SAUDADES
Saudades de quem eu era,
Alegre e inquieta como toda a primavera,
Vivia a vida sem pressa
E da sua seiva me alimentava.
Os dias eram claros e ousados
E na minha ânsia de descobrir o mundo,
Abria de par em par as portas que encontrava,
Para ver o outro lado, com olhar fecundo.
Respirava o interior das coisas
E urdia histórias que depois escrevia,
Com lampejos de cor e toques de magia,
como quem compunha uma melodia.
A vida era uma sucessão de sonhos
E deslizava célere através do tempo,
Riscando o espaço num fluir constante
De amanhãs risonhos.
Mas a chama que alimentava a tocha
Foi perdendo o brilho e morrendo aos poucos
E as cinzas que no fim ficaram
Não passam hoje de uma pequena rocha
De onde brota, às vezes, um resquício de água,
Para que eu mate a sede de subtis memórias.
Imagem obtida na net