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segunda-feira, 19 de julho de 2010
LE CHIEN ROTHSCHILD OU EM BUSCA DO “OLD PORTUGUESE POINTER” - PARTE II
Henrique Anachoreta [in "Cão de Mostra", revista A Caça, 1903?, p. 38] coloca uma ilustração da "cabeça de perdigueiro peninsular de uma gravura antiga", sem que nos diga o seu autor e a sua proveniência [terá sido via Mégnin, que por sua vez a retirou de Stonehenge?].
Leopoldo Machado Carmona apresenta-a ["Chien d’arrêt portugais". Gravure ancienne – gravura acima, ver AQUI], sem nomear o autor, pronunciando apressadamente como pertença do livro "Le Chien", edição J. Rothschild [1876; 2ª ed.1884], sem registar que o livro é, como se sabe, a tradução francesa [onde não se refere o tradutor, não consta nota introdutória, não assina os autores das ilustrações, sendo mesmo algo defeituosa na tradução, induzindo em erro, caso da omissão do pequeno parágrafo sobre o "Portuguese Pointer" presente no original] do "The Dog, in Health and Disease", de Stonehenge [aliás, John Henry Walsh – que AQUI apresentámos] e que a gravura usada [curiosamente não assinada] era de Luke Wells ["Spanish Pointer"], conforme a edição original do livro de Stonehenge. De imediato os nossos investigadores assumiram, estranhamente sem contraditório, a gravura como tal e por isso a figura é, por vezes, citada como "Le Chien" Rothschild. Que dizer mais!?
O ilustrador Luke Wells, desconhecido da maioria dos investigadores, aparece portanto truncado, passe os seus extraordinários trabalhos na revista Field e em livros de Charles Darwin. Na verdade há que dizer que Stonehenge não foi muito claro no que escreve em "The Dog", pois lê-se sobre a gravura (assinada por L. Wells), "...and I therefore insert a copy of an old and well-known portrait of the animal [o Spanish Pointer], which is acknowledge to be correct, and gives his points with great fidelity..." [p.89 – ver AQUI], o que levou alguns a tentar descobrir a original gravura do cão, quando esta já era demais conhecida [voltaremos noutra ocasião a esta questão sobre a gravura com a assinatura de L. Wells].
Registe-se, ainda, que o Conde Henri de Bylandt no seu celebérrimo livro [Races de Chiens, Bruxelas, 1894] chama á mesma gravura "Bolero", levando muito mais tarde Jorge Rodrigues [in, O Perdigueiro Português. O Cão de Parar, Inapa, 1993, p. 29] a incluir no seu livro uma gravura do "velho perdigueiro ibérico do século XVIII", Bolero de Van Derr Herr, retirado [sic] do Conde Bylandt, mas que, e curiosamente, vai buscar (decerto) a J. M. Sanz Timon ["El Perro de Muestra Ibérico" (I, II), Perros de Caza, nº 9 e 10, 1991, págs. 67-69], porquanto não inclui na bibliografia consultada o livro de Bylandt.
Domingos Barroso identifica a gravura de L. Wells como "o papá dos nossos perdigueiros" [p. 82-A, op. cit.]. Por sua vez, Robert Martineau [Presidente do Club Francês do Pointer] ilumina a gravura com a legenda "Reproduction d'une gravure ancienne", assinando R.M. [Robert Martineau], referindo [no livro] que se tratava do "Braque de Portugal de l'ancien type". A dúvida porfiava entre os peritos e a contradição na demanda da gravura original, teimosamente mantinha-se. Na verdade, o estudo e a saga dos "modernos" não é, pelo seu registo, nem muito feliz nem impressiona. E a confusão acentua-se á medida que a narrativa é (re)construída. Como veremos!
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LE CHIEN ROTHSCHILD OU EM BUSCA DO “OLD PORTUGUESE POINTER” - PARTE I
A pesquisa iconográfica à volta da putativa representação primeva do ancestral perdigueiro português ("the old portuguese pointer"), carta patente para o construído teórico final sobre o "perdigueiro português" que distintíssimos autores portugueses clássicos do cão de parar requereram em entusiasmo patriótico, é uma bondade - sempre adornada de curiosas omissões das fontes documentais e lacunas de inventariação - quase sempre inanimada entre manipulações admiráveis, fantasiosa opinião e fábulas nada inocentes.
Sendo incontestável a competência dos nossos investigadores credenciados do cão de parar, está longe, porém, de se ter resolvido a génese da sua problemática, porque esta é (a nosso ver) fundamentalmente uma questão de metodologia: sobre o processo de caça, da função e ensino do cão, da genética à investigação da iconografia dos antecessores do Perdigueiro Português, pois certamente que sim, mas onde também, ou principalmente, se exige que esteja aí presente o reconhecimento e validação de um discurso cinológico que tenha em conta as obras produzidas e os contextos, isto é os complexos discursivos [ver sobre o assunto Patrick Tort, "La Pensée Hiérarchique et l'Evolution", Paris, Aubier, 1983, pp-43-57; "Les complexes discurifs, La Raison Classificatoire", Paris, Aubier, 1989] representativos do campo científico e dos sistemas de pensamento. Isto é, a nosso ver, há que encontrar um aparelho epistemológico apropriado que articule e faça conjugar [cf. João Maria André] as versões internalistas (sucessão de teorias, refutações e/ou substituições de teorias) com as versões externalistas (contextos históricos, económicos, políticos e institucionais), reconstruindo o saber, desestruturado que foi numa "metáfora de espaços vazios" onde os conteúdos e produções ideológicas dominam e ocupam o discurso científico, fazendo passar-se por ele [voltaremos a esta questão da "invasão das ideologias", em concreto, no campo do discurso nacionalista presente, ao que julgamos, na evolução do debate sobre o "cão de parar"].
Mais: não equacionando deste modo, aquilo que é o nosso reparo á generalidade dos investigadores, cai-se no perigo de enramar a "fronte dos nossos cães com coroas de louro" [para citar, com todo o gosto, o padre Domingos Barroso quando se refere ao proselitismo patrioteiro de Leopoldo Machado Carmona sobre a origem nobiliárquica do perdigueiro português – p.71 da sua obra] numa tecnologia iconográfica caprichosa e eivada de lirismo, e que no fim produz uma narrativa pastoral que é uma manifesta e desnecessária trapalhada.
Regressando à questão da busca da gravura original do "perdigueiro português", que a este post diz respeito, apresentamos acima, porque nos parece conclusivo, a imagem [p. 178, aliás p. 197 na obra digitalizada pelo Google] "Le pointer espagnol", com assinatura visível de Luke Wells, retirada da estimada obra: Histoire physiologique et anecdotique des chiens de toutes les races par Bénédict-Henry Révoil. Préface et post-face par Alexandre Dumas, Paris, E. Dentu, Libraire-Éditeur, 1867.
A questão iconológica à volta da gravura de Luke Wells, que aparece repetidamente nas obras portuguesas sobre o cão de parar como sendo a representação excepcional do ancestral perdigueiro português, é surpreendente de se seguir:
[continua]
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