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sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Dica nº 4 - Faça bem feito.

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"A qualquer hora, em qualquer lugar, para qualquer missão"
- Lema do COT -

Se você já entendeu que é prioritário cuidar de seu bem-estar físico e mental e que você precisa levar sempre muito a sério a sua segurança, acho que agora podemos pensar em fazer um  bom trabalho profissional.

Qualquer um sabe que não tá fácil ser polícia nesse sistema deteriorado em que vivemos no Brasil. Portanto, se você quiser "desculpas" pra não trabalhar eu poderia te apresentar várias, amigo. Só tem um porém, não vale reclamar depois da falta de oportunidades, tá?

Na sua formatura, você jurou que cumpriria suas funções com probidade e denodo, isso se aplica àquelas situações em que ninguém está olhando, certo? Mas alguém pode estar te observando, viu, para o bem ou para o mal. É meio chato ficar usando exemplos pessoais num texto como esse, mas prometi que as "dicas" seriam baseadas em fatos reais... Então desculpem se soa pedante demais, mas já disse anteriormente que estou muito satisfeita em estar trabalhando nesta Unidade em que estou lotada atualmente, mas não foi me escondendo das operações que eu consegui um convite pra vir pra cá, foi porque me viram trabalhando duro e chefiando a operação mais importante da minha vida, até então. E pra ser escolhida como chefe naquela "missão mais importante da minha vida", foi preciso mostrar serviço em muitas outras missões para as quais ninguém queria ir. Assim, se você não é desses que apenas aguardam atrás da moita a chegada da aposentadoria, preste atenção nas dicas da Tia Novinha.

Primeiro: seja voluntário.

Quando entra na polícia, a grande maioria das pessoas não sabe ainda qual é o seu lugar. Outra parte, acha que sabe, mas mudará de opinião à medida em que vai conhecendo diferentes atividades policiais. Portanto, experimente missões em todas as oportunidades possíveis, principalmente naquelas operações para as quais ninguém quer ir. Não desperdice essas chances de descobrir onde você se enquadra melhor. Onde suas habilidades pessoais são mais úteis, mais valorizadas. Além disso, é trabalhando que você vai aprender a lidar com o risco, a ter controle emocional e a manter o foco para resolver problemas. Também é na prática que você vai aprender a ajustar bem e a calibrar o peso do equipamento e da responsabilidade que consegue levar em cada tipo de operação. Vai aprender que é preciso livrar-se do que é desnecessário. Então, aproveite! Claro que vai ser dureza, mas é no calor do nervosismo e da tensão que você vai ser forjado. A espada só é aperfeiçoada após sofrer muitas marretadas. E dói muito!

Segundo: disciplina na veia. 

Ser disciplinado exige insistência, porque não é de um dia para o outro que uma prática se torna um hábito. Faça o procedimento da forma correta, mesmo que todos estejam fazendo errado, sabemos que no trabalho policial, pessoas podem perder a vida se você descumprir uma simples regra de segurança, inclusive no trânsito, então se esforce para trabalhar sempre "no padrão". Insista nas repetições, até fazer com que os procedimentos corretos entrem na "massa do sangue", na memória muscular, e sejam cumpridos de forma quase automática!  Seja organizado com as suas anotações. Memorize informações importantes! Encontre seus equipamentos até de olhos fechados! Procure respeitar a doutrina! Admito que sou meio obcecada por doutrina, porque doutrina é um conjunto de princípios que já foram testados, comprovados, utilizados por vários grupos policiais em diferentes partes do globo terrestre, amigos. É sabedoria adquirida na experiência e nos erros dos outros! Então respeite a doutrina adotada na sua Unidade.  

Terceiro: obedeça a hierarquia. 

Poucas pessoas hoje em dia querem liderar na atividade policial, porque é difícil. Cada colega tem sua opinião e muitas vezes as pessoas criticam sem dó as coordenadas dadas pelo chefe seja ele agente, escrivão, delegado ou administrativo. Das vezes em que chefiei operações, senti como o ser humano é egoísta e como é solitário liderar. Muitas vezes não dá tempo de ficar justificando para cada colega, porque vamos fazer assim ou assado. E muitas vezes vão questionar mesmo depois de todas as explicações já terem sido dadas. Então, procure colaborar com a chefia. É muito desagradável ver um colega questionando sem motivo, só pra testar o chefe, pra irritá-lo, colocá-lo em situação difícil perante os colegas. Claro que dar sugestões, questionar é saudável, lúcido e lícito, mas tem que ter bom senso. Demonstre profissionalismo, lealdade.  Faça o seu melhor! Dê sinais de que você quer muito que a operação dê resultados positivos e que você está comprometido em não deixar que nada de errado aconteça!

Quarto: pense no seu parceiro.

Por mais cansado que você esteja, pense em quem ainda não está liberado para ir pra casa descansar. Se possível, ajude o colega a terminar o serviço dele, também, pra fecharem juntos a missão. Ele também tem família em casa esperando o seu retorno. Vá com ele entregar os equipamentos e viaturas acautelados. Ajude o escrivão na contagem e organização do material apreendido. Quando todo mundo já estiver louco pra terminar, pergunte ao chefe se ele precisa de mais alguma coisa. Seja o primeiro a chegar e o último a sair. Saia do WhatsApp e vá render o colega que ainda não foi almoçar. Ofereça-se para dirigir um pouco em longos deslocamentos. Vai buscar café? Pergunte ao grupo se alguém precisa que você traga alguma coisa.

E reflitam, pois, pra você, hoje, aqui, tudo isso pode não ser nada demais, mas pra quem está há horas em pé, com fome, cansado, com sono... é esse tipo de atitude que marca pra sempre nossa memória afetiva.

É claro que tenho um bizu especial para as meninas. Amiga, se não tá fácil para os novinhos (homens) que chegam ávidos por um lugar ao sol, pra você, que é mulher, vai ser duas, três vezes mais difícil a depender dos acessórios (filho pequeno, beleza física, marido ciumento etc.). É muito comum as pessoas partirem do princípio de que você não vai dar conta! Então, prepare-se pra ter de provar isso uma, duas, três vezes até que eles se convençam, e se mudar de equipe vai começar tudo do zero novamente! Além disso, saiba que se um colega do sexo masculino errar, vão dizer que "tudo bem", que "isso acontece", mas se você errar, as más línguas vão dizer que é porque você é mulher, e que mulher não nasceu pra esse tipo de atividade. Desse jeito, amiga! E mesmo se você fez tudo certinho e se deu bem, vão achar algum defeito ou algum motivo pra desmerecer sua vitória. Já disseram que eu "consegui" uma boa viagem, porque tava tendo um caso com o chefe. Já disseram que eu só recebia convite pra fazer curso fora por causa das minhas pernas... "Mas, Novinha, por que isso é assim?" Eu. Não. Sei. Outra coisa: desculpem entrar nesse assunto polêmico mas, se você quer mesmo ser levada a sério no mundo policial não se apoie em muletas de gênero. "Que isso, Novinha?" São aquelas artimanhas, do tipo chantagem emocional, para garantir um tratamento especial (tipo aliviar a sua carga, sua escala, etc.) na distribuição do serviço porque você é mulher. Olha aqui pra mim: esse tipo de estratégia é o campeão número 1 em arrecadar a antipatia da equipe e se isso acontecer, amiga. Já era! Espere a próxima lotação, porque eles não perdoam, mesmo.

Pra fechar, deixo com vocês o exemplo da Coronel Cynthiane da PMDF, primeira mulher a comandar uma tropa de elite, nada mais, nada menos que o Batalhão de Choque do Distrito Federal. Ela raspou o cabelo e ficou cinco meses na mata com um grupo de alunos do curso de operações especiais do BOPE. Casada com um policial civil, tinha um filho de 3 anos que se assustou quando a viu chegar em casa careca. Cynthiane garante que não houve qualquer regalia ou diferencial durante o curso em relação aos demais colegas. Leia o que ela tem a dizer:

"Quando me formei como PM, os tempos eram outros. As mulheres trabalhavam em grupos separados dos homens. Depois que fiz curso de pós-graduação, assumi a responsabilidade por áreas de ensino da polícia. Resolvi conhecer um dos vários cursos realizados no Bope e o primeiro que fiz foi para me especializar na segurança de autoridades. Eu estava em ótima forma física e o comandante do Bope me convidou para ficar. Não tinha ideia do que me esperava. Acho que foi muito mais difícil para eles, homens, entenderem que eu estava passando por todas as etapas e conseguindo ir adiante, do que para mim. (...) Ainda há preconceito. Ouço comentários de que não acreditam que eu concluí o curso, que não sou capaz. Mas os homens me respeitam, nunca tive caso de insubordinação. Ainda quero mais. Todo mundo sabe que meu sonho é comandar o BOPE (...) A minha chegada ao comando mostra que uma mulher pode qualquer coisa, basta querer, ter preparo psicológico e persistência".

Aí... é disso que eu tô falando!

terça-feira, 16 de maio de 2017

Pra eu me lembrar de ser humilde.

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Estou conseguindo colher umas dicas legais de sobrevivência com os mais antigos aqui. É que eu ainda tenho essa coragem de acreditar que algumas pessoas sabem que sou nova no pedaço e têm uma certa boa vontade pra "me preparar" para o que pode vir a acontecer. Difícil é separar as fofocas e as histórias de terror daquilo que pode realmente ser útil.

Vejam o caso de Beatrix Kiddo, vamos chamá-la assim. Kiddo era uma policial que trabalhava neste setor antes de mim, legitimamente loira, alta, magra e linda. Por sua competência, ela era o arquétipo de mulher policial de sucesso em que todas nós mulheres policiais, nos espelhamos; uma lenda; uma verdadeira policial do Brasil que dá certo. Segundo a Constituição, Kiddo é o ícone absoluto para aquelas que querem atingir o sucesso e o respeito profissional de forma fina, elegante e sincera. 

Lembro-me de que, quando eu estava ainda dando meus primeiros passos na polícia, precisei do apoio dela em uma missão que vim cumprir aqui e ela agiu com a educação e nobreza de uma rainha. Impecavelmente profissional, porque ela era encantadora assim com todo mundo, mesmo. Nessa época ela já era chefe aqui e eu sequer imaginava ser possível para mim, um dia, trabalhar neste lugar. Não obstante, esta mulher já me mostrava que eu poderia chegar bem mais além do que eu achava ser possível. 

Adoraria aprender diretamente com ela, no dia a dia, mas como ela não está mais aqui, me contento com os spin-offs de testemunhas. Todos concordam que ela tinha o timing perfeito, o tom de voz preciso, a capacidade de intervir cirurgicamente e que ela sabia calcular de cabeça o delta espaço sobre o delta tempo da chegada ou retirada  na hora certa. Ela é talentosa em lidar com bom senso e oportunidade. Não me constranjo em dizer que ela sabe ser na prática o que eu só sei na teoria. Me debato com isso de saber chegar e saber sair o tempo todo. É uma habilidade, ainda pouco dominada por policiais, infelizmente, uma ciência que não se aprende na Academia.

- Certo. E por que então que ela "caiu"?

Boa pergunta. Fontes de confiança me disseram que ela foi dispensada dessa missão porque era "preparada demais, sabida demais, segura demais", dando a entender que foi sua própria vaidade que puxou o tapete dela.

- Sério mesmo? - Pergunto desconfiada. - Daí que eu nem sei por onde começar, amados. O que é isso, afinal, o "Dia Internacional do Mistério"? 

Assim, como policial mirim que sou, venho informar que não tenho como processar essa teoria esquizofrênica, ok? Porque não estou admitindo ninguém colocar "preparo", "sabedoria", "segurança" e "vaidade" na mesma frase. Se é uma pessoa vaidosa, logo, não tem preparo! Não tem sabedoria! E não tem segurança nenhuma!

sábado, 7 de janeiro de 2017

Meninas que dormem no banheiro.

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Uma das coisas que mais me deixavam curiosa neste novo local de trabalho, era ver como as meninas daqui atuavam. Eu queria muito saber como elas resolvem coisas que até hoje não resolvi. Não tinha nenhuma instrutora no curso, o que é uma pena, porque elas sempre dão uns bizus para o público feminino. Sim, já tinha visto algumas dessas meninas operando, mas foi sempre de longe, no máximo um olá, ou minutos rápidos daquela conversa formal de quem se respeita e se analisa mutuamente.

Na verdade só fui apresentada ao segmento feminino, informal e acidentalmente no banheiro das meninas. Foi meio traumático, pra falar a verdade. Neste "posto", nós não temos o que se pode chamar de alojamento para repouso. Nos banheiros temos aqueles armários individuais e alguns sofás. Entrei nesse toilete feminino, acendi a luz e bingo... Tinha umas quatro meninas descansando lá, na hora do almoço. Dormindo, né? 

Lembrei-me da aula de bombas e explosivos quando o professor dizia "não acendam a luz quando entrarem num ambiente com suspeita de bombas". Hihihi... Tudo bem, não foi nada, mas sabe? E essa foi minha breve introdução. 

Lembro-me que uma delas, que nem é tãããão antiga assim, estava com uma cara meio grogue de tanto sono. A outra me olhou como quem diz "quem é esta que perturba?". Era eu me explicando, "Desculpa gente, não, era nada não. volto depois"  e blé. Fugi.

Mas isso aconteceu tão logo cheguei aqui. Como eu havia dito, o blog tá atrasado e inclusive, nosso aniversário passou sem postagem especial no ano passado. Pretendo me redimir.

Mas voltando ao assunto, ainda estou procurando por alguma marca de estilo que a experiência delas tenha trazido para nossa atividade. Quero muito aprender algo delas que eu leve comigo depois que eu sair daqui. E que seja exclusivo, porque isso aqui é uma experiência única! Sei lá se estou ficando exigente demais. Simplesmente me recuso a aceitar que a doutrina seja tão masculina assim.

Até o presente momento a única coisa que eu sei, é que as meninas aqui dormem no banheiro e dormem mesmo. Agora, por mais que eu me mate o dia inteiro e esteja exausta na cama por volta de 20 horas quase todos os dias. Eu não vou dormir assim no banheiro, gente. Ou seja, algo me diz que trarei um certo desconforto iluminista ao ambiente. Fiat lux! 

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Excelente!

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O curso-de-boas-vindas foi realizado num quartel próximo daqui, e algumas aulas foram em locais especiais (academia dos bombeiros, autódromo, universidade, clube e, claro, estande de tiro). De todos os que já fiz, esse leva o Oscar de "Melhor Conteúdo", "Melhor Grade-Horária" e "Melhor Organização" na categoria.

Tivemos aulas de matérias diferentes que eu não imaginava encontrar nesse tipo de curso. Gostei demais da aula de Direito, de Bombas e Explosivos, de Eventos, de Negociação e muitas outras. Tudo muito estimulante, o que faz a minha percepção trabalhar acesa o tempo todo pensando: "como foi mesmo que eu vim parar aqui?"

Só pelo curso já valeu a pena ter vindo pra cá. Eles são muito bons em valorizar habilidades que a gente não sabia que tinha. Tive chance de alargar meus limites pessoais, vencendo barreiras impostas pelo corpo e pela mente. E as surpresas não acabam aqui, eles têm respostas para algumas antigas perguntas minhas e falam sobre coisas que eu nem sequer sabia ser possível verbalizar, o que me traz o sério pressentimento de que tudo isso que está acontecendo é um grande divisor de águas na minha carreira. Impressionante pensar que tem gente que não tem nem o pingo do "i" que o pessoal daqui tem, e acha que pode criticar.

Eu, por exemplo, não consegui entender o que chamo de algumas anomalias aqui. Daria o prêmio Razzie Awards de "Pior Aula" para "Abordagem". Porque tende piedade! Eu sei que abordagem é uma matéria sempre muito polêmica, mas aquilo foi um verdadeiro fiasco! Aqueles caras aprenderam a fazer aquele tipo de abordagem aonde, produção? Na Disney?!

Enfim, o curso acabou e eu fiz o meu melhor, graças a Deus. Minha classificação final foi a de Zero-Dois com gosto de Zero-Uno, já que o Zero-Uno era um aluno convidado que não iria trabalhar lá com a gente. Gosto de acreditar que isso é uma prova de que ganhou quem apostou em mim como uma boa aquisição para o time ou o treinamento deles estaria equivocado, certo? Eu sei que treino é treino e jogo é jogo, mas se o treinamento deles estiver correto, aqui eu sou titular.

Ps. 1 - O blog tá um pouco atrasado e eu ainda tenho muita coisa nova pra contar.
Ps. 2 - Eu entro na nossa sala e dou de cara com uma colega lendo o meu blog. Cara de paisagem total.
Ps. 3 - Mais um leitor desse blog tomando posse na Polícia. Parabéns "Futuro Investigador"!!! Vai lá gente, dá os parabéns pra galera lá do blog dele!

terça-feira, 13 de setembro de 2016

O legado.


Após uma eternidade, os papéis finalmente tramitaram e eu já estou aqui no meu novo local de serviço. Eles estavam falando sério quando disseram que queriam me trazer pra cá. E eu vim! 

Todos que chegam precisam fazer esse curso e eu entrei de cabeça, sonhando com cada instrução aqui da grade horária. Estou adorando tudo! Anotando tudo! Vivendo tudo com muita intensidade! Só não gosto do professor de tiro que por vezes aponta a arma para os alunos, quebrando regra básica de segurança, o que me deixa extremamente incomodada. Espero que não seja o mesmo instrutor nas aulas de tiro real.

Todos aqueles testes que fiz anteriormente eram meramente preliminares e o que vai valer mesmo são os novos testes que faremos durante o curso. Tudo de novo mais teste de tiro, teste teórico e outros que ainda não sei bem como serão e eu não posso fazer feio. 

Bom, o que posso dizer para início de conversa, é que eles são extremamente organizados. E nossas sinapses disparam no sentido de concluir que tem dedo de militar aí, não é mesmo? Mais um desafio: ser organizada.

A divisão do trabalho aqui é completamente diferente de tudo o que eu já tinha visto antes. Sim, porque as funções são muito diferentes. Aqui não tem delegado (não disse nada e a mente humana já fica pensando maldades). 

Existe um roteiro que você deve seguir assim que se apresenta na casa. Você é recebido no Gabinete, depois se apresenta no setor de pessoal, entrega documentos, 22 fotos, vários exames médicos, tem que tomar vacinas, daí você recebe uma cartilha, com várias informações úteis e sobre o passo a passo de quem está chegando. Recebe seu crachá, equipamentos de treinamento, apostilas impressas que não pode copiar e um monte... um montão de procedimentos padrão operacionais... que não sei se funcionam, mas acho isso fascinante!

Você policial que como eu chegou completamente perdido na sua lotação e a cada dia descobre algo novo que deveriam ter te falado no dia em que se apresentou, sinta-se consternado, porque aqui tudo isso está devidamente escrito e organizado racionalmente! Além disso, existem livros sobre a doutrina da casa, existem cadernetas impressas com check-lists de assuntos gerais e existem manuais sobre procedimentos operacionais. Amigos, tem mais material escrito aqui do que eu já li em toda a minha vida na polícia a respeito do tema. 

Então... era disso que eu tava falando!

Sabe aquela sensação do nerd que vivia sofrendo bullying na universidade e no fim é selecionado pra trabalhar tipo na Apple? Igual!

Vou explicar melhor, quase todos os setores onde já trabalhei antes eram movidos pelo empirismo. Cada um executa do jeito que sua experiência determina. Logo, se você não tem experiência, não tem nada! Sim, porque pra eles, ser organizado, escrever procedimentos, conhecer e seguir a doutrina era sinônimo de engessamento, uma coisa obsoleta, inflexível. De onde eu vim, instruções normativas só são normalmente escritas quando algum grande erro de colega o justificasse. O que não significa que o ensinamento seria passado para as gerações futuras. Resultado: aquela insegurança de novinho que vocês já viram nos textos passados, né, e um enorme desperdício de tempo pra quem chega e precisa reinventar a roda em cada operação. 

Portanto, quase tive um acesso de alegria quando solenemente recebi esse material todo escrito. Pra mim, é como se fosse um legado de quem passou por aqui antes e contribuiu. Muito obrigada, antigões, eu vou saber honrar as gerações passadas e sinalizar para as que vierem depois de mim.


domingo, 26 de junho de 2016

Expectativas.




Não sei se pelo fato desse recrutamento ter corrido a boca miúda, ou se não era interessante para tantos colegas melhores que eu na polícia, mas parece que está dando certo! Até recebi ligações de alguns colegas da época do curso de formação na Academia querendo me cumprimentar. 

Por falar em carreira, preparei meu currículo para entregar oficialmente e fui deixar lá no escritório deles. Claro que eu poderia ter mandado por e-mail ou pelo correio. Poderia ter deixado no protocolo, mas não. Eu quis subir e conhecer logo meu futuro chefe, que é um homem extremamente charmoso e que me cumprimentou com um beijinho no rosto, o que eu não esperava. Vamos chamá-lo de Charles Dance.

Me pareceu um homem inteligente do tipo que se diverte lendo Robert Musil, Boris Vian, Kafka... e manipulador! Sim, manipulador. Mas só depois de ter saído daquela sala foi que entendi a mensagem que ele quis transmitir e fiquei pensando nisso a semana inteira! Ou ele tem preocupações políticas que não estavam no meu planejamento ou ele tem tendências terroristas. Agora percebo que pra me dizer isso houve uma espécie de encenação e que ele estava controlando tudo ao nosso redor, a tonalidade dos elogios, a temperatura do ar condicionado, o sorriso fácil, etc. 

Mas sabe que foi ótimo eu não ter percebido nada durante aquela visita? Ficou parecendo que eu nem dei bola pra pilha que ele lançou sobre a minha vaidade. Sim, porque eu estava muito feliz, muito à vontade, muito autoconfiante, muito selecionada ou seja, completamente burra para entender a mensagem dele naquele momento. Afinal era eu a policial que se destacou nos testes... haha! "Sim, sou eu mesma, muito prazer" (adoro um reconhecimento!). E aquela roupa que escolhi pra uma visita informal estava combinando perfeitamente com o design do meu histórico. 

O problema é que agora estou com medo de não corresponder a tantas expectativas. Sabe quando você sente que não é bem aquilo que está lá no seu currículo? Não que eu tenha escrito alguma mentira ou exagerado em algo. Mas meu currículo, que é muito melhor do que eu, agora me acusa de pedantismo! Porque se no meu currículo eu contasse, não aquilo que já fiz, mas, por exemplo... o que senti, o resultado da seleção poderia ter sido outro! Medo de ter criado expectativas elevadas demais para o meu padrão. E é isso: nem comecei e já estou sentindo muita pressão. 

domingo, 15 de maio de 2016

Audácia.


Pra falar a verdade, não sei bem onde termina a audácia e começa a insanidade mental, portanto, relevem.

Eis que me telefonaram perguntando se eu estaria livre na terça-feira às 16 horas para fazer os benditos testes físicos preliminares. Na terça-feira?! Cara, quem marca um teste físico no meio do horário de expediente?! Não, infelizmente não vai dar! Esqueceu que o fisioterapeuta me avisou pra pegar leve com as tensões dos tendões do meu pé direito?

- "Claro!" Respondi, imediatamente. "Pra mim, terça-feira tá perfeito!" E isso foi suficiente pra eu me sentir uma tonta de tão contente.

Então fiz o reconhecimento dos locais das provas. Estudei o terreno. Repassei as estratégias. Reatei aquele relacionamento sério com meu tênis velho (agora fico emotiva quando falo de tênis velhos). Assisti novamente "Até o Limite da Honra". Não me julguem, algumas pessoas fumam maconha, outras roem as unhas, há quem faça infiltração ou vai dopado mesmo... eu assisto filmes motivacionais. E é tanta inspiração, adrenalina e dedicação na tela que me sinto bem capaz de mandar o aedes para o aegypti ou provar que a hipótese dos números primos de Riemann é verdadeira.

Dor no calcanhar?  Que dor??? Não, senti nada! Só um carinho enorme quando meu bem marcou o tempo no último treino no domingo pra mim e a sensação de satisfação em ver a cara de contentamento do meu avaliador após cada teste.

Uma mulher que se supera no dia do teste é aquele tipo singular que não necessariamente quer ser uma atleta e ganhar medalha, mas ama perder o fôlego no beijo da vitória suada.

Aliviada agora e bem confiante. Mas, por ora, apenas comemorações conscientes de que este foi apenas um de uma bateria multidisciplinar de testes objetivos e subjetivos a que vamos nos submeter. "Sorria, Novinha, você está sendo anotada".

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Dias de treinamento.






Imagine que você está viajando em missão e o telefone toca. Após breves instantes de hesitação, você decide atender mesmo sem conhecer o número e... voilá! Era o cara que havia feito aquele convite pra você trabalhar com eles. Você vibra de felicidade porque tem muito interesse nisso sim. Entende que aquela ligação poderá te deixar a apenas alguns passos do auge da sua carreira policial. Você confirma que seu interesse é para atuar na ponta da lança. Porque às vezes eles também têm interesse em policiais que dominem áreas de computação, análise de inteligência, etc. Você quer apenas continuar fazendo o que gosta num nível acima.

Ele confirmou que o interesse deles é que você realmente atue na área operacional, mas que é preciso antes se submeter a alguns testes, entrevista e tal. Ele pediu um currículo atualizado com seus dados e você sabe que eles farão alguns levantamentos de inteligência sobre você. Ser testada é uma coisa que te dá barato. 

Após desligar o telefone você questiona por alguns instantes se dessa vez vai dar certo mesmo, mas tinha alguma coisa no jeito como ele falava ao telefone que te diz que agora é pra valer. Ele te quer mesmo sendo você apenas uma reles marrentinha sem muita verve de autoridade, mas que ele viu desenrolando com desenvoltura as paradas em inglês junto aos Noruegueses aflitos. 

Tinha uma coisa meio paternal na voz dele. Mas também pode ser seu subconsciente querendo afastar aquela impressão de que ele estava apenas te paquerando enquanto te olhava trabalhar naquele dia. Um gato daqueles te dando bola, hein!? Mas essa teoria já foi patenteada pelo delegado seu chefe, pra quem está claro que um convite desses não seria, digamos assim, exatamente por conta da sua competência profissional. Nessa hora você quer mandar um beijinho no ombro pra ele, mas coldrea, afinal sua liberação depende de sua boa vontade e sigilo, senão mandam um DeMO no seu lugar (delegado metido a operacional).

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terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Que fase é essa, minha gente?



Às vezes sinto que a minha carreira policial está muito acelerada. Essa história de eu chefiar operações... Sou nova demais, amigos, muito inexperiente pra esse tipo de coisa. Aí, hoje, fiz as contas e descobri que tenho sete convites recém recebidos: três são pra trabalhar fora da polícia, os outros quatro são pra trabalhar em áreas mais ou menos interessantes aqui dentro mesmo. E eu procurando as câmeras pra ver se não era nenhuma pegadinha.

Estranho, pois são coisas que só vejo acontecer com policiais que estão no final de carreira. Roger Murtaugh saiu da Polícia por conta de um convite. Jack Bauer e o Guerreiro idem e vários outros colegas que trabalhavam com o Jack.  Tentando avaliar direito como isso tudo foi simplesmente acontecendo... Incapaz de entender. De qualquer forma sinto-me feliz por ver meu nome na mesma frase que qualquer um desses outros policiais acima citados.

Espera, na verdade eu não deveria considerar aquele primeiro convite simpático que cruzou meu caminho. Aquele pra trabalhar no exterior, porque né. Ninguém falou mais nada sobre o assunto. Embora eu tenha ficado super empolgada, sinto que não vai dar em nada mesmo.

Também não deveria levar em conta aquele convite pra voltar pra delegacia onde tudo começou. É porque um chefe novo (muito amigo do Guerreiro) assumiu uma área que sempre me interessou. Mas diante de tantas propostas aquilo já não me interessa mais. Tenho a impressão que voltar pra lá seria regredir na carreira. Mas foi um convite.

Tá, teve também um desses convites que não chegou a ser um convite, porque o pessoal só disse que seria muito interessante se eu trabalhasse com eles, sabe? Não chegaram e disseram exatamente "Vem trabalhar com a gente, Novinha". Mas eu sei que se eu quisesse mesmo trabalhar lá seria legal. Seria muito, muito interessante.

Veja bem, é que também tem esse um outro convite aqui que não vale a pena considerar, porque zero intenções de trabalhar na área burocrática. Agora não! Mesmoooo. Mas vai que amanhã eu pense diferente... Deixa aqui.

E teve também um outro convite que não sei se deveria realmente levar a sério. Sabe por que? Porque o chefão só me chamou porque eu fui fazer uma discreta sondagem com ele sobre um outro convite recebido. "Se eu soubesse que você estava querendo sair do seu setor eu teria chamado você pra trabalhar aqui comigo". Humm. Qual foi o objetivo dele ao dizer isso, amigos?

Mas, chega. Não vou ficar desconsiderando todos os sete convitinhos que recebi, porque independente de qualquer coisa, eu só queria compartilhar que a sensação foi muito boa e isso, por si só já vale a postagem. 

Agora, tem um convite aqui, minha gente, que eu toparia até pra ganhar menos. Sem demagogia! Vamos supor que eu reserve os últimos cinco anos de minha carreira policial pra juntar um dinheiro para minha aposentadoria, porque agora, não vou me preocupar com isso, não. Só consigo pensar que eu quero mesmo é continuar curtindo a vida policial à enésima potência. E lá eu sei que a diversão é garantida.

Se eu passar nos testes, claro.

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

O curso dos israelenses.

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Silenciosamente repreendo a mim mesma, porque meus desafios têm sido cada vez mais audaciosos e sempre tenho medo de descobrir tipo tarde demais que dei um passo maior que minhas pernas.

Os israelenses há muito tempo empregam mulheres nas áreas operacionais do combate, mas senti uma pontada no estômago quando percebi que era só eu de mulher no curso. Parecia operação sigilosa porque ninguém ficou sabendo. O delegado meu chefe conseguiu a vaga dele e me colocou no pacote. Havia só três alunos oriundos da minha polícia, o restante era de outras instituições. 

Foi muito interessante ver como os israelenses fazem o trabalho que eu faço aqui na polícia. São simples e ousados. Nesse curso foram bastante exploradas as ações do operador individualmente. Digo isso debruçada nos parâmetros dos que preferem enfatizar a integração sincronizada de equipes com 10, 15 componentes, sistema em que fui criada, porque os israelenses sabem se virar com apenas um ou dois colegas. Olha, se brincar eles fazem o que têm de fazer até sozinhos, sério mesmo. Acho que isso se deve talvez ao histórico deles em operar na clandestinidade e tal. Meus professores da Academia teriam um ataque se vissem isso, mas estou naquele momento da minha vida profissional em que procuro não depender muito da boa vontade da Administração em prover os meios que preciso pra trabalhar. Prefiro a qualidade à quantidade, professor.

Era um só professor durante todo o curso, cujo semblante era dominado por um ar de confiabilidade. Seu estilo era bem diferente do jeito mais formal dos professores franceses. Muito sério, mas simples e acessível. Sem a ajuda de tradutores, ele deu aula em português sofrido, mas num tom moderado e aprazível. A dedicação e atenção que dispensou a cada aluno da turma suplantou a falta de vocabulário dele.

Pelo fato de eu agora estar trabalhando mais na área de planejamento de operações, caprichei na hora de escrever o trabalho de conclusão do curso. Estudei sim, todos os dias, mas tive muita sorte, porque já tinha operado no cenário que ele escolheu para o prova final. Banaliza-se o conceito de irritar os coleguinhas, quando o único aluno a tirar a nota máxima do curso é uma mulher, né? Então vamos parar por aqui.

(Tem uma equipe nossa trabalhando na missão deles aqui no Brasil. Eles nos disseram que em breve precisariam muito de uma mulher na equipe e nessa hora senti meu coração batendo dentro dos meus ouvidos. Eu seria muito louca ao ponto de topar trabalhar com eles, sim).

sábado, 22 de agosto de 2015

Petulância.



Com tantas cidades no mapa, eu vim parar nesta. E com tantas operações rolando, eu vim trabalhar justo nesta. E com tantos colegas mais indicados que eu para escalarem, vim a ser chefe da melhor missão da minha vida.

Para pessoas normais, só havia uma vantagem em ser chefe: eu não precisava ficar na fila pra ser entrevistada pelo pessoal da coordenação. E a fila era grande, porque a missão era grande. Eles queriam saber quem tinha melhores condições de trabalhar onde, mas já me conheciam. Era a terceira vez que eu cumpria missão nessa cidade. Olha, sei pouca coisa sobre sistemas de informação de pessoal, mas evidentemente o nosso não serve pra nada. Sucesso.

Mas pra mim, ser chefe era a chance de fazer diferente, corrigindo os erros que plotei em todas as outras missões que trabalhei. Eu acho que é esse tipo de petulância que oxigena a polícia. Pelo menos tem algum novato tentando fazer melhor, concorda?

Nem todos concordam.

O primeiro momento tenso foi durante os reconhecimentos quando um dos antigões da minha equipe, o qual me olhava furtivamente, insinuou que eu tava exagerando. Ouvi, mas com todo respeito, continuei na mesma toada. Nesse tipo de operação eu tenho mais experiência que você, antigão, pensei.

Me deram 10 colegas pra trabalhar. Não conhecia nenhum deles. Distribuí as funções pelas habilidades que percebi em cada um. Respondi todas as perguntas deles no briefing, com fotos e informações precisas de tempo, distâncias, horários, nomes, motivos, etc. O antigão que não queria dar o braço a torcer, disse pra eu não me preocupar que tudo dá certo no final. Não sei se ele tá sendo otimista ou quer me provocar. Nem sempre dá tudo certo no final. E, hellooooo, meu papel é justamente não deixar nada dar errado.

O segundo momento de tensão como sempre acontece, foi "a aproximação" e isso era comigo. O cliente entrou comigo no elevador. Ele é bem agradável e elegante. Fez um elogio que mexeu profundamente com minha concepção do papel da mulher na polícia. Mas esse não é o tipo de elogio que a gente conta para os coordenadores da operação. Não vai constar nos meus assentamentos funcionais. Deixa quieto.

O terceiro momento crítico  se deu porque uma colega da equipe apontou um problema que eu não tava muito querendo ver. Tínhamos um elo fraco na equipe. É por isso que é difícil ser chefe. Quero muito o tutorial pra lidar com colega deslumbrado com o glamour desse tipo de operação. Pedi a ela apenas pra monitorar isso pra mim. Ela entendeu e colou no problema, neutralizando-o até o final. Acabei de conhecê-la e ela já se tornou minha melhor amiga na polícia.

O restante da operação fluiu muito bem. Com muito jogo de cintura, todos os nossos parceiros de outros órgãos e instituições corresponderam à altura, exceto um, que me deu um sonoro e áspero "não", quando eu pedi uma mãozinha, deixando claro que nossas linhas de raciocínio e prioridades são absolutamente incompatíveis. Mas tudo bem, porque o antigão estava certo, eu tava mesmo exagerando. Com isso, aprendi que, uns se expõem demais e desnecessariamente. Outros não querem se expor de jeito nenhum. Ok, porque eu não sei ainda onde começa um e termina o outro.

Foi, com toda certeza, a missão mais arriscada dessa minha vidinha policial. Um verdadeiro campo minado. Apesar de ter tido tanto pra dar errado, deu tudo certo e terminamos a missão com muita pompa, triunfo e Champagne na cobertura de um dos hotéis mais luxuosos da cidade.

Tenho uma forte sensação de que Deus manda anjos de "Operações Especiais" para protegerem os meus pés de pisarem nos lugares errados. Só pode! Valeu, meu Pai!

Ps.: nessa missão, recebi um convite muito interessante para trabalhar fora do país e da polícia. Pensando muito sobre isso. Bora ver se rola?

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Avenger.


Pra ficar mais simples, entenda apenas que saí da "sala do papel" para trabalhar na "sala da justiça", ok?  

Daí que imaginava eu ser a sala de justiça simplesmente o cérebro da minha área operacional, onde um colegiado de super-heróis-super-amigos decidiam o destino da humanidade numa sala cheia de telas e informações. Tenho tendências ao pensamento juvenil e ninguém se surpreende mais com isso, né? 

Mas sabe quando você, policial que realmente opera, chega na situação e pergunta: "Mas quem mandou essa viatura pra cá?" ou "Quem foi o gênio que determinou que entrássemos por aqui e não por ali?", então... seus problemas acabaram. Agora, eu sou o gênio dessa lamparina. Sou eu que vou mе vingar planejar e dar nome para as próximas operações.

- Ué, Novinha, não seria um grupo colegiado de super-heróis-super-amigos das galáxias???

Seria, mas descobri que o "grupo colegiado" somos apenas eu (mezzo novinha) e um delegado (pausa dramática pra chorar) que é com-ple-ta-meeen-te leigo no assunto, gente. 

sábado, 27 de dezembro de 2014

Perfeito e simples.


Ele disse pra mim que um dos melhores momentos desse ano pra ele foi naquele fim de tarde onde depois de namorar um pouquinho ficarmos os dois juntinhos assistindo aos clips das músicas que deixei tocando aleatoriamente no celular. Eu gostei de ouvir isso. Gostei muito.

* Ps.: Atendendo a pedidos, uma palhinha das minhas top músicas para ouvir depois.

Roberta Campos - Maior que o mundo
Christina Perri - A thousand years
Flávio Venturini - Noites com sol
Ziggy Marley - Drive
Djavan - Correnteza
Coldplay - The scientist
Nuria Mallena - Quando assim
Vander Lee - Esperando aviões
Adriana Calcanhoto  - Inverno
Pedro Mariano - Simplesmente
Green Day - Wake me up when september ends

terça-feira, 17 de junho de 2014

Mesmo assim.

 
Te vejo errando e isso não é pecado,
Exceto quando faz outra pessoa sangrar,
 
Eu poderia voltar pra minha área operacional, sabia? Já havia até feito meus contatos imediatos do terceiro grau, os quais tinham tudo pra dar certo.

Te vejo sonhando e isso dá medo,
Perdido num mundo que não dá pra entrar

Só que não sou tão comprometida assim com critérios, já notou? Tanto que a minha chefa me ofereceu uma gratificação de chefia pra eu não sair daqui e eu aceitei. Eu aceitei.

Você está saindo da minha vida
E parece que vai demorar
Se não souber voltar, ao menos mande notícias
Você acha que eu sou louca
Mas tudo vai se encaixar

Quem diria, né? E vou dizer mais pra vocês, a chefia era de um delegado que está sendo transferido para outro setor. Ou seja, sou o terror das estatísticas. Sou a personificação do improvável no submundo policial. Mulher na polícia, novinha, agente e chefa... Senhores, as histórias desse blog não fazem o menor sentido.

Tô aproveitando cada segundo
Antes que isso aqui vire uma tragédia

 
Daí que se eu desaparecer assim, de repente, procurem por mim atrás daquelas montanhas de papel, chafurdada na lama da burocracia. A vida é assim, mesmo, moçada. Nem tudo tem que fazer sentido, entendeu?

E não adianta nem me procurar
Em outros timbres, outros risos
Eu estava aqui o tempo todo
Só você não viu

 
Vou ficar mais um tempo por aqui, porque sinto que em time que está ganhando não se deve mexer. Isso parece racionalismo, um mecanismo de defesa catalogado por Freud, e de fato é, pois me ajuda a ficar bem com a decisão que tomei.
 
Você tá sempre indo e vindo, tudo bem
Dessa vez eu já vesti minha armadura
E mesmo que nada funcione
Eu estarei de pé, de queixo erguido

Bom, eu disse que o time está ganhando, não eu... porque essa gratificação não vai compensar o esforço. A minha chefa quer transformar toda a minha vontade de mudar o mundo (sou dessas) em trabalho equiparado ao de escravo, naquela Divisão. Esperta ela. E por isso vou, além de já fazer todo o meu trabalho, acumular as funções do delegado que tá saindo. Claro que não compensa, né?
 
Depois você me vê vermelha e acha graça
Mas eu não ficaria bem na sua estante

Raios duplocarpados! Você entendeu que eu, sozinha, trabalho por quatro pessoas? Faz as contas:

  1. aquela delegada que saiu de férias e não voltou +
  2. o agente antigão que foi transferido +
  3. um contratado que fazia as estatísticas +
  4. o chefe daquele setor administrativo = 4
Só por hoje não quero mais te ver,
só por hoje não vou tomar minha dose de você
 
Aceitei, né. Desculpe, Mark Owen, mas troquei uma vida operacional fantástica (fantástica? Tá bom.... menos) para chefiar uma área administrativa na polícia. Não, nem sou mercenária, mas gosto de saber que me querem por perto. Apenas notem como aquela minha chefa me enrolou bonitinho... Calma gente... não será pra vida inteira, mas acho que combina com essa fase da minha vida. 
 
Cansei de chorar feridas que não se fecham, não se curam
E essa abstinência uma hora vai passar*.
 
 

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Mais moderno.

 
 
Chegou um novinho de sorriso doce e olhos tristes aqui no meu setor. Vindo lá de onde o vento faz a curva. Ao ouvir as perguntas sonhadoras dele, aproveitei, por alguns minutinhos, pra representar o papel de  "antigona". Interessado, ele queria saber tudo com voracidade. Me peguei dando conselhos serenos a ele, com aquele ar de quem quer passar uma sabedoria calma, que alerta para os perigos . Foi então que percebi que não sou mais uma novinha. O tempo passa e eu aprendo, aprendo, aprendo e coleciono experiências que escrevem minha história. O que pra quem tá chegando já é muita coisa. Olho para as dificuldades que temos de enfrentar todos os dias sem deixar que elas queimem meus olhos. Resgato lá no fundo alguma coragem e sigo em frente com fé em Deus.  Nessa estrada, cresci bastante como pessoa, ardi em desafios e aplaquei obstáculos teimosos.  Esqueci o que é ficar esperando uma tempestade passar. Quero estar acesa na chuva cumprindo a missão, mesmo quando sinto medo ou aquela dorzinha na alma. Dor de humanidade? Com a chegada desse novinho, fiquei grávida de uma nova responsabilidade. E falando assim, me sinto até mais forte. Tanto. Só porque sinto sangue novo e vivo entrando nas veias. Seja muito bem-vindo, novinho.
 

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Quatro anos do Blog Mulher na Polícia.


Galera, presta atenção na letra e esquece o mico de aniversário, porque os policiais desafinados também têm um coração (risos).

De janeiro a janeiro
(Roberta Campos)

"Não consigo olhar no fundo dos seus olhos
E enxergar as coisas que me deixam no ar, deixam no ar
As várias fases, estações que me levam com o vento
E o pensamento bem devagar

Outra vez, eu tive que fugir
Eu tive que correr, pra não me entregar
As loucuras que me levam até você
Me fazem esquecer, que eu não posso chorar

Olhe bem no fundo dos meus olhos
E sinta a emoção que nascerá quando você me olhar
O universo conspira a nosso favor
A conseqüência do destino é o amor, pra sempre vou te amar

Mas talvez, você não entenda
Essa coisa de fazer o mundo acreditar
Que meu amor, não será passageiro
Te amarei de janeiro a janeiro
Até o mundo acabar".

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Corruptus non olet.


Você acha mesmo que o corruptor tem escrito na testa "Estou tentanto te corromper"? Tem não. Na droga da testa do corruptor não tem NADA escrito. Absolutamente nada. Nem cara de corruptor ele tem, sabia? Nem jeito... Esse filho do demo do corruptor não tem cheiro de corruptor nem de enxofre.

Acho que nessa semana um procurador tentou me corromper. No meu trabalho, eventualmente libero documentos para as pessoas. Às vezes faltam requisitos legais e alguém toma altos prejuízos financeiros pela falta do papel. O Brasil é muito criticado mundialmente por tanta complicação e burocracia pra resolver coisas simples. Eu tento ajudar arduamente, na medida do possível, mas tenho muito poder (e motivos fundamentados legal e socialmente) para dizer "não".
 
Um desses procuradores que as pessoas contratam pra viajar e resolver coisas em órgãos públicos, deixou ou "esqueceu" um pacote pardo, do tamanho de uma caixa de perfume em cima da minha mesa e saiu. Não era um perfume e não estava envolto em papel de presente. Não sei se foi no momento em que ele conversava comigo ou se foi numa hora que eu precisei sair da sala. Só sei que vejo sempre ele aqui nos corredores.
 
Quando voltei pra mesa, sempre com mil e uma coisas na cabeça, percebi o pacote. Perguntei pra galera quem tinha deixado aquilo lá e ninguém tinha noção. Tem umas trinta pessoas na minha sala e ninguém soube explicar? Vai pro raio que o parta, né? Uma luzinha amarela de alerta piscou na minha cabeça feito um rotolight e uma setinha vermelho intermitente acusava o procurador! 
 
Peguei o volume e fui atrás dele no corredor. Senti uma movimentação estranha na sala. What the hell is going on? Uma das contratadas quis me dizer alguma coisa mas não disse. Algo no sentido de "deixa disso". Mas não. Ótimo, pois eu... não queria ouvir.
 
Bom, encontrei o procurador no corredor e entre dar logo voz de prisão em flagrante pra ele e investigar se era mesmo o que eu estava pensando. Optei por mandar um recado, um spam(talho) pra geral. Cheguei pra ele com o embrulho na mão, diante de olhares curiosos dos terceirizados da minha sala e disse: "o senhor esqueceu isso na minha mesa". Ele concordou sem graça tentando ser educado e levou o embrulho (se era pra ele entender, entendeu, porque ele deu aquela gaguejada. Sabe aquela amarelada beeeem característica?).

Cara... pra você pode ser tudo muito óbvio... mas eu tenho dúvidas. E se não fosse nada disso? E se fosse um bolinho de rolo que a avozinha dele mandou pra mim? Hein? E se fosse um pedido  de casamento? Ramás saberemos! Mas tem uma coisa. Se acontecer de novo, eu vou mandar esse capeta desgraçado pro inferno!

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Ninguém é insubstituível.


Além de elogios e do reconhecimento institucional, existem sim, muitas outras formas bem mais sutis, mas não menos importantes, de você se sentir verdadeira e excitantemente prestigiado na polícia.
 
Já tinha ouvido o nome dela ser pronunciado várias vezes por outros colegas da polícia. São essas interligações cognitivas positivas que dão sentido racional ao termo "policial de renome" que ela é. Antigona, daquelas que fazem parte da escola de policiais que, apesar de tudo, escrevem em caligrafia impressionantemente artística sua história na polícia. No mesmo nível do Jack Bauer, do Roger Murtaugh, da Cigana, ela tem lugar de honra na minha Galeria de Heróis Policiais Vivos. 
 
Casada com um também respeitável colega da minha gloriosa polícia (o marido dela é outra lenda!). Têm filhos. É atiradora de elite em várias modalidades de tiro. Pra você ter uma noção, ela é tão especial que dá aulas na Academia, mas só em cursos selecionados para quem já é policial especializado. Dá aula pra novinho não, entendeu? Tudo na vida dela parece que foi simbioticamente selecionado. E mais: ela tem aquela cara metafórica de "decifra-me.ou.te.devoro". Esse equilíbrio poético que ela vive me inspira melancolicamente, me estimula a querer crescer. Quero muitomuitomuito ser igualzinho a ela quando crescer.
 
Tivemos uma conversinha rápida por esses dias. Além de linda, notei nela uma simpatia singular! Mas o melhor de tudo é que, pra minha surpresa, é ela quem está me substituindo lá no setor onde eu trabalhava antes. Ou seja, sem chance de eu voltar pra lá quando terminar esse meu período temporário aqui. Mas te juro que não tive o menor problema com isso. Fiquei feliz. Fiquei sim!
 
Segue a tríade do meu pensamento dissertativo em prol dos motivos que me restam para rir da minha própria tragédia, drama's.queen.
 
Primeiro porque aquele lugar é "peruado". Muitos colegas homens queriam trabalhar lá. Mesmo assim, colocaram outra mulher no meu lugar (Às vezes passava pela minha cabeça que eu só estava lá por um capricho do Roger. Porque soube que se a equipe fosse do Jack, nenhuma mulher teria a menor chance - por puro machismo, óbvio!) Se eu tivesse pisado na bola, a minha saída seria uma oportunidade para generalizarem e defenderem que ali não é lugar pra mulherzinha. Só que não. Mesmo que o Roger já esteja aposentado, o chefe atual manteve a ideia de ter pelo menos uma mulher entre os oito.

(Roger recebeu uma senhora proposta na iniciativa privada, e se aposentou enquanto eu estava fazendo aquele curso com os militares).
 
Segundo porque se ela está lá, aquela função é realmente estratégica, é política. Ou seja, não é pra quem quer é pra quem não vai atrapalhar o que já foi conquistado. Pelo fato de ela ter sido designada pra trabalhar lá, eu posso te garantir que a função está sendo muito valorizada. Pode crer.
 
Terceiro, se ela foi pra lá, pelo menos teórica e metafisicamente falando, é pra dar continuidade ao que eu vinha fazendo, certo? (risos e ataques histéricos de euforia).

Conclusão: caraca, moleque... isso pra mim é a glória.

domingo, 4 de agosto de 2013

Analisa.


Sabe cachoro quando cai do caminhão de mudança? É bem como me sinto. Quem sou eu? Onde estou? A única coisa que sei é de onde vim. E de onde vim, o trabalho policial era completamente diferente desse aqui. Mas será por pouco tempo, assim espero. O quê que eu tô fazendo aqui? Me preservando, conforme determinação da Administração. Acontece às vezes de o policial ter que ficar um tempo na "geladeira". É o meu caso.

Espeto conformada a última alcaparra da minha salada generosamente regada de azeite, pensando: "fazer o quê, né?" Pior seria se tivessem me mandado de volta para a minha delegacia anterior. Então, vamos aproveitar esse clima de fim de festa para encerrarmos mais essa temporada da qual certamente sentirei saudades. "Garçon, vê pra mim um suco de abacaxi com hortelã, on the rocks, por favor, porque estou precisando".
 
Estou bem, gente. Vou trabalhar no horário normal de expediente, com intervalo definido para o almoço. Estarei em casa todas as noites como uma pessoa normal! Olha que chic! Porque caí de para-quedas, vou começar substituindo uma delegada que está de férias: mesma função; salários diferentes. "Segura a sua onda, Novinha", penso comigo mesma. Vou trabalhar numa salinha pequena com três estagiários fofos do curso de Direito. Meu novo setor tem cinco(!) delegados (dois machos e três fêmeas), dois agentes (machos) e um milhão de empregados terceirizados de ambos os sexos que fazem muito barulho. Quando a Delegada voltar das férias eu saio da sala dela e vou para a sala do barulho que fica do outro lado do corredor. Parece que vou substituir um agente relativamente antigo que pediu pra ser movimentado para outro setor. Este tem mó jeitão de polícia. O outro Agente, mais moderno, é meio nerd, eu diria.
 
Estava aqui analisando as informações preventivamente levantadas até o momento e fazendo umas contas pra ter uma noção de como será minha próxima temporada na polícia:
 
  • delegados no setor = 5 toneladas de papel.
  • Para apenas 2 agentes, sendo que o mais antigo pediu remoção = Baixíssimo IEPA: Índice de Expectativa Proporcional de Adrenalina.
  • 1 milhão de contratados e estagiários = Zero policial querendo vir trabalhar nesta bodega. 

Pronto: estatisticamente falando, me ferrei.

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Ps.: Quero dar os parabéns à Futuras Novinhas do Grupo "TAF para Mulheres" do Facebook, que têm se estimulado mutuamente para a árdua batalha diária de treinamento para os testes físicos para ingresso nas carreiras  policiais. Força meninas e levem esse espírito de união para a polícia porque estamos precisando (valeu DoceAcida!!!).

segunda-feira, 17 de junho de 2013

As próprias limitações.

 
Logo na primeira semana tive que pagar dez flexões de braço, na frente de toda a turma, porque tinha descuidado de um equipamento. Tinha que ser eu! Os oficiais alunos sentiram um certo desconforto pelo fato de o instrutor me punir assim, como se tal prática fosse apenas para militares. Eu soube disso porque o mesmo instrutor que me fez pagar veio no dia seguinte me pedir desculpas... "Quê isso Sargento..." respondi, "Imagina! Estou me sentindo em casa (mentira). Na minha Academia é pior porque muitas vezes se um aluno erra, todos pagam, inclusive os professores... (verdade)".

Ah, gente, na boa... dez flexões não são nada perto do que estou me preparando pra enfrentar no decorrer deste curso. Olhando a grade curricular que nos foi distribuída, já estou pensando em como vou fazer pra vencer algumas sérias barreiras pessoais. Mas estou feliz porque acho que não tem nada que eu queira mais em termos profissionais do que me capacitar e estar apta a fazer um bom trabalho para o qual já sou paga. É um privilégio enorme poder vencer, com fé em Deus, as próprias limitações. Olhar pra trás e ver que elas nem eram tão grandes como supostamente se apresentavam.