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9 de ago. de 2011

exercícios de abandono

hoje o desejo de silêncio é maior
do que qualquer palavra
e impede
toda e qualquer tentativa
de revolução ou resistência
se entrega
em resignada apatia
à tortura silenciosa
dos que se perdem no caminho
sem chance
de retorno ou recomeço
nenhuma força
para o próximo passo
abre-te chão me traga
faz de mim o nada - que sempre
fui
tenta gritar mas a voz
lhe falta
não há saída - a vida lhe nega
a vida

27 de fev. de 2011

quero estar só me deixem
como aquela amora temporã
no galho mais alto
faz-se em mim desejo de silêncio
forte pleno denso
mão
que me aperta a garganta
e os pássaros
aprisonados
tantos
em vão
se rebelam [ por ora
o vôo
não se dará
e o canto

26 de fev. de 2011

...

outra vez dei de cara
com o tempo
e a face dele
já não me pareceu
tão feia
fera domesticada
comeu na minha mão
migalhas

25 de fev. de 2011

paisagem

ervas daninhas
mourões
apodrecidos
onde pássaros pretos
pousam
completando o retrato
do abandono

23 de fev. de 2011

querem me ouvir por quê
se tudo
o que digo é delírio
e nada faz sentido
se tudo é fruto
colhido
no labirinto estreito
do meu cérebro cansado
pasto seco
onde a flor se negou
a nascer
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