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Barbara Taurua
QUERO UM HOMEM
Cláudia Marczak
[ in Poesia Erótica ]
Quero um homem
que toque minha alma,
que entre pelos meus olhos
e invada meus sonhos.
Quero que me possua inteira,
corpo e alma,
fazendo dos meus desejos
breves segundos de êxtase
o prazer do encontro total.
Quero sentir seus braços longos
envolvendo meu abraço,
seus lábios mudos
calando o meu silêncio
sem precisar nada dizer...
apenas me olhando
com olhos negros e úmidos
e me tomando devagar,
como o mar avança na praia,
como eu sei que tem que ser
e sei que um dia será.
BALAIO PORRETA 1986
n° 2943
Natal, 25 de fevereiro de 2010
ORQUÍDEAS NO JARDIM
Sheyla Azevedo
[ in Bicho Esquisito ]
- E se tivéssemos nos conhecido há 10 anos?
- Não podemos prever o que é impossível, Clara. Nos conhecemos agora, é o que temos.
- Mas é como se eu me lembrasse de você há muito tempo. Tenho a impressão de que essas coisas todas, essa música, o seu toque, sua voz, você, tudo é tão familiar. Tanta coisa abstrata e tão pouco de concreto.
- Clarinha, você parece uma menina. Você é uma menina.
[ Clique aqui para ler o conto na íntegra ]
TÉDIO
de Linaldo Guedes (PB)
[in Intervalo lírico,
reproduzido em Zumbido escutando blues ]
na lua
criou-se
uma teia
de aranha
a culpa foi sua
que não quis esperar pelo amanhecer
SEPULTEI A BORBOLETA
de Maria Maria (RN)
[ in Espartilho de Eme ]
Sepultei a borboleta!
Meu corpo jaz em silêncio
por sete dias.
As asas em morte,
na pedra opaca do teu
tórax,
fazem rfefrão
da melodia.
Sem crisálida,
sem metamorfose,
sou um facho de luz
em agonia.
POEMA GRATUITO
Betina Moraes
[ in Versos & Ideias ]
faça oferta de qualquer coisa que semeie
Grão
Broto
Semente
Ideia
Beijo
Carícia
Elogio
Entusiasmo
faça oferta, não venda, não esmola.
faça oferta.
DO DESTINO DAS CONCHAS
Nydia Bonetti
[ in Longitudes ]
a concha
que não quis ser tocada
seguiu
o destino das conchas
(que não são tocadas)
secou
sem conhecer a pérola
PARA UMA BIBLIOTECA PORRETA
( 58 / 66 )
A menina sem estrelas - Memórias (Nelson Rodrigues, 1967)
Ideologia da cultura brasileira (Carlos Fuilherme Mota, 1977)
Ninguém escreve ao coronel (Márquez, 1961)
Memória de minhas putas tristes (Márquez, 2004)
Tia Júlia e o escrivinhador (Llosa, 1977)
Elogio da madrasta (Llosa, 1988)
O sobrevivente (Sérgio Sant'Anna, 1969)
As noites marcianas (Fausto Cunha, 1960)
Nascimentos: Memória do fogo, 1 (Galeano, 1986)
Figuras e tradições do Nordeste (Raimundo Nonato, 1958)
UM LIVRO É UM LIVRO É UM LIVRO
Figuras e tradições do Nordeste, de Raimundo Nonato. Rio de Janeiro: irmãos Pongetti, 1958, 170p.
Em capítulos quase sempre deliciosos, o mossoroense Raimundo Nonato refaz em tom memorialístico, qual jornalista do sertão, um mosaico de histórias, reais ou não, que moldam o homem do interior nordestino. Jagunços, professores, crônicas literárias, homens que falavam com espíritos, personagens da arte dramática em Mossoró – vasto é o painel das histórias contidas no livro. Algumas delas são hilárias, como a do cearense dono de caminhão que, “matuto habituado àquelas tramoias das estradas”, desconfiado que só a mulesta e cuidadoso extremado com o seu dinheiro, ao se hospedar em pensões pouco recomendáveis, costumava guardá-lo na própria roupa do corpo, ao dormir, envolvendo-se em lençois e mais lençois. Deu-se que, em certa ocasião, encontrando-se na cidade de Russas, devidamente hospedado, aconteceu o pior com o nosso amigo estradeiro:
“Madrugada alta, a pensão estava em polvorosa.
O barulho acordara todo o mundo.
O homem do dinheiro, apesar de toda a sua precaução, fora roubado, durante o sono. O ratoneiro bancou o sujeito educado. Deixou ao pobre diabo um cartão de visita, cujos termos valem uma peça:
- Não o levo, também, porque não gosto de macho...”.
(p.31-32)