação pedonal à estação da CP de Paço de Arcos, é o início de um trajecto de pouco mais de um quilómetro, sobre um viaduto próprio de betão sustentado por pilares, que termina abruptamente na estação do Fórum, junto ao Oeiras Parque. No meio, a estação da Tapada dista meia dúzia de metros de vários prédios do Bairro da Tapada do Mocho.
"O comboio sai da estação, ainda não o vemos e já estamos a ouvir o barulho dos cabos de tracção em movimento", queixa-se Jane Carvalho, da associação de moradores Oeiras Merece Mais, que moveu uma acção no Tribunal Administrativo de Sintra, em Julho de 2006, para travar o "comboio-fantasma" e demolir o viaduto e a estação que lhes pespegaram à frente das habitações. "Todos os dias vemos da janela o SATU a andar vazio e todos os anos aumentam os prejuízos de exploração", comenta a moradora, lamentando que lhes tenham trocado as vistas para o Tejo pela devassa visual das residências e pelo desassossego da circulação e "da manutenção, que é sempre feita de madrugada".
"Gestão perdulária"
A empresa municipal SATUOeiras contrapõe que os estudos realizados durante a exploração confirmam que o sistema "cumpre os valores-limite de ruído impostos pela legislação em vigor, caso contrário a empresa não seria certificada em ambiente". Aliás, esta e as certificações em qualidade e segurança são usadas para contrariar um estudo que evidenciava o "fraco desempenho ambiental" do SATU. A empresa refuta que a conclusão negativa seja do IST, mas de "um trabalho de final de curso de uma aluna, que contém várias incorrecções". O SATU, reforça, "é um meio de transporte não poluente e ecológico" e "o primeiro sistema de transporte a nível nacional" com as três certificações.
Só que o SATU não convence utentes e políticos de Oeiras. O relatório e contas de 2008 apurou um resultado negativo de 3,6 milhões de euros. Este valor leva em conta um aumento de seis por cento dos passageiros e de dez por cento das receitas. A possibilidade de atrair mais utentes, admite-se no documento, está limitada pelos 1,2 quilómetros de percurso, que custou 23 milhões de euros. Uma saída para a situação será a construção da segunda fase, até ao Lagoas Park, com mais 1370 metros, e foi encomendado um estudo de pré-viabilidade de expansão até à estação da CP do Cacém, na Linha de Sintra, com passagem pelo Tagus Park.
"Como meio de transporte de massas é uma perfeita inutilidade", comenta o vereador Amílcar Campos. O eleito da CDU considera "inacreditável que se tenha desenvolvido uma parceria com uma empresa que tem tanta experiência em transportes públicos como a câmara", e defende que "o elefante branco" do SATU deve "ficar para o futuro como um monumento ao novo-riquismo e a uma gestão perdulária". O autarca contabiliza em 14,048 milhões de euros os resultados negativos do sistema, desde 2004.
"O SATU não foi um erro. O maior erro foi ter parado", contrapõe o vice-presidente da autarquia, Paulo Vistas, assumindo que a "câmara está disponível para resolver o impasse da segunda fase do SATU", orçada em 30 milhões de euros, para chegar ao Lagoas Park. O prolongamento ao Tagus Park custará mais 30 milhões, a cargo da câmara. O braço direito de Isaltino admite que a solução passe pela compra dos 49 por cento da Teixeira Duarte no SATU, uma vez que "tem sentido que o sistema faça parte da ligação entre as linhas de Cascais e de Sintra".
Numa reunião municipal, em Abril passado, Isaltino Morais informou que a construtora continua disposta a levar o projecto até ao Lagoas, com uma estação por trás da Quinta da Fonte (Boa Viagem). A Teixeira Duarte estará disposta a que a câmara compre a sua posição.
O presidente da autarquia contou, segundo a acta da mesma reunião, que a SATUOeiras, no início do ano, pediu à câmara "500 ou 600 mil euros", pois era preciso entrar com um milhão de euros na empresa municipal. A administração transmitiu "que se não recebessem esse dinheiro tinham de fechar", ao que Isaltino Morais lhes terá "respondido peremptoriamente que fechassem". Isto porque, acrescenta, da sua parte está disposto "a todos os custos políticos que uma decisão dessas acarreta". A Teixeira Duarte terá resolvido o problema e a empresa municipal, para já, defende que o aumento de passageiros passa por "efectivar a construção do SATU até ao Cacém", num total de dez quilómetros.
Isaltino Morais disse que o accionista privado queria "apresentar uma proposta de alienação da sua quota à câmara"