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27 maio 2013

Destino Sombrio, de Luís Dill

O tempo é, talvez, uma das questões existenciais que mais intrigam o homem. Também caracterizador ou descaracterizador de uma narrativa, vem sob o papel de protagonista em Destino Sombrio.

Dividida entre duas perspectivas que, por sua vez, narram fragmentos do passado, do presente e do futuro prestes a coincidirem, a história introduzida ao leitor é a de Gildo, um jovem que avança misteriosamente pela estrada, em clima de tensão, como quem tem algo a esconder. Paralelamente a isso, uma mulher conta algumas de suas desventuras amorosas em tom cáustico e aquele mesmo Gildo, no futuro, faz uma visita ao irmão e à cunhada, que acabaram de ter uma filha.

Num tom desconexo e aparentemente sem sentido, Luís Dill conduz seu romance de maneira genial, com a habilidade reconhecida de quem sabe contar histórias, até mesmo aquelas em que a simplicidade é palavra de lei. Em meio a conversas de bar, a uma festa qualquer, a uma visita à família e a muitas gírias típicas de jovens, o livro esconde algo deveras sombrio em sua essência, como aponta o título.
" - E outra - ela continua -, se eu não encontrar a minha metade da laranja, vou procurar minha metade do limão mesmo, botar açúcar, cachaça, gelo e pronto, tudo resolvido."
p. 81

23 maio 2013

O Cavaleiro Fantasma, de Cornelia Funke

Jon Whitcroft acabou de ser mandado a um internato e sua mãe está de namorado novo, existe algo mais lamentável? Sim! Ele deixou pra trás seus amigos, irmãs e cachorro, além de ter  passado dias tendo pesadelos com a sua mais nova escola. Como se tudo já não estivesse ruim o bastante, ele passa a ser perseguido, na nova cidade, por assustadores fantasmas que desejam vingança por coisas que aconteceram até mesmo antes da mãe de Jon ser nascida. 

Ninguém na nova escola parece acreditar que Jon realmente viu fantasmas, o que o leva a inventar uma desculpa para o seu surto no dia anterior. Apenas Ella acredita no garoto e vai até ele descobrir exatamente o que está acontecendo. Ela é uma garota esperta, neta de uma estranha senhora, que cria sapos e leva a vida fazendo visitas guiadas sobre fantasmas nas igrejas locais. Zelda entende tudo de fantasmas, e Ella não fica atrás, a garota ajudará Jon a desvendar um dos maiores mistérios sobre o passado de sua família.

O Cavaleiro Fantasma carrega o selo jovem da Companhia das Letras e foi escrito por uma das mais premiadas autoras da literatura infanto-juvenil atual. Cornelia Funke encanta sempre em suas obras e esse livro não fica atrás, ela mistura o sobrenatural com o cotidiano de um jeito que fica fácil acreditar que fantasmas realmente existem e é nesse contexto em que se desenrola o livro. 

19 maio 2013

Entre o Agora e o Nunca, de J.A. Redmerski

"Ontem me perguntei por que eu sentia necessidade de me levantar exatamente na mesma hora do dia anterior e fazer tudo como fiz no dia do anterior. Por quê? O que motiva qualquer um de nós a fazer as coisas que fazemos, quando no fundo uma parte da gente só quer se libertar de tudo?"p. 9
New Adult é o gênero do momento. Todos os tipos de livro que explorem um pouco mais da sexualidade feminina na contemporaneidade, em meio a um instante em que as mulheres querem ser donas de si - de todas as maneiras possíveis - também estão rendendo história. E com a da mocinha Camryn não poderia ser diferente. "Mocinha", aliás, não é sequer o vocábulo adequado para caracterizar esta nova onda de personagens decididas, desinibidas e apaixonadas que estão surgindo.

Entre o Agora e o Nunca, inevitavelmente, segue esta linha. E conta com a sua parcela de pessoas complicadas. Camryn, primeiramente, está numa fase em que a vida, definitivamente, não está boa  (uma grande porcaria, para ser franca, em termos de calão): seu namorado, a quem se entregou e por quem sente um amor pleno, morreu num acidente de carro há alguns meses; seu irmão mais velho, por outra lado, vive agora nas celas de uma cadeia; seus pais se separaram e, como se não pudesse piorar, perdeu o amparo da melhor amiga, Natalie, quando esta descobriu que o namorado nutria uma paixão não correspondida por Camryn. Cansada de tudo, da dor e do cotidiano estático que leva em meio à depressão e à letargia, a protagonista, com a devida licença poética, decide jogar tudo para o alto e colocar o pé na estrada sem rumo, comprando um bilhete na rodoviária para o primeiro lugar dos Estados Unidos que vem à sua mente.

17 maio 2013

Deslembrança, de Cat Patrick

Comprei este livro na Bienal do ano passado. Saudades da Bienal... Mas ok. Li-o na época e recentemente resolvi relê-lo. Lembro-me que da primeira vez que li ficava me perguntando "Mas como ela não se lembra de nada? Mas então, como ela sabe quem é a mãe dela?" E coisas que, se você não leu o livro, não entende e não vai entender mesmo até que leia, de fato.

Contudo, vamos voltar um pouco... Deslembrança é uma história super fofa de uma garota que simplesmente não tem passado. Não tem memória de um passado, somente memórias do futuro. Fantástico, não? Porém, é obvio que você deve estar se perguntando "como isso é possível?". E acreditem: a autora não deixa a desejar nas explicações. Pode ser que, até terminar o livro de fato, você se sinta um pouco confuso em relação e esse pequeno, ou melhor, enorme, quesito da história.

Em Deslembrança, London todos os dias, às 4h33min da manhã esquece  tudo que aconteceu no seu dia. Simplesmente tudo. Desde o que vestiu ao que fez ou deixou de fazer. Ela não tem memórias de experiências passada, mas tem memórias de fatos que acontecerão no futuro. Imagina você saber que a sua melhor amiga vai se magoar com aquele cara e não poder fazer absolutamente nada. E em compensação não lembrar dos bons momentos com aquela amiga. Deve ser terrível, não? Em meio a essas memórias do futuro, London tem uma que não sai da sua cabeça. A de um funeral. Mas de quem seria esse funeral. Seria de sua mãe? De seu pai que não tem mais contato com ela? London começa então a tentar entender melhor a si própria e ao seu passado, presente e futuro, que estão totalmente ligados.

16 maio 2013

Meu amor, meu bem, meu querido, de Deb Caletti

A primeira impressão que se tem deste livro e de sua protagonista é semelhante àquela causada por alguns juvenis da autoria de Meg Cabot. Ruby tem 16 anos, não é a garota mais popular da escola (nem tampouco é oprimida, mas apenas "calada", como ela se define), está envolvida num romance meio complicado e adora empregar ironia em comentários absolutamente irrelevantes como se fosse a coisa mais engraçada do mundo; quando não é, claro. Mas nem mesmo os livros vivem apenas de primeiras impressões.

Dona de um tom de sarcasmo que aos poucos vai se alinhando à narração, a protagonista de Meu amor, meu bem, meu querido não tem uma personalidade tão instigante quanto aquelas que outras personagens deste mesmo gênero têm. Conta a seu favor, todavia, com uma história leve e às vezes bizarra que traz em sua essência uma mensagem simples - sem floreios literários - sobre amor, família e união.

Tudo começa na cidade de Nine Mile Falls, num verão em que os paraquedistas planam numa rua perto da casa de Ruby McQueen e um vizinho vindo de longe chega. Morador de verdadeira mansão, Travis Becker é tão jovem quanto ela, lindo, e não nega o gosto forte por adrenalina em situações perigosas, o típico mauricinho. Num encontro ocasional, então, passa a ver na moça uma pessoa corajosa e disposta a acompanhá-lo como parceira romântica em suas missões. Ela, talvez um tanto quanto deslumbrada pela atenção que recebe do rapaz cobiçado, passa a alimentar uma relação nada saudável, que a faz agir de uma forma que não gostaria, além de viver mentindo para a mãe.

10 maio 2013

No Escuro, de Elizabeth Haynes

Até onde vai o amor? Até onde vai a obsessão de alguém? O quanto uma pessoa pode viver na escuridão?

Catherine vive uma vida agitada e normal. Até conhecê-lo. Ele é o tipo de cara que é sonho do toda garota. Cuidadoso, atencioso, fofo, preocupado e superprotetor. Mas, como dizem, tudo em excesso faz mal. Lee é perfeito, até demais. Só que toda essa perfeição não passa de um rótulo, já que, a partir de um determinado momento, ele começa a demonstrar seu verdadeiro eu: paranoico, ciumento e controlador. Assim, Lee começa a controlar a vida de Catherine.Segue-a pelas ruas, controla seus horários, controla o que ela faz ou deixar de fazer e controla até mesmo as roupas que a moça usa.

À medida que Catherine fica mais tempo com Lee, mais presa a ele permanec, com mais dificuldade de se retirar da relação. O pior de tudo é que Catherine está sozinha nessa, nem com as suas amigas pode contar mais.

Paralelamente à narrativa de Catherine sobre seu relacionamento com Lee, existe uma protagonista que vive o presente, onde Lee está preso. Não vou contar aqui os motivos e o que o leva a ser preso, isso já seria spoiler. Só que é claro que o relacionamento absurdo que ela tinha com Lee apenas poderia deixar péssimos rastros para trás. E é o que acontece, por causa do vilão, Catherine desenvolve TOC (Transtorno obesessivo compulsivo), uma doença que a faz desenvolver a obsessão de, por exemplo, verificar todas as trancas da casa e se está tudo realmente fechado.

08 maio 2013

Teorema Katherine, de John Green

Colin acabou de levar seu 19° pé na bunda de uma Katherine, o que o deixa completamente arrasado, então resolve cair na estrada, dirigindo o Rabecão do Satã, com seu amigo Hassan no banco do carona. Entretanto, Colin não é um garoto comum, ele é um (quase) prodígio, aspirante a gênio que se sente desconsolado por ter acabado o seu colegial sem descobrir a cura de nenhuma doença ou ser responsável por qualquer outro ato de genialidade.

Incentivado pelo seu pai, Colin passava a maior parte do tempo tentando se tornar uma pessoa importante, o que o levou a gastar um bom tempo de sua vida fazendo anagramas, decorando informações e aprendendo diversos idiomas para no fim, se tornar uma pessoa extremamente solitária e dependente de suas namoradas
.
Hassan, conhecendo Colin mais do que ninguém, sabia quão arrasado estava o amigo e propôs a ele uma viagem sem rumo, apenas pegar o carro e dirigir por ai até a dor do pé na bunda diminuir. Quando Colin concorda, os dois pegam a estrada e acabam indo parar na cidade de Gutshot, onde ele tem seu primeiro momento "eureca" e tem a ideia de representar os relacionamentos em um teorema, onde seria possível descobrir o tempo que duraria o relacionamento e quem terminaria com quem. O Teorema Fundamental da Previsibilidade das Katherines se mostra muito mais complicado do que Colin imaginou que seria, mas ele não perde a esperança de desenvolver a função que pode lhe trazer a Katherine XIX de volta.

04 maio 2013

A Queda dos Reinos, de Morgan Rhodes

Gosto muito de romances épicos e de aventuras, embora não pertençam ao gênero que cultuo com mais frequência. Foi sob esta premissa, então, que comecei a ler A Queda dos Reinos numa tarde dessas, de maneira extremamente descompromissada, e que acabei também me surpreendendo com a vastidão de conteúdo e de ação que a história tinha a oferecer. Repleto de intrigas, conflitos, surpresas e dono de enorme fluidez, é um daqueles livros cuja leitura a gente conclui em questão de umas poucas horas sem sequer notá-las.

Marcadas por uma narração que se divide entre as perspectivas de quatro personagens principais (semelhante à da série Crônicas de Gelo e Fogo, mas sinalizada pelos nomes de três diferentes reinos em vez de aqueles pertencentes ao elenco), o leitor conhecerá aqui as histórias de Cleo, Magnus, Jonas e Lucia num momento em que elas convergem e passam a representar uma única narrativa. Quatro jovens de idades e criações distintas que, em nome de uma guerra próxima entre os reinos de Auranos, Limeros e Paelsia, acabam irreversivelmente conectados.

03 maio 2013

Tudo aquilo que nunca foi dito, de Marc Levy

Já imaginou como seria se pudéssemos voltar atrás e dizer Tudo aquilo que nunca foi dito? O que você diria e a quem você diria?

Julia tem uma vida estável, do jeito que ela sempre procurou ter. Dona de um ótimo emprego, ocupa uma generosa posição na empresa e está prestes a se casar com um homem estável, bom para ela. O que poderia acontecer? Bem, a Julia, "aconteceu" o seu pai. Anthony Walsh, um empresário de sucesso que sempre teve dificuldade de se entender com a filha, estraga até seu casamento. Contudo, esta será a ultima vez em que ele terá a chance de interferir na vida da moça, já que subitamente morre.

Assim, é necessário que Julia desmarque o casamento para ir ao velório e enterro de seu falecido pai. O que a protagonista não esperava, porém, era que, a partir disso, surgissem diversas situações que mudariam seu destino para sempre... Após o velório,   ela recebe uma inesperada caixa em seu apartamento. Digo aqui, é uma cortesia de seu falecido pai, mas não contarei a vocês o que há na caixa. Estragaria a surpresa!

Entretanto, o mistério da caixa não é o foco do livro: logo no começo da leitura você já descobre o que havia nela. A questão é que Julia tem uma oportunidade de reatar as coisas com seu pai. Imagine, uma ultima oportunidade de conhecer de verdade seu pai e a si mesma? É esse o presente que recebe.

30 abril 2013

Comandante, de Rory Carroll

Sempre que uma figura polêmica nos deixa, é comum que se sigam a ela, além do luto, diferentes biografias que tentem reproduzir os motivos responsáveis por conduzi-la à condição de pessoa notabilíssima. Muitas vezes dotadas de uma qualidade questionável, todavia, estas biografias não raramente se mostram equivocadas, divulgando materiais falsos, sem apuração de informações ou qualquer senso de responsabilidade além da própria vontade de aumentar o caráter protagonizador de quem se foi.

À morte de Hugo Chávez, o emblemático presidente da Venezuela, irromperam biografias com visões das mais variadas: direitistas e esquerdistas, favoráveis e contrárias, racionais e passionais...  Anos de amor e de ódio serviram de combustível para narrar a importância e o impacto do líder nas vidas de extremos das classes sociais venezuelanas. Em terras brasileiras, naturalmente, dada a proximidade com o pais de origem do presidente, não tardou até que também chegassem as tais obras. Do relato de Rory Carroll, correspondente por anos no Guardian, enfim, o leitor tem a chance de ser contemplado com uma narrativa que pretende, acima de todas as coisas, não cair no sensacionalismo e nem tampouco na parcialidade demasiada. Pretensão esta que, felizmente, ao final da leitura, foi alcançada pelo jornalista.

Aparentemente, ao início, o próprio título Comandante sugere que a visão do autor será, de certa forma, saudosista. Uma vez acompanhando aquilo que a narrativa traz consigo, porém, cheguei rapidamente à conclusão de que as recomendações de jornais na contracapa não eram, aliás, enganadoras. Carroll, de alguma forma, após longa experiência jornalística em nações paupérrimas e em zonas de conflito (Iraque, Afeganistão e África do Sul, por exemplo), possibilita ao leitor o conhecimento de Chávez e de seu governo desde o início de sua militância sem ser tendencioso, mas com base em grande material recolhido durante entrevistas. As entrevistas, inclusive, falam por si no quesito imparcialidade: são membros da alta elite de Caracas e defensores da direita contrariando cidadãos pobres do campo que idolatram a figura do comandante; ministros que temem sua liderança e revolucionários que, por outro lado, a desafiam.

26 abril 2013

Um Motim No Tempo, de James Dashner

Quem nunca pensou em viajar no tempo?

Um motim no tempo é o primeiro volume da série Infinty Ring, escrita por James Dashner. É um livro sobre tecnologia, ciência, historia, presente, passado, futuro e viagens no tempo.

Sera e Dak são dois melhores amigos. Dak, fanático por fatos históricos e história em geral; Sera, um gênio da ciência. Acabam se envolvendo com o Infinty Ring, um anel que possibilita a viagem no tempo. Soa fantástico, não? Eles também acreditavam nisso... Até se darem conta dos problemas que desencadearam e da confusão em que se meteram.

Deste modo que Sera e Dak acabam descobrindo muitas coisas que eles não sabiam, além de a confirmação de outras que já supunham, como, por exemplo, de que há algo errado com o mundo e a sociedade onde eles vivem. A SQ controla tudo. De uma filosofia completamente oposta da SQ, existem os Guardiões da História. Um grupo secreto desde os tempo de Aristóteles. A missão deste grupo é repassada a cada geração, como acontece com o SQ também, que, assim como os Guardiões da História, existem há muitos anos.

20 abril 2013

Desculpa, quero me casar contigo, de Federico Moccia

Aos desavisados, Ana Beatriz evitou dar spoilers do livro que precede este resenhado hoje.

Federico Moccia é um daqueles autores românticos até o último fio de cabelo. Suas histórias trazem, numa narração às vezes lírica, contos de amores quase que inabaláveis. Amores vividos com intensidade, de forma bela e sincera. Melosa também, por que não? Com Desculpa, quero me casar contigo, continuação de Desculpa se te chamo de amor, as coisas não poderiam ter sido diferentes. Talvez apenas um pouco mais complicadas, quem sabe.

Após viverem real idílio em uma paradisíaca ilha italiana, no auge de sua paixão, Alex e Niki acabam fadados à mesmice do cotidiano. Ela está na universidade e ele, por outro lado, atravessa um bom momento de sua carreira como publicitário. O relacionamento dos dois, no entanto, ainda que bem, parece necessitado de um novo fôlego, de outra empreitada. Também as Ondas - Olly, Diletta e Erica - melhores amigas da protagonista, enfrentam uma nova fase. No limiar entre a rebeldia da juventude e a consciência da maturidade, seguem adiante com seus amores, desamores e todas as descobertas que, de uma hora para outra, podem mudar abruptamente suas vidas.

19 abril 2013

As primeiras luzes da manhã, de Fabio Volo

Elena vê seu casamento em crise. Cada dia que passa existe um maior distanciamento entre ela e Paolo, seu marido. Ela realiza que a sua vida não está funcionando do jeito que esperava. O casamento e Paolo não correspondem às suas expectativas.

O casal vive uma rotina vazia. Sem conversas, sem discussões, sem vida. Paolo aparenta estar feliz com a comididade, já Elena está começando a se sentir inquieta com isso. Nada mais lhe agrada, muito pelo contrário. É quase como se Elena rejeitasse qualquer coisa vinda de Paolo.
"Com o tempo, alguns assuntos se tornaram tabus, e, então, por medo de falar demais, acabamos falando pouco. Às vezes me pergunto se não foram todas essas coisas não ditas que nos afastaram."
Em "As primeiras luzes da manhã", Elena desabafa quase diariamente em seu diário. Concomitantemente, existem capítulos que têm a narração da "Elena atual" falando sobre suas impressões ao reler o diário. É como se a protagonista escrevesse para ela própria no futuro. Assim acompanhamos suas inseguranças e sua história.

17 abril 2013

A Mocinha do Mercado Central, de Stella Maris Rezende

Maria Campos é uma mocinha simples do interior de Minas Gerais, filha de mãe solteira por uma daquelas fatalidades que acabam atravessando nossos caminhos, que também conhece Valentina Vitória Mendes Teixeira Couto. A moça de nome pomposo muda o rumo de sua vida ao lhe dizer que o nome de uma pessoa guia o seu destino. Valentina é uma grande conhecedora de significados de nomes e é aí que ela ganha Maria, quem passa a se interessar pelo assunto.

Maria, de nome simples, decide viajar pelo país mudando de nome e se aproveitando de seus significados. A jovem enche sua mala de fé e vontade e vai em busca de histórias. A mãe de Maria passou por coisas terríveis e não estamos falando a respeito de um enredo feliz. O livro é pesado, de uma forma sutil, que ainda assim machuca. A cada página uma nova surpresa surge e, apesar de um pouco confuso, funciona de uma forma única. A escrita é extremamente bela, com um desenrolar parecido com o de um contador de histórias para crianças.

12 abril 2013

Divergente, de Veronica Roth


"Eu sou Divergente.
 E não posso ser controlada."
Divergente se trata de uma distopia, um estilo que tem feito muito sucesso ultimamente. Ouvi vários comentários falando que o livro era super parecido com Jogos Vorazes. E acho que ele é tão parecido quanto qualquer outra distopia. Porque, querendo ou não, aparentemente todo livro distópico tem o mesmo padrão. Só muda o lugar, os motivos, os personagens e o estilo de vida.

A história se passa em uma Chicago futurista onde a sociedade é dividida em cinco facções. Não vou explicar sobre elas agora, no fim da resenha explico detalhadamente sobre cada facção para vocês. Continuando, lá os jovens, aos 16 anos, têm que fazer uma escolha, ou melhor "a escolha". É a escolha que define a vida deles, o futuro deles dali em diante. Eles têm direito a selecionar uma das cinco facções para passar o resto de suas vidas lá. Beatrice tem que fazer a sua escolha.
Sair da Abnegação ou não? Abandonar para sempre sua família e procurar uma facção à qual ela realmente pertença ou permanecer com seus pais e sempre sentir que realmente não pertence àquela realidade?

Sua escolha mudará sua vida para sempre. Não vou estragar a curiosidade de vocês e contar a decisão de Beatrice. Só digo que ela vai fazer novas amizades, aprender a ser corajosa e talvez até mesmo encontrar um amor. Tenho que dizer que demorei a perceber quem seria o mocinho da história. Ou eu devo ser uma idiota ou a autora me enganou muito bem. É claro que tem aquele momento em que a verdade está na sua cara, ai não tem dúvidas e não há como negar.

07 abril 2013

Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago

"O medo cega, disse a rapariga dos óculos escuros, São palavras certas, já éramos cegos no momento em que cegamos, o medo nos cegou, o medo nos fará continuar cegos." (p. 131)
Ao falar sobre livros de "impacto", desenvolvi um hábito de caracterizá-los com o adjetivo "visceral", ainda que nem todos o sejam no sentido mais literal da palavra. Quando concluí a leitura deste romance de José Saramago, no entanto, creio que nenhum outro vocábulo seria tão adequado para descrevê-lo. Simplesmente porque, da primeira linha ao último ponto, Ensaio sobre a Cegueira é duro, cruel, angustiante e, mais que qualquer outra coisa, visceral. 

Através de uma narrativa em que as personagens não têm nome e nem tampouco as falas são marcadas por travessões ou aspas (uma característica típica do autor que reflete a angústia de suas obras), tem-se aqui um mundo em que todos, subitamente, um a um, são assolados pela cegueira. Não a cegueira comum, a qual já conhecemos, mas outra que se dá por uma verdadeira pandemia, que chega aparentemente sem motivo e turva a visão de quem antes costumava ver tão bem. Uma cegueira branca, leitosa e repentina que causa caos e deixa os instintos primitivos da humanidade à flor da pele.

Mais terríveis que o próprio fato de se estar cego, em Ensaio sobre a Cegueira, todavia, são as consequências que a condição traz, levando o leitor a realizar diversas reflexões. Como único escritor em língua portuguesa que venceu o Nobel de Literatura, Saramago desnuda com destreza a alma humana e suas entranhas, o que elas têm de melhor e, com enfoque notável, de pior.

29 março 2013

Adeus, por enquanto, de Laurie Frankel

E se o amor continuasse além da vida?

Adeus, por enquanto é um livro um tanto quanto excêntrico: ele nos traz uma realidade fictícia, onde é possível, de certo modo, conversar com as pessoas que já faleceram. Já imaginaram como seria discutir sobre assuntos cotidianos com a sua falecida avó? Ou com o seu falecido filho? A ideia, é, de fato, extraordinária e incomum. Contudo, essa é a situação com a qual se depara Meredith, cuja a falecida vó ainda a chama para conversas no Skype.

Esse é um dos tipos de livro dos quais, se eu ficar aqui contando uma sinopse ou tentando dar uma ideia geral da história, acaba perdendo a graça. Então, não contarei a vocês mais do que já disse aqui. Hoje a situação é um pouco fora do habitual. Assim, o resto da resenha será mais voltada às minhas impressões e opiniões sobre o livro.

De início, esperava um P.S.Eu te amo com mais tecnologia, mas estava errada. O livro está longe de ser isso. Essa leitura nos faz refletir sobre o luto, sobre como as pessoas em luto o encaram, sobre como as pessoas ao redor delas agem e tudo que o luto nos proporciona. Perder uma pessoa amada não é fácil, normalmente a pessoa ainda é bem viva em nossa memória e é tão difícil se desapegar e seguir em frente... A maioria das culturas impulsionam as pessoas de luto a seguirem em frente. Só que cada um tem seu tempo. Cada um tem direito ao seu momento de luto. Agora, imagine se pudéssemos dizer todas as coisas não ditas? Acertar o pontos e relembrar o passado de uma forma mais viva do que a morte em si?

23 março 2013

A Filha da Feiticeira, de Paula Brackston

Acho difícil, em minha experiência pessoal como leitora, iniciar a leitura de um romance sem expectativas, sejam elas otimistas ou pessimistas. Quase impossível, até. Quando me surgiu este A Filha da Feiticeira, no entanto, poucos comentários havia lido a seu respeito, além de me lembrar apenas vagamente da história que ele traria, de acordo com a sinopse. E eis que, em meio a páginas e mais páginas, viajando por algo próximo de quatro séculos num mundo onde bruxas existem, mal me importei com a passagem das horas, apenas querendo saber quais fins levariam esta trama que tanto se destrincha pelo passado de sua heroína.

Num contexto bastante simplificado, sem as muitas divagações explicativas que o enredo merece, o livro de Paula Brackston narra a história da longa existência da feiticeira Elizabeth Anne Hawksmith, de 384 anos, imortalizada por uma maldição que a persegue. Ou por um vilão amaldiçoado, assim digamos, Gideon Masters, mago perigoso que a iniciou no mundo da bruxaria. Tal realidade de fugitiva e o seu envelhecimento tardio, então, fazem com que ela viva em constante mudança, evitando ao máximo o contato com outros seres humanos em nome de sua condição "especial", apenas vendendo seus óleos e poções naturais para o próprio sustento.

Quando num povoado da Inglaterra, contudo, Elizabeth conhece a jovem Tegan, nasce daí uma curiosa amizade entre as duas que faz com que a bruxa queira iniciar a garota no mundo da magia e dos feitiços, de forma a compartilhar seus maravilhosos e também cruéis segredos. Há em meio à euforia, porém, o medo sempre presente de que Gideon reapareça para reclamá-la e acabe fazendo algum mal a sua aprendiz, pois ele, de forma que o leitor logo nota, sempre estará por perto.

20 março 2013

Precisamos Falar sobre o Kevin, de Lionel Shriver

Kevin Khatchadourian é o jovem de 16 anos responsável pela chacina que matou nove pessoas em seu colégio. Apesar de parecer um grande spoiler, essa premissa é apenas o plano de fundo do thriller psicanalítico que descreve a angústia da mãe de Kevin, que escreve em cartas ao pai ausente do menino. As cartas são escritas por Eva Khatchadourian, que carrega o pesado fardo da culpa pelos atos do seu filho.

O livro começa de uma forma lenta e bastante descritiva e que, apesar de bem chata, é muito importante pra que se entenda tudo o que se passa na cabeça de Eva, uma mulher que sabe o quanto sua vida mudou depois do nascimento de seu filho e depois da quinta-feira que marcou sua vida de uma forma tão absurda. A história é narrada de um jeito a descrever o período anterior ao Kevin, o conturbado período com ele e aquele que veio depois do massacre. 

A sinceridade na escrita é impressionante. A mãe de Kevin não teme em momento algum descrever seus sentimentos em relação ao filho. Ela nunca o desejou e quando ele nasce, fica bem claro que ele também não a queria pois, minutos depois de nascer, ele a rejeita. Kevin é, desde pequeno, um garoto carregado de ódio e maldade, que age calculadamente manipulando todos os que estão ao seu redor para que façam o que ele deseja. Em muitos momentos do livro, fica bem claro que o jovem despreza a mãe e há cenas pesadas e que machucam, sem piedade, o leitor. 

17 março 2013

O Príncipe da Névoa, de Carlos Ruiz Zafón

Considero Zafón um daqueles casos raros de autores em que a paixão e a vocação para a escrita ficam evidentes em cada fragmento de sua narrativa. Ao mesmo tempo, também, o leitor que já está habituado às suas obras identificará nelas, facilmente, as semelhanças sobre as quais tanto falam aqueles que afirmam que  todos os livros de um escritor, ainda que não pertençam a uma série, são a continuação da mesma história. Há quem chame tal evidência de estilo. E o estilo deste notável espanhol se faz pulsante ao longo de O Príncipe da Névoa, um dos romances que compõem suas contribuições para o gênero juvenil, ao lado de Marina, por exemplo, recentemente publicado no Brasil pela Suma de Letras.

O protagonista da vez é Max Carver, um garoto que se muda juntamente com a família para uma tranquila cidade litorânea, em decorrência da tensão vivida em toda a Espanha pela guerra, no ano de 1943. A casa que lá passam a chamar de lar, no entanto, apresenta algumas peculiaridades que intrigam seus moradores: um gato estranho e vigilante que tem um gosto por coisas mórbidas e é adotado pela irmã caçula do protagonista, Irina; sons horripilantes de vozes que ecoam nos quartos; fitas deixadas pelos antigos moradores que mostram a infância de um garoto que faleceu na cidade e, principalmente, um jardim de estátuas abandonado que tem uma trupe de artistas de circo esculpidos de maneira assustadora. Como se não bastassem as excentricidades da vila, há ainda um barco naufragado, evitado até pela vida marinha, o qual foi fruto de um acidente em que todos os tripulantes morreram, menos um engenheiro que cuida do farol da cidade.

Max, com o tempo, ao lado de sua irmã Alicia e do amigo de ambos, Roland, descobrirá que todos esses fatos anormais talvez tenham uma forte ligação entre si. Esta, por sua vez, os conduzirá à misteriosa figura do Príncipe da Névoa. E o clima sombrio dos juvenis do autor está aí novamente.