Lisboa na actualidade |
Lisboa 1572 - "Civitatis orbis terrarum" |
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Com cerca de 340 metros de comprimento e de largura máxima 235 metros, a ilha, de formato naviforme, é toda ela formada por arenito dunar assente sobre xistos. A sua estrutura geológica aponta para que se deva ter formado durante a glaciação Wurmiana, quando o nível do mar desceu cerca de 120 metros relativamente ao nível actual.
Elevando-se pouco sobre o nível das águas, a Ilha do Pessegueiro é coroada pelas ruínas de um forte inacabado do século XVII que foi muito danificado pelo grande terramoto de 1755.
Considerada Património Nacional desde 1990, a Ilha do Pessegueiro é um dos ex-libris da Costa Sudoeste Portuguesa
A Ilha e a História
A Ilha do Pessegueiro conserva numerosos vestígios arqueológicos que nos dão a perceber as dificuldades da navegação ao longo da costa Sul da Lusitânia, entre os séculos IV a.C. e o V d.C.No âmbito desse projecto, foi iniciado a partir de 1590 a edificação do Forte de Santo Alberto, com a função de cruzar fogos com a fortaleza gémea existente em frente, no continente, o Forte de Nossa Senhora da Queimada.
Os trabalhos deste projecto viriam a ser interrompidos em 1598, pela transferência do seu responsável para as obras do Forte de Vila Nova de Milfontes, acabando por nunca terem sido completadas.
Porém, ainda no século XIX, o canal entre a ilha e o continente desempenhava funções portuárias, aproveitando das condições abrigadas que aí se podiam encontrar.
A Ilha e as Lendas
A Lenda de Nossa Senhora da Queimada
A tradição guarda a lenda do milagre de Nossa Senhora da Queimada.
Conta-se que em meados do século XVIII chegaram à ilha piratas do Norte de África e que ali só encontraram um ermitão. Este, decidido a defender uma ermida sob a invocação de Nossa Senhora que tinha à sua guarda, enfrentou os piratas acabando por ser assassinado. Depois de saquearem o que existia na capela, os piratas atiraram para as chamas a imagem da santa.
Após a retirada dos piratas, os habitantes de Porto Covo vieram à ilha e deram uma sepultura cristã ao eremita. Não vendo a imagem da santa, procuraram-na por toda a ilha, acabando por encontrá-la miraculosamente intacta, sem qualquer dano, no meio dos restos de uma moita queimada.
O povo de Porto Covo, apercebendo-se do milagre, recolheu a imagem e colocou-a numa nova ermida que ergueu no continente, a cerca de 1 km de distância da ilha. Passou a ser conhecida como a Capela de Nossa Senhora da Queimada, local de grande veneração pela população da região.
Lenda do Menino da Gralha
Uma outra lenda trata do tempo em que o Forte da Ilha do Pessegueiro era ocupado pelos Mouros.
Um capitão mouro vivia nesse forte, com um grupo de soldados, a sua mulher e os filhos. A seu cargo estava a defesa da fortaleza e o treino dos seus soldados. Sonhava fazer do seu filho, uma criança de 8 anos, um grande guerreiro, corajoso e forte, destemido e sanguinário.
Contudo, o menino detestava as armas e fugia aos treinos a que o pai o submetia. O que ele mais gostava era de brincar e o seu pequenino coração amava tanto as pessoas como todos os animais. Afeiçoou-se a uma gralha, de tal forma que ela passou a ser o seu passatempo favorito. Onde estava o menino lá estava a gralha, o que enfurecia o seu pai que via o seu desinteresse pelas artes da guerra. Depois de ter ameaçado matar a gralha se o filho não deixasse de brincar com ela, o menino, uma noite quando todos dormiam, pegou na sua amiga e resolveu fugir para que seu pai não a matasse.
Muitos dias se passaram sem que resultassem as buscas de encontrar o menino. A pobre mãe chorou, o pai arrependeu-se mas tarde de mais, não voltaram a ver o seu filho. Quando o encontraram, já ele estava morto, num vale, junto a uma fonte, com a sua amiga gralha pousada no seu corpo, também morta.
Desde ai, aquela fonte ficou conhecida como a Fonte da Gralha.
Nota: Esta fonte encontra-se debaixo da água da nova barragem, construída na herdade da Cabeça da Cabra, e ainda hoje muita gente ali residente se lembra perfeitamente dela.
E a nossa visita à Ilha do Pessegueiro não ficaria completa sem ouvirmos o poema de Carlos Tê que Rui Veloso tão bem soube musicar, interpretar e dessa forma imortalizar esta linda região de Portugal.
Porto Côvo
Roendo uma laranja na falésia
Olhando o mundo azul à minha frente
Ouvindo um rouxinol nas redondezas,
No calmo improviso do poente
Em baixo fogos trémulos nas tendas
Ao largo as águas brilham como prata
E a brisa vai contando velhas lendas
De portos e baías de piratas
Havia um pessegueiro na ilha
Plantado por um Vizir de Odemira
Que dizem que por amor se matou novo
Aqui, no lugar de Porto Côvo
A lua já desceu sobre esta paz
E reina sobre todo este luzeiro
Á volta toda a vida se compraz
Enquanto um sargo assa no brazeiro
Ao longe a cidadela de um navio
Acende-se no mar como um desejo
Por trás de mim o bafo do estivo
Devolve-me à lembrança o Alentejo
Havia um pessegueiro na ilha
Plantado por um Vizir de Odemira
Que dizem que por amor se matou novo
Aqui, no lugar de Porto Côvo
Roendo uma laranja na falésia
Olhando à minha frente o azul escuro
Podia ser um peixe na maré
Nadando sem passado nem futuro
Havia um pessegueiro na ilha
Plantado por um Vizir de Odemira
Que dizem que por amor se matou novo
Aqui, no lugar de Porto Côvo.
É bem possível que de início tenha sido uma antiga gruta. Com o abatimento das camadas superiores a gruta terá sido destruída, restando uma enorme cavidade a céu aberto. Com características únicas, é local de lazer, onde se pode desfrutar de uma paisagem divina e magníficos pôr-do-sol. Actualmente, o mar com embates violentos, eleva-se perigosamente por dezenas de metros, continuando a desgastar a milenar rocha e aumentando desta forma a dimensão da Boca do Inferno.
Quase todos conhecem o lugar, mas quantos conhecem a lenda?
Há muito, muito tempo existia no local, um castelo, onde vivia um feiticeiro terrífico. Um dia, decidiu casar-se e escolheu (através da sua bola de cristal de rocha), a mais bela rapariga das redondezas para sua noiva.Quando ela foi conduzida até si, ficou impressionado porque era ainda mais bela do que lhe parecera.
Incapaz de se fazer amar (pelos seus modos perversos) e cheio de ciúme, decidiu fechá-la numa torre alta, escolhendo para guardião um cavaleiro fiel que nunca tinha visto o rosto dela.
Assim, a menina e o cavaleiro, ficaram prisioneiros do castelo das artes diabólicas.
Passaram-se meses. Até que um dia o cavaleiro, cheio de curiosidade, decidiu subir até à torre. Quando abriu a porta, ficou subjugado com tanta beleza.
Então, logo ali decidiram fugir e nessa mesma noite, montados num cavalo branco, partiram à desfilada.
Ao ver o que se passava, na sua bola se cristal, irado, o feiticeiro iluminou a noite com clarões de tempestade e rasgou o chão de toda aquela zona num enorme buraco: os negros e aguçados penedos, como dentes podres numa enorme boca, engoliram o castelo, o próprio feiticeiro e os namorados que fugiam no cavalo branco.
Se a lenda não é do conhecimento de muitos, por esquecimento ou por nunca a ouviram contar, basta o nome do local para fazer adivinhar o mal que ali se exerceu. O que se pode esperar de um local a que o povo através dos séculos sempre chamou BOCA DO INFERNO?