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8.7.11

Reforços 2011/12: Van Wolfswinkel (Sporting) (Parte II - Vídeo)

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O vídeo tem a mesma intenção dos que foram apresentados em análises anteriores. Neste caso, está retratada a exibição de Van Wolfswinkel num jogo para o campeonato, fora, frente ao Heerenveen. Não foi um jogo fácil para toda a equipa do Utrecht, porque o jogo cedo ficou fora do controlo. No entanto, essa desvantagem forçou um cenário de mais posse de bola e domínio territorial para a equipa do novo avançado do Sporting, potenciando um cenário de maior participação.

A generalidade do conteúdo do vídeo, parece-me, dá para perceber o perfil descrito e, em particular, o equívoco que entendo ser encarar este jogador como um avançado mais fixo e com grande apetência para esperar pelo aproveitamento na zona de finalização. Ainda assim, essa mobilidade é especialmente potenciada na segunda parte, já que nesse período Van Wolfswinkel jogou deliberadamente como unidade mais móvel, nas costas de um avançado mais fixo.

Uma nota final, para referir que, apesar de ter esta apetência natural para sair da zona dos centrais, Van Wolfswinkel tem também formação marcadamente de avançado e não de extremo ou médio ofensivo. Isto nota-se nos movimentos e soluções que instintivamente procura, e poderá ser o grande obstáculo a uma eventual adaptação a outras funções, que não a de avançado (Postiga, curiosamente, revela a mesma especificidade).

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7.7.11

Reforços 2011/12: Van Wolfswinkel (Sporting) (Parte I)

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Perfil competitivo - Van Wolfswinkel encaixa num perfil que, em termos mediáticos, lhe credita um protagonismo instantâneo: número 9 holandês, elegante e tecnicamente forte. Nomes como Van Basten, Bergkamp, Nistelrooy ou Huntelaar emergem rapidamente, e Van Wolfswinkel, correspondendo a este perfil morfológico e jogando nas selecções jovens da Holanda, rapidamente atraiu muitas atracções. De uma perspectiva mais objectiva, porém, o trajecto do jogador está ainda longe de poder aproximar-se dos nomes com quem foi comparado. 3 épocas, 1 no Vitesse e 2 no Utrecht. O ponto principal a reter neste trajecto é alguma modéstia concretizadora. Se nos abstrairmos das grandes penalidades, Van Wolfswinkel não foi sequer o melhor marcador da sua equipa nas últimas 2 temporada. Este dado puramente estatístico, quando enquadrado com o contexto de utilização e tipo de competição, é, na minha leitura, muito relevante.

Perfil táctico/técnico - Começo por sublinhar que não encontrei ainda qualquer descrição do jogador que concorra para as conclusões das minhas observações, e, parece-me, há uma ideia errada sobre as características do jogador. Para além de não ter feito muitos golos (penaltis, à parte), como quase sempre é referido, Van Wolfswinkel não é, também, um jogador muito fixo ou que tenha uma apetência especial para jogar na área, no duelo com os centrais. Para sintetizar, o seu perfil é muito próximo ao de Postiga. Aliás, é um jogador que apela ainda mais à mobilidade, parecendo até impaciente perante o habitual jogo posicional desempenhado pelos jogadores da "posição 9". Esta característica foi, até, aproveitada para utilizar pontualmente o jogador em posições mais recuadas, nas costas de um jogador mais fixo. Tecnicamente, Van Wolfswinkel é muito dotado, destacando-se a facilidade com que executa com ambos os pés, o que é uma virtude relevante. Tem boa atitude nos momentos defensivos, e é, fisicamente, um jogador mais veloz do que forte. Aliás, tem algumas dificuldades em situações de maior confronto físico. Em termos de finalização, não tem no seu historial muitos golos como resposta a cruzamentos ou de cabeça. Faz um bom aproveitamento da linha do fora de jogo, aproveitando a sua constante movimentação para perder referências de marcação e solicitar o passe entre os centrais, no limite da linha defensiva. A sua eficácia é, apesar de boa técnica de remate com os dois pés, inconstante.

Futuro no Sporting - De facto, diria que é muito improvável que Van Wolfswinkel venha a conseguir grande eficácia na relação golos/utilização (mais uma vez, grandes penalidades à parte). O Sporting acaba por garantir um jogador de características muito próximas às de Postiga, não parecendo para mim certo que venha a garantir a titularidade se a discussão entre os dois for pela posição 9. Van Wolfswinkel tem a seu favor o facto de ter uma boa perspectiva inicial e uma intenção do clube em justificar o investimento, e poderá capitalizar esses aspectos se conseguir uma boa entrada de temporada, nomeadamente que o ajude em termos de confiança. Outra possibilidade, é dar-se uma adaptação do jogador a outras posições, dado que é jovem e parece ter apetência para uma postura de maior presença no jogo da equipa. Vistas bem as coisas, este último cenário pode até ser bem provável...
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5.7.11

Reforços 2011/12: Stijn Schaars (Sporting) (Parte II - vídeo)

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Como complemento da opinião e dados deixados ontem, acrescento um vídeo que segue o mesmo critério de outros. Ou seja, mostra todas (neste caso, realmente, não todas, mas quase todas) as intervenções directas do jogador num jogo, sejam elas bem, ou mal sucedidas. O jogo que escolhi foi do AZ frente ao NAC Breda, por ter características idênticas a muitos jogos que Schaars disputará no campeonato. Foi um jogo de muitas intervenções, mas que não correu especialmente bem ao jogador, fundamentalmente em jogadas potencialmente mais decisivas. De todo o modo, creio que fica evidente os traços gerais do seu perfil.

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8.4.11

Liga Europa quase conquistada! (Breves)

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- No Dragão, o Porto não começou bem. Aliás, a sua entrada podia ter comprometido uma eliminatória que acabaria praticamente resolvida no final do jogo. A verdade é que houve 2 indícios que sempre estiveram presentes e que acabariam por se revelar decisivos no volte face que o jogo conheceu. O "pressing" e a instabilidade da zona central da defensiva russa (Rojo a central?!). A sua posse, por outro lado, foi o que mais contribuiu na tal entrada adormecida, mas também nesse plano a equipa cresceu. Fundamental, mesmo, foi o primeiro golo, que atraiu o Spartak para menores níveis de organização e lucidez, abrindo mais espaços e possibilitando uma verdadeira "avalanche" de oportunidades portistas na segunda parte. Destaque, aí, para as dificuldades dos russos na resposta a cruzamentos. Quer no controlo de Falcao (voltou a mostrar que é neste tipo de movimentos que é realmente um fora de série), quer, mesmo, na resposta às bolas paradas. Há que começar a pensar nas meias finais...

- Na Luz, impressionante intensidade do Benfica desde o minuto inicial. Há que notar a importância do público para que a equipa pudesse recuperar níveis de motivação, entusiasmo e confiança, que tanto parecem condicionar a qualidade do seu jogo. Se tivéssemos um Benfica em fase positiva, provavelmente o pesadelo do PSV teria sido ainda maior. Fortíssima intensidade, sobretudo visível na reacção à perda e na rapidez de desdobramento ofensivo. Ainda assim, o PSV, creio, justificou o golo, mesmo contando com o erro de Roberto. É que o Benfica voltou a não estar muito bem na tentativa, que me pareceu deliberada, de gerir o jogo e controlar o adversário. Valeu o último fôlego, embora seja da opinião de que mesmo com a margem mínima, o Benfica continuaria a ter um forte favoritismo para sair vencedor desta eliminatória.

- Quanto ao jogo do Braga, não pude ver. Foi um bom resultado, mas não foi ainda feito o mais difícil. Nesta altura, porém, é impossível considerar o Dinamo favorito, se atendermos ao currículo caseiro do Braga de Domingos. Não pára de espantar, o Braga. Não é pela história que é um feito incrível. É, isso sim, pela conjugação de uma absurda diferença de orçamentos e uma anormal série de contrariedades e perdas desde o inicio da época. Que mais terá para nos oferecer?!

- "O "ouro" do sorteio está nos países baixos!", escrevi na antevisão do sorteio dos quartos de final. A escola holandesa actual esteve em discussão aí, mas também no perfil dos treinadores que se lançaram nas "eleições" do Sporting. O liga holandesa tem boa qualidade individual (bem melhor que a portuguesa, em termos médios) e um grande enfoque na posse e no jogo em apoio, como se viu, aliás, no caso do PSV. O ponto - e volto a insistir nisto - é que o futebol não se define pelo enfoque que se dá a um estilo, mas sim pela capacidade e coerência que as equipas apresentam em todos os momentos que o jogo tem. Confesso que me espanta como certo tipo de ideias líricas continuam a ser "vendidas" em tantas prosas sobre o jogo...

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19.9.10

Derbi vermelho e outros jogos (Breves)

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- Ainda irei rever o jogo antes de uma análise mais aprofundada, mas para já fica a certeza de um 'derbi' completamente vermelho. Uma diferença ao nível da qualidade táctica do modelo - como sempre venho referindo, não ao nível técnico-táctico que reside o problema do Benfica - e, muito importante também, da inteligência na estratégia adoptada. No futebol, como em quase tudo, a qualidade sobrepõe-se sempre à quantidade. A partir daqui podemos começar a perceber o paradoxo de o Sporting ter sido a primeira equipa a ter mais posse de bola do que o Benfica esta época e, ao mesmo tempo, ter sido provavelmente aquela que menos problemas causou ao jogo encarnado. Paulo Sérgio - na minha opinião - fez bem em dar continuidade ao onze e ao modelo, o que tem é de ter alguma noção da qualidade que a equipa não tem para assumir um jogo de posse e circulação no meio campo adversário. Por fim, fica a pergunta: porque é que Cardozo, tão limitado fisicamente, faz o seu melhor jogo ao terceiro jogo semanal?

- Em Paços, o Braga quase ganhava. Seria um feito fantástico, dada a sua pouca produtividade e, diga-se, é já fantástico não ter perdido. Enquanto a sua organização e discernimento vão sofrendo com as "dores" deste súbito crescimento, vai valendo mais um episódio de grande eficácia ofensiva. E, mais uma vez digo, não é por acaso.

- Tivemos cá derbi, mas muitos outros clássicos houve pelo mundo. Em Inglaterra, Berbatov foi o protagonista, mas ficou também uma grande exibição de Nani, talvez o mais desequilibrador jogador do campeonato inglês (mais uma vez pergunto-me como é possível alguém subestimar o potencial de uma Selecção que conta com este tipo de talento?!). Em França, Gourcuff voltou a Bordéus e... perdeu! Na Alemanha, o sempre quente duelo entre Dortmund e Schalke foi resolvido por um jovem... japonês: Kagawa. Em Espanha, o Barcelona conseguiu ganhar onde o ano passado perdera. Na Turquia, o primeiro clássico de Quaresma terminou com um empate a 1, em casa do Fenerbahce. Na Holanda e em Roterdão, ganhou o Ajax. Não está muito difícil de ver quem vai ser campeão, quando se juntam Suarez e El Hamdaoui numa mesma equipa. Finalmente, no Brasil joga-se ainda o 'Fla-Flu', mas já dá para dizer que um adolescente tramou Scolari no derbi paulista frente ao São Paulo: Lucas Silva(ex-Marcelinho).

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9.7.10

Diário de 'Soccer City' (#25)

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Como é que se antevê uma final? José Mourinho um dia disse que as finais não são para jogar, que são para ganhar. Mais fácil dito que feito, até porque, como é óbvio, há tantos vencedores de finais como perdedores. Uma coisa é certa, seja épica, banal ou mesmo das piores de sempre, uma final de Mundial será sempre um jogo histórico, visto e revisto por milhares, mesmo décadas após a sua realização. E é essa relevância eterna que penetra no sistema nervoso dos jogadores e que, quem sabe, pode desfazer todas as lógicas. Seja para o bem ou para o mal. Enfim, pior do que prever a final, só mesmo... o jogo do 3º e 4º lugares. Isto para um alguém que não é molusco, claro...

Espanha – Holanda (Previsão: Espanha campeã do mundo)
Na ressaca da meia final com a Espanha, não faltaram especialistas a criticar a atitude alemã. Que foi demasiado defensiva, que não esteve à altura dos jogos anteriores, que isto, que aquilo. Desculpas de quem parece esperar que as equipas joguem sozinhas, ou então que no futebol existam 2 bolas. A Alemanha não foi capaz de se superiorizar frente à Espanha, não porque tenha tido um rendimento inferior aos jogos anteriores, mas porque teve um adversário que condicionou o jogo de forma diferente de todos os anteriores. E esse é o problema com que se deparará agora a Holanda.

É um problema curioso para os holandeses. Nenhum outro país importou com tanto afinco a filosofia do futebol holandês dos anos 70 como a Espanha. Não dá para dizer que a Espanha é uma versão do futebol de Mitchels, mas dá para dizer que é geneticamente descendente desses tempos. Cruyff cresceu com a ideia, desenvolveu-a e transmitiu-a no país que o acolheu. Recentemente, Guardiola, uma espécie de “neto” de Mitchels e “filho” Cruyff, terá dado um novo passo no desenvolvimento do jogo e o que vemos hoje na Espanha não tem nada a ver com Del Bosque, embora seja este quem se prepara para colher alguns louros históricos desta evolução. Del Bosque é uma espécie de barriga de aluguer de toda esta evolução filosófica. Ele, como já fora Aragonês.

Enfim, certo, certo, é que a Holanda tem o inventor da ideia, mas não tem nenhum inventor do antídoto da ideia. Por isso, e porque não tem futebol para contrapor na mesma moeda, Van Marwijk vai ter de fazer como os outros, e passar umas boas noites sem dormir para tentar encontrar solução para aquele que parece o grande enigma do futebol moderno: como tirar a bola a Xavi, Iniesta e companhia?

Lamento desiludir, mas não espero que no Domingo nos caia uma nova solução vestida de laranja. Ou seja, à Holanda restarão as mesmas alternativas dos outros. Esquecer a bola, controlar o espaço e tirar depois partido das suas unidades desequilibradoras para chegar às redes de Casillas. Em tudo isto, porém, há boas notícias para os holandeses. Podem ter um futebol colectivamente medíocre e até cometer vários erros defensivos – como já foi aqui diversas vezes escalpelizado – mas têm, como equipa, sentido de sacrifício e disponibilidade mental para estar bastante tempo sem bola. Mais importante ainda, têm unidades individuais capazes de ganhar um jogo em meia dúzia de jogadas, mais desequilibradoras do que qualquer adversário que a Espanha conheceu, não só nesta prova, mas nos últimos anos.

E é dentro disto que se definirá o jogo. De um lado, a organização espanhola, perante a qual Holanda precisa de se revelar mais capaz do que em outros jogos. Não bastará aglomerar jogadores, é preciso controlar espaços. Espaços como a zona entre linhas que custou o golo de Forlan, ou como as costas da linha defensiva, destroçada por Robinho. Do outro lado, a transição e a inspiração holandesas, depositadas nos ombros de Robben e Sneijder. Se a Espanha voltar a tardar em dar expressão à sua posse, poderá ter de se deparar com problemas como nunca experimentou até aqui. A Holanda não defende tão baixo como Portugal, Paraguai ou Alemanha e, se conseguir situações de transição, lançará o seu quarteto da frente a partir de zonas mais altas, ficando mais curto o caminho para a baliza de Casillas. Outra via para a Espanha poderá ser o pressing, já que, na sua primeira fase de construção, a Holanda será mais vulnerável do que Portugal ou Alemanha, por exemplo.

Enfim, diria que em 10 finais nas mesmas condições, a Espanha ganharia 7. Esta é a boa notícia para os espanhóis. A má, é que só há 1 final...

Uruguai – Alemanha (Palpite: Vence a Alemanha e marca mais do que 1 golo)
Muitos dizem que este jogo não deveria existir. Na realidade, porém, haverá assim tantas más memórias de experiências anteriores?! Os golos são quase sempre presença abundante e não poucas vezes tivemos desfechos inesperados. No que respeita a golos, espero novo festival, já quanto ao desfecho, dependerá muito da atitude das equipas. Como sempre, aliás.

Se o clima é de descompressão, parece-me que a Alemanha é quem tem mais probabilidades de manter a intensidade competitiva em níveis elevados. Somada esta expectativa ao facto dos alemães serem já de si melhores, talvez não seja de excluir a hipótese de uma nova goleada germânica.

Há quem veja o outro lado da moeda, e avance que a motivação alemã será menor pelo facto de serem a formação que mais expectativas tinha para estar na final e aquela que menos valoriza historicamente este jogo. Pessoalmente, creio muito mais na tese do parágrafo anterior, mas veremos.



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7.7.10

Diário de 'Soccer City' (#24)

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Sabe-se agora que não vai ganhar, e também já se sabia que, tudo somado, não era quem melhores probabilidades tinha para o fazer. Ainda assim, no dia em que foi afastada parece-me que é da mais inteira justiça que se comece por fazer uma vénia à Alemanha. Quando se falar de surpresas e sensações desta prova, nomes como Gana, Uruguai ou Holanda virão à baila. Os resultados tornam-no inevitável. Se falarmos de qualidade, porém, ninguém se compara aos alemães. Foram eles a grande lufada de ar fresco desta prova e quem mais se aproximou do seu máximo potencial. Por cá falou-se na importância das 3 semanas de treino antes do Mundial. Para meu desencanto, porém, tanto para Portugal como para a generalidade das formações, esse período serviu para pouco mais do que nada. As desculpas da mediocridade geral sofrem um grande revés quando se olha para o que conseguiu Low nesta Alemanha.

Fica o aviso para Portugal: se o objectivo for mesmo fazer coisas positivas no futuro, é bom que se comece a olhar para o exemplo germânico. Se, pelo contrário, for só para fazer "converseta" como nestes últimos 4 anos, então está tudo bem...


Uruguai – Holanda
Os 5 golos podem dar a sensação de um grande jogo. Mas não foi. O Uruguai pode dar a entender ter sido a revelação da prova. Mas não foi. A Holanda pode parecer ser mais pragmática do que no passado. Mas não é. Fora algumas individualidades – muitas no caso holandês – é tudo bastante medíocre. Isso sim.

O jogo não foi bom, porque nem o Uruguai foi capaz de se organizar suficientemente bem – isso sim, seria uma surpresa! – nem a Holanda teve a audácia para fazer uma exibição que estava perfeitamente ao seu alcance.

O Uruguai não é uma revelação da prova, porque se limitou, simplesmente, a aproveitar a sorte grande que foi o calendário que teve pela frente. Nunca se organizou bem e viveu apenas da qualidade individual de Forlan (que fantástico Mundial!) e Suarez para fazer a diferença em embates medíocres. Chegou à meia final, mas não conseguiu 1 único resultado surpreendente. E isto diz tudo.

A Holanda não é mais pragmática. A Holanda é, antes, mais incapaz. Se fosse pragmática, defendia bem, o que não é o caso. Defende com muitos, é um facto, e respeita equilíbrios tácticos importantes, mas é só. Depois, com as unidades que tem devia fazer muito mais em termos ofensivos, seja em organização, seja em transição. Teve um jogo feliz frente ao Brasil e o resto foi um passeio oferecido pelo calendário. Tudo somado, não vejo crédito suficiente para merecer uma final de campeonato do mundo.

Sobre o jogo, ganhou a Holanda, como se esperava. E ganhou, também como se esperava, apenas e só porque tem melhores jogadores. Mais nada.

Alemanha – Espanha
Sem surpresas, a Espanha confirmou que, por muito bom que fosse o trajecto alemão, o seu favoritismo era intocável. Tal como havia referido na antevisão, foi um jogo dominado pelos momentos de organização, e aí, embora ambos fossem fortes, a Espanha marcou uma esperada diferença. Esperada porque todos conhecemos a unicidade da posse espanhola, mas também porque há uma diferença entre as duas equipas em termos de pressing. E este ponto, embora normalmente desprezado, é fundamental para perceber o jogo.

É que o pressing espanhol é muito mais alto do que o alemão – sempre o foi durante a prova – e isso fez com que o jogo se disputasse muito mais no meio terreno ofensivo espanhol, porque a posse germânica raramente teve capacidade para empurrar as linhas espanholas até à sua área. Foi, portanto, uma parte por diferenças tácticas e outra por diferenças técnicas, que a Espanha se superiorizou. Tudo perfeitamente dentro do previsto, repito.

Para a Alemanha, porém, o facto da Espanha não ter grande capacidade de penetração no último terço poderia ser uma importante oportunidade. Com o passar do tempo, a emoção e ansiedade poderiam tornar o destino mais aleatório do que o jogo indicava em termos de domínio. A Espanha acelerou e em determinados momentos poderia ter conseguido o golo. Acabou por fazê-lo de bola parada, o que não deixa de ser duplamente irónico. Primeiro porque nas bolas paradas estava uma oportunidade mais evidente para os germânicos, e depois porque se a Espanha foi melhor, seguramente que não foi pelas bolas paradas...

Enfim, passou a Espanha, e passou bem. Simplesmente porque é melhor.



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6.7.10

Diário de 'Soccer City' (#23)

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A antevisão dos 2 jogos da meia final. Uma coisa é certa: o que vamos ver, será História...

Uruguai – Holanda (palpite: Vence a Holanda nos 90 minutos)
Não é difícil antever o favoritismo dos holandeses. O Uruguai pode ser a última esperança dos Sul Americanos para contrariar o poderio europeu, mas a sua presença nas meias finais está mais ligada a uma sequência feliz de situações do que a um grande mérito próprio. Basta dizer que em nenhuma ocasião os uruguaios bateram uma equipa que lhes fosse teoricamente superior. Ainda assim – e esta uma ideia que repito – em apenas 2 jogos, qualquer equipa pode sonhar com o título.


Olhando para trás, não espero um jogo muito aberto. O Uruguai jogará desfalcado de algumas unidades bem importantes e essa limitação só deverá servir para acentuar a tendência de Tabarez para optar pelos 3 centrais. O mesmo filme do nulo frente à França, logo no primeiro dia. Se assim for, a Holanda encontrará mais facilidades do que o esperado. O espaço entre linhas poderá ser um dado decisivo, e poderá até catapultar Sneijder para uma candidatura ainda mais séria a melhor jogador do mundial. A ele junta-se obviamente Robben, compondo um duo temível, não só pela qualidade individual como pela vocação que ambos têm para os grandes momentos.

Enfim, se este cenário se confirmar, só um grande Forlan poderá fazer do jogo algo que não seja um contra relógio para os holandeses. Será decisivo o “timing” do seu primeiro golo e se ele realmente surgir do lado laranja, então, aí sim, poderemos ter uma viragem no cariz do jogo. O Uruguai arriscará mais, expor-se-á mais a novo prejuízo mas também poderá ficar mais perto de marcar. É que do lado holandês, como já discuti, a eficácia defensiva não é propriamente um dado adquirido.

Este é o cenário que vejo como mais provável, mas está longe de ser o único possível. Numa meia final com esta importância, o peso emocional poderá provocar reacções tanto inesperadas como decisivas para qualquer dos lados...

Alemanha – Espanha (Palpite: passa a Espanha)
Influenciado pelo inevitável peso dos resultados, o mundo começou por desconfiar desta Alemanha nos 4-0 contra a Austrália. "Desconfiar", apenas, porque houve sempre quem dissesse que fora a Austrália a principal responsável por um resultado tão avolumado. A derrota frente à Sérvia foi gelo suficiente para arrefecer qualquer entusiasmo generalizado sobre a fase de grupos e poucos foram aqueles que apontaram o favoritismo dos alemães em alguma das 2 eliminatórias da fase decisiva. O que se passou, todos o sabemos: qualidade e, outra vez,“chapa 4” (desta vez, sem australianos para responsabilizar). Enfim, a Alemanha não é uma equipa diferente daquela que actuou no primeiro dia, mas apenas agora parece ser um candidato unânime. E logo agora, que defronta a Espanha.

De facto, mesmo com o mais fantástico trabalho colectivo da prova (já o escrevi há uns tempos, mas agora é capaz de ser mais consensual), não me parece que, desta vez, a Alemanha parta como favorita para o embate contra a Espanha. Seguramente será mais do que em 2008, quer porque está mais forte, quer porque a Espanha não entusiasma tanto, mas não ainda suficiente para partir na “pole position”. Os espanhóis – escrevi-o ainda ontem – beneficiam em demasia da qualidade individual e das rotinas do Barcelona e são, desde o inicio, a equipa mais forte.

Quanto ao jogo, juntam-se as duas equipas mais fortes em organização ofensiva. Nenhuma treme de medo ao primeiro esboço de pressing e ambas trabalham muito bem as soluções de passe. Defensivamente, a Espanha arrisca mais subir as linhas e a Alemanha – temendo a pouca presença numérica no miolo – encolhe-se mais. Talvez seja estranho dizê-lo depois da primeira frase deste parágrafo, mas talvez seja em transição que residirão as melhores hipóteses de ambas as equipas. Quem pressionar melhor e provocar mais erros no ponto forte do adversário poderá tirar partido para levar vantagem. Em 2008 não havia dúvidas de que seria a Espanha a fazê-lo, mas desta vez a parada prevê-se mais equilibrada.

Outro aspecto importante – como se viu nos quartos – serão as bolas paradas. Se no jogo corrido, a Espanha tem favoritismo, aqui serão os alemães a merece-lo. Não só porque são naturalmente fortes, mas porque os espanhóis defendem homem-a-homem, ao contrário do que a maioria dos seus jogadores estão habituados. E, já que estamos nos detalhes, junto os guarda redes como figuras igualmente importantes. Numa fase de tanta tensão e com a polémica Jabulani a ajudar, muito se pode decidir nas balizas. É que se um erro pode acontecer a qualquer um, também temos potencial para uma exibição memorável de algum dos lados.

Finalmente, falar da ausência de Muller. Normalmente não gosto muito de sobrevalorizar o peso de individualidades e, como já várias vezes expliquei, os nomes com mais relevância no jogo alemão são os nucleares Schweisteiger e Ozil, “pivots” da acção colectiva em todos os momentos do jogo. No caso, porém, Muller é uma ausência importante e que abre lugar a um potencial dilema para Low. O mesmo se passaria com Podolski, por exemplo, mesmo se os seus movimentos são manifestamente diferentes. É que os alas no modelo alemão são jogadores que na maioria dos modelos e equipas jogarão como avançados, partindo de zonas centrais. O objectivo, precisamente, é tirar partido dos seus movimentos diagonais e competência na zona de finalização. Sem estas características dificilmente teríamos tido tantos golos germânicos na competição. A questão é que não é fácil encontrar uma alternativa com as mesmas características e tentar fazê-lo pode acarretar alguns riscos. Low poderá utilizar um extremo mais clássico, como Marin, mas também poderá ser tentado a optar por um elemento mais vocacionado para apoiar Khedira e Schweinsteiger. A ver vamos...



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5.7.10

Diário de 'Soccer City' (#22)

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Embora tardiamente, não quero passar às meias finais, antes de deixar umas breves notas sobre os quartos de final. Na verdade, não há muito a acrescentar às antevisões que fiz, uma vez que os jogos corresponderam em quase tudo às expectativas que tinha. Antes do comentário jogo-a-jogo, porém, deixo uma nota sobre a actualidade extra-Mundial e o funcionamento do blogue. É certo que acabamos de assistir a uma das mais importantes transferências da história do futebol português e que, entretanto, também já outras definições foram conhecidas e concretizadas no mercado. Ainda assim, manterei o plano de me dedicar exclusivamente ao Mundial, prometendo a partir da próxima semana, aí sim, concentrar atenções no mercado e na preparação para a próxima época de clubes.


Brasil – Holanda
Foi o único jogo em que o palpite que deixei não se concretizou, mas, na verdade, o curso do jogo foi muito próximo do previsto. A única surpresa esteve, primeiro, na entrada algo permissiva dos holandês em termos defensivos e, depois, na eficácia laranja que conduziu à reviravolta.

O primeiro dado a merecer atenção é o que está por trás do golo brasileiro. Já aqui falei várias vezes das fragilidades individuais dos defensores holandeses e esse lance explica bem o que há de problemático no seu comportamento. Tudo está relacionado, parece-me, com uma carência na formação holandesa. A equipa tem preocupações tácticas correctas, mas individualmente os defensores holandeses são displicentes na forma como protegem as zonas mais importantes em termos defensivos e, noutros casos, assumem riscos excessivos em posse. Uma carência que se verifica semana após semana na liga interna e que explica também o evidente contraste entre o sucesso da escola holandesa em posições ofensivas e a modéstia revelada na zona mais recuada do campo. E assim, a Holanda se viu numa desvantagem potencialmente decisiva. Porque não cuidou as prioridades dos espaços, porque ignorou as referências zonais e colectivas e porque se deixou levar por aquilo que cada adversário, individualmente, ia fazendo.

Se a Holanda falhou no seu ponto fraco, deve à eficácia e a um capricho do destino o facto de não ter pago com a eliminação. Isto porque, e apesar de ter conseguido alguns períodos de domínio territorial, nunca foi capaz de por em perigo a baliza de Julio César. Aliás, até à reviravolta ter sido consumada, não se contabilizaram quaisquer oportunidades significativas de golo dos holandeses e, pode dizer-se, foi sempre o Brasil quem mais ameaçou.

Mas este foi um jogo de topo, decidido no pormenor. Pormenor das bolas paradas e pormenor da capacidade de reacção emocional às incidências do jogo. A Holanda foi eficaz e o Brasil perdeu a cabeça.

Uruguai – Gana
O jogo louco confirmou-se. De parte a parte, a qualidade individual dos atacantes superou em muito o rigor táctico de ambos lados. Erros em posse, espaço entre linhas e alguns desequilíbrios. O resultado, claro, foi um jogo entretido, bem ao gosto de quem tem no entretenimento o condimento favorito num jogo de futebol.

Do ponto de vista da análise, não há muito a dizer de um jogo destes. Porém, não quero deixar de comentar 2 detalhes em relação às grandes penalidades. Primeiro, sobre Gyan. Entre coragem e imprudência, não sei o que haverá mais naquele primeiro penalti da série decisiva que saiu ao ângulo. Depois, sobre Mensah. Para mim, é incompreensível como um profissional aponta um penalti com tão pouco balanço.

Alemanha – Argentina
E, de novo, o futebol foi respeitado. A qualidade colectiva superou o talento individual. Não tinha de ser assim, o jogo poderia ter conhecido outro caminho se fosse conhecendo outras condicionantes, mas, creio, seria difícil à Argentina durar muito mais tempo com tantas insuficiências.

Do lado argentino, confirmou-se o equívoco do posicionamento de Messi, demasiado longe da zona onde o seu futebol faz mais sentido. Confirmaram-se também todas as insuficiências tácticas, ao nível do equilíbrio e da preocupação com a transição ataque-defesa, bem como a exposição que havia alertado para o lado direito argentino, que acabou por ser o caminho para o sucesso na estratégia alemã.

Do lado alemão, confesso, a exibição nem sequer superou as minhas expectativas. Como esperava, teve repetidas oportunidades para actuar em transição e, também sem surpresas, fê-lo sempre com um entrosamento colectivo bastante elevado. No jogo alemão, porém, nem todas as fases foram óptimas e a equipa acabou por passar alguns períodos em que falhou demasiado no primeiro passe de transição e permitiu um domínio continuado dos argentinos que, se tivesse tido um momento de inspiração, poderia ter virado a face do jogo. O tempo, porém, acabou por tornar a vitória alemã num desfecho inevitável.

Individualmente, é difícil fazer destaques numa exibição que, como sempre, foi conseguida pelos méritos do colectivos. Ozil não esteve tão influente como nos últimos jogos mas Schweinsteiger confirmou novamente ser um dos grandes destaques deste mundial. Mais influentes estiveram Khedira e, sobretudo, Muller que, com Podolski, beneficiou muito do espaço em transição. Se colectivamente a Alemanha foi sempre melhor, fica-me a sensação que com uma definição individual mais constante, o jogo poderia ter sido decidido bem mais cedo.

Espanha – Paraguai
A Espanha acabou por vencer sem sofrer, como havia sugerido, mas este foi o jogo que menos se ajustou às projecções que fizera. Sobretudo pelo lado espanhol. O domínio e a qualidade da posse existiu, e a qualidade defensiva dos paraguaios também não foi melhor do que se pensava. O que aconteceu foi que a Espanha raramente deu nota de ter um plano para entrar na área paraguaia e, por isso, não só teve um número inesperadamente reduzido de oportunidades como deu oportunidades para que os paraguaios fossem crescendo em termos emotivos.

Os espanhóis, tudo somado, serão a melhor equipa entre os 4 semi finalistas, mas não me parece que seja uma equipa optimizada. Longe disso. Valem sobretudo pelas características das suas individualidades e pela importação de algumas rotinas do fantástico Barcelona. De resto, faz sentido ter Villa a descair sobre a esquerda e não há nada de errado com a mobilidade de Torres. O que não pode acontecer é a equipa utilizar os corredores para penetrar e depois não ter soluções de passe na zona interior. O trabalho de Del Bosque não podia ser mais fácil, mas ele parece querer complicá-lo. Se o Barcelona tem rotinado um modelo fantástico em 4-3-3, se Xavi, Iniesta e Busquets são tantas vezes os 3 do meio campo, para que é que é preciso mais um jogador?! Tudo seria bem mais fácil se estes 3 jogassem no meio e se a eles se juntasse um extremo direito (Navas ou Pedro), com Villa à esquerda e Torres ao meio. A Espanha não deixa de ser favorita para todos os jogos que fizer, mas não escolheu o caminho mais curto...



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2.7.10

Diário de 'Soccer City' (#21)

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Sexta Feira marca o inicio da recta final. 8 equipas discutem o lugar entre a elite, entre aqueles que jogam o número máximo de partidas no Mundial, e entre aqueles que ficam, pelo menos, a um pequeno passo do sonho. Sim, porque a partir das meias finais qualquer equipa pode sonhar com o lugar mais alto. Antes dos jogos, deixo uma pequena antevisão pessoal e, para apimentar a coisa, também um pequeno prognóstico sobre cada um dos jogos. Apenas uma brincadeira, não se trata de qualquer candidatura a “mestre Alves da blogosfera”...

Brasil – Holanda (Palpite: empate ao intervalo)
Conjuntamente com o Alemanha – Argentina, é o prato forte da ronda. Tudo somado, creio que o Brasil merece nesta altura honras de principal candidato ao título e, logo, também de favorito a seguir em frente. É-me mais fácil perceber o que vale o Brasil do que a Holanda, porque os brasileiros já vêm jogando da mesma forma há vários anos e porque a Holanda ainda não foi testada seriamente nesta prova. De qualquer modo, estas são duas das equipas que mais consistência revelaram na preparação para a prova. Se mais provas faltassem, bastaria evocar o tal pormenor discutido aqui há uns dias, da utilização de um 11 base, já previsto na própria numeração das camisolas.

Por tudo isto, não espero qualquer surpresa táctica por parte dos treinadores, mas antes um reforço de confiança nos respectivos modelos. Se tal acontecer, vamos ter um jogo fechado, focado nos equilíbrios tácticos e no controlo do espaço. Mas vamos ter, também, qualidade técnica de sobra, e possibilidade de desequilíbrios individuais. Especialmente em transição, ou na sequência de bolas paradas – cada vez mais um aspecto importante nesta fase decisiva. O primeiro golo valerá ouro, porque obrigará quem o sofrer a correr mais riscos e dar ao adversário a possibilidade de jogar como mais gosta. Ambos o sabem.

Uma palavra para dois “espalha brasas”. Dois jogadores que desprezam tudo isto, que não pesam duas vezes quando podem arriscar o desequilíbrio e que não têm qualquer receio da perda ou da consequente transição: Robben de um lado, Robinho do outro. Quem sabe um momento de magia de um dos 2?

Uruguai – Gana (Palpite: ambas as equipas marcarão no jogo)
É verdade que, um pouco na norma de todo o torneio, nenhuma das equipas participou num festival de golos. Desta vez, porém, acredito que possa acontecer um jogo com golos em ambas as balizas, e talvez mais do que um. É que – e também dentro daquilo que foi norma – Uruguai e Gana não são propriamente equipas fortes em termos de organização defensiva. Mesmo se ambas não hesitam em sobrepovoar-se no centro da defesa. Menos quantidade mas mais qualidade, têm as duas na frente. Asamoah, Boateng, Ayew e Gyan de um lado. O tridente Cavani, Suarez e Forlan do outro. No caso de Gyan e Forlan, uma grande exibição poderá lançar qualquer um dos casos para os destaques de qualquer livro de memórias deste Mundial.

Somadas todas as expectativas, torna-se difícil antever um vencedor, ou mesmo um claro favoritismo. Ambas as equipas darão oportunidades ao adversário e o aproveitamento das mesmas dependerá muito da inspiração dos intérpretes. Talvez os amantes da astrologia nos possam elucidar melhor quem estará mais favorecido pelo alinhamento das estrelas na noite de Sexta...

Argentina – Alemanha (Palpite: passa a Alemanha)
Nem sempre confiei nesse princípio – que não é, nem de perto, 100% seguro no futebol – mas o Mundial tem-lhe sido fiel. Falo do princípio de que quem é melhor ganha, e quem é pior paga a factura. Foi assim com os horríveis casos de França e Itália, eliminados mais pela lógica do jogo do que pelas projecções iniciais. Foi assim, também, em todos os duelos decisivos. Não houve surpresas, e quem foi melhor ganhou sempre. Se a tendência se repetir, seguirá em frente a Alemanha.

Já falei bastante das 2 equipas e perceber-se-á, no somatório dessas análises, que vejo este duelo como o confronto entre os dois candidatos que menos semelhanças em termos de virtudes. A Argentina é o talento puro, tão puro que a sua valia quase se resume à soma das suas individualidades. A Alemanha, pelo contrário, não deslumbra individualmente, mas consegue formar um colectivo muito competente em todos os momentos do jogo.

Dentro das 'nuances' que poderão definir a partida, começo por Messi. Maradona resolveu dar-lhe liberdade, diz-se, mas na verdade Messi joga longe da zona onde as suas decisões fazem mais sentido. Messi pensa no desequilíbrio porque é essa a sua vocação, e embora tenha capacidade para desequilibrar a partir de qualquer zona, não é na construção que se aconselha o risco. Por isso é que o papel de Messi pode ser um pau de dois bicos e um dilema para o próprio Low. É que a dupla de médios da Alemanha poderá ter alguma dificuldade em controlar o espaço entre linhas, e o corredor central, com Messi nesta posição, é aquele onde a Argentina consegue ser mais perigosa. Se Low encontrar forma de bloquear Messi, terá o jogo na mão. Não só porque bloqueará o jogo ofensivo do adversário, como porque usufruirá de várias transições perigosíssimas. Caso contrário, Messi, Tevez e o corredor central poderão ser um sarilho para a Alemanha que, neste cenário, só ganhará o jogo se tiver um dia francamente inspirado na frente.

Outras 'nuances' há, mas do lado Argentino. Como o risco em posse, como o desequilíbrio táctico – atenção ao lado direito! – ou como a forma como a sua defesa "afunda", abrindo o campo de ataque aos adversários. Estas 'nuances', porém, não levantam qualquer duvida porque Maradona nunca se importou minimamente com elas, e não é agora que o vai fazer. Ficará apenas por saber até que ponto os alemães as saberão aproveitar.

Paraguai – Espanha (Palpite: Espanha vence sem sofrer)
Depois do tropeção inicial e de algumas dificuldades na primeira hora frente a Portugal, parece-me agora muito complicado que a Espanha fique fora das meias finais. Salvo qualquer condicionante ou surpresa no jogo, creio, isso não acontecerá.

O Paraguai foi das selecções que menos fez para estar onde está. Ganhou apenas 1 jogo em todo o Mundial, empatou mesmo com a Nova Zelândia e precisou de ser feliz nos penaltis para ultrapassar o Japão. Frente à Espanha não veremos uma equipa tão inocente como foi o Chile, mas também não veremos grandes méritos defensivos. Mais quantidade do que qualidade é o que espero dos paraguaios em termos defensivos. Um jogo de sentido único e que não me parece que chegue, sequer, ao intervalo sem termos a Espanha em vantagem. Se assim for, dos paraguaios dependerá apenas a definição do “score” final, porque a Espanha irá dar prioridade ao controlo do jogo e da bola, muito mais do que arriscar o segundo golo.



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29.6.10

Diário de 'Soccer City' (#18)

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Já se desconfiava, e o caminho começa confirmar isso mesmo: entre Brasil e Holanda, sairá um finalista do Mundial 2010. Os dois defrontam-se agora num dos mais interessantes embates dos quartos de final, e seja quem for o vencedor recolherá sempre amplo favoritismo na passagem à final. Principalmente se for o Brasil. Enfim, antes disso tudo vale a pena olhar um pouco para os jogos do dia. Mas vale apenas por razões de reflexão sobre o que se viu, porque quanto a emoção, confesso, não poderia ter havido dia mais previsível do que o terceiro dos oitavos de final...

Holanda – Eslováquia
Sobre o primeiro jogo, de facto, não tenho muito a dizer. A Eslováquia foi dos que menos fez para chegar aos oitavos e se há alguma coisa que este Mundial nos tem ensinado é que é mesmo preciso jogar para ganhar, poque milagres não tem havido. E assim foi, novamente.

Mas quero deixar algumas notas sobre o candidato, a Holanda: (1) Primeiro, para reforçar a ideia de que é uma equipa que, tendo as suas principais debilidades na cultura defensiva – colectiva e individual – das suas unidades mais recuadas, não me parece das piores deste Mundial. Nem de perto, nem de longe. À beira de formações como o Gana, o Uruguai ou a Argentina, a Holanda é uma perfeição defensiva. (2) Segundo, para destacar o regresso de Robben. Apesar da qualidade individual das suas unidades ofensivas, a verdade é que o futebol holandês raramente tem merecido grandes elogios pelo que faz quando tem a bola. Robben é um dos jogadores mais desequilibrantes do futebol actual. Adora o risco, e dos seus pés saem várias perdas e transições. O que sai também são lances decisivos com uma frequência assustadora. Será o “abre latas” da laranja. (3) Finalmente, referir uma curiosidade. A Holanda jogou numerada de 1 a 11. Não sei se mais alguma equipa o fará neste mundial (duvido!), mas este dado não é uma mera curiosidade. Basta recordar a passagem de Adriaanse pelo Porto, para perceber que os números são mais do que um capricho. São também uma indicação do posicionamento táctico de quem os traz nas costas. É uma curiosidade que vale o que vale, mas que indica, pelo menos, que as coisas não são feitas por acaso na equipa holandesa.

Brasil – Chile
O Chile até poderia ser das formações mais interessantes em alguns aspectos deste Mundial, mas se me perguntassem qual o embate mais previsível dos oitavos, não hesitaria em apontar para este.

É bonito entretermo-nos com um futebol técnico e com boa qualidade colectiva quando em posse, mas torna-se para mim difícil perceber o que espera Bielsa de um jogo contra o Brasil, mantendo certas debilidades crónicas na sua equipa. Será que ele acreditava ter alguma hipótese de ganhar? Francamente, não entendo...
O Brasil é uma equipa obcecada com o equilíbrio táctico, que adora jogar em transição e que procura aproveitar a eficácia das suas investidas ofensivas para ganhar vantagem. O Chile, para os brasileiros, era o adversário perfeito e não é por acaso que quase sempre sai goleado. Sai e sairá de novo, se voltar a repetir a receita...

Comecemos pelo primeiro golo. Já o tinha escrito há muito e era improvável que a factura não acabasse por ser paga. Como é que é possível pensar em fazer carreira num Mundial com uma equipa que não tem um único jogador utilizado acima do 1,85m, e onde apenas 5 dos 14 que jogaram ultrapassam, ainda que marginalmente, o 1,80m?! Não admira que sofressem um golo pelo ar, e não admiraria que fosse também essa uma via privilegiada para o Brasil marcar a diferença caso o nulo se tivesse mantido por mais tempo.

Mas há mais... Se o Brasil gosta da transição, nada como uma equipa que, apesar de boa em posse, não percebe a importância dos equilíbrios tácticos e que assume um risco absurdo para a natureza do jogo que está a jogar. Perfeito para Dunga. Foram 3, e foram apenas porque os brasileiros resolveram trocar a eficácia pelo brilhantismo individual na conclusão de algumas transições quando jogo já estava mais do que sentenciado.

Diria que o Chile esteve algures entre o sofisma e o conto de fadas, mas inclino-me bem mais para a segunda hipótese. Mostrou-nos uma ideia bonita e coerente, sem dúvida, mas nunca com potencial para enganar alguém. Todos sabíamos que, por mais bonita que fosse a princesa, nenhum sapo viraria príncipe...



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25.6.10

Diário de 'Soccer City' (#14)

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Seria seguramente um daqueles casos em que o futebol dizia uma coisa e as pessoas adivinhavam outra. Ou seja, apesar de todos termos visto o pior possível da Itália nos primeiros dois jogos, duvido que alguém não estivesse convencido da sua qualificação. Eu estava. Acabou por vingar a lógica do jogo, e numa espécie de embate da mediocridade, foi a Itália quem levou a pior. Levou, e justamente. Tal como os franceses – com quem partilharam a final há 4 anos – o seu futebol não deixará qualquer réstia de saudade ao torneio africano. A lamentar, creio, só mesmo o espectáculo deprimente que é ver talento a ser desperdiçado no mais importante dos palcos. Com isso, enfim, conviverá a bem História, e, como tal, também nós deveremos ser capazes de calmamente o fazer. Vale muito mais a pena continuar a olhar para o que ainda aí vem e, claro, para o que de bom se tem visto.

Holanda – Eslováquia
De repente, com tanto pela frente, a Holanda sobe em flecha no ranking de favoritos. E nada tem a ver com as indicações do seu futebol. Coisas do calendário e da, agora mais clara, caminhada par “Soccer City”. O futebol dos holandês, em boa verdade, pouco ou nada iludiu nos primeiros 3 jogos. Tem talento de sobra do meio campo para a frente e algumas reticências na forma como defende. É, digamos, uma versão “soft” do caso argentino. Não tem os desequilibradores de Maradona – embora falte enquadrar Robben – mas também não tem, nem de perto, a inconsistência defensiva dos argentinos. O caminho foi-lhes aberto e eles têm capacidade mais do que suficiente para o percorrer. Veremos se o farão...

Quanto à Eslováquia, confesso, surpreende-me mais a sua qualificação do que a eliminação da Itália. Isto porque a prestação dos eslovacos havia sido – e recuperando o termo – nada mais do que medíocre. Confunde-me, por exemplo, como é que Miroslav Stoch foi suplente desta equipa, mas foi sobretudo a sua limitação ofensiva nos primeiros dois jogos que me desiludiu. Talvez tenham recuperado alguma capacidade depois do “thriller” com Itália. Assim espero, porque senão os oitavos serão apenas uma formalidade para a “laranja”.

Paraguai – Japão
Um cenário idêntico ao do primeiro jogo dos oitavos, entre Uruguai e Coreia. Os sul americanos recolhem favoritismo e terão mais qualidade individual. Resta saber, porém, se isso chegará, ou se serão os asiáticos a fazer valer a sua capacidade de trabalho e organização. Aqui, porém, a recente performance frente à Dinamarca japonesa acabará por equilibrar a balança do favoritismo. E justamente, parece-me.

Para mim, de facto, o Japão é uma das grandes surpresas – agradáveis, isto é – da primeira fase. Uma equipa que em todos os jogos se apresentou com uma organização defensiva inesperadamente boa e que, ao contrário de outras, não se limita a esperar pelo adversário. Os japoneses não fazem apenas um constrangimento zonal sobre o receptor do primeiro passe, mas também um constrangimento temporal sobre o portador da bola. Ver uma equipa subir progressivamente no campo e obrigar o adversário a recuar é algo que aprecio. Mesmo contra a Holanda, em que acabaram por perder, os japoneses não deixaram jogar e forçaram a posse holandesa, repetidamente, a andar para trás.

O problema do Japão está no que acontece a seguir. Ou seja, na transição defesa-ataque. Raramente a equipa consegue soltar-se ofensivamente e ser uma ameaça em jogo corrido. Frente à Dinamarca, por exemplo, foi preciso usufruir de lances de bola parada para ver a equipa subir colectivamente no campo. Isto, claro, será sempre limitativo, e cada vez mais o será com o andar da prova.

Mas não se pode falar do Japão sem falar de Keisuke Honda, uma das revelações do torneio. Um jogador que andou pela segunda divisão da Holanda e que conheci na primeira metade desta época, quando ainda jogava no modesto Venlo. O seu talento – como médio criativo e não referência ofensiva como joga na Selecção – não passava despercebido, apesar da modéstia do seu clube. Tanto, que o CSKA pagou para cima de uma dezena de milhões pelo seu concurso. É assim nos dias de hoje. Honda pode ser uma revelação do mundial, um nome desconhecido para a maioria, mas já ninguém o apanha por meia dúzia de trocos...



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15.6.10

Diário de 'Soccer City' (#6)

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Ao quarto dia, mais 2 candidatos. Holanda e Itália, cada uma das equipas encontrou a sua própria forma de não entusiasmar. Dos holandeses, espera-se que criem ilusão a abrir mas duvida-se do que possam fazer na hora das decisões. Dos italianos, o contrário. Um arranque aos soluços, mas uma presença temível na fase decisiva. Para já ambos estão a cumprir com o papel que lhes parecia ser destinado, mas duvido que a candidatura de qualquer uma destas selecções tenha saído revista em alta, seja por quem for.

Sobre os holandeses, ninguém duvida da sua potencialidade criativa. Mesmo que neste jogo a dinâmica estivesse abaixo do esperado. Essa é a força da “laranja”. É curioso, porém, verificar como a escola holandesa, que não se cansa de produzir talentos ofensivos, falha em conseguir o mesmo patamar para a metade traseira da sua equipa. A verdade é que o comportamento defensivo dos defesas holandeses não é o melhor. Frequentemente arriscam demais ou têm abordagens erradas. Isso verifica-se a todos os níveis e o jogo frente à Dinamarca acabou por dar alguns exemplos, ainda que escassos, disso mesmo. E é aí que reside o problema desta equipa.

O grupo é tão fácil que só uma Itália muito fraca ficará pelo caminho. Certo. Do que se viu, porém, fica ideia que para chegar a algum lugar perto da final de 2006, a Itália terá de evoluir muito. Frente a um Paraguai que foi um digno opositor durante um bom período de tempo, os “azzurri” mostraram-se incapazes de praticar um futebol fluído e dominador. Pareceram apenas aptos a aproveitar os momentos em que lhes foi permitido verticalizar o jogo. Quando lhes foi criado problemas de pressing, quando foi preciso mostrar qualidade para evitar a perda e empurrar o Paraguai sistematicamente para trás, aí, a Itália já não foi capaz de responder. Acabou por se ver forçada a dividir o jogo e a entrar num jogo mais físico. Pode ser que Pirlo seja a chave para uma boa parte do problema, mas... será suficiente?



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21.5.10

1998: Um fenómeno até Paris

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Para quem não viveu o tempo será sempre estranho combinar os factos. Afinal, ele foi a decepção da final e, ao mesmo tempo, o melhor jogador do torneio. Para quem viu e tem memória, porém, nada disto surpreende. Ronaldo era, na altura, o verdadeiro “fenómeno”. Algo que o futebol nunca vira, mesmo depois de conhecer Pelé ou Maradona. Ronaldo, o “fenómeno”, só jogou um mundial e foi em 1998. Depois, foi o outro Ronaldo, mais eficaz e até mais feliz. Um grande jogador, sem dúvida, mas não o “extraterrestre” que emergiu na segunda metade da última década do milénio. Se o Brasil desiludiu na final com o eclipse da sua estrela, pode dizer-se também que lá chegou sobretudo devido a ele. Se provas faltassem, temos a final frente à Holanda.

De 1994 para 1998, o Brasil pode ter perdido um título mundial, mas ganhou um património infindável de talento. Romário não esteve presente devido a lesão, mas mesmo sem esse relevante “R”, deu-se inicio à geração “R” do futebol canarinho. Ronaldo, Roberto Carlos e Rivaldo. Três fantásticos jogadores que entrarão no “Hall of Fame” do jogo juntaram-se aos campeões, tornando o Brasil numa formação de potencial inesgotável. Do ponto de vista mediático, havia ainda que juntar Denilson, o extremo das “bicicletas”, que havia protagonizado a mais milionária transferência da história, rumo ao Bétis de Sevilha. Um “flop” como se sabe...

Sobre Ronaldo, tinha 21 anos e levava 81 golos nas últimas 2 épocas, ambas como estreante, primeiro em Espanha depois em Itália. No seu currículo tinha já 2 prémios de melhor do mundo da FIFA, precisamente em 1996 e 1997. Ronaldo era um enorme jogador por tudo isto, mas o que o tornava especial era a especificidade do que fazia no campo. Ronaldo fez jogadas e dribles que nunca ninguém tinha visto fazer com tanta facilidade. Ronaldo era um jogador à frente do seu tempo, alguém que inovou o jogo do ponto de vista técnico. As suas lesões não foram suficientes para acabar com uma carreira cheia de feitos e êxitos, mas foram suficientes para não lhe permitir manter-se nesse patamar mais elevado em relação aos demais.

Sobre o Brasil, pode dizer-se que em 1998 assistiu-se a um grande desperdício. Zagallo confrontou-se com um problema que passaria a ser denominador comum de todos os seleccionadores: como fazer uma equipa de tantas estrelas. Em 98 até era fácil, mas Zagallo não foi capaz de tornar o Brasil numa equipa colectivamente consistente e sólida defensivamente. Sofria demasiados golos e vivia dos rasgos das suas individualidades. Por isso foi batida tão facilmente na final. Aliás, já o poderia ter sido frente à Holanda, não fosse o “one man show” de Ronaldo, que protagonizou praticamente todas as ocasiões dos brasileiros nos 120 minutos de jogo.



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7.4.10

1974: A revolução Cruyff

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A força da Laranja era como o seu futebol: Total. Uma mecânica colectiva, é certo, mas que não deixava de contemplar diferenças claras entre os protagonistas. Tão claras, que nem as camisolas eram iguais. Isso mesmo! A estrela, Johan Cruyff, tinha menos uma risca preta na camisola laranja. Ele era Puma, os outros Adidas. Foi assim em 1974, com o mundo de olhos postos nesse futebol revolucionário, dividido entre as proezas de um colectivo e a mestria de uma individualidade.

Quem saiu do Parkstadion de Gelsenkirchen, naquele inicio de noite chuvoso, nunca imaginaria o destino da final que 4 anos mais tarde haveria de ter lugar em Buenos Aires. A verdade é que o que acabara de ver era, precisamente, a antecipação dessa final de 78. As semelhanças acabam aí, no nome das equipas, porque o destino do jogo não poderia ser mais diferente.

Numa demonstração de força impressionante, a Holanda atropelou uma Argentina impotente desde o primeiro minuto. Muito se fala da totalidade do futebol laranja, explicando-se o termo pela liberdade funcional dos jogadores, autorizados a trocar frequentemente de papeis durante os jogos. Sem dúvida uma marca inédita e, provavelmente, jamais repetida. A verdade é que essa não era a única inovação da máquina holandesa. O futebol que então apresentou é um esboço daquilo que fazem hoje as muitas das grandes equipas, e representou um salto de gigante em relação a tudo o que antes se havia visto. Não menos importante do que a mobilidade com bola, eram aspectos como a pressão e a linha defensiva, que permitiam à equipa jogar alto e conseguir um número absurdo de recuperações no meio campo contrário. Aliás, esta é a base de uma filosofia que hoje encanta em Barcelona, onde jogou e treinou Cruyff e onde treinava, também, nesta altura o próprio Rinus Mitchels.

A equipa holandesa era formada por um misto das escolas do Ajax, sobretudo, e Feyenoord. Cruyff era a grande estrela, recentemente emigrado para o Barcelona. No papel, Cruyff aparecia como o jogador mais adiantado, o 9, mas na prática não era isso que acontecia. Na realidade, a liberdade de Cruyff fazia dele um jogador diferente em cada momento do jogo. Se a equipa partia em transição, ele era, aí sim, a referência mais adiantada. Se, pelo contrário, a equipa estivesse em organização, ele tornava-se num organizador de jogo. Caprichos tácticos para o jogador mais evoluído entre todos. Cruyff era o que trabalhava menos, mas era aquele que mais rendimento garantia quando a equipa ganhava a posse. Executava com os dois pés, era capaz de acelerar e temporizar, de driblar ou passar. Tudo com uma elegância difícil de igualar num jogo centenário.

O jogo frente à Argentina foi o primeiro da segunda fase de grupos. Uma inovação da época, entretanto abandonada. Quem vencesse o grupo, entre Holanda, Brasil, Argentina e Alemanha Oriental, chegaria à final. Os 4-0 desta partida acabaram por ser importantes na caminhada até à final. No último jogo do grupo, a Holanda defrontaria o Brasil, numa partida célebre, e graças à diferença de golos, sabia que o empate lhe bastaria. Na realidade, os holandeses bateram os campeões do mundo, novamente com Cruyff em principal destaque, carimbando assim a presença na final. A sua derrota no derradeiro jogo é a evidência de que nem sempre são os melhores a vencer, mas também que nem só os vencedores são recordados como os melhores.



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22.1.10

Holanda: do futebol de sonho à ilusão dos golos

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É frequentemente apontado como o país com mais proximidade futebolística com o nosso. E, em vários aspectos, realmente as semelhanças são inegáveis. Começando pela distinção técnica das respectivas escolas de formação, passando pela prioridade dada ao 4-3-3, e acabando, num outro contexto, na própria característica dos respectivos campeonatos. Toda esta aparente proximidade futebolística esbarra, no entanto, numa simples e relevante estatística: o número de golos. É que, se em todos os parâmetros anteriores, Holanda e Portugal caminham lado a lado, em matéria de golos estão em extremos opostos entre as 10 principais ligas europeias. De facto, se tivessem o mesmo número de jogos – que não têm – e mantendo a mesma média de golos, assistir-se-ia a mais 130 golos em terras holandesas. Só!

De facto, tudo isto parece contraditório e, realmente, pode não ser fácil de explicar. Eu, pelo menos, nunca vi ninguém fazê-lo. Mas tenho, eu próprio, a minha própria ideia do porquê.


Treinadores: mercado fechado
Comecemos pela análise dos treinadores, afinal, quem pensa e determina a característica das equipas. Neste aspecto, uma olhada pela generalidade dos clubes holandeses revela um dado comum: a aversão a importações. De facto, são raros os casos de treinadores estrangeiros em solo holandês. Pode dizer-se, então, que neste aspecto partilham mais um dado com o nosso futebol... Sim? Não. É factual que Portugal tem “fechado” o seu mercado em anos recentes, mas o que se passa na Holanda não é, como cá, um fenómeno novo.

Se olharmos aos últimos 30 anos, nos 3 principais clubes holandeses, encontramos uma espantosa marca de apenas 5 lideranças técnicas não holandesas. No PSV apenas Robson representa uma importação filosófica, já que o outro estrangeiro, o belga Gerets, fez o seu percurso futebolístico no próprio clube de Eindhoven. No Ajax, o alemão Kurt Linder liderou 2 vezes a equipa nos anos 80 e, mais recentemente, Morten Olsen foi escolhido para suceder a Louis Van Gaal. No Feyenoord, o último caso de liderança técnica não holandesa terminou em 1982, com o checoslovaco Jezek. Estes casos são os mais mediáticos mas encontram espelho na generalidade dos clubes do país.

Esta constatação, evidencia uma espécie de isolamento filosófico desde a explosão do “futebol total” (anteriormente, curiosamente, abundavam estrangeiros), nos anos 70. Daqui resulta, portanto, uma evolução, se não totalmente autónoma, bastante desligada do que por outros países se vai fazendo. Assim, tal como os ingleses se fecharam no “Kick n’ rush” e os italianos no “Catenaccio”, os holandeses parecem ter evoluído para um futebol que, embora não tenha merecido designação específica, tem também características altamente marcantes e uma obsessão: a posse de bola.

A obsessão da “bola no pé”
Não haverá liga com menos pontapés para a frente do que a holandesa. Esse é sempre o último recurso para iniciar as jogadas, seja qual for a equipa, seja qual for o campo. Uma consequência disso é a preferência por centrais tecnicamente evoluídos, ainda que sejam comprometedores noutros aspectos. Casos como Salcido (PSV), André Bahia (Feyenoord) ou Vertonghen (Ajax) encaixam neste perfil. É curioso como este tónico se generaliza ao ponto do Twente, do inglês McClaren, não diferir em nada deste registo, sendo, aliás, a equipa que melhor tem trabalhada a posse de bola, mesmo não tendo as armas individuais de outros.

Defender. Será que treinam?
Mas, se a obsessão pela posse de bola explica a qualidade ofensiva de muitas das equipas, ela não é, de todo, suficiente para explicar tão elevado número de golos. De facto, essa estatística não abona a favor do futebol holandês, simplesmente porque resulta essencialmente do outro lado desta tão característica marca futebolística. As fragilidades defensivas. Se os aspectos ofensivos são amplamente trabalhados, atingido-se uma elevada qualidade em termos gerais, já em matéria defensiva, é caso para perguntar se as equipas treinam, ou então, o que é que treinam? Uso ineficiente da linha de fora de jogo, demasiada valorização de referências individuais na marcação, incapacidade estratégica ao nível do pressing, desequilíbrio na hora da perda de bola ou um excessivo risco em posse, são, realmente, as fontes do diferencial de golos entre a Holanda e outros campeonatos da sua dimensão. Nada positivo, portanto.

Por tudo isto, pode concluir-se que no país das tulipas, dos canais e dos moinhos de vento mora também um futebol característico e próprio. Tão deslumbrado com a bola, que se esquece do que fazer quando não a tem. Um futebol tão sonhador que acabou iludido no meio... de tantos golos.



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15.1.10

O potencial de Ibrahim Afellay

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Tem sido muito falado nos últimos tempos, com Juventus e Barcelona apontados como eventuais destinos. Foi também o primeiro destaque individual que fiz da pesquisa que estou a realizar sobre o campeonato holandês – outras se seguirão. Mas, com Ibrahim Afellay, estou realmente impressionado. Um jogador a quem há muito é reconhecido talento, mas quase sempre associado a um perfil algo diferente daquele em que verdadeiramente se pode afirmar como um dos melhores dos próximos anos: “pivot” defensivo. É esta, parece-me, a verdadeira vocação de Afellay.

Quem procura uma compilação do jogador, encontra pormenores técnicos, dribles, remates e, claro, golos. Tudo isto está dentro das capacidades de Afellay, na verdade, um jogador capaz de jogar em qualquer função no centro do terreno. Afellay, no entanto, não é um jogador invulgarmente explosivo, antes sim, um caso sério em termos de qualidade de posse de bola. A sua preocupação é a correcta, ou seja, criar apoios e fazer a bola seguir de forma útil para espaços com maior possibilidade de progressão. Até aqui, dir-se-á, nada de especial, mas o que torna Afellay invulgar é, para além da qualidade do seu pé direito, o conforto com que assume a posse, não parecendo nunca ficar afectado pela ameaça do pressing e mantendo a lucidez de decisão até encontrar a melhor saída.

Para que fique claro, Afellay terá ainda um caminho a percorrer se, como tudo o faz prever, tiver uma oportunidade numa liga de maior exigência. No PSV faz dupla de “pivots” com o experiente Engelaar, num modelo que, como a generalidade das equipas holandesas, tem na posse de bola um pilar fundamental. No PSV e na Holanda, no entanto, o tempo de passe é bastante mais lento do que nos campeonatos de topo. Coisas das limitações do pressing defensivo que se faz por estes dias naquelas bandas. Afellay terá de se adaptar, por isso, a um ritmo mais alto, o que não deverá para ele ser um problema, mas também a uma agressividade defensiva que o possa tornar num jogador mais completo e apto a responder com igual qualidade nos diversos momentos do jogo.

Porque não é comum ver-se imagens de jogadas simples, mas que espelham bem melhor o que é o jogador no presente, compus um pequeno vídeo, ainda que sem grande rigor na selecção. Aqui fica, juntamente com o meu destaque e a minha esperança na definitiva explosão das potencialidades deste jogador. Quem sabe, mesmo, na África do Sul...


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17.8.09

Imparável Honda

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15.5.09

Como se diz "golo do ano" em holandês?

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Eu escolho Ali Boussaboun, o primeiro.

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6.8.08

Van der Vaart no Real Madrid: Será o negócio do ano?

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Fala-se de Ronaldo, de Kaka e, sempre, de qualquer que seja o jogador “da moda” no futebol mundial. Já se percebeu que a fórmula de sucesso não passa por comprar apenas super estrelas e, por isso, a regularidade dos triunfos do Real Madrid têm, realmente, de ser explicados por opções que talvez não encham tantas manchetes pelo mundo fora mas que têm trazido grande qualidade ao plantel merengue. O exemplo mais recente deste tipo de contratações pode ser encontrado na aquisição de Rafael Van der Vaart. Um jogador cuja qualidade é há muito conhecida mas que chega a Madrid, talvez, na melhor altura, revelandoum grande crescimento da sua maturidade como jogador.

Desta transferência quero realçar 2 aspectos – contornando o problema saudável de Schuster para compor a sua equipa. O primeiro prende-se com a curiosidade de, anos depois, morar em Madrid mais representativo clã Holandês. Depois de, nos anos 70, Cruijf, Neeskens e o treinador Mitchels terem representado o Barcelona, de nos anos 80 o famoso trio Gullit, Rijkaard e Van Basten ter triunfado no Milan e, mais recentemente, Van Gaal ter importado praticamente uma equipa de holandeses para o Barcelona, é agora a vez do Real Madrid ter nada menos do 5 holandeses (Robben, Drenthe, Nistelrooy, Sneijder e Van der Vaart). O outro ponto tem a ver com o valor da transferência. 13 milhões de Euros. Um saldo do Hamburgo, face à eminente saída do jogador em final de contrato. Será, talvez, o negócio do ano!

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