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sexta-feira, 19 de junho de 2015

As 7 colinas de Lisboa



Lisboa na actualidade
À semelhança das históricas cidades de Roma e Jerusalém, Lisboa está assente em 7 colinas, erguendo-se numa península limitada pelo estuário do Tejo.

Segundo reza a tradição e o mito, as sete colinas serão os sete portais da Jerusalém Celeste e por isso se edificaram no cimo de cada monte sete templos cristãos: São Jorge, Santo André, Santa Catarina do Monte, Santana, Chagas do Carmo, S. Vicente de Fora e S. Roque.

Foi Frei Nicolau de Oliveira, natural de Lisboa e membro da ordem da Santíssima Trindade, na sua obra de 1620 “O livro das grandezas de Lisboa”, quem pela primeira vez fez referência às “7 colinas de Lisboa”. Referia-se a elas da seguinte forma “as sete colinas sobre as quais estava assente Lisboa: Castelo, São Vicente, São Roque, Santo André, Santa Catarina, Chagas e Sant’Ana”.

Existem várias lendas relacionadas com a origem mítica da cidade de Lisboa, sendo uma das mais interessantes e também menos conhecida a que diz respeito às suas colinas, perdidas há muito entre o casario e cujos limites são hoje bem diferentes de como eram narradas na obra de Frei Nicolau de Oliveira.
 
Lima de Freitas - Ulisses-Lusitânia

Narra a lenda que, tal como é indicado no painel em azulejos do Mestre Lima de Freitas, na Estação do Rossio, Lisboa foi fundada por Ulisses, o chefe dos Argonautas.

Na sua viagem errante de 20 anos, antes do regresso à sua cidade de Ítaca, o mítico Ulisses teria chegado ao Tejo onde existia um reino habitado por gigantescas serpentes e governado por Ofiússa, a deusa-Tejo ou a deusa-serpente, criatura metade mulher, metade serpente. O seu poder de sedução era enorme e a rainha das serpentes utilizava-o para enfeitiçar todos os que aportassem ao seu reino.

Quando Ulisses e os seus companheiros atracaram neste porto à beira Tejo, a rainha-serpente ficou tão seduzida pelos encantos do herói que logo mostrou intenção de o manter no seu reino e desposá-lo. Ulisses fingiu corresponder ao seu amor para que nem ele nem os seus companheiros corressem perigo e para que pudesse concretizar o seu sonho de edificar a cidade mais bela do Universo.

Cumprido o sonho, Ulisses e os companheiros partiram de regresso à pátria troiana, no seu navio Argos, como nos relata Homero no poema Odisseia. Ofiússa, traída, abandonada e furiosa, persegue Ulisses serpenteando desesperadamente até ao mar.

Contudo, nunca conseguiu alcançá-lo mas deixou atrás de si o rasto dessa perseguição e da cólera que fez estremecer violentamente o planalto do Tejo, cujos estertores telúricos terão feito nascer as 7 colinas de Olissipo, hoje Lisboa.

A lenda não nos diz o que sucedeu à rainha-serpente nem às outras gigantescas serpentes que habitavam o local. Porém, ainda hoje em dias luminosos, podemos olhar o Tejo de qualquer miradouro de Lisboa e imaginar que as suas colinas, que se dirigem todas para o mar como que à procura dum eterno amor, simbolizam também o bater descompassado do coração de uma rainha-deusa apaixonada que por despeito fez tremer a terra como prova do seu grande amor.

Lisboa 1572 - "Civitatis orbis terrarum"

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

O Galo de Barcelos




Um dos símbolos mais representativos de Portugal é sem dúvida o Galo de Barcelos, considerado por muitos como uma espécie de “mascote” do país.

Qualquer loja de “souvenirs” e de artesanato português tem à venda estes galitos, o que os torna uma das lembranças mais procuradas e populares de Portugal.

Tendo tido a sua estreia internacional em Genebra em 1935, quando da Exposição de Arte Popular Portuguesa, foi contudo a partir das décadas de 50 e 60 que o Galo de Barcelos se transforma em símbolo de turismo nacional e ícone de identidade de Portugal.
A lenda que lhe está associada é uma das mais importantes lendas medievais do erário popular português, com origem no Caminho de Peregrinação a Santiago de Compostela, tendo-se imortalizado na cultura lusitana através do famoso Galo de Barcelos, símbolo do artesanato Barcelense e que bem depressa se elevou ao mais importante ícone de identidade de Portugal no mundo.

Logo à chegada à cidade de Barcelos, no pátio das ruínas dos Duques de Barcelos, encontra-se o mais antigo vestígio desta lenda: o Cruzeiro que terá sido esculpido pelo galego cuja história deu origem à lenda. É a mais antiga representação da lenda do Galo de Barcelos, sendo nele bem visíveis os principais intervenientes da história: o peregrino, o enforcado e o galo.



A curiosa lenda do Galo de Barcelos:

Há muitos séculos atrás os habitantes de Barcelos andavam alarmados com um crime e, mais ainda com o facto de não se ter descoberto o criminoso que o cometera.

Certo dia apareceu por aquele burgo um galego que se tornou suspeito. As autoridades resolveram prendê-lo e, apesar dos seus juramentos de inocência, ninguém acreditou na sua palavra, que estava apenas de passagem em peregrinação a Santiago de Compostela, em cumprimento de uma promessa. Foi por isso condenado à forca.

Antes de ser enforcado, como última vontade, o homem pediu que o levassem à presença do juiz que o condenara. Concedida a autorização, levaram-no à residência do magistrado, que nesse momento se banqueteava com alguns amigos.
O galego voltou a afirmar a sua inocência e, perante a incredulidade dos presentes, apontou para um galo assado que estava sobre a mesa e exclamou: “É tão certo eu estar inocente, como certo é esse galo cantar quando me enforcarem.” Risos e comentários não se fizeram esperar mas, pelo sim pelo não, ninguém tocou no galo. O juiz empurrou o prato para o lado e ignorou o apelo do condenado.

Porém, quando o peregrino estava a ser enforcado, o que parecia impossível tornou-se realidade... o galo assado ergueu-se na mesa e cantou. Nesse instante ninguém mais duvidou das afirmações de inocência do condenado. Compreendendo o seu erro, o juiz correu para a forca e descobriu que o galego se salvara graças a um nó mal feito que impediu o seu estrangulamento. O homem foi imediatamente solto e mandado em paz.

Passados alguns anos o galego terá voltado a Barcelos para mandar erguer um monumento, o Cruzeiro do Senhor do Galo, em louvor a S. Tiago e à Virgem Maria.


Esta lenda que lhe está na origem confere ao Galo de Barcelos o significado de serenidade, fé, confiança e honra, tornando-o um símbolo de sorte e felicidade. Por outro lado, a sua apresentação garrida e colorida, a par do seu aspecto multifacetado no porte e nas formas, é o símbolo de um Portugal onde as diferenças culturais e a variedade etnográfica não o impedem de ser uno como nação, com uma história e herança culturais das mais marcantes da Europa.

Barcelos verde rincão,
Terra lusa, nobre gente
Onde um galo morto cantou,
Para salvar um inocente.


sexta-feira, 11 de novembro de 2011

11 de Novembro - Dia de São Martinho

Martinho nasceu entre o ano de 315 e 317 em Sabária, no território da actual Hungria. Era filho de um soldado do exército romano e, de acordo com a tradição, acabou por seguir a profissão do pai, entrando para o exército com apenas 15 anos de idade.

Embora professasse a religião dos seus antepassados, adorando os deuses da mitologia romana, o jovem Martinho não era insensível à religião pregada três séculos antes por um homem bom de Nazaré. Um dia aconteceu um facto que o marcou para toda a sua vida:

Numa noite fria e chuvosa de Inverno, provavelmente no ano de 338, Martinho ia a cavalo e, às portas de Amiens (França), viu um pobre homem, quase sem roupa no corpo, com um ar miserável, que lhe pediu uma esmola. Como Martinho não levava consigo qualquer moeda, num gesto de solidariedade e ternura, cortou a sua capa ao meio e entregou metade ao mendigo para que este se pudesse agasalhar.

Reza a lenda que o mendigo seria o próprio Jesus e que, depois de ter recebido metade da capa de São Martinho, a chuva parou de imediato e os raios de sol começaram a aparecer por entre as nuvens.

A partir do dia desse encontro, Martinho sentiu-se um homem novo, tendo sido baptizado provavelmente na Páscoa do ano de 339. Entende que não pode mais perseguir os seus irmãos de fé porque eles não são seus inimigos. Como oficialmente só podia abandonar o exército com a idade de 40 anos, Martinho, para se afastar da vida militar, opta pelo exílio. Numa sociedade estratificada em que os grandes senhores e a classe militar não se misturavam com a plebe e os escravos não eram considerados “pessoas”, todos os que praticavam a solidariedade e o amor entre todos, eram vistos como marginais e muitas vezes perseguidos.

Martinho, ainda militar, mas com uma dispensa, funda primeiro o mosteiro de Ligugé e depois o mosteiro de Marmoutier, perto de Tour. Entretanto a sua fama espalha-se e as suas pregações e o seu exemplo de despojamento e simplicidade fazem dele um homem considerado Santo e muitos homens seguem o seu exemplo, optando pela vida monástica.

Só no ano de 357 Martinho foi dispensado oficialmente do exército e, em 371, aclamado bispo de Tours. Preocupado com a família, lá longe, e com todo o entusiasmo de um convertido vai à Hungria visitar a família e converte a mãe.

A sua vida foi dedicada à pregação e, como era prática nesse tempo, mandou destruir templos de deuses considerados pagãos, introduziu festas religiosas cristãs e defendeu a independência da Igreja do poder político. A sua acção, demasiado avançada para a época, nem sempre foi bem aceite e daí ter sido repudiado, e, por vezes, até maltratado.

Martinho faleceu em Candes, no dia 8 de Novembro de 397 e o seu corpo foi acompanhado por mais de dois mil monges e muitos homens e mulheres devotos, tendo chegado à cidade de Tours no dia 11 de Novembro.

O seu culto começou logo após a sua morte. Em 444 foi construída uma capela no local mas o seu culto espalhou-se por todo o Ocidente e parte do Oriente. Na cidade francesa de Tours, foi erguida uma enorme basílica entre 458 e 489 que viria a ser lugar de peregrinação, durante séculos. Em França há perto de 300 cidades e povoações com o nome de São Martinho.

Actualmente, um pouco por toda a Europa, os festejos em honra de São Martinho estão relacionados com os cultos da terra, as previsões do ano agrícola, com festas e canções desejando abundância e, nos países vinícolas do Sul da Europa, com o vinho novo e a água-pé.

O São Martinho é festejado praticamente por todo o território português e em Espanha na Galiza e nas Astúrias. Antigamente, nos tempos dos nossos avós, eram frequentes os "Magustos" em que eram acesas grandes fogueiras ao ar livre, no campo, e aí se reuniam amigos e familiares que cantavam e dançavam enquanto as castanhas estalavam no lume. O vinho novo, jeropiga e água-pé acompanhavam as castanhas assadas e daí os ditados populares "pelo São Martinho vai à adega e prova o vinho" e “castanhas e vinho pelo São Martinho”. Os vendedores de castanhas assadas são ainda um dos símbolos de São Martinho. É nesta época do ano em que, evocando a lenda do Santo, o tempo sempre melhora, período ao qual o povo chama "Verão de São Martinho".


quarta-feira, 19 de maio de 2010

Ilha do Pessegueiro

A Ilha do Pessegueiro localiza-se na costa do Litoral Alentejano, ao largo da freguesia de Porto Covo, a cerca de 250 metros da actual linha de costa, pertencendo ao concelho de Sines e ao distrito de Setúbal, Portugal.

Com cerca de 340 metros de comprimento e de largura máxima 235 metros, a ilha, de formato naviforme, é toda ela formada por arenito dunar assente sobre xistos. A sua estrutura geológica aponta para que se deva ter formado durante a glaciação Wurmiana, quando o nível do mar desceu cerca de 120 metros relativamente ao nível actual.

Elevando-se pouco sobre o nível das águas, a Ilha do Pessegueiro é coroada pelas ruínas de um forte inacabado do século XVII que foi muito danificado pelo grande terramoto de 1755.

Considerada Património Nacional desde 1990, a Ilha do Pessegueiro é um dos ex-libris da Costa Sudoeste Portuguesa

A Ilha e a História

A Ilha do Pessegueiro conserva numerosos vestígios arqueológicos que nos dão a perceber as dificuldades da navegação ao longo da costa Sul da Lusitânia, entre os séculos IV a.C. e o V d.C.

A ocupação desta costa parece remontar a navegadores cartagineses, em época anterior à segunda guerra púnica (218-202 a.C.).

A situação geográfica da ilha e a sua morfologia, sobretudo a existência de um canal que a separa do continente, constituiu um dos principais factores de ocupação humana, pelas excelentes condições naturais de fundeadouro que proporcionava. Num litoral com poucos abrigos, a sua localização a meia distância entre o Cabo de São Vicente e o Estuário do Sado, contribuíram para que se tornasse na Idade do Ferro e mais tarde na época Romana, um valioso porto de apoio à navegação costeira, para quem se defendia de piratas e corsários, bem como um importante entreposto comercial.

Assim, são as estruturas romanas que mais abundam por toda a ilha. Com efeito, à época da ocupação romana da Península Ibérica, a ilha abrigou um centro produtor de preparados de peixe (sobretudo sardinha), conforme atestam os recentemente descobertos tanques de salga. Da ilha seguiu (do século I ao XV) peixe das salgas para todo o Alentejo.

O nome “Pessegueiro” parece, segundo os historiadores, estar relacionado com os termos latinos “piscatorius” ou “piscarium”, termos estes associados à actividade da ilha durante a época Romana.


Durante a Dinastia Filipina e, com o objectivo de proteger os pescadores e as gentes locais das incursões dos piratas e corsários argelinos e holandeses, de forma a que não utilizassem o ancoradouro natural como ponto de apoio, foi projectada a sua ampliação através de um enrocamento artificial de pedras que ligaria a Ilha do Pessegueiro à linha da costa.

No âmbito desse projecto, foi iniciado a partir de 1590 a edificação do Forte de Santo Alberto, com a função de cruzar fogos com a fortaleza gémea existente em frente, no continente, o Forte de Nossa Senhora da Queimada.

Os trabalhos deste projecto viriam a ser interrompidos em 1598, pela transferência do seu responsável para as obras do Forte de Vila Nova de Milfontes, acabando por nunca terem sido completadas.

Porém, ainda no século XIX, o canal entre a ilha e o continente desempenhava funções portuárias, aproveitando das condições abrigadas que aí se podiam encontrar.

A Ilha e as Lendas

A Lenda de Nossa Senhora da Queimada

A tradição guarda a lenda do milagre de Nossa Senhora da Queimada.

Conta-se que em meados do século XVIII chegaram à ilha piratas do Norte de África e que ali só encontraram um ermitão. Este, decidido a defender uma ermida sob a invocação de Nossa Senhora que tinha à sua guarda, enfrentou os piratas acabando por ser assassinado. Depois de saquearem o que existia na capela, os piratas atiraram para as chamas a imagem da santa.

Após a retirada dos piratas, os habitantes de Porto Covo vieram à ilha e deram uma sepultura cristã ao eremita. Não vendo a imagem da santa, procuraram-na por toda a ilha, acabando por encontrá-la miraculosamente intacta, sem qualquer dano, no meio dos restos de uma moita queimada.

O povo de Porto Covo, apercebendo-se do milagre, recolheu a imagem e colocou-a numa nova ermida que ergueu no continente, a cerca de 1 km de distância da ilha. Passou a ser conhecida como a Capela de Nossa Senhora da Queimada, local de grande veneração pela população da região.

Lenda do Menino da Gralha


Uma outra lenda trata do tempo em que o Forte da Ilha do Pessegueiro era ocupado pelos Mouros.

Um capitão mouro vivia nesse forte, com um grupo de soldados, a sua mulher e os filhos. A seu cargo estava a defesa da fortaleza e o treino dos seus soldados. Sonhava fazer do seu filho, uma criança de 8 anos, um grande guerreiro, corajoso e forte, destemido e sanguinário.

Contudo, o menino detestava as armas e fugia aos treinos a que o pai o submetia. O que ele mais gostava era de brincar e o seu pequenino coração amava tanto as pessoas como todos os animais. Afeiçoou-se a uma gralha, de tal forma que ela passou a ser o seu passatempo favorito. Onde estava o menino lá estava a gralha, o que enfurecia o seu pai que via o seu desinteresse pelas artes da guerra. Depois de ter ameaçado matar a gralha se o filho não deixasse de brincar com ela, o menino, uma noite quando todos dormiam, pegou na sua amiga e resolveu fugir para que seu pai não a matasse.

Muitos dias se passaram sem que resultassem as buscas de encontrar o menino. A pobre mãe chorou, o pai arrependeu-se mas tarde de mais, não voltaram a ver o seu filho. Quando o encontraram, já ele estava morto, num vale, junto a uma fonte, com a sua amiga gralha pousada no seu corpo, também morta.

Desde ai, aquela fonte ficou conhecida como a Fonte da Gralha.

Nota: Esta fonte encontra-se debaixo da água da nova barragem, construída na herdade da Cabeça da Cabra, e ainda hoje muita gente ali residente se lembra perfeitamente dela.


E a nossa visita à Ilha do Pessegueiro não ficaria completa sem ouvirmos o poema de Carlos Tê que Rui Veloso tão bem soube musicar, interpretar e dessa forma imortalizar esta linda região de Portugal.

Porto Côvo

Roendo uma laranja na falésia
Olhando o mundo azul à minha frente
Ouvindo um rouxinol nas redondezas,
No calmo improviso do poente

Em baixo fogos trémulos nas tendas
Ao largo as águas brilham como prata
E a brisa vai contando velhas lendas
De portos e baías de piratas

Havia um pessegueiro na ilha
Plantado por um Vizir de Odemira
Que dizem que por amor se matou novo
Aqui, no lugar de Porto Côvo

A lua já desceu sobre esta paz
E reina sobre todo este luzeiro
Á volta toda a vida se compraz
Enquanto um sargo assa no brazeiro

Ao longe a cidadela de um navio
Acende-se no mar como um desejo
Por trás de mim o bafo do estivo
Devolve-me à lembrança o Alentejo

Havia um pessegueiro na ilha
Plantado por um Vizir de Odemira
Que dizem que por amor se matou novo
Aqui, no lugar de Porto Côvo

Roendo uma laranja na falésia
Olhando à minha frente o azul escuro
Podia ser um peixe na maré
Nadando sem passado nem futuro

Havia um pessegueiro na ilha
Plantado por um Vizir de Odemira
Que dizem que por amor se matou novo
Aqui, no lugar de Porto Côvo.


terça-feira, 12 de maio de 2009

O Mar, o Sol e a Pérola – Lenda da Figueira da Foz

Um post dedicado à minha amiga Tétis com muito carinho e respeito.


No início da criação do mundo, Deus enviou à terra dois dos seus melhores assistentes para suprir as primeiras necessidades da humanidade. Um desses assistentes era o Mar, o outro, o Sol. Para os incitar a fazer o seu melhor trabalho havia um prémio, especial, retirado da arca dos tesouros do Céu– uma pérola de valia inestimável que qualquer um deles haveria de prezar.
O mar quando julgou estar na perfeição do seu trabalho foi ter com Deus e disse que achava ser ele o vencedor, pois era o fornecedor do maior alimento dos homens, o peixe.
Que fizera de muitos homens pescadores para que nas mesas nunca faltasse comida; de outros fizera marinheiros para que nas suas viagens encontrassem outros homens e com eles partilhassem os agradecimentos ao criador do mundo.
O Sol, por sua vez, achava que a pérola devia ser para ele, pois bastava o seu calor para que ninguém tivesse frio e a sua luz para marcar o ritmo dos dias e das noites, para que todos pudessem labutar e descansar a horas certas. Isto para não falar do germinar das sementes pela acção solar permitindo o aparecimento do pão.
Deus entendeu que ambos os assistentes tinham sido essenciais e como tal, decidiu premiá-los por igual.
Assim, abrindo a arca dos tesouros do Céu, retirou de lá essa extraordinária Pérola que é a Lua e colocando-a num espaço perto da terra disse:
- Mar, ai tens a Pérola-Lua para que a envolvas num abraço e a espelhes em noites de calmaria.
- Sol, dá à Pérola-Lua o teu calor e luz para que ela nos diga quanto vales.
E os homens reconhecidos a Deus, retribuíram a tantas graças recebidas, fazendo que num lugar da Terra se conjugassem as belezas do Mar e do Sol, criando a praia da Figueira.

Da Figueira que por ter um rio a lançar-se ao mar, passou a ser Figueira da Foz – Uma pérola, como a Lua, carregada de beleza.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

A Lenda da Boca do Inferno

A Boca do Inferno localiza-se na costa Oeste da vila de Cascais.

É bem possível que de início tenha sido uma antiga gruta. Com o abatimento das camadas superiores a gruta terá sido destruída, restando uma enorme cavidade a céu aberto. Com características únicas, é local de lazer, onde se pode desfrutar de uma paisagem divina e magníficos pôr-do-sol. Actualmente, o mar com embates violentos, eleva-se perigosamente por dezenas de metros, continuando a desgastar a milenar rocha e aumentando desta forma a dimensão da Boca do Inferno.

Quase todos conhecem o lugar, mas quantos conhecem a lenda?

Há muito, muito tempo existia no local, um castelo, onde vivia um feiticeiro terrífico. Um dia, decidiu casar-se e escolheu (através da sua bola de cristal de rocha), a mais bela rapariga das redondezas para sua noiva.Quando ela foi conduzida até si, ficou impressionado porque era ainda mais bela do que lhe parecera.

Incapaz de se fazer amar (pelos seus modos perversos) e cheio de ciúme, decidiu fechá-la numa torre alta, escolhendo para guardião um cavaleiro fiel que nunca tinha visto o rosto dela.

Assim, a menina e o cavaleiro, ficaram prisioneiros do castelo das artes diabólicas.

Passaram-se meses. Até que um dia o cavaleiro, cheio de curiosidade, decidiu subir até à torre. Quando abriu a porta, ficou subjugado com tanta beleza.

Então, logo ali decidiram fugir e nessa mesma noite, montados num cavalo branco, partiram à desfilada.

Ao ver o que se passava, na sua bola se cristal, irado, o feiticeiro iluminou a noite com clarões de tempestade e rasgou o chão de toda aquela zona num enorme buraco: os negros e aguçados penedos, como dentes podres numa enorme boca, engoliram o castelo, o próprio feiticeiro e os namorados que fugiam no cavalo branco.

Se a lenda não é do conhecimento de muitos, por esquecimento ou por nunca a ouviram contar, basta o nome do local para fazer adivinhar o mal que ali se exerceu. O que se pode esperar de um local a que o povo através dos séculos sempre chamou BOCA DO INFERNO?