Entrámos no ano do Rato, dizem os chinocas que vai ser um ano em cheio, olha esperemos que sim, pois o início de 2008 aqui para Ocidente não tem sido muito famoso, pelo menos para mim, aliás à minha volta a coisa não anda lá muito encarrilhada, são os ricos a querer pisar os mais pobres sob a bandeira dos cifrões de quem mais tem e mais quer seja à custa de quem for, são os amigos a viverem a mesquinhez pobrezinha de quem não tem mais nada para fazer senão moer e torrar-nos a paciência.
Refugiei-me nas letras…nas poesias…peguei no meu poemário para 2008 e li o poema que o dia de hoje me oferecia:
O tigre trepando a montanha
Colhendo lotús em botão
A rapariga de Jade tocando flauta
Duas andorinhas um só coração
E assim assistimos aos ricos a serem cada vez mais ricos e os pobres a preencherem cada vez mais formulários que lhes dão direito ao rendimento xpto, se em troca encherem o país de criancinhas porque a natalidade tá baixa e o país precisa de apresentar números à Europa, provando que é um país cheio de gente nova mesmo que quase morram de fome e tenham de roubar para poder sobreviver, e daqui a uns anos temos um país que deixa de ser de Doutores e Engenheiros para um país de técnicos especializados na arte do gamar.
…e continuava assim o poema…
Como peixes expondo as guelras
Como peixes friccionando as escamas
Como peixes olhando-se nos olhos
Se entrelaçam os bichos-da-seda
Excelente! Sim senhor, esmaga-se a classe média, e passamos a ter os muito ricos com os seus grandes casarões e contas bancárias chorudas e os pobrezinhos com uma carradona de filhos com a boca transformada em fábricas de cáries, a viverem em bairros sociais em forma de caixotes de cores garridas com as paredes cheias de graffitis. Os rapazes, esses deslocam-se entre as portas dos cafés e os carros kitados a imitarem os mesmos que circulam numa Bronx, com a pura ilusão que aquilo é o poder e o status necessário que lhes confere o respeito e a força de vencer.
...
Duas borboletas em salto mortal
Procurando o bambu fragrante
Brinca na água um casal de patos
Nas empresas é ver os patrões a querer ter o poder de despedir sem dar cavaco, e os lambe botas a subir de escalão só porque alguém lhes deu a oportunidade de ocupar lugares para os quais não têm a mínima vocação e julgam que gerir pessoas é à conta do poder besta e desmedido sobre os outros, e nós vamos assistimos às actuações de quem enterra o próximo para que no momento seguinte seja a verdadeira vedeta de um Maxime quando na verdade são apenas coristas de uma revista à portuguesa com cheiro a mofo e carregadas de piadas politicas de muito mau gosto.
São os de vida cinzenta que de um momento para o outro se transformam e querem à força de um status novo mas já apodrecido, adquirido vamos lá saber como, a esconder o seu pé de chinelo, confundindo pato à milanesa com a pata aqui na mesa, esses não me enganam, mas magoam-me e irritam quando nos enfiam pelos olhos a dentro o sorriso hipócrita do anda Bobby que já enganámos outro. São os que em fracção de segundos dissertam sobre uma caixa de chumbos de pressão de ar convencidos que se trata de caviar beluga negro porque alguém lhes disse que é do mais jet set dizer que se gosta de ovas de peixe cruas.
Hoje na revolta do meu ego, aqui me sentei e decidi puxar a minha veia mais esquerdista que andava um pouco murcha, procurei no baú e reencontrei-me com Zeca Afonso, e ao som dos seus poemas deixei a ira sair e resolvi escrever este post antes que desse por mim a pedir ajuda ao Xô Bento XVI sob pena de ter algum amigo mais próximo a querer levar-me à força a uma urgência psiquiátrica antes que o governo também decida encerra-las.
…
Disparando flechas enquanto galopa
Um Homem nu, uma mulher nua
A conjunção do Sol e da Lua
Jorge Sousa Braga (1957) – A Ferida Aberta
PS: Amigo Donas este post é todo dedicado a ti, e tu sabes do que eu falo, e tu sabes que estamos contigo!