quinta-feira, outubro 06, 2011
"Mudaste a minha vida"
segunda-feira, junho 20, 2011
Comentário ao discurso do novo Ministro da Educação
Eu seria decerto apelidada por NC de "eduquesa", mas, por minha vez, eu considero-o não "moderno", mas sim com um pensamento extraordinariamente antiquado e voltado para as elites de alunos. Revela-o pouco no vídeo, mas não é pelo vídeo que eu o conheço (que nós o conhecemos).
segunda-feira, maio 09, 2011
segunda-feira, setembro 06, 2010
TIC... mais TIC... e mais TIC no ensino
Isto leva-me à questão da formação (sem dúvida urgente) dos professores no uso das novas tecnologias. É verdade que, actualmente, não estou a par do modo como essa formação decorre e de quem a dá. Mas lembro-me que, quando essa formação começou nos centros de formação, no âmbito da formação contínua obrigatória para obtenção dos créditos então indispensáveis para mudança de escalão, quem escolhia uma acção relacionada com as ditas TIC recebia uma formação meramente técnica, sem ligação à Pedagogia (apesar de o formador ser professor).
A finalizar, deixo o pedido a quem eventualmente me leia e esteja informado, de me esclarecer: Estão a ser assim, generalizadamente, as formações dos professores no uso das TIC? (Digo generalizadamente porque não duvido de que há formadores nessa área - e até conheço dois ou três - que é nessa perspectiva de real mudança que se esforçam por sensibilizar os seus formandos).
quarta-feira, fevereiro 25, 2009
Recordando o grande Piaget em duas questões primordiais e tão pouco debatidas
Vou buscar um texto tão antigo porque, ao contrário do que dizem certas vozes - a meu ver ignorantes e ridículas -, o grande Jean Piaget não está ultrapassado, e continua a ser uma enorme referência. Quanto às questões específicas que evoco, uma é a dos métodos de ensino-aprendizagem, e a outra é a da formação dos professores, que, naturalmente, não se pode alhear da primeira.
Eu pertenço a uma geração de professores, especialmente os de Matemática, que muito pugnou pela difusão e aceitação de métodos activos no processo de ensino-aprendizagem. Mas a expressão "métodos activos" tem muitas ambiguidades, quando não chega mesmo a ser caricaturada. E essa geração a que pertenci foi insuficientemente ouvida, e o que tantos desses professores defenderam e praticaram está hoje diluído no tempo, pouco disso parece ter perdurado na memória e na prática de considerável número de docentes.
Quantas e quantas aulas continuam meramente expositivas, mesmo quando sob uma aparência de actividade participativa dos alunos? Quantos e quantos métodos se mantêm anquilosados como quase reproduções dos mesmos que os professores "sofreram" no tempo dos próprios bancos da escola? E até as "novas tecnologias" não são, bastantes vezes, mais do que "enfeites" desses métodos estagnados, com umas vistosas apresentações a substituirem o giz no quadro a fim de prenderem mais a atenção de alunos talvez assim um pouco menos entediados, mas na mesma receptores pouco construtores das aprendizagens.
Volto então a Piaget e dele deixo os pequenos excertos que se seguem, extraídos de um texto especialmente dirigido aos educadores, como acima referi.
Sobre os métodos:
"A primeira dessas condições (o autor refere-se a condições imperativas na iniciação às ciências) é naturalmente o recurso aos métodos activos, conferindo-se especial relevo à pesquisa espontânea da criança ou do adolescente e exigindo-se que toda a verdade a ser adquirida seja reinventada pelo aluno, ou pelo menos reconstruída e não simplesmente transmitida. (...) O que se deseja é que o professor deixe de ser apenas um conferencista e que estimule a pesquisa e o esforço, em vez de se contentar com a transmissão de soluções já prontas. (...) Em resumo, o princípio fundamental dos métodos activos só se pode beneficiar com a História das Ciências e assim pode ser expresso: compreender é inventar, ou reconstruir através da reinvenção, e será preciso curvar-se ante tais necessidades se o que se pretende, para o futuro, é moldar indivíduos capazes de produzir ou de criar, e não apenas de repetir."
Sobre a formação dos professores:
"Restam-nos dois problemas de ordem geral a mencionar. O primeiro relaciona-se com a preparação dos professores, o que constitui realmente a questão primordial de todas as reformas pedagógicas em perspectiva, pois, enquanto a mesma não for resolvida de forma satisfatória, será totalmente inútil organizar belos programas ou construir bela teorias a respeito do que deveria ser realizado. (...)
É preciso ainda insistir num ponto central mas que restringe essencialmente aos níveis secundários e universitários: o aspecto cada vez mais interdisciplinar que assume necessariamente a pesquisa em todos os domínios. Ora, mesmo actualmente os futuros pesquisadores continuam sendo muito mal preparados nesse particular, devido a ensinamentos que visam à especialização e resultam, com efeito, na fragmentação, por não se compreender que todo o aprofundamento especializado leva, pelo contrário, ao encontro de múltiplas interconexões. (...) Do ponto de vista pedagógico estamos pois diante de uma situação muito complexa que comporta um belo programa para o futuro mas actualmente ainda deixa muito a desejar. Com efeito, se toda a gente se põe a falar das exigências interdisciplinares, a inércia das situações adquiridas - isto é, passadas mas ainda não ultrapassadas - tende à realização de uma simples multidisciplinaridade; trata-se, pelo contrário, de multiplicar os ensinamentos, de tal forma que cada especialidade venha a ser, ela própria, abordada dentro de um espírito permanentemente interdisciplinar, ou seja, sabendo cada qual generalizar as estruturas que emprega e redistribuí-las nos sistemas de conjunto que englobam as outras disciplinas. Trata-se, por outras palavras, de os próprios mestres estarem imbuídos de um espírito epistemológico bastante amplo a fim de que, sem para tanto negligenciarem o campo da sua especialidade, o estudante possa perceber, de forma continuada, as conexões com o conjunto do sistema das ciências. Ora, tais homens são actualmente raros. "
Em suma, 'métodos de ensino-aprendizagem' e 'formação de professores' são dois tópicos que sempre me ocorrem quando reparo no título deste meu blogue e me pergunto por que o trago tão abandonado (ao título). Confesso que estou cansada de uma blogosfera docente onde quase todos vêm batendo nas mesmas teclas, raramente tocando nas que escrevem sobre a sala de aula. E como era sobre a sala de aula que eu mais pensava vir a escrever quando iniciei este blogue e lhe dei o título, mas a atenção foi tão desviada que, ao aposentar-me, me restou abandonar as memórias dessa sala, agora dá-me de vez em quando para (re)aflorar umas questões, desistindo, logo a seguir, de continuar. Há demasiado ruído para que se consiga ouvir o âmago das escolas? Há demasiada poeira a ser deitada aos olhos de todos para que se consiga ver onde estão certas questões essenciais?
quinta-feira, março 15, 2007
O professor generalista e a matemática
Ora, enquanto os professores do 3º ciclo e secundário optam pelo ensino de uma disciplina ou área para que se sentem especialmente vocacionados, o que, no caso da matemática, significa decerto, em geral, um gosto, uma sensibilidade e uma formação marcada pela compreensão quer da sua natureza, quer do modo de a ensinar no sentido de uma educação matemática, o mesmo não se passará necessariamente com o "professor generalista". Por isso, foi sentida a necessidade de reforçar a formação matemática dos professores do 1º ciclo e, até aí, tudo bem (pelo menos 'teoricamente' - se, na prática, existirá de facto um reforço adequado, isso se verá). Mas, para o 2º ciclo, baixa-se de uma especialização (já de si muitas vezes apontada por vozes autorizadas como deficiente ou insuficiente nalgumas instituições formadoras) para o prolongamento a este ciclo do professor generalista.
Enquanto ninguém nega que o professor precisa de saber muito mais do que aquilo que ensina em determinado nível, também não se negará que as exigências na formação dos professores não sejam as mesmas para os diferentes níveis de ensino. A questão não está aqui, mas sim na possibilidade de cursos com determinada duração poderem propiciar, com todas as vertentes que têm que abranger - científica, didáctica, pedagógica e outras -, uma formação que altere tendências quer para a predominância do ensino de procedimentos matemáticos sem uma preparação suficiente dos professores para importantes perspectivas tais como a iniciação dos alunos na elaboração de conceitos, quer para uma marcada incidência da formação do professor na didáctica da matemática (Como diz Suzana Nápoles na publicação que abaixo vou referir, "a Matemática não pode surgir a propósito da didáctica da Matemática, a didáctica da Matemática é que deve surgir a propósito da Matemática.").
Tenho procurado no site da APM (Associação de Professores de Matemática) alguma tomada de posição relativa ao novo regime jurídico da formação de professores, mas o parecer que ali se encontra reporta-se ainda à fase de discussão do projecto (fase em que, como tem vindo a ser habitual, a actual equipa do ME se mostrou surda a pareceres que contrariassem o seu projecto de decreto ou alguma questão de fundo do mesmo). No entanto, a questão da formação inicial dos professores tem sido abordada nos últimos anos pela APM em vários documentos. No último número da revista Educação e Matemática, desta associação, é publicada uma mesa redonda, sob o título A Matemática na formação inicial de professores*. Deixo alguns excertos pois apontam para o que penso.
«(...) a principal e primeira linha de força que deve estar presente na formação matemática dos futuros professores consiste na convicção, por parte dos encarregados de organizar essa formação e dos próprios formadores, de que essa formação tem características próprias (...)»(Eduardo Veloso)
«(...) Os cursos de formação estão a preparar professores generalistas ou por áreas disciplinares, pelo que o tempo dedicado à Matemática é largamente prejudicado. Além disso, a constatação de que os conteúdos dos currículos dos 1º e 2º ciclos se resumem praticamente a abordagens elementares dos conceitos de número e forma pode induzir nos formandos a ideia de que a Matemática nos cursos de formação inicial não deve ter grande peso. Ora, é nestes níveis de ensino que se lançam as primeiras pedras para a construção do pensamento matemático, o que acarreta uma enorme responsabilidade dos professores na atitude futura dos alunos em relação à Matemática. (...) Os futuros professores devem ser levados a entender as várias facetas da Matemática: a Matemática como arte, em que se conjugam proposições, se estabelecem conexões e se encadeiam raciocínios para a construção de resultados; a Matemática como instrumento, tanto para aplicações no dia-a-dia, como na resolução de problemas tecnológicos, ou na formulação de teorias científicas; a Matemática como linguagem precisa e geral; a Matemática como desafio, que tanto pode revestir aspectos essencialmente recreativos (...) como decorrerem da constante necessidade de ir mais além na procura de respostas para o mundo que nos rodeia.
Especificamente no que diz respeito à formação de professores de Matemática para o 2º ciclo (variante Matemática /Ciências da Natureza), existe uma enorme disparidade entre a formação oferecida, tanto a nível de conteúdos curriculares como do peso da Matemática face às restantes disciplinas. Tanto constatamos a existência de um naipe de conteúdos muito vasto e desadequado aos objectivos dos cursos, como a conteúdos muito limitados subordinados à didáctica. (...)» (Suzana Nápoles)
Resta-me deixar a pergunta: Como será que "se encadeiam raciocínios" na mente de Maria de Lurdes Rodrigues quando se mostra tão preocupada com o ensino-aprendizagem da matemática e, ao mesmo tempo, ignorando tantos alertas de que os transcritos acima são apenas um ínfimo exemplo, empurra o futuro professor do 2º ciclo para professor generalista?
quarta-feira, janeiro 17, 2007
Habilitações para a docência - para mim, basta desse assunto!
Bati na tecla de algumas formações vigentes para o 2º ciclo e, recentemente, alertei para a visão da actual equipa do Ministério da Educação, relativamente à qual, no respeitante ao 2º ciclo, até um grupo de trabalho constituído por responsáveis de várias ESEs esteve contra, apesar de as ESEs serem as instituições que maioritariamente têm a cargo essa formação. (Esse meu alerta, incluindo informação de pareceres, está aqui).
O novo regime de formação para a docência na Educação Pré-Escolar e nos ensinos Básico e Secundário foi aprovado em conselho de ministros em 28 de Dezembro sem que dele fosse dado conhecimento público ou aos sindicatos de professores. Foram ontem divulgados alguns aspectos desse Decreto-Lei, e as posições da FENPROF (que acabo de ler) sobre o que já é conhecido não me indiciam que tenha sido corrigida a visão que mais me preocupava, embora ainda não tenha acesso ao diploma para ler com os meus próprios olhos. Entretanto, não preciso de ler para conhecer, desde a aprovação da Lei de Bases do Sistema Educativo, quer o facto de nunca terem sido postas em prática algumas disposições dela, quer o modo como foram sendo contornados e mesmo desvirtuados princípios nela inscritos depois de processo árduo para se conseguir uma lei que, pela sua importância, requeria a obtenção de consenso.
A pôr ponto final num assunto com que me preocupei longamente (e disso, já tive quanto baste), deixo apenas e sucintamente uma memória que até devo ter escrito com mais pormenores algures neste cantinho. É a memória de quatro estagiárias que tive numa turma minha de 6º ano, a partir só de finais de Fevereiro desse ano, e tive apenas na qualidade de cooperante, não de orientadora. (Para não cometer injustiças, esclareço que não frequentavam uma ESE, mas um desses institutos privados, igualmente credenciados para a referida formação).
E pronto. Prossigam os ministros da educação com uma política de formação de professores que fique o mais barata possível, com a justificação de que os meninos ficam traumatizados com a passagem do professor único do 1º ciclo para vários professores - justificação de que até se ririam os próprios alunos, pelo menos após a primeira ou segunda semana dessa transição -, prossigam, que eu fico-me com a minha opinião mas não vou insistir mais no assunto.
quarta-feira, novembro 22, 2006
Um Anteprojecto de Decreto-Lei que parece estar a passar despercebido
Nota prévia:
Talvez o anteprojecto ande a passar despercebido por se pensar que se trata apenas da necessária adaptação dos cursos de formação para a docência, no contexto do Processo de Bolonha, aos dois ciclos agora designados, respectivamente, por licenciatura e mestrado. Essa adaptação não está em causa, mas já o está preocupantemente (não só a meu ver, mas também na visão de personalidades autorizadas do ensino superior, quer universitário, quer politécnico) pela fuga da actual equipa do ME à oportunidade de uma correcção (que há muito se impõe) a perspectivas de formação generalista de professores do ensino básico destinados à leccionação do 2º Ciclo, e agravadas pelo alargamento dessa perspectiva à formação dos professores do 3º Ciclo.
"O anteprojecto de decreto-lei do Ministério da Educação sobre o regime jurídico da habilitação profissional para a docência (...) parte de um princípio muito discutível na definição do perfil do professor desses dois grandes ciclos de formação (básico e secundário): o professor generalista. " (Carlos Ceia, 8 - 11-2006)(2)
(Fim de nota prévia)
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Deixo de lado pareceres de professores do ensino universitário, tais como o de João Pedro Ponte em 2004 (3), emitido a pedido da então Ministra da Ciência e do Ensino Superior(4), no qual (considerando que "nos primeiros níveis do sistema educativo evidencia-se o papel do professor generalista, que tem a responsabilidade por uma turma, enquanto que nos níveis mais avançados, o papel do professor está claramente vinculado a uma disciplina ou área disciplinar" e que "a transição entre os dois tipos de perfil profissional faz-se sobretudo no 2ºciclo do EB") é salientado que se justifica "uma atenção especial à formação dos professores do 2º ciclo do EB".
Destaco em especial, sim, o parecer(5) do grupo de trabalho nomeado pelo CCISP (Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos) para dar resposta à solicitação de elaborar “o perfil de competências e de conhecimentos referentes à profissão de educador/professor”. Destaco-o por ser um parecer de uma comissão constituída por professores das próprias ESEs (seis ESEs), quase todos coordenadores das mesmas, ficando eu perplexa perante o ignorar (ou despresar) também desse parecer por quem elaborou o Anteprojecto referido no título deste post.
Reportando-me apenas à questão que relevo neste escrito - a formação dos professores do 2º Ciclo -, deixo para comparação pelos meus eventuais leitores as respectivas propostas que se seguem.
Do Grupo de trabalho nomeado pelo CCISP:
Ramos propostos para educadores de infância e professores dos dois primeiros ciclos -
· Educador de infância
· Professor do 1º ciclo do ensino básico
· Professor do 2º ciclo do ensino básico em ______ (áreas definidas no quadro das habilitações para a docência)
Do Anteprojecto da actual equipa do ME:
Domínios de habilitação para a docência propostos para educadores de infância e professores dos dois primeiros ciclos (totalidade das alternativas propostas) -
. Educador de Infância
. Professor do Ensino Básico: 1º Ciclo
. Educador de Infância e Professor do Ensino Básico: 1.º ciclo
. Professor do 1.º e do 2.º Ciclo do Ensino Básico
(Destaques meus)
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Links para as referências:
(1) Ante projecto de Decreto-Lei - Regime Jurídico da Habilitação Profissional para a Docência (Ver anexo, p. 21)
(2) Parecer - p. 1 - 1.
(3) Parecer - p. 14
(4) Diário da República, pp. 10 579-80
(5) Parecer do Grupo de Trabalho nomeado pelo CCISP (Ver quadro, p. 4)
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ADENDA
Para além de o anteprojecto não deixar alternativa aos formandos que queiram optar exclusivamente pela leccionação no 2º Ciclo (até por não se sentirem vocacionados para o 1º), o que sobressai essencialmente é a persistência do ME em não reconhecer as insuficiências e deficiências (para as quais tem havido vários alertas) inevitáveis quando, numa formação de duração curta para todas as vertentes que pretende contemplar, se integram simultaneamente uma formação teórica generalista (justificável num tronco inicial comum), uma profissionalização em termos de prática (a substituir os antigos estágios pós formação científica) e uma formação científica e didáctica já necessariamente especializada em disciplinas ou áreas de duas disciplinas, tudo isto juntando a habilitação para a monodocência no 1º Ciclo com a habilitação para a docência no 2º Ciclo.
Não é preciso lembrar que o professor tem que saber bastante mais do que o que ensina a nível básico, sob pena de ter dificuldade em iniciar os alunos em conhecimentos e no processo de elaboração de conceitos em bases correctas e seguras. E, ainda que muitos professores colmatem autonomamente insuficiências de formações iniciais que lhes são proporcionadas, tal não pode ser tomado como princípio, sendo seu direito (e dos alunos) receberem uma formação não prejudicada seja por interesses obscuros, seja por motivos economicistas.
Se, como vimos, são também os responsáveis por várias ESEs que apontam para cursos distintos de formação para leccionação respectivamente do 1º e do 2º ciclos (ainda que, como já disse, possam ter um tronco inicial comum), quem são então os mentores do anteprojecto do ME? Mais: Há "lobbies" pressionando? Há interesses a não tocar? (Sem entrar em suspeições de que não tenho provas, não deixa de ser impossível que não ocorra às nossas mentes o envolvimento e comprometimento, de há muito tempo, com as ESEs e as formações por elas prestadas, de um certo senhor que é actualmente Secretário de Estado da Educação).
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P.S. Ler, a propósito, notícia do Público aqui, e também notícia aqui de que o ME enviou o anteprojecto aos sindicatos "apenas para dar conhecimento"
sexta-feira, setembro 01, 2006
Poupem-me, por favor!
Todos sabemos que esta moda se popularizou a partir do livrinho de Nuno Crato que o Miguel também refere como tendo colocado o dito termo "no top dos lugares comuns" e ao qual, já que teve a categoria de livro, eu só chamo mesmo "livrinho". Logo quando o li me faltou a paciência para terminar as últimas páginas, pois duas coisas me irritaram, uma respeitante ao recurso a curtas frases proferidas em situações pontuais, e retiradas do contexto do que esta ou aquela pessoa disse, e a outra parecendo já ignorância sobre o significado original, genuino, de um ou outro conceito. Mas, não venho falar do dito livro nem dos métodos nele seguidos pelo seu autor, embora isso de deduzir, de um pequeno escrito ou comentário, algum enorme eduquê ande a ter seguidores.
Entretanto, nesta 'história' de eduquês e anti-eduquês, o que me preocupa não são os que se andam a ocupar dela com defesas ou acusações (a menos que sejam mesmo professores e uns tantos miúdos lhes andem a passar pelas mãos). O que me preocupa é que também haja, entre os professores que os lêem, alguns que se limitem a fazer a sua auto-formação contínua por leituras "pop" (como lhes chamava um professor que tive não há muitos anos), umas "baratas", outras superficiais.
Já que Rousseau anda na mira dos anti-eduquês, ocorre-me que o caso da pedagogia não é, a meu ver, diferente do da filosofia propriamente dita no que concerne à formação do nosso pensamento. No 2º caso, o conhecimento de grandes filósofos contribui para a formação, criticamente, do nosso próprio pensamento sobre a vida e a humanidade, e, de preferência, conhecimento de pensadores com diferentes e até contrárias perspectivas, pois é no conflito entre ideias contrárias que o pensamento avança. Quanto ao 1º caso, se me perguntassem em que perspectiva ou corrente pedagógica me insiro, desde há muito tempo que responderia: Em quase todas as que li e em nenhuma. Claro que não estou a referir-me a alguma amálgama de ideias contraditórias. O facto é que construí (como todos os professores que procuram um pensamento autónomo) as minhas perspectivas pedagógicas (e também busquei fundamentos sólidos para as que privilegiei) através da selecção, em cada uma, dos aspectos sensatos a conservar - embora, naturalmente, tenha as minhas 'linhas de fundo'. Ou seja, a adopção exclusiva, exagerada ou dogmática de qualquer uma depressa, numa determinada fase lá para o início da vida profissional, me pareceu inadeaqada, seja às realidades, seja à eficácia, ou simplemente a mim mesma.
Mas eu ia jantar, passei pelo blogue do Miguel e vim, para quê (?) escrevinhar - já acentuei no início que o Miguel não teve culpa nenhuma, ainda menos de eu, em vez de ir jantar, me pôr a escrever também lugares comuns. Afinal, o que queria era apenas fazer o desabafo - que até fiz logo em título - sobre telenovelas de eduquês e anti-eduquês: Poupem-me, por favor!
;)
segunda-feira, julho 25, 2005
Agenda pós-férias
Iniciado este cantinho em Maio último, logo duas memórias (entre outras) estiveram nas minhas intenções de posts. Relacionam-se com duas questões que, se até se afiguram particularmente oportunas neste momento, também lembrei em muitos outros, uma no círculo vasto de colegas de várias disciplinas que igualmente as colocam, outra no círculo mais restricto daqueles colegas de disciplina que, ao longo de anos, pugnaram (sempre isolados) pela sua aceitação como questão determinante da relação dos jovens alunos com a Matemática.
A "blogosfera docente" está a partir para férias, também eu me limito a deixar agendadas essas duas memórias para o começo do novo ano lectivo. Porque este cantinho ao menos uma utilidade tem: a de me fazer (a mim) pensar como que em voz alta, ao escrever.
1ª questão - Da necessidade de formação rápida de grande número de professores de 2º Ciclo, devido à massificação do ensino, até à instalação e continuação de uma situação quando os formados até passaram a ser em excesso. Situação derivada do alargamento da formação inicial (científica e profissional) para fora das ESES, ao sabor da proliferação de institutos superiores privados, creditados decerto por planos apresentados, mas não pela prática de muitos (demasiados), a qual, como é bem visível nas escolas a quem pedem cooperação e nos vários alertas, nomeadamente da APM, tem contribuído significativamente para insuficiente/deficiente formação inicial, científica e profissional, dos docentes que formam (do que estes não são responsáveis, note-se). E alguém nega a importância dos começos escolares dos alunos? E alguém nega que a dispersão dos formandos entre uma predominante vertente pedagógica teórica (aliás ligada à prática por uma prática efectiva e acompanhada que se limita à leccionação de meia dúzia de aulas disponibilizadas por um professor cooperante meramente voluntário) e uma vertente científica dividida entre, por exemplo, Matemática e Ciências, alguém nega, dizia, que se torna assim difícil, num modelo já de si interrogável e que se aplica ao sabor do que disse acima, que os professores formados tenham eles a educação matemática que tanto urge dar aos jovens alunos portugueses?
2ª questão - Da defesa e até luta de bastantes professores de Matemática pela adopção generalizada de novas metodologias especificamente adequadas ao ensino-aprendizagem dessa disciplina nos anos da escolaridade básica (novas na prática, que nada novas nas teorias e investigações na área da educação matemática), até à resistência que não se situa apenas nos próprios - os professores de Matemática -, mas na cultura e/ou clima ainda prevalecente na escola portuguesa. Questão de particular importância no 2º Ciclo (não tenho dados suficientes nem competência para referir a situação no 1º Ciclo) - ciclo em que são menos importantes os conteúdos (que se retomam no 7º ano), sendo qualquer um propício a ser trabalhado em pesrspectivas importantes: iniciação no processo de aquisição de conceitos (que sabemos ser longo, requerendo posteriores etapas); iniciação na resolução de problemas, ou seja, na aquisição de competências de interpretação, relacionação e procura activa de estratégias de resolução - e os alunos até são hoje exímios em jogos de estratégia, porque não hão-de interessar-se e ter sucesso nesse desafio ao raciocínio que a Matemática deve saber colocar?; iniciação em hábitos de rigor e precisão, tão necessários nos futuros adultos e que até vão influenciar o próprio domínio progressivo de um português correcto. Alguém duvida de que era preciso cautela (era, mas o passado corrige-se) ao colocar-se a Matemática do 2º Ciclo num plano susceptível de diminuir demasiado a respectiva formação especializada a requerer?
domingo, julho 10, 2005
Fim de estágios
De acordo com a proposta ministerial, os candidatos à docência deixariam de dar aulas para passarem a assistir às aulas dadas pelos orientadores de estágio, deixando por isso de receber a remuneração que até agora lhes era concedida pelas aulas que ministravam. Com esta medida, a tutela irá poupar cerca de 50 milhões de euros.O Ministério decidiu também que o ano de estágio deixará de contar como tempo de serviço para efeitos de carreira.Em comunicado, os estudantes afectados por estas medidas afirmam que as alterações ao modelo de estágio "representam uma verdadeira regressão na formação inicial da carreira docente e são inaceitáveis, para além de terem consequências imprevisíveis na qualidade do ensino e na qualidade da formação dos alunos".
quarta-feira, julho 06, 2005
Formação de professores (um preâmbulo só)
sábado, junho 25, 2005
Carroça à frente dos bois???
Os professores da minha geração e de outras seguintes profissionalizaram-se mediante estágios – estágios mesmo, a dar aulas -, a assistirem a aulas uns dos outros e a serem assistidos pelos orientadores a cujas aulas por sua vez assistiam. Sim, porque estes não eram os colegas cuja profissão é a de leccionarem no ensino superior – universidade ou instituto -, mas sim outros que não tinham apenas que expor modelos pedagógicos teóricos, tinham que os praticar e mostrar que eram praticáveis, tinham, em suma, que estar nas escolas com os estagiários.
Mas isso não era barato, e mudou-se não porque embaratecer fosse na altura urgência devida a buraco do deficit, mas porque eram sempre “urgentes” outras prioridades orçamentais (que a da educação ia-se referindo por palavras para não parecer tão mal). E assim se passou aos chamados estágios integrados nos cursos para a via de ensino, que de integrados têm de facto muito, só que sobrando um escasso tempo para vir para o “terreno”. Ao menos que se tenha um pouco de recato na culpabilização dos professores assim formados, pois não são eles que escolhem o sistema de formação, escolhem, sim, a via de ensino onde duvido que se “enfiassem” se não desejassem mesmo ser professores.
Decerto que muitos e muitos professores do tempo dos "estágios a estagiar mesmo” mudaram criticamente, a seguir, métodos neles preconizados, ou analisaram, avaliaram e substituíram este ou aquele modelo. Mas esses estágios não deixaram de ser, mesmo assim, fundamentais (se não imprescindíveis) para os (nos) munirem daquelas competências que subjazem nessa mesma autonomia, na iniciativa, na criatividade e na inovação (e até na segurança científica, pois havia o tempo de fazer cada coisa a seu tempo), competências que a profissão de professor constantemente requer.