MISTÉRIOS DE TUBUCCI
Batiam as vinte e quatro badaladas… hora das bruxas se reunirem nas encruzilhadas. Ofegante e a penantes, o Cidadão trepava a Avenida 25 de Abril … sendo a mais frequentada de Tubucci, apesar da hora tardia de quando em vez, nela passava um carro… brigando com a luz ténue dos candeeiros e a névoa teimando em confundir o horizonte…
Escorregava-se na calçada portuguesa graças á densa humidade do gravanejo nocturno.
O distante pio do mocho fazia-se ouvir…
Tocada pela aragem fria, uma hera pendia sobre muralha de pedra e cimento que servia de base ás vivendas altaneiras o outro lado da rua …
Mais um veículo se aproximava á retaguarda… precedido do feixe luminoso trespassando a escuridão, revelador de grotescas formas até então indecifráveis… ali, junto ao 637, o Cidadão olhou ocasionalmente para a tal muralha… debaixo da densa folhagem algo de estranho se lhe afigurou … qualquer coisa de vermelho vivo, brilhava no seu seio… aparentava um enorme olho, aureolado a branco pálido...
Um calafrio percorreu-lhe a coluna…talvez o frio… ou pura adrenalina…
Seria o lobisomem… ou o senhor das trevas!!! Um vampiro… talvez… as tais bruxas que por ali se ocultassem… aguardando pelo momento certo… A viatura seguiu seu destino, deixando cá o rapaz entregue á sorte madrasta… entretanto o olho perdera intensidade… esquisito… que seria aquilo sinistro no meio da vegetação? O gravanejo aumentou de intensidade…e este praça acelerou o passo…
O Cidadão recorria á imaginação…para decifrar aquele enigma… aparentava serem brasas… no meio da húmida vegetação… não, não tinham razão de ser… apagar-se-iam com a chuva… o veículo afastou-se, levando “aquilo” com ele… mesclado na densa escuridão da folhagem…
Na incerteza, o Cidadão foi ao seu destino seguido pelo eco dos seus próprios passos.
se bem quando vislumbrou um tubo de ferro branco, listrado a vermelho, aprumado no passeio… cuja extremidade mergulhava no interior da vegetação… olhando para cima, chegou-se cautelosamente ao poste …não fosse o Diabo tecê-las, tendo sido assim que descobriu o mistério!
Duas figuras negras estáticas, representavam crianças correndo uma atrás da outra… Magia negra? Oh! Não!
Os transeuntes acharam curiosa esta atitude… também se aproximaram curiosos, questionando…
-É um ninho?
-Não, é um sinal de trânsito…
-Ah!
Daqui, o Cidadão partiu para outra!
E o que descobriu? Que estando esta Tubucci rodeada de forças militares, seria natural que a camuflagem estivesse sinalipresente!
Olha mais um…
E esta… hã?
Um pouco mais de atenção e já nas Bicas… bem pertinho do campo militar… supôs cá o Cidadão encontrar uma panóplia deles… bem pensado… bem dito… bem feito!
Outro!... Ena taaantos!
Mais outro!
Ainda mais este!
E este… Hã hã?
Que espectáculo… estes mais á vista parecem dissimular-se com a paisagem!
Como este, por exemplo…
A propósito da paragem de autocarros… quando o Cidadão batia esta foto logo foi interceptado pela moradora da casa que se encontra junto que, com uns olhitos bastante brilhantes para a idade questionou-o com ar esperançado e nos seguintes termos:
-É agora que vocês vão consertar a paragem?
-Não minha senhora… as fotos são para mostrar na internet quão esquecidas estão estas sinalizações!
“-Oh, senhor, cá eu pensava que fosse da Câmbra! Olhe, sou eu que pinto essa paragem todos os anos! Está aqui de frente á minha casa e cada vez que a pinto, também dou aí uma passagem de tinta! Senão… está a ver. Isso aí ao abandono e ficava eu com a frente da casa toda desmazelada! Agora esse barrote é que está quase a partir-se, e isso já não consigo consertar sozinha! Ainda se há-de aleijar aí alguém!!”
E impotente, o Cidadão despediu-se da senhora com a mágoa de, a dado momento lhe ter suscitado falsas esperanças…