quarta-feira, 4 de janeiro de 2006

Quadros de Rembrandt falsos doados à museu

Faro (Portugal) - Dois quadros atribuídos a Rembrandt e doados há 62 anos à cidade de Faro são falsos, revelaram análises feitas por um especialista em pintura e pelo Instituto Português de Conservação e Restauro, disse hoje fonte oficial.

No ano em que se comemoram os 400 anos sobre o nascimento do pintor holandês Rembrandt (1606-1669), duas peças alegadamente do pintor - um óleo sobre tela que seria um auto-retrato do artista e um óleo sobre cartão a retratar um amigo, Lieven van Coppenol - foram analisados e as conclusões indicam que as obras são do século XIX.

Embora a Câmara de Faro não tenha pedido um estudo de peritagem sobre as obras de Rembrandt, o sub-director do Instituto Português de Conservação e Restauro (IPCR), Mário Pereira, confirmou à Lusa a solicitação de «exames concretos» sobre o papel, pigmentação, radiografia e florescência aos óleos.

O IPCR é a entidade habilitada a autenticar oficialmente obras de arte em Portugal.

A directora do Museu Municipal de Faro, Dália Paulo, declarou à Lusa, por seu turno, que tanto o IPCR, como o especialista em Rembrandt, Jaap van Der Veen, que trabalha no Museu de Amesterdão HetRembbrandthius, concluíram que as peças «são cópias com pouca qualidade» e «mais recentes».

O quadro de Lieven van Coppenol «é uma cópia livre de gravura a água forte», mas «existem inúmeras diferenças entre a sua imagem e a impressão», concluiu o especialista, referindo que não concebe o quadro como «sendo do século XVII» e que será de «uma época muito, muito mais tardia».

Sobre o suposto auto-retrato de Rembrandt, o especialista fala numa «cópia de pouca qualidade e mais recente», e, por seu lado, o IPCR concluiu através dos pigmentos e florescência analisados que «o azul cobalto e o amarelo de crómio exibidos no quadro »só começam a ser utilizados no início do século XIX».

Apesar de as obras terem sido dadas apenas como cópias fracas de originais do pintor holandês Rembrandt, o Museu Municipal de Faro vai expor em Julho deste ano as duas obras que se pensavam ser de Rembrandt e que pertencem à colecção do algarvio Amadeu Ferreira de Almeida.

Embora padeçam de valor artístico, as duas obras têm valor por pertencerem à coleção do farense Ferreira de Almeida, doada à cidade há 62 anos, explicou Dália Paulo, mencionando que se vai aproveitar a celebração dos 400 anos do nascimento do artista - nasceu a 15 de Julho num moinho junto ao rio Reno - para as expor no museu na rubrica »peça do mês«.

A Holanda também está a comemorar o nascimento do artista com um vasto leque de actividades, nomeadamente um programa de 24 exposições e um musical e uma peça de teatro de Peter Greenaway.

Actualmente as duas peças analisadas pelo IPCR retornaram ao Museu de Faro e encontraram-se em reserva, adiantou Dália Paulo, referindo que as obras da colecção de Ferreira de Almeida estiveram expostos durante 30 anos e que deixaram de o estar em 1998 por políticas de »rotatividade de exposições«.

A questão da autenticidade das pinturas guardadas no Museu Municipal de Faro foi relançada há cerca de um ano pelo estudioso algarvio André Bento, que de dedicou ao estudo de cinco peças das 1.220 da colecção de Ferreira de Almeida, e que falava na autenticidade de uma gravura de Rembrandt, com base em conclusões da leiloeira internacional Sotheby's.


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