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segunda-feira, 30 de abril de 2018

Dica nº 6 - Seja Discreto.

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Policial precisa aprender a ver sem ser visto.

Após falarmos sobre os quatro pontos básicos que um jovem policial precisa para ter condições de sobreviver no mundo policial (preparo físico, mental, tático e profissional) passamos a falar sobre consequências do nosso próprio comportamento que boicotam um bom desenvolvimento na carreira e como evitá-los. Já dissemos na postagem anterior, que é preciso resistir às pedradas dos medíocres, agora, falaremos sobre a discrição, também como estratégia de auto-preservação. 

1º - Seja discreto nas redes sociais.

Primeiramente, desconecte-se! Gente, tá demais!!! Um colega meu, mandou um novinho sair da viatura, porque ele não tirava o olho do celular enquanto deveria estar prestando atenção no trabalho. Um delegado me chamou discretamente, pra mostrar uma colega que estava sentadinha, digitando mensagem no WhatsApp, enquanto deveria estar cuidando de uma situação. Um professor da Academia, amigo meu, foi duramente criticado pelos alunos policiais naquela avaliação que a gente faz do professor no final do curso, porque vivia no celular, enquanto deveria estar apoiando a instrução do outro professor, interagindo com os alunos...  Quantas fotos você já viu de guarnições inteiras de policiais olhando o celular ao mesmo tempo, em plena atividade e consequente vulnerabilidade? Lembra daquele vídeo que fizeram de agentes de trânsito de não sei onde, sendo filmados no celular dentro da viatura, ligada, com ar condicionado? Depois querem o respeito da população. Pra mim, não têm nem o respeito dos próprios colegas, pois é indelicado, deselegante mexer no celular enquanto alguém lhe dirige a palavra. Larga isso e preste atenção ao que se passa ao seu redor!

Segundo, rede social não é lugar pra discutir assuntos internos, muito menos fofoca. Fuja desse tipo de conversa. Já vi muito colega bom, ser tirado da operação, do curso, da nova equipe, ser movimentado de setor porque falou demais. Perderam boas oportunidade porque falaram demais. Um diretor de polícia no Afeganistão teve a cabeça cortada, porque falou o que não devia pra quem não tinha que ouvir. Será que você ainda tem dúvida de que TERCEIROS estão lendo o que você escreve? 

Terceiro, pelo amor da Mãe do Guarda, coloque fotos discretas em perfis de redes sociais. Nada de uniforme, eu disse nenhum tipo de uniforme, nenhum símbolo, nenhum armamento, nenhuma viatura, nenhuma foto com preso... (Pôxa, galera... foto com preso?! Isso é simplesmente inacreditável!). Não publique vídeos de operações, nem fotos de flagrantes em seu perfil, não divulgue na Rede que conseguiu vaga em curso, viagem, etc. Gente, trabalho muito com pessoas de outros órgãos e sofro bullying toda vez que algum colega de farda  meu publica essas postagens inapropriadas... Muitas são ridículas, mesmo e seus professores da academia, morrem de vergonha de você, brother. A sua mãe, namorada, seus amigos, eleitores podem até achar bacana, mas seus colegas pensarão duas vezes antes de te convidar para fazer parte da equipe. Lembre-se, bonitão, que Narciso morreu afogado porque era deslumbrado demais com a própria imagem.

2º - Evite a carteirada

Sun Tzu já dizia, "Sê extremamente sutil, discreto, até o ponto de não ter forma. Sê completamente misterioso, confidencial, até o ponto de ser silencioso. Desta maneira poderás dirigir o destino de teus adversários". Aí eu pergunto a você, seus vizinhos, o dono do bar, a professora do seu filho, o dentista, o vendedor de ingressos precisam mesmo saber onde você trabalha? Porque se a vagabundagem sabe que você anda armado, vão procurar uma ocasião pra pegar sua arma, vão até a sua casa em busca de armamento, munição e outros artigos policiais. Pensa comigo, na balada, no trânsito, no avião se você tiver uma discussão e não sabem que você é policial, nada pega... mas se souberem, já deu ruim, porque as chances de você responder por isso na corregedoria são grandes. E só o fato de "estar respondendo" já te impede de participar de muita coisa bacana. Saiba, criatura, que tem muito jornalista, muito amigo de jornalista, interessado num furo de reportagem, no celular que você "perde" na balada, no HD que você deixou dentro do quarto de hotel, quando saiu pra jantar. Aquela gata que tava te dando mole, pode estar interessada apenas nos detalhes daquela conversa que você teve com seus colegas no boteco. Outra coisa, "quem bate esquece, quem apanha, nunca esquece"! Sabe-se lá quem quer gravar um vídeo seu, no lugar errado, com a pessoa errada, pra depois usar isso contra você. Não é mesmo?

3º - Não fique falando de si mesmo pra quem não precisa ouvir. 

Dom bosco dizia: "Fale pouco de você e menos ainda dos outros". Tem muita gente insegura que se irrita só porque você está por perto. Sofri muito pra entender "o que foi que eu fiz pra essa pessoa me tratar assim", até aceitar que o talento, a juventude, a competência incomodam. Você não acredita até começar a levar patada das pessoas sem nenhum motivo aparente. Até sentir que alguém não vai com a sua cara de jeito nenhum, sem nada que o justifique. Não é minha culpa se a mais antiga me vê como concorrente, então o melhor é que ela não me veja, não saiba o que fiz de bom ou de ruim. Sim, porque para pessoas inseguras, qualquer "munição" que conseguirem será usada contra você. Mas, em vez disso, minha tendência vaidosa é escancarar a vida para qualquer um em busca de aprovação. Tem gente que vai se irritar porque você é feliz, enquanto ele escolheu o cargo errado, a mulher errada, a profissão errada. Só lamento... Portanto, não leve assuntos domésticos para o trabalho. Não brilhe mais que seu chefe e cuidado com quem você divide seus sonhos e projetos. Você não precisa contar pra todo mundo que almeja fazer aquele curso, que quer dar aulas, que quer participar dessa ou daquela operação, porque se cai no ouvido da pessoa errada, acabaram as suas chances! Você tá achando um exagero? Às vezes, amigo, há situações onde a perseguição é tanta, que é melhor dizer que você não tá afim de ir, aí você vai! Nelson Rodrigues concorda comigo quando diz: "Finge-te de idiota e terás o céu e a terra".


Reflitam com Ruy Barbosa, amigos, pois "há tantos burros mandando em homens de inteligência, que às vezes fico pensando que a burrice é uma ciência". "Quando Winston Churchill, ainda jovem, acabou de pronunciar seu discurso de estréia na Câmara dos Comuns, foi perguntar a um velho parlamentar, amigo de seu pai, o que tinha achado do seu primeiro desempenho naquela assembleia de vedetes políticas. O velho pôs a mão no ombro de Churchill e disse, em tom paternal: "Meu jovem, você cometeu um grande erro. Foi muito brilhante neste seu primeiro discurso na casa. Isso é imperdoável. Devia ter começado um pouco mais na sombra. Devia ter gaguejado um pouco. Com a inteligência que demonstrou hoje, deve ter conquistado, no mínimo uns trinta inimigos. O talento assusta". (Fonte: Migalhas

É claro que tenho um bizu especial para as meninas. Flor, você é jovem, bonita, inteligente e solteira? tsic, tsic, tsic, tsic... Vai chegar numa delegacia onde já existem casais de colegas se relacionando?  Apenas saiba que antes mesmo de sua chegada já puxaram sua ficha em todas as redes sociais. Levantaram todo o seu histórico na academia. Aquela sua foto, sensualizando, vai estar em todos os grupos ZAP da delegacia. VAI! Se o seu objetivo é que, bem ou mal, falem de você, vá em frente, você está no lugar e no caminho certo, porque novinhos vão mentir, dizendo que já saíram com você na academia, ou que você saiu com este e/ou aquele outro aluno, professor, orientador de turma, diretor, deputado, ministro, secretário geral da ONU. Então, tome cuidado com o que você publica. Agora, se você realmente quer ver, sem ser vista, tipo Arya Stark, passou no concurso, ou está pensando em trabalhar num local mais peruado (disputado), ou quer aquela única vaga, etc. desapareça de TODAS as redes sociais possíveis pelos próximos cinco anos e coloque a foto de um objeto neutro no seu WhatsApp. "Mas Novinha...", Não tem "mas", é o melhor que você tem a fazer.  Você já é um alvo e absolutamente tudo o que fizer nas redes sociais, SERÁ usado contra você, então, é uma questão de sobrevivência.

Para fechar, deixo com vocês o exemplo de Mary, uma escrava negra que trabalhava na Casa Branca dos Confederados e era a melhor fonte de Elisabeth "Bet" Van Lew, uma conhecida abolicionista que se tornou mundialmente famosa por conduzir uma operação de espionagem durante a Guerra Civil americana. Mary possuía memória fotográfica e posava como uma empregada lerda e boba para se infiltrar na casa de Jefferson Davis. Com uma empregada incapaz de ler e escrever, papéis importantes eram deixados expostos para Mary, que os lia, memorizava e depois repassava as informações para Bet. Quando começaram a suspeitar de suas ações ela fugiu. Mary viveu para ver o fim da guerra e para escrever sobre sua história (Fonte: Mahama).

Aí, é disso que eu tô falando.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Dica nº 4 - Faça bem feito.

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"A qualquer hora, em qualquer lugar, para qualquer missão"
- Lema do COT -

Se você já entendeu que é prioritário cuidar de seu bem-estar físico e mental e que você precisa levar sempre muito a sério a sua segurança, acho que agora podemos pensar em fazer um  bom trabalho profissional.

Qualquer um sabe que não tá fácil ser polícia nesse sistema deteriorado em que vivemos no Brasil. Portanto, se você quiser "desculpas" pra não trabalhar eu poderia te apresentar várias, amigo. Só tem um porém, não vale reclamar depois da falta de oportunidades, tá?

Na sua formatura, você jurou que cumpriria suas funções com probidade e denodo, isso se aplica àquelas situações em que ninguém está olhando, certo? Mas alguém pode estar te observando, viu, para o bem ou para o mal. É meio chato ficar usando exemplos pessoais num texto como esse, mas prometi que as "dicas" seriam baseadas em fatos reais... Então desculpem se soa pedante demais, mas já disse anteriormente que estou muito satisfeita em estar trabalhando nesta Unidade em que estou lotada atualmente, mas não foi me escondendo das operações que eu consegui um convite pra vir pra cá, foi porque me viram trabalhando duro e chefiando a operação mais importante da minha vida, até então. E pra ser escolhida como chefe naquela "missão mais importante da minha vida", foi preciso mostrar serviço em muitas outras missões para as quais ninguém queria ir. Assim, se você não é desses que apenas aguardam atrás da moita a chegada da aposentadoria, preste atenção nas dicas da Tia Novinha.

Primeiro: seja voluntário.

Quando entra na polícia, a grande maioria das pessoas não sabe ainda qual é o seu lugar. Outra parte, acha que sabe, mas mudará de opinião à medida em que vai conhecendo diferentes atividades policiais. Portanto, experimente missões em todas as oportunidades possíveis, principalmente naquelas operações para as quais ninguém quer ir. Não desperdice essas chances de descobrir onde você se enquadra melhor. Onde suas habilidades pessoais são mais úteis, mais valorizadas. Além disso, é trabalhando que você vai aprender a lidar com o risco, a ter controle emocional e a manter o foco para resolver problemas. Também é na prática que você vai aprender a ajustar bem e a calibrar o peso do equipamento e da responsabilidade que consegue levar em cada tipo de operação. Vai aprender que é preciso livrar-se do que é desnecessário. Então, aproveite! Claro que vai ser dureza, mas é no calor do nervosismo e da tensão que você vai ser forjado. A espada só é aperfeiçoada após sofrer muitas marretadas. E dói muito!

Segundo: disciplina na veia. 

Ser disciplinado exige insistência, porque não é de um dia para o outro que uma prática se torna um hábito. Faça o procedimento da forma correta, mesmo que todos estejam fazendo errado, sabemos que no trabalho policial, pessoas podem perder a vida se você descumprir uma simples regra de segurança, inclusive no trânsito, então se esforce para trabalhar sempre "no padrão". Insista nas repetições, até fazer com que os procedimentos corretos entrem na "massa do sangue", na memória muscular, e sejam cumpridos de forma quase automática!  Seja organizado com as suas anotações. Memorize informações importantes! Encontre seus equipamentos até de olhos fechados! Procure respeitar a doutrina! Admito que sou meio obcecada por doutrina, porque doutrina é um conjunto de princípios que já foram testados, comprovados, utilizados por vários grupos policiais em diferentes partes do globo terrestre, amigos. É sabedoria adquirida na experiência e nos erros dos outros! Então respeite a doutrina adotada na sua Unidade.  

Terceiro: obedeça a hierarquia. 

Poucas pessoas hoje em dia querem liderar na atividade policial, porque é difícil. Cada colega tem sua opinião e muitas vezes as pessoas criticam sem dó as coordenadas dadas pelo chefe seja ele agente, escrivão, delegado ou administrativo. Das vezes em que chefiei operações, senti como o ser humano é egoísta e como é solitário liderar. Muitas vezes não dá tempo de ficar justificando para cada colega, porque vamos fazer assim ou assado. E muitas vezes vão questionar mesmo depois de todas as explicações já terem sido dadas. Então, procure colaborar com a chefia. É muito desagradável ver um colega questionando sem motivo, só pra testar o chefe, pra irritá-lo, colocá-lo em situação difícil perante os colegas. Claro que dar sugestões, questionar é saudável, lúcido e lícito, mas tem que ter bom senso. Demonstre profissionalismo, lealdade.  Faça o seu melhor! Dê sinais de que você quer muito que a operação dê resultados positivos e que você está comprometido em não deixar que nada de errado aconteça!

Quarto: pense no seu parceiro.

Por mais cansado que você esteja, pense em quem ainda não está liberado para ir pra casa descansar. Se possível, ajude o colega a terminar o serviço dele, também, pra fecharem juntos a missão. Ele também tem família em casa esperando o seu retorno. Vá com ele entregar os equipamentos e viaturas acautelados. Ajude o escrivão na contagem e organização do material apreendido. Quando todo mundo já estiver louco pra terminar, pergunte ao chefe se ele precisa de mais alguma coisa. Seja o primeiro a chegar e o último a sair. Saia do WhatsApp e vá render o colega que ainda não foi almoçar. Ofereça-se para dirigir um pouco em longos deslocamentos. Vai buscar café? Pergunte ao grupo se alguém precisa que você traga alguma coisa.

E reflitam, pois, pra você, hoje, aqui, tudo isso pode não ser nada demais, mas pra quem está há horas em pé, com fome, cansado, com sono... é esse tipo de atitude que marca pra sempre nossa memória afetiva.

É claro que tenho um bizu especial para as meninas. Amiga, se não tá fácil para os novinhos (homens) que chegam ávidos por um lugar ao sol, pra você, que é mulher, vai ser duas, três vezes mais difícil a depender dos acessórios (filho pequeno, beleza física, marido ciumento etc.). É muito comum as pessoas partirem do princípio de que você não vai dar conta! Então, prepare-se pra ter de provar isso uma, duas, três vezes até que eles se convençam, e se mudar de equipe vai começar tudo do zero novamente! Além disso, saiba que se um colega do sexo masculino errar, vão dizer que "tudo bem", que "isso acontece", mas se você errar, as más línguas vão dizer que é porque você é mulher, e que mulher não nasceu pra esse tipo de atividade. Desse jeito, amiga! E mesmo se você fez tudo certinho e se deu bem, vão achar algum defeito ou algum motivo pra desmerecer sua vitória. Já disseram que eu "consegui" uma boa viagem, porque tava tendo um caso com o chefe. Já disseram que eu só recebia convite pra fazer curso fora por causa das minhas pernas... "Mas, Novinha, por que isso é assim?" Eu. Não. Sei. Outra coisa: desculpem entrar nesse assunto polêmico mas, se você quer mesmo ser levada a sério no mundo policial não se apoie em muletas de gênero. "Que isso, Novinha?" São aquelas artimanhas, do tipo chantagem emocional, para garantir um tratamento especial (tipo aliviar a sua carga, sua escala, etc.) na distribuição do serviço porque você é mulher. Olha aqui pra mim: esse tipo de estratégia é o campeão número 1 em arrecadar a antipatia da equipe e se isso acontecer, amiga. Já era! Espere a próxima lotação, porque eles não perdoam, mesmo.

Pra fechar, deixo com vocês o exemplo da Coronel Cynthiane da PMDF, primeira mulher a comandar uma tropa de elite, nada mais, nada menos que o Batalhão de Choque do Distrito Federal. Ela raspou o cabelo e ficou cinco meses na mata com um grupo de alunos do curso de operações especiais do BOPE. Casada com um policial civil, tinha um filho de 3 anos que se assustou quando a viu chegar em casa careca. Cynthiane garante que não houve qualquer regalia ou diferencial durante o curso em relação aos demais colegas. Leia o que ela tem a dizer:

"Quando me formei como PM, os tempos eram outros. As mulheres trabalhavam em grupos separados dos homens. Depois que fiz curso de pós-graduação, assumi a responsabilidade por áreas de ensino da polícia. Resolvi conhecer um dos vários cursos realizados no Bope e o primeiro que fiz foi para me especializar na segurança de autoridades. Eu estava em ótima forma física e o comandante do Bope me convidou para ficar. Não tinha ideia do que me esperava. Acho que foi muito mais difícil para eles, homens, entenderem que eu estava passando por todas as etapas e conseguindo ir adiante, do que para mim. (...) Ainda há preconceito. Ouço comentários de que não acreditam que eu concluí o curso, que não sou capaz. Mas os homens me respeitam, nunca tive caso de insubordinação. Ainda quero mais. Todo mundo sabe que meu sonho é comandar o BOPE (...) A minha chegada ao comando mostra que uma mulher pode qualquer coisa, basta querer, ter preparo psicológico e persistência".

Aí... é disso que eu tô falando!

sábado, 13 de janeiro de 2018

Dica nº 3 - Cultive uma mentalidade de sobrevivência.

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Policial precisa voltar vivo pra casa.

Já falamos sobre a necessidade de estar bem fisicamente e a importância de buscar o conhecimento. Agora chegou a vez de falar sobre a arte da guerra. Entenda que se realmente você leva sua profissão a sério, algumas coisas vão mudar naturalmente: suas prioridades, suas amizades, a forma como você gasta seu tempo livre. Você vai passar a ter um estilo de vida mais... tático. Para aprender a viver bem com essa nova identidade, é imprescindível que você cultive uma mentalidade de sobrevivência. 

Em primeiro lugar, treine

Não recomendo a ninguém o sentimento de que falhou ao enfrentar uma situação de risco. A perda dos valores envolvidos (vida, dignidade, integridade física, etc.) jamais será comparável ao que você deve investir em treinamento.  Aproveite bem cada oportunidade de treinamento que a Instituição te oferece e tente extrair o máximo de cada curso, de cada disparo no estande de tiro, faça anotações sobre o seu desempenho, veja o que você precisa fazer pra melhorar. Registre o seu desempenho! Mas não se limite a isso. Treine tiro sozinho em local seguro, tente aplicar o que aprendeu no treinamento. Se não tiver munição, treine sem munição. Como? Treine sacar e enquadrar o alvo o mais rápido possível. Treine fazer isso sentado, deitado, em baixa luminosidade, dentro do carro parado, dentro do carro em movimento (em local seguro, fazfavô!). Treine fazer isso cansado, após uma corrida, protegendo-se atrás de um abrigo. Treine trocar rapidamente o carregador da arma. Treine atirar com uma mão só. Trocar o carregador com uma mão só. Enfim, treine em condições bem próximas à realidade de um confronto armado onde tiro vai e tiro pode vir também. No confronto real você precisa sacar rápido e enquadrar o alvo da forma mais rápida possível. Segundos  e milímetros podem valer a sua vida. Então, treine!

Treine defesa pessoal policial, mas treine com objetivos concretos. Treine técnicas para neutralizar seu oponente. Treine o que fazer quando estiver com uma arma apontada para a sua cabeça. Treine como cair e não se machucar, treine como se levantar rápido da queda. Treine como se livrar de um estrangulamento, de um ataque com faca, de uma paulada, de um murro na cara, um chute no abdome. Treine táticas para se livrar de um estupro com um homem de 100 quilos em cima de você. Treine como atacar os pontos fracos do inimigo. Na hora "H" você vai reagir como treinou, se não treinou... vai fazer o que, né?

Treine como sobreviver em meio a adversidades. Treine flutuação em meio líquido usando calça jeans, boot e equipamentos. Treine a técnica correta para saltar um muro ou para saltar a uma altura de 10 metros n'água. Treine como descer ou subir de rapel. Treina vários tipos de nós e quando usar cada um deles. Treine como sair de um porta-malas de carro. Treine táticas para sobreviver a um incêndio. Treine como sobreviver no meio do mato, aí na sua região (na selva, na caatinga, na ilha, na montanha, no mar). Treine vários tipos de nós. Treine a arte de detectar mentiras.

Segundo, esteja sempre pronto pra responder a uma agressão. 

Para isso, crie o hábito de deixar sua arma sempre pronta para um saque rápido. Salve e deixe números de telefones de emergência ao alcance rápido. Deixe kits de primeiros socorros sempre à mão. Utilize equipamentos de proteção adequados. Invista em equipamentos úteis como um canivete suíço, um bastão retrátil, uma boa lanterna tática, armas backup, torniquete, óculos de sol de qualidade e aprenda a cuidar deles e a utilizá-los da forma correta. Esteja preparado! Não tem preço quando o colega tá tentando resolver um problema com uma tesourinha escolar, e alguém diz. "Novinha, vem cá, traz seu canivete suíço aí, por favor".

Terceiro, aprenda a detectar de onde vem o perigo. 

Para poder  sacar mais rápido e reagir, você precisa estar atento ao que acontece ao seu redor.  Não precisa ficar "full time a ponto de bala", mas precisa aprender a julgar vulnerabilidades e portar-se de acordo. Precisa detectar ameaças naquele cenário. O que tá errado, ou não tá combinando com o ambiente e então se antecipar. Não pode esperar a agressão ser anunciada para então poder agir. Precisa aprender a sentir se está sendo seguido. Aprender a estacionar o carro numa posição e local mais seguros e avaliar o cenário quando for embarcar de novo. Quando tiver que parar num semáforo, observe quem se aproxima e mantenha-se sempre em condição de reagir, porque ninguém surge na sua frente "do nada". Ou seja, em algum momento você se distraiu e "comeu mosca". Ficou falando ao celular na hora errada, ficou teclando no WhatsApp na hora errada, bebeu (bebida alcoólica) na hora ou da forma errada, etc.

Resumindo. Dediquem-se arduamente a atividades de sobrevivência, porque agora você é policial. A quem muito é dado, muito será cobrado! Então aja e viva com responsabilidade, de forma coerente com a carreira que você abraçou! Um policial é caro demais pra morrer em situações tão bestas.

É claro que tenho um bizu especial para as meninas. No início vai ser uma grande confusão na sua cabeça, porque o curso de formação é todinho feito para homens. No tatame, você vai treinar "defesa do genital" como se fosse homem... A grande maioria dos equipamentos são feitos para homens. Vai na loja e tenta achar um boot 36, por exemplo. Procure um terno feminino que esconda apropriadamente a sua arma... Olha... pouquíssimos cursos terão professoras mulheres e dispostas a te dar aquele toque sobre "como continuar sendo mulher após entrar para a polícia". Então, o jeito é experimentar tudo e ver como fica em você. Hoje, eu amo o Fuzil Colt, parece que foi feito pra mim, porque é uma arma leve e eu consigo bancar o tempo que for preciso. Já adotei a munição que me deixa mais confiante. Já achei ótimos terninhos, sapatos sociais e coldres especiais, com os quais consigo manter a elegância sem quebrar nenhum protocolo de segurança. E descobri o Shemag que revolucionou a moda operacional. É um lenço tático que alguns usam pra proteger o rosto, eu uso pra proteger o pescoço do sol. Amoooo! Mas pra chegar até aqui confesso que comprei tanto coldre, calças e outros acessórios que dá pra encher uma mala. Não é fácil se adaptar. Outra coisa bacana que aprendi, depois de muita humilhação nos tatames da vida, é que treinar joelhadas e cotoveladas em pontos estratégicos é o que há, amiga, porque funcionam muito bem, mesmo se você não tiver tanta força. Entendeu? Porque na pior das hipóteses você ganha tempo pra sacar sua arma ou para simplesmente sair correndo. 

Pra fechar, inspirem-se na mensagem dessa nordestina sertaneja que tornou-se medalhista de bronze no Pentatlo em Londres. O que é Pentatlo?

"Diz a lenda que, durante uma guerra na Europa, um soldado recebeu uma missão: entregar uma mensagem cruzando os campos de batalha. O soldado pegou um cavalo que não conhecia e saiu. Para atravessar as linhas de frente teve que combater usando o revólver e a espada. Mas, no meio do caminho, um problema sério tornou a missão ainda mais difícil. O cavalo se feriu e o soldado teve que completar o percurso a pé, atravessando lagos e rios. Surgiu assim o pentatlo moderno. Cavalgar, correr, nadar, atirar, e enfrentar adversários com a espada. No sertão nordestino, surgiu uma brasileira capaz de fazer tudo isso Yane Marques!"

"Correr, nadar, atirar, usar cavalo e espada
Para uma autêntica sertaneja isso tudo não é nada.
Pois sertaneja é assim: faz de tudo e nada erra
E ainda não abre mão de exaltar a sua terra.
Em afogados da Ingazeira, onde o sol mais forte brilha
Brilha o brilho de Yane, sua mais brilhante filha".

(Trechos copiados do site Do Pernambuco)

Aí, é disso que eu tô falando!

sábado, 6 de janeiro de 2018

Dica número 2 - Mens sana in corpore sano.

Policial precisa investir em conhecimento.


Após discutirmos sobre a importância de um "corpore sano", precisamos investir também numa "mens sana" e fechar esse combo. Afinal, não queremos que os coleguinhas pensem que você é apenas um corpinho bonito, não é mesmo?

Sério que você achou que não precisaria mais estudar na vida, após aprovado no concurso? Sabia que algumas polícias exigem que seus policiais façam cursos inclusive para promoção na carreira? É... Quase uma tortura aquele de "suprimento de fundos", verdade, mas não é disso que estou falando.

Quando você realmente entrar para a polícia (lembrando que "tornar-se policial" é uma coisa, tornar-se um servidor público, é outra bem diferente), você vai sofrer um bombardeio de novas ideias e concepções. Para que esse processo de mudanças seja saudável, titia recomenda que você faça ótimos cursos, leia bons livros, investigue "por que isso é assim?", questione as idéias dos professores (depois do CFP, pode!). Estude. Eventualmente, você vai precisar defender seus pontos de vista perante outros colegas policiais, colaboradores, servidores de outros órgãos, cidadãos, autoridades. Esteja preparado. Pare de fazer as coisas no automático, andando no fluxo da multidão e pense. Conheça a legislação afeta ao seu trabalho. Considere suas vulnerabilidades. Confronte suas práticas. Clique nas abas ocultas. E se você discorda, sei lá eu de quê, tá tudo certo, mas discorda por que? Você realmente sabe onde estão fundamentados os teus parâmetros de certo e errado? Espero que não seja nas listas de dicas dos blogs da Internet! Você precisa avaliar constantemente as premissas que te levaram a adotar estes padrões e, então, tirar suas próprias conclusões, porque, se não fizer isso, você vai virar um mero papagaio repetidor das frases idiotas que se ouve por aí.

É bem provável que você passe no mínimo uns cinco anos na sua primeira lotação, concorda? Você pode passar todos esses anos jogando World of Warcraft nas horas vagas, pra que o tempo passe logo, ou talvez possa construir algo mais inteligente e sólido pra levar contigo dessa experiência. Conheça a região onde você trabalha e explore o que essa vivência tem a te oferecer. E então, trace clara e objetivamente seus percursos de curto, médio e longo prazos, porque existe vida após o estágio probatório! Já pensou que talvez este seja o momento mais que oportuno para aprender um novo idioma, uma nova cultura! Tente ver as coisas de um modo diferente.

Já pensou que em cinco anos, você pode fazer outra graduação, um mestrado, um doutorado.  Sabia que tem novinho fazendo pós-graduação na Academia? Sabia que tem novinho publicando pesquisas científicas baseadas em dados do trabalho policial? Sabia que enquanto você reclama da distância, do descaso, da diferença, tem gente fazendo excelentes cursos policiais (e novos amigos!) que só são oferecidos aí na sua região? Sabia que grupos de operações especiais estrangeiros vêm fazer cursos no Brasil para dominar artes e técnicas que o PM da sua região aprendeu na infância?

Reflitam, porque na pior das hipóteses você vai se tornar uma pessoa muito mais interessante.

Para as meninas, é claro que tenho um bizu especial. Não é por acaso, amiga, que o curso de formação é de quase um semestre em regime semi-aberto, longe do seu habitat natural. "Mais alguém aí foi crucificada pela sociedade por se ausentar do ninho tanto tempo?" Então... sugiro que você avalie bem as oportunidades de crescimento que a polícia pode te oferecer, e selecione aquelas que realmente merecem sua atenção e o preço que está disposta a pagar por isso. Daí, converse com seu namorado ou marido (na verdade deveríamos ter feito isso antes mesmo de começar a estudar para o concurso, não é mesmo?). E decidam juntos como vai ser isso de viajar a serviço, trabalhar até tarde ou em regime de plantão, fazer cursos fora, continuar estudando, enfim... organize essa parte antes, ajuste esses ponteiros com antecedência, pra evitar muito estresse, crises e confusões desnecessárias quando as oportunidades profissionais baterem na sua porta. E vão bater! Caso você tenha filho pequeno, amiga, é imprescindível que vocês montem um "staff" de confiança pra dar apoio quando você precisar. Super invista nisso, pois mãezinhas policiais precisam ter Plano Alfa, Plano Bravo, Plano Charlie... sempre! Levem em consideração tudo isso antes de montar sua estratégia de escolha de lotação e divirta-se! Não estou dizendo de jeito nenhum que você precisa abrir mão disso ou daquilo, meu ponto é apenas sugerir que você decida conscientemente e conviva bem com suas decisões. Porque, sério, ser mulher na polícia é buscar constantemente um tal de equilíbrio entre a culpa por ter saído e o arrependimento por ter ficado.

Pra fechar, leia e deixe-se inspirar por este trechinho do relato de vida da PhD brasileira, negra, filha de uma empregada doméstica e de um profissional de curtume, a qual, após vários episódios de superação, conquistou um convite para fazer o seu pós-doutorado na Universidade de Harvard, nos EUA, e mesmo com todo o preconceito ja´conquistou 56 prêmios na carreira.

"...minha mãe me levava com ela para o trabalho. Ela aproveitou que tinham jornais na casa da patroa e me ensinou a ler para eu ficar mais quieta. Tinha quatro anos e ficava o dia todo lendo. (...) um dia, a diretora da escola Sesi foi visitar a dona da casa e perguntou se eu estava vendo as fotos do jornal. Respondi que estava lendo. Ela se surpreendeu, me pediu para ler um pedaço e eu li perfeitamente. Coincidentemente, era começo de fevereiro e ela sugeriu, que eu fosse uns dias na escola. Se eu conseguisse acompanhar, a vaga seria minha. Deu certo e com 14 anos eu já terminava o ensino médio. (...) As armas mais poderosas que temos para vencer na vida são a educação e o estudo". 

Aplaudo de pé a sua história de vida, Doutora Joana D'Arc. Olha bem o nome da guerreira!!! E parabéns, também, para a incrível sabedoria iluminada da sua mãezinha que soube aproveitar os jornais da casa da patroa para te ensinar a ler. Uma belíssima e inspiradora parceria entre mãe e filha.

Aí... é disso que eu tô falando!

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Dica número 1 - Aos barrigudinhos.

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Policial precisa estar bem fisicamente

Como vocês já devem saber, de norte a sul, de leste ao velho oeste, as boas oportunidades na polícia normalmente vão para os "antigões" (princípio da paleontocracia) ou para os "amigos da corte" (instituto do amicus curiae). Apenas excepcionalmente, é que uma chance boa dessas bate à porta de um "novinho", não é verdade? É aí que você precisa estar preparado.

A primeira dica que me vem à cabeça quando penso no Novinho Policial é essa: considere o seu potencial físico. Seu corpo é o seu principal objeto de trabalho. Você acha bom sair para uma operação com munição fraca? Com dúvidas sobre a manutenção do seu armamento ou sobre o perfeito funcionamento de uma viatura? Então, cabeça.

Muitos bons policiais perdem grandes oportunidades por estarem fora de forma, mesmo quem acabou de sair da Academia! Desculpas e dificuldades são muitas: seja porque ainda não encontraram um bom local pra treinar na nova lotação; seja porque o trabalho é muito exigente e não sobra tempo ou estão muito cansados pra treinar; ou simplesmente, porque estão desanimados, deprimidos, decepcionados. Então... é neste momento, quando você menos espera, que aquele colega te liga dizendo que surgiu um curso, mas que é preciso "flutuar sei lá quanto tempo em meio aquático", ou que teria que "correr mais de 2.000 metros em 12 minutos". É aí que se não estiver preparado, você vai declinar do convite com alguma desculpa qualquer, não é mesmo? Muita gente quer vir para o meu setor, mas poucos querem treinar... é pra esses poucos que eu passo bizu.

Acho muito importante frisar que a atividade física também melhora tua saúde mental e psicológica. Previne, por exemplo, a depressão, sabia não??? Quem já passou no concurso conhece o preço pago em "perseguir um sonho" por meio das longas horas em estudos e treinos, certo? Não é difícil encontrar relatos de concurseiros que perderam namoros e amizades, baladas e botecos, casamentos e funerais porque aquela prova insana estava chegando. O custo do estilo "Vida Social 0 X 10 Edital", deixa suas marcas. Quando passa no concurso, finalmente você vai para a Academia de Polícia, que alegria! E aí vai passar mais alguns meses isolado do mundo sendo gerado no útero daquela... daquela Madrasta-Megera-Malvada (pronto, falei!), ouvindo-a dizer, tácita ou explicitamente, que você "Nunca será". E quando, então, você prova para ela que você é capaz, sim... eles te mandam pra longe de casa, do namoradinho, do conforto de morar no seu apartamento, da casa da mamãe, da convivência cotidiana com os seus amigos, dos colegas no trabalho anterior, dos melhores parceiros da Academia... Mimimimimi! Engole esse choro, meu bem... porque agora você vai começar uma nova vida lá onde o vento faz a curva, onde o clima é estranho, os costumes são diferentes, o ambiente social e os desafios são completamente novos pra você.

Nesta altura me vem a pergunta: "Será que ainda tem alguém lendo este post motivacional?".

Tenho um histórico respeitável de depressão na minha família. Queria compartilhar isso. Obrigada. Mas, até o momento, graças a Deus, essa desgraça nunca me pegou. Pra mim, a atividade física é, além de uma amiga do peito, um forte antidepressivo preventivo. Se este problema estiver rondado o seu caminho, saiba que depois de Jesus Cristo, nosso Senhor, é aquele seu tênis de corrida que vai se apresentar como um dos seus amigos mais chegados. Esse é o cara que nunca vai largar do seu pé! Que sempre vai ter tempo pra você. E o seu quimono. Este será seu melhor parceiro de lutas! Jamais vai te deixar na mão quando você estiver sem fôlego no combate. É ele que vai estar ali te dando forças, te abraçando, enquanto você se recompõe perante o adversário.

E haja coração, queridos novinhos, pois ter um ataque cardíaco ao fazer uma abordagem ou durante uma perseguição policial é literalmente o fim da picada... Nunca se sabe quando você vai ter que pular o "muro do desespero", ou sustentar seu peso agarrando-se ao esqui de pouso de um helicóptero, ou ainda subir numa embarcação estando dentro d'água com equipamento, botas e tudo o mais. Espero sinceramente que você consiga, porque, caso contrário, na melhor das hipóteses, você vai virar a piada do ano na delegacia. Se cair nas redes sociais, então, misericórdia!

Para as meninas, é claro que tenho um bizu especial. Noto que vários colegas meus gostam de ressaltar o fato de sempre me verem treinando uma coisinha aqui, outra ali. Eles acham que isso demonstra seriedade ou coisa do gênero. Outros comentam admirados o fato de terem me visto correndo outro dia láááááá na ponte. Acham que isso demonstra comprometimento. Saiba que em matéria de treinamento físico, mulher já chama a atenção logo e muito facilmente... para o bem ou para o mal, amiga. Cansei de ver cofrinho masculino, elástico de cueca, etc... e ninguém fala nada. Agora vai você para qualquer treinamento com roupa inadequada pra ver... Por outro lado, você também será notada pelo simples fato de chegar mais cedo pra alongar ou aquecer direitinho, entendeu? Se entrar um pouco além do horário, treinando repetições, é certo que vão comentar. "Por que, hein?" Não sei, gente, tenho tantas questões quanto vocês. Mas in-fe-liz-men-te dizem que é raro ver esse tipo de comportamento no segmento feminino... bem... E pra quem não é do meio, aviso que fazer corpo mole pode até funcionar para outros fins, se é que me entendes, mas se você quer ser reconhecida como uma boa profissional da área policial, não mete essa, ever

Pra fechar, deixo com vocês as palavras de uma atleta olímpica militar da gloriosa Marinha Brasileira, medalha de bronze no Pan-Americano de Toronto em 2015 que quando questionada sobre a polêmica da continência no pódio, nos Jogos Olímpicos Pan-Americanos simplesmente respondeu:

"...Se não fosse a Marinha, eu não estaria onde estou hoje. Portanto, sem dúvidas e com toda honra, eu prestaria continência para o Hino Brasileiro no pódio.” Fernanda Decnop

Eu acho que o inverso também é plenamente verdadeiro, né Fernanda, minhas respeitosas continências a você, porque se não fosse VOCÊ, a Marinha e o Brasil não estariam brilhando daquela forma no pódio, não é mesmo?

Aí... é disso que eu tô falando.


domingo, 29 de outubro de 2017

Antes.

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Sabe que o problema não é a operação em si? O pior é o antes. São os dias que a antecedem. São as suas perguntas sem resposta. É a noite mal dormida. É a expectativa. É o alvo embaçado. É a infinidade de coisas que podem acontecer num local que você não reconheceu. É o ensaio mental sobre o que não foi "brifado".  É o medo. É a dúvida. É não saber em quem se deve confiar ou não. É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol.

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Cada um usa as armas que tem.



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Ela contou que estava andando num lugar ermo à noite e percebeu que alguém a estava seguindo. Andou mais rápido e o cara também acelerou. Virou numa rua para despistá-lo, virou na outra e ele fez o mesmo! Daí ela teve uma ideia. Foi diminuindo o ritmo e olhando pra trás até o sujeito chegar mais perto. Então ela parou de repente e se virou, encarando-o. Ele parou e começou a olhar pra ela de forma lasciva e libidinosa. Então ela simplesmente levantou a saia, sem tirar os olhos dele. Imediatamente ele baixou as calças. 

"Mas e aí??? O que foi que aconteceu, gente?"

Ela saiu correndo ué, porque é muito mais fácil correr com a saia levantada do que com as calças arriadas. 

terça-feira, 20 de junho de 2017

Repercussões.



Uma colega, também novata, teve um probleminha em sua primeira viagem a serviço aqui neste novo setor. Acho que ela entendeu erroneamente que a situação estava dominada e baixou a guarda. Ninguém se feriu, mas o fato repercutiu muito rápido.

Ela vai ficar um tempo "na geladeira" por conta desse incidente até se acalmarem os ânimos. Foi bem estranho terem-na tirado da escala sem avisar ou explicar que estavam fazendo isso para o seu próprio bem. Ela ficou mal. Foi bem desagradável essa história, mas não estou tomando as dores da colega não, reconheço que foram generosos em não tê-la feito voltar para seu local de trabalho original, porque fomos avisadas que isso poderia acontecer quando chegamos.

O fato do incidente ter acontecido com uma novata fez com que todo o universo voltasse os olhos para o segmento feminino do setor. A pressão aumenta consideravelmente, porque as mentes feudais questionam se essa função deveria ser mesmo realizada por mulheres.

Aprendi que somos mais cobradas que os homens. Os erros deles são tantas vezes considerados incidentes bobos de percurso, uma coisa normal da vida, quase um charme da profissão. Não é assim quando uma policial erra. Os comentários são maldosos, paradoxais e querem questionar a essência da nossa competência para o trabalho policial, seja a colega recém-chegada, antigona ou candidata.

E como se não bastasse, tudo isso alimentou a fogueira das vaidades das colegas mais antigas, que agora questionam a qualidade desse último recrutamento, discussão essa que, claro, lhes traz um certo star quality. É impressionante.

terça-feira, 6 de junho de 2017

Ambiente hostil.


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Boa noite pra você que tomou duas patadas e um gelo de oito longas horas num único dia de trabalho e bem-vindos ao maravilhoso submundo obscuro dos outsiders da polícia.

- "Mas Novinha, você mandou essa pessoa ridícula para o inferno ou apenas para o raio que a parta?" - pergunta o leitor dos meus pensamentos, desejoso de uma resposta à altura do esculacho que levei.

Calma amigos, porque antes de falarmos das relações brancaleônicas de poder no nosso já desbotado serviço público, informo que essa foi minha primeira operação com esta policial que chamaremos de Cercei Lannister. Na verdade ela não está na mesma missão que eu e a maioria das outras meninas. Minto. Ela está, mas o departamento dela é outro, a função dela é totalmente administrativa e nem arma ela usa.

Agora quero deixar claro que, por eu ser, na maioria das vezes, muito discreta, não estou exposta normalmente a esse tipo de agressão, mas dependo do trabalho dela... Eu pre-ci-so perguntar!

Olhando pelo lado bom da situação, agora saímos da zona da mera especulação para a certeza de que é oficial: estamos num ambiente hostil e iremos atuar nessa medida (é assim que se faz, Hannah Baker).

Não, amigos. Isso não é uma construção do meu hipotálamo, não, tá? O clima aqui não está legal e tem alguma coisa pegando, sim. Havia uma outra colega na cena, até então muito séria e fria como uma rocha, Paulina (nome fictício), que comentou na volta comigo: - "Nossa, não entendi porque ela te tratou daquele jeito". E numa grande oportunidade de ganhar minha primeira aliada na rebarba desse acontecimento... eu fiquei absolutamente calada.

  • primeiro porque se Paulina não entendeu, muito menos eu! 
  • segundo, porque Cercei tem uma considerável influência política junto às chefias do último escalão.
  • terceiro porque Cercei não deixa de ser uma referência forte para as outras policiais que, né, precisam de uma prótese na liderança feminina, devido à saída de Beatrix Kiddo.
  • quarto porque Cercei é do mesmo curso de formação de boa parte das meninas deste setor, o que, em tese, gera entre elas aquela afinidade espontânea. 
Assim, não vou dizer que fiz um voto de humildade franciscana, mas se o silêncio é o santuário da prudência, como apregoa o jesuíta espanhol Baltasar Gracián, é pra lá que eu vou! Ora, se Paulina quer entender Cercei, por que não perguntou a ela?

Aqui pra nós, eu até entendo que seja normal, embora anti-estético, que um policial novato seja tratado com uma certa frieza nos primeiros meses de trabalho pelos mais antigos até ganhar a confiança deles sobre a nossa capacidade, mas aprofundando um pouco mais a leitura, a pergunta que me vem é: em quê, afinal, consiste realmente essa desconfiança dark opressiva dela?

(Como é que eu vou saber, mundo cão?!?)

De qualquer forma, eu não cheguei aqui capinando sentada, né? Ninguém tem ideia da ralação e da honra que é pra mim estar aqui. Esta figura vai aprender a me respeitar naturalmente, porque o trabalho dela também depende do meu.

sábado, 7 de janeiro de 2017

Meninas que dormem no banheiro.

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Uma das coisas que mais me deixavam curiosa neste novo local de trabalho, era ver como as meninas daqui atuavam. Eu queria muito saber como elas resolvem coisas que até hoje não resolvi. Não tinha nenhuma instrutora no curso, o que é uma pena, porque elas sempre dão uns bizus para o público feminino. Sim, já tinha visto algumas dessas meninas operando, mas foi sempre de longe, no máximo um olá, ou minutos rápidos daquela conversa formal de quem se respeita e se analisa mutuamente.

Na verdade só fui apresentada ao segmento feminino, informal e acidentalmente no banheiro das meninas. Foi meio traumático, pra falar a verdade. Neste "posto", nós não temos o que se pode chamar de alojamento para repouso. Nos banheiros temos aqueles armários individuais e alguns sofás. Entrei nesse toilete feminino, acendi a luz e bingo... Tinha umas quatro meninas descansando lá, na hora do almoço. Dormindo, né? 

Lembrei-me da aula de bombas e explosivos quando o professor dizia "não acendam a luz quando entrarem num ambiente com suspeita de bombas". Hihihi... Tudo bem, não foi nada, mas sabe? E essa foi minha breve introdução. 

Lembro-me que uma delas, que nem é tãããão antiga assim, estava com uma cara meio grogue de tanto sono. A outra me olhou como quem diz "quem é esta que perturba?". Era eu me explicando, "Desculpa gente, não, era nada não. volto depois"  e blé. Fugi.

Mas isso aconteceu tão logo cheguei aqui. Como eu havia dito, o blog tá atrasado e inclusive, nosso aniversário passou sem postagem especial no ano passado. Pretendo me redimir.

Mas voltando ao assunto, ainda estou procurando por alguma marca de estilo que a experiência delas tenha trazido para nossa atividade. Quero muito aprender algo delas que eu leve comigo depois que eu sair daqui. E que seja exclusivo, porque isso aqui é uma experiência única! Sei lá se estou ficando exigente demais. Simplesmente me recuso a aceitar que a doutrina seja tão masculina assim.

Até o presente momento a única coisa que eu sei, é que as meninas aqui dormem no banheiro e dormem mesmo. Agora, por mais que eu me mate o dia inteiro e esteja exausta na cama por volta de 20 horas quase todos os dias. Eu não vou dormir assim no banheiro, gente. Ou seja, algo me diz que trarei um certo desconforto iluminista ao ambiente. Fiat lux! 

sábado, 31 de outubro de 2015

Lucidez.


Tem missão que, sinceramente, não vale o que se gastou da sola do seu sapato. É preciso esmagá-la ainda na fase de planejamento, antes que ela roube você de você mesmo. Com o tempo a gente aprende a direcionar melhor nossa intensidade, porque a vontade de agir transborda como jazz e furtivamente te faz escravo dos caprichos de gente manipuladora. Assim, entendemos que essa, afinal, era a nossa grande missão: dizer não ao vazio, que é pra onde vai nossa energia e os gastos públicos com esse tipo de ação. Dormi com o estigma de incompetente, mas acordei com aquela leveza da sensação do dever cumprido. É preciso aprender a sentir o baque da realidade policial no Brasil. Espero que não seja muito tarde. Às vezes demoramos um pouco mais para constatar isso. Talvez você sofra um pouco quando perceber essa clareza. Mas não desista, isso se chama lucidez. Ela brilha na escuridão.


domingo, 12 de julho de 2015

Os professores.


Sonhei que eu dava aulas na Academia e no sonho eu era mais nova de casa ainda do que sou agora. Esse detalhe não foi ocultado pra provar pra vida que quem determina o nível do ridículo nesse blog, soy yo.

Olha, se aluno já pensa que é muita coisa, imagina os professores. Nas solenidades da Academia, os professores ficam destacados em áreas especiais. Os alunos sempre chegam mais cedo e os observam se aproximando aos poucos, se cumprimentando e tomando seu lugar no dispositivo.

Nos cursos de formação profissional, o professor é sempre chamado de senhor e quando entra em sala de aula, toda a turma fica em pé ao comando do xerife. Antes da primeira aula, o professor é apresentado à turma com a leitura do seu currículo. E essa é uma das partes que eu acho mais interessante, a história da vida do cara, seus cursos, locais de lotação, menções honrosas.

Adorava também quando o professor contava uma história sua pra ilustrar alguma aplicação do ensino proposto. Até quem tá cochilando acorda e chovem perguntas! Até hoje, o que melhor consigo lembrar dos professores que me deram aula, são pelos "causos" que contaram. Tinha uma professora que eu não lembro mais o nome, nem a matéria, mas lembro bem dela contando sobre uma operação divertidíssima em que trabalhou fazendo exatamente o que eu faço hoje.

Mas já percebi que, infelizmente, rola muita vaidade, como em todo meio acadêmico. E onde rola vaidade, rola muita coisa que a tia do jardim de infância já dizia ser muito feia. Virou professor? De brinde, vira alvo do recalque dos coleguinhas. Principalmente mulher! Coisa muito triste isso.

Nas aulas de conteúdo mais teórico, que envolve muita legislação e conhecimentos que você tem fácil acesso, digamos assim, é mais tranquilo. Já nas matérias mais operacionais o clima é bem mais tenso. Nessas aulas a gente sempre ouve que "um detalhe esquecido pode ser catastrófico para toda uma operação", que isso ou aquilo "pode custar a vida de alguém". Exagero ou não, nessas matérias sempre vai rolar muita discussão se a técnica proposta se aplica ou não na prática; se não seria mais fácil fazer de outra forma; se a doutrina americana, francesa ou boliviana seria melhor que a nossa e por aí vai.

Imagino que para o professor também não seja fácil, pois mesmo em turmas de curso de formação profissional tem alunos com bagagem adquirida em outras instituições, polícias e forças militares. E sempre tem um iluminado pra questionar: "mas, professor, e se... aqui eu fosse atacado por um... jacaré voador"? Enfim.

E o que dizer dos cursos especializados? Aí é que a vaidade rola mesmo, porque às vezes aparecem umas figuras que se acham e cuja missão da vida é não aceitar orientação de seres "inferiores".  Isso, sim, é o que eu chamo de circo. Palmas para os palhaços.

Li por aí que no Japão os professores são os únicos profissionais que não se curvam ao imperador, porque para os japoneses, numa terra que não há professores, não pode haver imperadores. Aqui é o contrário. 

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Avenger.


Pra ficar mais simples, entenda apenas que saí da "sala do papel" para trabalhar na "sala da justiça", ok?  

Daí que imaginava eu ser a sala de justiça simplesmente o cérebro da minha área operacional, onde um colegiado de super-heróis-super-amigos decidiam o destino da humanidade numa sala cheia de telas e informações. Tenho tendências ao pensamento juvenil e ninguém se surpreende mais com isso, né? 

Mas sabe quando você, policial que realmente opera, chega na situação e pergunta: "Mas quem mandou essa viatura pra cá?" ou "Quem foi o gênio que determinou que entrássemos por aqui e não por ali?", então... seus problemas acabaram. Agora, eu sou o gênio dessa lamparina. Sou eu que vou mе vingar planejar e dar nome para as próximas operações.

- Ué, Novinha, não seria um grupo colegiado de super-heróis-super-amigos das galáxias???

Seria, mas descobri que o "grupo colegiado" somos apenas eu (mezzo novinha) e um delegado (pausa dramática pra chorar) que é com-ple-ta-meeen-te leigo no assunto, gente. 

quarta-feira, 11 de março de 2015

"40 tons de punição"


Peguei meu pedreiro, em flagrante, me roubando. 

Foi assim: vendi meu apartamento, comprei um lote, escolhi uma planta com um engenheiro legal e contratei o pedreiro. Poié... esse cara, o pedreiro que me indicaram, com mil e uma recomendações, havia atrasado assombrosamente o andamento da minha obra, porque precisava construir, ao mesmo tempo, a casa dele com meu material de construção. Eu disse: "construindo, ao mesmo tempo, a casa dele". Eu disse: "comeu material de construção". Primeiro dei falta de um saco de cimento. Mas porque sou policial, meu bem disse que desconfio de todo mundo. Desconfio mesmo! É a ética da vida, sem sentimentalismos ou utopias, amore. Bem disse o jesuíta Baltasar Gracián: "a confiança é a mãe do descuido". 

Depoieu simplesmente vo pedreiro carregando o meu material pra casa dele

Aí você, baseando-se naquelas milhares de histórias de policiais que ouviu por aí, imagina logo que eu dei voz de prisão em flagrante para o safado, né?

Estudos recentes dão conta de que policiais adoram contar vitórias, principalmente professor de academia de polícia, mas poucos contam as derrotas. A menina super esperta da polícia de Marte que perdeu o cargo por ter grampeado o celular do namorado, jamais se do tipo que fica na boate dando  carteirada de heroína com essa história pra novinho dormir. O antigão policial de Pluo que "puxou arma" pra vendedora da banca de muamba, uma chinesa que lhe vendera mercadoria danificada, levou, sei lá, uns 40 dias de suspensão, mesmo tendo recorrido ao judiciário. Esse extra-terrestre policial não vai escrever um livro sobre os "40 tons de punição" que ele levou. Ocorre que depois da estratégia mal sucedida da "PEC da Impunidade" os delegados humilhados precisam mostrar serviço para o Ministério Público. Se espirrar, saúde, Senhor Corregedor!  

o pergunteo que eu fiz coo pedreiro ladrão.

"Mas você fez o que com o pedreiro ladrão, Novinha espera?"

Nadinha, obrigada. Apenas dei-lhe um sermão do tipo "sabão", entreguei a obra pra Deus e para o meu bem (em amboos sentidos, mesmo). o... nem demitir o pedreiro eu pude, porque mesmo se ele voltasse a me roubar, ainda compensava financeiramente porque  meu prejuízo seria menor. Haja vista que um distinto cavalheiro  que chamo de meu bem já tinha dado um adiantamento robusto para o vagabundo que me recomendaram tão bem. Va-ga-bun-do, sim! 

Achando que fui conivente com um roubo contra minha pessoa. Procede?

Estou contando tudo isso porque mundo precisa saber que pela primeira vez na minha vida... sério mesmo, senti uma forte empatia para coos assassinos frioe calculistas que entraram para a história da humanidade. (Furto famélico porque não é o seu material, meritíssimo!) Eu realmente quis matar esse filho de chocadeira, desgraçado, porque eu passo dias e dias fazendo orçamentos, para o bonitão colocar meu material comprado com meu dinheirinho suado e honesto na casa dele ainda receber poisso? Muita raiva, tanta que não consigo sequer pisar naquela obra mais. Porém, como tudo na vida tem suas consequências, levarei para a terapia essas minhas recém adquiridas fantasias de SNIPER! Sabe aquele cara que atira de longe, com tranquilidade e precisão? Fantasias, né, porque nessa histórieu não sou sniper, sou refém do desgraçado do pedreiro ladrão. 

A propósito,hipoteticamente falando, se alguéestivessentind
refém coessa roubalheira da Petrobrás, não pode chamar THE SNIPERS, pode?