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14.1.10

Taça da Liga: O síndrome do atrofio

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Guimarães – Benfica ; Académica – Porto ; Leiria – Sporting
3 jogos do mais interessante que pode haver no panorama futebolístico nacional. Espectadores no total dos 3 jogos? 8673. De quem é a culpa? Seguramente que, em parte, do tempo e do frio, mas... 8673!! Não é normal, não é aceitável e tem responsáveis. Os clubes “grandes”. Uns mais que outros, é certo. Por caprichos, birras, irresponsabilidade e falta de visão preferiram descredibilizar, à nascença, uma competição que só poderia beneficiar os clubes e o futebol no qual se inserem. Isto, ao mesmo tempo que continuam a fazer das ‘novelas’ de bastidores o verdadeiro epicentro do nosso futebol. Há que dar os parabéns, porque tudo isto está a ser muito bem conseguido. Qualquer dia nem é preciso jogar...

Só para que se relativize... Na taça da liga francesa, também ontem, não houve 1 único jogo com menor assistência que algum dos 3 “grandes” jogos que por cá se realizaram. Aliás, jogos como o Lens-Lorient, ou o Lille-Rennes (só para citar nomes de menor peso) superaram, em assistência, a soma dos nossos 3. Em Espanha, para a Taça do Rei, o Racing-Alcorcon teve mais de 12.000 pessoas. Na Coppa Italia,o Genoa-Catania rondou os 8.000. Para completar o ridículo, o Hamilton – Dundee Utd teve mais gente do que o Académica – Porto.

O ponto de tudo isto é o seguinte... O futebol português está culturalmente alicerçado nos seus 3 maiores clubes, porque são estes que agregam praticamente a totalidade dos adeptos. Isto dá-lhes privilégios, mas também deveria dar responsabilidades, nomeadamente na dinamização daquele que é, afinal, o produto que os alimenta: o futebol português. Uma competição como a Taça da Liga tinha tudo para ser um campeão de audiências e bilheteira, porque o seu formato potencia a realização de vários jogos mediáticos. Se os clubes tivessem tido a visão de o perceber, esta competição geraria, seguramente, uma receita importante no panorama futebolístico nacional.

O problema é que, apesar desta suposta responsabilidade, os clubes permanecem presos a uma falta de visão e a um provincianismo atrofiantes. Continuam a eternizar repugnantes batalhas de bastidores, que nunca acabarão simplesmente porque são constantemente alimentadas, e teimam em não perceber, realmente, que produto têm para vender e o que o realmente os poderá fazer crescer.


Já o disse várias vezes e volto a repetir. A tendência, se o sistema de ligas nacionais se mantiver no futebol europeu, é que para que todos fiquem a perder no médio prazo. Todos. Nesta tendência nenhum clube “grande” será maior dentro de 15-20 anos e grande parte dos pequenos tornar-se-ão, senão inexistentes, insignificantes. É só esperar para ver.

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28.12.09

Mercado: As aquisições de Benfica e Sporting

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Quem olha para as contas não consegue perceber, e, por isso, há algo para explicar na origem de toda esta agitação do mercado. O fenómeno que já não é novo na Luz parece agora ter contagiado o outro lado da circular e a crise, subitamente, também acabou em Alvalade. Perceber a parte financeira ou, mais importante ainda, discutir modelos de gestão é algo que justifica um lugar de destaque na agenda, mas, por agora, falemos apenas da parte desportiva...

Benfica – Airton, Kardec, Eder Luis
Sobre Airton já aqui deixei uma opinião mais detalhada. Trata-se de um jogador com todas as características para substituir Javi Garcia e que poderá ser também alternativa para a posição de central.

Mas o Benfica foi também à procura de uma outra solução para a frente de ataque. Alan Kardec foi o escolhido e estou em crer que há da parte do Benfica uma crença de que este jogador possa render mais do que a sua trajectória indica. Isto porque, depois de um inicio promissor em 2007, Kardec ofuscou-se dentro do panorama futebolístico brasileiro, aparecendo apenas no Mundial de sub 20 onde beneficiou das inúmeras ausências no ‘escrete’ para ser titular. Não é um jogador de estatura invulgar, mas tem no jogo aéreo a sua imagem de marca, conseguindo ser muito dominador nesse plano. Será a sombra de Cardozo e é provável que substitua um infeliz Keirrison. A troca percebe-se à luz das dificuldades que o ex-Coritiba vinha revelando, mas há também que dizer que será muito difícil alguém perceber uma troca deste tipo, olhando apenas o rendimento de cada um dos jogadores dentro do futebol brasileiro.

Entretanto, nas últimas horas, vem ganhando força a hipótese de Éder Luis. É um jogador que, tal como Tardelli, teve um crescimento considerável no último ano ao serviço do Atlético Mineiro. Éder Luis é um bom executante, mas é sobretudo pela velocidade que se destaca, ganhando especial protagonismo em situações de transição. Embora esteja a ser encarado como reforço para a linha da frente, estou certo que a sua aquisição, a confirmar-se, terá muito a ver com a sua polivalência. É que se Éder Luis vinha jogando como avançado no Atlético, no São Paulo experimentou muitas outras posições, especialmente junto das laterais.

Sporting – João Pereira e Pongolle
Terá sido a primeira surpresa do mercado. João Pereira foi aposta forte para a direita. Quanto à necessidade de reforçar a posição, há muito que ela é clara. Mesmo urgente, tendo em conta a falta de rendimento das soluções que aí vêm actuando. João Pereira tem tudo para triunfar. Apesar da sua postura por vezes demasiado temperamental, combina todas as qualidades que são necessárias a um bom lateral e muito dificilmente deixará de ser o dono da posição nos próximos anos em Alvalade. É, por isso, uma aposta segura. Há 2 pontos que quero ainda focar neste aspecto. Primeiro o custo. Tem sido algo comentado, mas creio que, atendendo ao contexto da transferência e ao que se pode esperar do jogador, o preço é apenas o justo. Não foi seguramente uma opção visionária do Sporting, mas também não me parece um negócio extraordinário para o Braga. Finalmente, referir que ficou por testar mais declaradamente Pereirinha na posição. É uma pena para o jogador, até porque, muito provavelmente a defesa será, mais tarde ou mais cedo, o seu destino no campo de jogo.

O outro nome, Sinama Pongolle, também representa uma aposta importante. O perfil percebe-se perfeitamente. Pongolle oferece a Carvalhal a possibilidade de utilização, quer como extremo num 4-3-3, quer como avançado em 4-4-2, numa polivalência apenas apresentada por Vukcevic no plantel. Aliás, o montenegrino é quem tem o lugar mais ameaçado com este reforço. Pongolle terá seguramente qualidade suficiente para actuar de leão ao peito, a questão, no entanto, por saber até que ponto será mesmo uma mais valia. Algo que dependerá muito da atitude do francês. O que é certo, por agora, é que o Sporting precisa de mais capacidade no último terço para dar seguimento ao crescimento observado na fase de construção do seu jogo.
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24.11.09

Contas 08/09: Os números dos 3 grandes

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Porto
Há anos que é assim, e há anos que vem tendo sucesso. O grande pilar do modelo portista continua a ser a venda de jogadores. Só assim, e com os astronómicos valores conseguidos se cobrem, quer os elevados custos com o pessoal, quer as elevadas amortizações resultantes dos sucessivos investimentos no mercado. Todos os anos o balanço é o mesmo, ou seja, está a resultar, mas é muito arriscado. Se o Porto tiver alguns anos consecutivos de dificuldades desportivas e incapacidade para fazer mais valias, poderá acumular rapidamente grandes prejuízos, porque, quer as amortizações, quer os custos com o pessoal apenas poderão baixar ligeiramente no curto prazo. A verdade é que o passado recente tem demonstrado um Porto perfeitamente imune a esses perigos, em particular pela sua capacidade negocial, sendo que já tem, inclusive, mais valias garantidas para o próximo exercício.


Nota para o facto dos proveitos operacionais serem muito elevados, muito devido à rubrica “outros proveitos operacionais”, ficando por perceber a que se refere e ficando também a ideia de que será variável. Do mesmo modo, os elevados custos com o pessoal estão também influenciados pelos prémios de performance desportiva.

Sporting
A primeira nota vai para o facto do Sporting não apresentar contas consolidadas, o que influencia os totais de custos e proveitos operacionais, devendo este facto ser tido em conta quando se comparam os valores totais (mas não as rubricas individuais apresentadas).

As contas do Sporting são bastante sintomáticas em relação a vários aspectos. Em primeiro, em relação à realidade do futebol português e à sua dependência das transferências. Um clube com óptima campanha europeia a nível financeiro, com custos controlados e baixo investimento, se não tiver mais valias no mercado, acumula prejuízos consideráveis. Ou seja, o Sporting, apesar de ser de longe o mais controlado dos 3 grandes, permanece fortemente dependente das transferências.

Depois, fica claro que o Sporting não tem hoje nas rubricas operacionais mais importantes grande diferença em termos de receitas quando comparado com os seus concorrentes. O que tem é um risco muito menor...
Uma conclusão curiosa se pode retirar destes números. Apesar de investir metade dos rivais (veja-se amortizações) e apesar de gastar também metade em salários, não se recomenda, à luz dos números, maior investimento ao Sporting. Pelo contrário.

Benfica
Fosse o futebol e a sua gestão apenas números, e poder-se-ia dizer que numa Benfica se viveriam tempos de verdadeira loucura. Na prática, o que acontece é que se está a assumir um enorme risco, altamente dependente dos resultados desportivos e das mais valias em vendas. À luz destes números, com este nível de salários, com este nível de investimento e sem Champions League, o Benfica precisaria de fazer 37 Milhões de Euros anuais em mais valias com vendas de passes para equilibrar as contas. Não é fácil.

Na realidade esta é uma tentativa de aproximação ao modelo portista e, se é verdade que no Dragão a aposta tem correspondido, também parece difícil pensar que mais do que 1 clube em Portugal possa sobreviver dessa maneira. É que só ganha 1. Em breve poderemos ter a resposta, mas é provável que algum dos 2 se venha a dar mal no médio prazo.

Uma nota final sobre o Benfica e para referir a aposta que não está reflectida nestas contas e que tem a ver com os audiovisuais e com a Benfica TV. Há uma forte crença nessa via para conseguir fazer crescer os níveis de receita nos próximos anos, mas eu, particularmente, tenho muitas dúvidas sobre potencial de um futebol tão periférico como o português nos moldes actuais, seja para que clube for. O futuro o dirá...
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15.6.09

O modelo portista e a "não surpresa" do negócio Cissokho

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O Porto tem um modelo de gestão de risco. Gasta muito. Bem acima do que qualquer gestor sensato aconselharia para o nível de receitas garantidas que consegue. Boas jogadas de mercado sempre existiram na “era Pinto da Costa”, mas esta estratégia tão dependente do “jogo” das mais valia vem sendo mais declarada desde a ressaca das conquistas europeias de Mourinho. Através dela o Porto garante, não só o equilíbrio das suas contas, mas também um nível de investimento muito elevado, a milhas do Sporting e suficiente para bater o Benfica em várias contratações e sem que isso implique prejuízos avultados no final do ano. É por isso também que o Porto se mantém na “pole position” para cada campeonato que se inicia. Para além de uma gestão competente do ponto de vista desportivo, tem também a maior capacidade de investimento e, por via disso, normalmente o melhor plantel.


Para que tudo isto funcione é preciso, naturalmente, que o Porto faça bons negócios e o modelo poderá sofrer um grande abalo se em anos consecutivos tal não acontecer. É por isso que é fundamental que os jogadores brilhem fora do país, seja nas suas selecções, seja nas competições europeias. Se tal for garantido, haverá sempre a certeza de que grandes negócios acontecerão Verão após Verão. Negócios que nos deixariam boquiabertos, não fosse a frequência com que acontecem.

E assim chegamos ao mais recente caso, Cissokho. 15 milhões por um jogador que fez meia época no clube e ao mais alto nível é algo verdadeiramente invulgar e, não fosse o passado recente, surpreendente. No Porto espera-se ainda ver sair Bruno Alves e/ou Lisandro por preços muitíssimo elevados. Se fosse noutro clube diria que era impossível vender um central de 28 anos ou um avançado a 1 ano de findar o seu contrato por 10 milhões de euros. Como é no Porto, não duvido de nada. Espero pela “não surpresa”...


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12.6.09

O lado positivo do negócio Ronaldo...

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É uma transferência com impacto à escala mundial. Um tema incontornável, que não deixa nada igual daqui para a frente. O investimento milionário de Florentino Perez na contratação de Cristiano Ronaldo tem inúmeros pontos negativos. A começar pelo sinal que dá ao mundo do que é o futebol, mais do que um jogo e uma paixão, o futebol é um negócio, que se rege pelo dinheiro e não por todos os valores e ambições que o tornaram no fenómeno que é hoje. Para mim esta nunca será a realidade, mas é a conclusão que se pode tirar desta operação.
Mas será que o "negócio-Ronaldo" em particular e o "efeito-Florentino", em geral, não trazem nada de positivo para o futebol? Certamente que sim!


Interesse competitivo: Se até hoje parecia claro que as duas principais ligas do mundo eram fortemente dominadas por 2 super poderes, agora há mais expectativa e incerteza quanto ao equilíbrio de forças.

- Em Inglaterra, sem Ronaldo, o United perde a sua principal unidade. Será esta a oportunidade de Chelsea, Arsenal e Liverpool para finalmente quebrar uma hegemonia que apenas Mourinho conseguiu contrariar? Muito provavelmente.

- Em Espanha, o Barcelona pode ter ganho um adversário mais à altura do seu poderio. Talvez e não com a maior das probabilidades. É que ao Real faltará, venha ainda quem vier, fazer uma equipa das estrelas que está a juntar e, não menos importante, o próprio “Barça” ganhará nova motivação para se reafirmar internamente. Nem será preciso recorrer a vídeos!

- Na Europa, a balança do poder também será abalada. Florentino mexeu com o mercado. “Roubou” Ronaldo e Kaká a United e Milan e estes terão agora de tratar de substituir estas peças, seja com soluções internas, seja com o recurso ao mercado. São, para já, 3 crónicos candidatos à vitória na Champions que vêem a sua estrutura abalada. A incerteza é forçosamente maior.

Ronaldo: Depois da Bola de Ouro em 2008, Ronaldo parecia ter como principal ambição esta transferência. É uma ambição pouco lógica para quem ganha tanto dinheiro e este poderá ser um presente envenenado para Ronaldo, que tem ainda muitos anos de carreira pela frente. É um desafio enorme à capacidade de motivação do jogador. Ronaldo será sempre um grande craque dos tempos actuais, mas a barreira, para quem chegou tão alto tão cedo, deveria chegar à elite dos melhores de todos os tempos e não à elite dos mais bem pagos... E agora, Ronaldo?!

Real Madrid: Duvido que alguém, não madrilista, passe a simpatizar mais com os “merengues” com o ressurgir desta versão capitalista. Não conheço nenhum herói que se faça valer pelo capital para atingir os seus fins, e, por outro lado, há vários vilões com essa característica. O Real passará a ser cada vez mais uma equipa a abater, criando mais emoção e mais sentimento em seu redor.

Um “fundo” a crise do futebol: Como combate à crise, governos injectaram investimento. Por o dinheiro a circular é fundamental para relançar a economia. No futebol também é assim e a economia da indústria tem a ganhar com tanto dinheiro injectado no mercado. Se os milhões pagos pelo Real forem reinvestidos pelos clubes que os receberam, haverá mais liquidez nos clubes e, pode dizer-se, o efeito de Florentino será em muito semelhante ao dos fundos que os governos investiram na economia global.

Pelligrini: Treinar o Real é, em qualquer circunstância, um motivo de pressão. Desta vez, porém, Pelligrini já deve estar a suar antes mesmo do primeiro treino. O peso sobre os seus ombros é enorme e é em torno do ex-treinador do Villareal que girará agora grande parte do sucesso deste plano de milhões. Uma coisa é contratar craques, outra é construir uma super equipa. Confesso desde já que não estou a antever facilidades. Pelo próprio atraso do Real em relação à concorrência e pelo perfil do técnico escolhido - em particular, alguma limitação táctica que, pelo menos até agora, tem transparecido...


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25.5.09

Ramires e Patric. As primeiras análises do mercado.

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Apesar da época ter sido até mais competitiva do que é hábito, a verdade é que as jornadas finais trouxeram pouca indefinição relativamente aos primeiros lugares, lançando por isso, e de forma algo precoce, a generalidade das atenções para o que se segue. Ou seja, a próxima época. Neste ponto - e aqui também não há novidade – é o Benfica quem mais notícias tem trazido aos adeptos. Destacam-se, desde logo, as 2 contratações confirmadas no mercado brasileiro, justificando também um primeiro comentário...

Patric: muito para trabalhar – Quando vi o primeiro onze do Brasil no recente 'Sudamericano' sub 20, chamou-me à atenção este jogador, por jogar num clube secundário. Honestamente, dos jogos que vi nesse torneio – e essa é a única base que tenho para esta apreciação – fiquei com a ideia de que era precisamente na sua função que residia o ponto fraco canarinho. Já ouvi quem dissesse que é um lateral que defende mal, mas essa parece-me uma critica que não pode resultar deste torneio, já que o Brasil passou a maioria do tempo a atacar, não tendo sido sido devidamente testado nessas tais funções mais defensivas. Patric revelou-se muito impulsivo e rápido, mas também pouco lúcido e assertivo. Será indiscutivelmente um jogador para trabalhar e creio que é ao nível da decisão que tal tarefa deve começar.
Uma nota para referir que a contratação deste jogador só acontece após a valorização do mesmo com a chegada à selecção brasileira. O preço terá subido aterradoramente e, na minha opinião, não se trata de um valor inquestionável, havendo laterais que se destacaram mais no ‘Sudamericano’. Mais uma vez, fica a ideia de que não há um trabalho de prospecção que antecipe as situações e isso paga-se (se não for em mais nada) em euros.

Ramires: afinal que jogador queriam contratar? – Não sei o que o Benfica pretende exactamente com esta aquisição. A dúvida surge, obviamente, pela incerteza do modelo táctico do Benfica em 09/10, mas também pela “mutação” táctica a que este jogador foi sujeito desde o inicio de 2008 (após a chegada do técnico Adilson Batista, com quem Ramires "explodiu"). Na imprensa portuguesa "vende-se" Ramires como um médio defensivo e até já ouvi quem dissesse que jogava sobre a esquerda. A verdade é que depois de ter actuado como médio central e mais defensivo num 4-4-2 clássico em 2007, Ramires passou a ter um papel mais ofensivo, tornando-o num médio bastante atípico para o que é comum no futebol brasileiro. Joga sobre o corredor central, atrás dos avançados (juntando-se muitas vezes a estes) e não faz questão de “ter bola” em cada jogada. O seu papel ganha notoriedade sobretudo nos momentos de transição, onde aparece entre linhas a conduzir em velocidade e a desequilibrar ofensivamente, pelo efeito surpresa que as suas "chegadas" provocam. Se o jogo for mais “fechado”, no entanto, é capaz de passar largos momentos sem participar no jogo.
O Ramires de hoje é um jogador que se distingue pela velocidade com que conduz a bola, que procura jogar sempre simples e que define bem dentro da área. Fica a dúvida sobre o que o Benfica pretenderá dele mas tenho a convicção de que deverá passar por algo diferente do que vem fazendo no último ano. A confirmar-se esta ideia, Ramires passará por um período de adaptação táctica, que vai para além das diferenças no tipo de futebol que por cá se pratica e que estará também ligado à sua própria função. Este período será obviamente essencial para o seu sucesso no Benfica. Dois pontos favoráveis no jogador são ainda a condição física e o alegado profissionalismo que o caracterizam.

Elevado investimento
Uma nota que resulta destas primeiras operações do Benfica no mercado é, sem dúvida, o valor envolvido. Numa altura em que se anunciava alguma contenção, face aos resultados do investimento feito na época anterior, todos estes milhões são evidentemente uma surpresa. Na minha leitura, parece-me haver uma preocupação de definir rapidamente o plantes e, por outro lado, fica agora mais claro que haverá vendas importantes neste defeso.



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8.5.09

Sobre o (triste) futebol português...

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Há algum tempo que não abordo algumas questões de fundo do futebol português. Creio que tenho cada vez menos esperança numa mudança real de estado de coisas e por isso prefiro concentrar-me naquilo que mais gosto. O jogo. Ainda assim, aqui ficam 4 pontos de opinião sobre algumas temáticas tristes, mas que fazem e farão parte da actualidade...

- Começo pela questão dos salários. Debate-se agora se serão aprovadas as medidas que prevejam punições desportivas para os clubes incumpridores. Tudo isto vai dar ao ridiculo de quem tem de aprovar medidas óbvias serem os potenciais prejudicados, ou seja os clubes. O problema é que uma liga não é só composta por clubes, mas por muito mais intervenientes. Suspeito que a questão só será resolvida com posições radicais. Ou seja, com uma greve de jogadores. Mais do que uma opção, é uma obrigação de todos, no meu entender. Para mais, acredito que não seria preciso passar da ameaça...

- Com a deterioração das finanças dos clubes, cada vez são mais aqueles totalmente dependentes de empréstimos para compor equipas minimamente competitivas. Para que se entenda, eu não coloco em causa o profissionalismo dos jogadores nesta questão, mas que interesse pode ter uma prova onde três quartos dos clubes estão dependentes da boa vontade do outro quarto?


- Começo, finalmente, a ouvir alguns debates sobre um modelo competitivo com menos clubes e mais jogos entre os participantes. Há anos que me parece óbvio que esta é uma medida fundamental para o futebol de um país como Portugal. A Deloitte concluiu o mesmo num estudo encomendado há anos, mas, como sempre, a remodelação certa só acontecerá quando já não der para adiar mais. Provavelmente, quando for tarde de mais.


- O problema de tudo isto está na falta de visão generalizada dos dirigentes. Os mais pequenos porque só têm olhos para o curto prazo. Os grandes porque continuam a preocupar-se em encontrar formas de ganhar vantagem internamente, não percebendo que por mais que ganhem, nunca poderão crescer num futebol que se torna mais podre a cada dia que passa...
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4.3.09

O que conta nas contas semestrais dos 3 grandes

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Tornou-se, de repente, no tema da semana. Os anúncios das contas semestrais das SAD não trouxeram números famosos mas estão longe de surpreender quem quer que seja ou de representar uma novidade no que respeita à gestão de cada um dos emblemas. Sem perceber muito bem como, gerou-se o pânico, com uso do termo “falência técnica” como uma espécie de bomba sensacionalista, sem que se perceba o significado do termo ou o seu significado real para os clubes. Antes de mais, “falência técnica” é um termo técnico para as situações em que uma empresa tem capitais próprios negativos. Não significa que a empresa esteja falida ou implica forçosamente, sequer, essa ameaça. Para o caso, só a SAD do Sporting está nessa situação, ou seja com capitais próprios negativos, mas essa não é uma situação nova ou que coloque, por si só, o Sporting numa situação mais difícil que os outros 2 clubes.
A leitura dos relatórios e contas das SAD tem, na minha opinião, apenas interesse para se medir a gestão corrente do futebol. Ou seja, custos e proveitos operacionais. Isto porque as SAD não representam a totalidade do clube e apenas a sua gestão corrente no que respeita ao futebol. Assuntos ligados a situações acumuladas, activos e passivos totais são (infelizmente) bem mais dificeis de apurar, não sendo tão claramente divulgadas pelos clubes (que, note-se, só têm obrigação de divulgar informação relacionada com a actividade da SAD)
. Para o caso concreto destes 6 meses agora divulgados, deixo uma pequena análise comparativa dos números apresentados.

Porto
Os custos com o pessoal continuam a subir (subiram nos 3 clubes), com o Porto a ser aquele que mais gasta. Aqui, comparar com o Benfica pode ser enganador, porque os encarnados não estiveram nas mesmas competições, podendo haver discrepâncias importantes devido a prémios de performance (sobretudo liga dos campeões). A situação é, no entanto, comparável com o Sporting, sendo impressionante que o Porto gaste +66% em nesta rubrica do que o seu rival directo. No que respeita aos proveitos operacionais, importa realçar que o efeito da liga dos campeões não contabiliza ainda os prémios do apuramento para os oitavos da prova. Ainda assim, este valor mantém estável desde o ano anterior.
O risco da gestão do Porto está nos elevados valores ligados a transferências. As amortizações e proveitos representaram um volume total de cerca de 30 milhões de euros, sendo que o Porto está a gastar 11 milhões em amortizações de passes. Se tivermos em conta que o déficit entre custos e proveitos operacionais, mesmo com liga dos campeões foi de 4,8 milhões, conclui-se que o Porto precisa de gerar 16 milhões de euros em transferências para ter as suas contas equilibradas. Convém notar que estes números são trimestrais antes de sublinhar o risco enorme que aparenta ser uma eventual crise no mercado de transferências ou uma hipotética ausência da liga dos campeões. Este é, no entanto, um tipo de gestão que se prolonga há anos e a SAD tem pelo seu lado o facto de sempre ter sido capaz de gerar receitas que colmatassem este aparente desequilíbrio.


Sporting
O Sporting mantém-se como a SAD mais equilibrada. Ao nível dos custos com o pessoal houve um aumento significativo, fruto do aumento da carga salarial do plantel, mas também dos prémios da boa prestação na liga dos campeões. Ainda assim, mantém-se um nível de custos com o pessoal bem inferior aos seus rivais. O aspecto mais preocupante no que ao Sporting diz respeito tem a ver com os proveitos operacionais, fora transferências e prémios da liga dos campeões. O Sporting apresenta neste relatório já o valor do apuramento para os oitavos de final (contrariamente ao Porto), tendo, mesmo assim, um valor inferior ao conseguido pelos dragões. Ou seja, o Sporting consegue gerar cerca de 30% menos proveitos operacionais (excluindo transferências e prémios da liga dos campeões) do que Porto e Benfica. Isto tem a ver, sobretudo com receitas conseguidas através de comércio feito com sócios e adeptos. O facto de o Sporting conseguir menor rentabilidade da sua massa adepta impede o clube de poder atingir os mesmos níveis de despesa com o futebol de Porto e Benfica, sendo por isso uma condicionante importante para os resultados desportivos. Este é o ponto a que tantas vezes Soares Franco se referiu, confessando a sua frustração pela incapacidade de inverter a situação.

Outro aspecto de realce e que confirma a contenção da SAD em matéria de investimento é o valor das amortizações, cerca de metade dos rivais. Para o Sporting um ano sem receitas de liga dos campeões, sem transferências nem investimento no plantel será, à partida, um ano equilibrado e esta é uma situação que, comparativamente com os outros 2 grandes, torna o Sporting menos dependente de um efeito catastrófico da crise financeira (mais uma vez, reforço que estou a referir-me ao equilíbrio da gestão corrente e não a situações de juros e passivos acumulados).


Benfica
O investimento feito no futebol está à vista nestas contas. Os custos com o pessoal aumentaram, mesmo sem os prémios de liga dos campeões e as amortizações com passes de jogadores também. De um ano para o outro, o Benfica aumentou estas rubricas em cerca de 6 milhões de euros (a 6 meses), o que, para garantir o equilíbrio neste nível de despesa, implicará a necesidade de conseguir um aumento significativo dos proveitos, seja pela participação na liga dos campeões, seja por mais valias de vendas de passes.
A conclusão é que o Benfica terá tentado adoptar uma gestão de maior risco e dependência do aproveitamento desportivo, num modelo que se aproxima mais do que vem fazendo o Porto. O ‘timing’, esse, é que pode não ter sido o melhor, devido ao aparecimento da crise financeira. 7 milhões de perdas em 6 meses é um valor que deve preocupar, sabendo-se que este prejuizo poderá aumentar significativamente até final do ano. Caso tal aconteça, obviamente, a gestão desportiva será previsivelmente afectada no que respeita ao planeamento da próxima época.

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27.2.09

Regresso ao passado?

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Quando o futebol europeu arranca para a sua fase decisiva da época, eis que surge uma notícia que pode indiciar um regresso ao passado e, também, uma súbita inversão no caminho que o futebol mundial vem levando nos últimos anos. A famosa intenção da FIFA de aplicar a lei dos 6+5 (ou seja em cada onze só podem estar 5 jogadores que não sejam eligiveis para as selecções dos países do clube em questão) ganhou nova força com a conclusão de um estudo feito por especialistas jurídicos em assuntos europeus. A posição da comunidade europeia foi contrária à aplicação desta regra mas, a confirmar-se a ideia (defendida neste estudo) de que pelo facto de não haver qualquer impedimento em relação aos suplentes ou à composição do plantel, esta é uma lei que não choca com as normas europeias, então a FIFA poderá mesmo levar em diante a ideia, provocando uma nova revolução, agora em sentido contrário daquilo que aconteceu com a “lei Bosman”.

A consequência de
sta, agora bem mais provável, medida não será um regresso ao passado, tal qual ele era. A globalização do futebol faz-se essencialmente, não pela livre circulação de jogadores, mas pelo acesso de várias ligas e de vários jogos ao mesmo adepto. Isso, como é óbvio, não mudará. O que mudará é a garantia de qualidade para algumas ligas que começavam a perder os seus valores pelo facto de não terem o mesmo poder económico de outros campeonatos. Neste caso, é claro, dificilmente se encontrará um campeonato com maiores benefícios que o português. Porque somos um país com muita qualidade individual mas cada vez menos dinheiro, os jogadores portugueses são um alvo fácil. Continuarão a ser, os clubes financeiramente não ganharão nada com isto, mas a consequência ao nível global ditará, forçosamente, um enorme arrefecimento na saída de jogadores nacionais dos seus países e, por consequência, uma manutenção de qualidade que hoje não acontece.

Mas há alguns perdedores evidentes com esta possível nova realidade, destacando-se os empresários de jogadores. A limitação do mercado implica uma diminuição de transferências e uma quebra no valor da maioria das transferências – sobretudo de jogadores que não pertençam aos principais países europeus – e isso, claramente é um revés para o seu negócio.

Esta mudança terá, por todas as implicações que envolve, algumas barreiras de relevo mas julgo que traria alguma ordem e, sobretudo uma “pureza” (não sei se o termo é o mais correcto) que foi, afinal, a base do futebol enquanto fenómeno social, mas que hoje parece tendencialmente afastada da realidade. Não se pense que os grandes europeus perderão o seu domínio, mas é certo que haverá um maior equilíbrio entre as equipas dos vários países, até porque pelo andar da carruagem o mais certo seria termos uma concentração cada vez maior das principais estrelas nos principais campeonatos, com particular destaque para a Premier League, cuja evolução mediática e económica ameaça deixar a anos luz todas as outras competições domésticas.


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3.2.09

O mercado, Veloso, Quaresma e Arshavin...

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Não que tivesse sido uma projecção visionária, mas a primeira abertura de mercado em era de crise confirma o que aqui escrevi no último dia de 2008. A escassez de capacidade de investimento parece afectar todos mas, no imediato, noto particularmente o abrandamento dos clubes de leste. Algo que também era previsível devido à dependência destes emblemas das fortunas dos magnatas, tão afectadas com o colapso bolsista. Sobre este tema mantenho alguma reticência sobre o futuro. Se a retoma tardar poderemos assistir, na minha perspectiva, a 2 cenários possíveis. O primeiro foi aquele que se assistiu agora, mas com um impacto muito maior caso aconteça no Verão. Ou seja, a redução drástica do número de aquisições de passes. A segunda poderá passar pela queda dos valores pedidos pelos jogadores. Este último cenário poderá beneficiar em particular os menos afectados pela crise e prejudicar desportivamente os clubes que acusem mais problemas de liquidez financeira (nomeadamente aqueles que estão mais habituados a viver das vendas).
3 casos merecem nota:


Veloso: Terá sido seguramente uma decisão difícil para o Sporting. Pelo que referi anteriormente, a situação é instável e o Sporting terá esse risco de ver os valores de mercado caírem no futuro, congelando a hipótese de fazer um encaixe significativo com Miguel Veloso. A isto juntam-se 2 factores. O primeiro tem a ver com o aspecto humano e com a própria vontade de Veloso rumar a uma liga mais competitiva (embora me pareça que no seu caso a Premier e o Bolton podem não ser a melhor solução). O segundo tem a ver com a própria equipa. É que Veloso ocupa uma posição que, apesar de algumas criticas que considero completamente infundadas, tem muitas alternativas de qualidade no plantel. Um encaixe financeiro agora, permitiria ao Sporting antecipar de forma mais segura o próximo mercado, não pondo muito em causa a sua qualidade colectiva. Neste caso, parece-me, pesou mais o “escaldão” de vendas passadas, hoje vistas como precipitadas pelo Universo sportinguista. O futuro dirá sobre a correcção da decisão.

Quaresma: O Inter tornou-se depressa num pesadelo. Mourinho não resolveu os problemas que se conheciam em Quaresma que, claramente, falhou na adaptação rápida a um futebol extremamente exigente e a uma equipa que não gravita em seu redor. O Chelsea também não fará de Quaresma a sua unidade mais importante, mas em Inglaterra, apesar da velocidade do jogo, há mais espaço e menos rigor defensivo dos opositores. A sua evolução no plano decisional começa a parecer cada vez mais improvável, mas talvez se torne numa daquelas lendas que não decidiram campeonatos mas ainda hoje permanecem nos álbuns de ouro da Premier League pela beleza que conseguiam colocar em algumas das suas jogadas.

Arshavin: O caso de sucesso do mercado. O Zenit vende finalmente a sua estrela à elite do futebol europeu e, para sorte dos adeptos e do próprio Arshavin permite que o destino seja o Arsenal. É um destino lógico pelas características, mas igualmente invulgar pelo mediatismo que não costumam ter os reforços de Wenger. Para que se perceba porque é que o Arsenal não compra nos grandes portugueses, apesar da qualidade técnica dos seus jogadores, basta olhar para o valor da transferência. Tal como acontecera com Nasri no Verão, não passa dos 15 milhões. Ficamos à espera!



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21.1.09

Sobre a Taça da Liga...

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Ponto prévio – Grande parte da opinião que tenho sobre esta matéria diverge de uma visão que considero ser o resultado de uma mentalidade negativista e que encontra conforto numa permanente critica a tudo o que é feito. Um dizer mal que é de tal forma comum que se antecipa à própria reflexão, sendo por isso também contra-producente. Apesar disto, são evidentes alguns aspectos altamente negativos ao nível da organização da prova. Destaco o triste espectáculo da Choupana, onde decorreu um jogo que devia ter sido adiado mas como essa era uma situação de tal forma incómoda para todas as partes, o incumprimento da lei acabou por ser um favor que serviu a todos. Outro aspecto mais recente foi o do “goal average” que, literalmente, deveria ter apurado o Belenenses. Não porque essa fosse a intenção da regra, mas porque é isso que ela acaba por ditar.

Sem revoluções, haverá melhor ideia? – Em 2006 passamos a ter um campeonato de 16 clubes. Isto implica menos jogos e, mais importante, menos receitas. A solução passou por criar esta competição que tem, precisamente, esses 2 objectivos. Preencher o calendário competitivo e gerar receitas. Hoje temos uma prova que envolve, mesmo que a meio gás, os principais clubes nacionais e que desperta as atenções da totalidade dos adeptos, mesmo se estes ainda não valorizam a importância da prova em si. Assumindo que os clubes não querem uma revisão mais profunda no seu modelo competitivo global, que melhores alternativas haveria?

Aumentar de novo o campeonato para 18 equipas e recuperar 4 jornadas? Isto significa, basicamente, trocar os jogos que tivemos e vamos ter na Taça da Liga, por jogos do campeonato de 2 equipas vindas da Liga Vitalis. Pegando na classificação do ano passado, significaria trocar isto pelos jogos de Vizela e Gil Vicente (3º e 4º na Liga Vitalis 2008) no primeiro escalão. Do ponto de vista competitivo e do interesse da generalidade da massa adepta, não há comparação possível. Do lado da receita, muito menos. A outra alternativa era, obviamente, não jogar. Acho curioso como tantas vezes se critica a falta de jogos em Portugal e, paralelamente, se demonstra tanto incómodo perante esta competição.

O Modelo –É verdade que do ponto de vista competitivo não é o mais justo? Sim. Mas, antes de criticar, é preciso enquadrar o ciclo de vida desta competição e os seus propósitos. Para gerar receitas que tornem esta uma competição muito apelativa para a generalidade dos clubes, a prova precisa de captar as atenções dos adeptos. Em Portugal, goste-se ou não, só há 3 clubes verdadeiramente capazes de despertar uma atenção significativa das massas. O que aconteceu o ano passado foi, por isso, um passo ao lado. O modelo era mais justo, mas a competição não foi valorizada por Benfica e Porto. Este ano era importante garantir uma competição, talvez não justa, mas mediática. Isso está a acontecer e ganhará ainda mais força nos 3 jogos finais. Outro ponto altamente demagógico vem das criticas de alguns clubes. A taça da liga é, para eles, uma grande oportunidade de garantir receitas muito relevantes para os seus orçamentos. Isto só acontece porque há uma receita global que é distribuída. Ou seja, os pequenos ganham com a presença dos grandes, muito mais (em termos de % do orçamento) do que os próprios grandes. Não é, aliás, por acaso que os próprios votaram este modelo. No geral, diria que este não é seguramente o modelo ideal, que deve ser revisto, mas será provavelmente um mal necessário num ano em que era preciso aumentar o mediatismo da prova.

Assistências – Este é o ponto que mais me parece surreal. Quantas pessoas, em média, temos na principal competição de clubes disputada ao fim de semana? Então porque razão se haveria de pensar que a terceira prova, disputada a meio da semana seria um sucesso de bilheteira?! Esta é, aliás, uma discussão que se vem eternizando no tempo. Lembro-me como, antes do Euro, se defendia que os estádios não tinham condições para cativar os espectadores. Hoje prova-se que não são as condições que afastam as pessoas. Depois há o problema do preço dos bilhetes. Escandalosamente elevados em certos casos, sem dúvida, mas há várias experiências que provam que preços baixos não trazem, só por si, um aumento drástico dos espectadores. Agora chegou a moda dos jogos à tarde. Traria mais gente? Talvez, mas muito pouco. Para perceber isso basta ver o que acontece nos estádios de futebol por esse país fora ao Domingo à tarde e comparar com o que acontecia há 20 anos. Há muito menos gente e não há futebol na TV à mesma hora, nem sequer grandes a fazer concorrência. O problema que ninguém parece querer ver é essencialmente cultural e resulta do efeito que tem a globalização do futebol num país de apenas 10 milhões de pessoas e que está tripartido clubisticamente. Enquanto não perceberem que este é o problema, que ele “mata” por baixo e que não são os grandes as suas vitimas, nunca conseguirão combatê-lo realmente.
Quanto à Taça da Liga, as assistências nunca foram, nem poderiam ser um objectivo essencial. A TV e as audiências são o gerador fundamental de receitas.

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9.1.09

Os efeitos do golpe de teatro de Soares Franco

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“Um novo ciclo só valeria a pena ser enfrentado se fosse um ciclo de modernização e inovação...”

“Não há nenhuma organização que subsista se não inovar, porque até os países morrem... e acabamos de ver o segundo maior banco do mundo morrer”

“É preciso que os sócios acreditem que vale a pena, para construir uma grande equipa, alocar todos os activos do futebol à Sporting SAD”


“tudo me leva a crer que o que o projecto de inovação e modernidade, comigo à frente do Sporting, não iria seguramente passar numa assembleia geral”

“a negociação com os bancos está fechada e vai dar condições de muito melhor competitividade ao Sporting. Agora, está condicionada a que assembleia geral aprove 2 medidas”

“O projecto de inovação e modernidade não tem ver com isto (aprovação das 2 medidas em AG). Tem a ver com a passagem da Academia e do Estádio para a SAD e com por todos os sócios do Universo português a votarem todos as medidas estruturantes e criar uma assembleia delegada para aprovar os assuntos correntes, tal e qual o Barcelona fez com os seus estatutos”

Soares Franco, RTP

Foi a surpresa do dia. Quando se esperava uma entrevista a anunciar a sua recandidatura, Soares Franco protagonizou um verdadeiro golpe de teatro que, em meu entender, terá até feito com que a própria entrevistadora perdesse alguma capacidade de manter os assuntos dentro do que era mais relevante, provavelmente por ter preparado as suas perguntas para um outro cenário.
Deixo alguns pontos de opinião sobre esta decisão:

Restruturação financeira
- O plano de restruturação financeira apresentado é de facto importante e deixará o Sporting em melhores condições para competir em condições mais próximas com os seus competidores. Ainda assim, os problemas de geração de receitas à volta do Universo de sócios e adeptos impedirão sempre que o Sporting consiga os mesmos níveis orçamentais de Porto e Benfica.

- O grande problema da proposta feita por Soares Franco está nos 55 milhões conseguidos pela venda das VMOC’s. Na prática trata-se de uma venda de participação na SAD que gera muito incómodo a alguns sectores de sócios. Esta é, no entanto, uma situação que, à semelhança do que acontece com Benfica e Porto, não compromete o controlo da SAD devido à existência das tais acções de tipo A que protegem o clube, mesmo sendo minoritário.
- A solução das VMOC’s é, pelo que expliquei anteriormente, impopular mas não me parece comprometer em nada os interesses do clube. Será muito difícil encontrar-se outras soluções para abater igual parcela do passivo.
- Apesar das melhorias que redução do passivo possa trazer, e mesmo com a integração do Estádio e Academia na SAD, o Sporting está longe de poder equacionar ter condições financeiras para competir com os melhores da Europa. Trata-se essencialmente de um problema de receitas (fundamentalmente TV) que afecta o futebol português e que impede qualquer clube de sonhar realisticamente com tal cenário. Infelizmente, ninguém parece querer ver...

Consequências políticas
- Este anúncio tem o condão de desarmar completamente a oposição. Ao abdicar da continuidade, Soares Franco afirma claramente ser interessado mas não interesseiro na questão. A sua ideia pode agora apenas ser criticável pela discórdia de orientação e não sob a tese conspirativa de que Soares Franco estaria a preparar algo para interesse próprio e em prejuízo dos interesses futuros do clube.
- Não creio que a aprovação das VMOC’s fosse tão liquida quanto Soares Franco defendeu na entrevista, mas, pelo ponto anterior, agora será mais do que provável.
- Na mesma linha, creio que um nome que se afirme pela continuidade do ideal defendido por Soares Franco tem agora muito mais probabilidade de ser levado em frente, com a aprovação das alterações que o próprio defendeu. Aliás, Soares Franco parece estar ciente dessa possibilidade quando inclui o “comigo à frente do Sporting” como condicionante.
- Não me parece que a decisão do auto-sacrificio de Soares Franco tenha minimamente esse objectivo, mas não excluo a possibilidade de um volte-face, dependendo do efeito que este anúncio tiver.

Plano Desportivo
- Soares Franco pode estar na eminência de conseguir um acordo financeiro importante para o Sporting, mas o seu grande feito é desportivo. Numa fase de aperto financeiro o futebol melhorou substancialmente as suas prestações e conseguiu, finalmente, mostrar que é viável o projecto de compor uma equipa profissional à base da formação.
- O grande mérito de Soares Franco neste plano é ter dado sempre prioridade à estabilidade. De resto, o sucesso tem um rosto que na minha perspectiva é incontornável: Paulo Bento. A saída de Soares Franco pode garantir (pelo que expliquei antes) uma melhoria financeira, mas isso só será sinónimo de melhorias reais no plano desportivo se as restantes variáveis se mantiverem inalteráveis (“ceteris paribus” para os economistas). Estabilidade e Paulo Bento são essas variáveis e a sua manutenção torna-se, com a saída de Soares Franco, uma incógnita.


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31.12.08

Bom ano!

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Não me vou atrever a fazer um balanço de 2008 porque há sempre tanto para contar que o mais certo era ficar algo por dizer. O balanço mais oportuno é, creio, aquele que se vai fazendo em cada momento e esse, seguramente, está feito.

Não posso, no entanto, deixar uma antevisão para 2009. O clima de crise financeira global leva-me a pensar que o futebol não ficará de fora. Se a crise afectou investimentos, afectará seguramente muitos dos "magnatas” que investem fortunas no futebol sem grande objectivo de retorno. Esse capital é, infelizmente digo eu, um dos principais motores da economia do futebol. Se os “magnatas” (muitos no leste) se encolherem na hora de investir, todo o mercado se ressentirá, juntando esse efeito a um outro, mais previsível e inevitável, que tem a ver sobretudo com a quebra nos investimentos em publicidade e com a menor facilidade na obtenção de crédito. Isto poderá levar, numa primeira instância, a um aumento enorme de notícias especulativas, tentando agitar um mercado que, quase irremediavelmente, não deixará de se ressentir.
Em Portugal também poderá ser um ano muito importante, nomeadamente se algo for feito em relação às punições desportivas por incumprimento salarial. Pode ser este o ano em que muitos clubes sentirão realmente o efeito do impacto de uma queda livre que já se iniciou há muito.
O futebol poderá, com tudo isto, tornar-se um palco menos apetecível para certos actores (o que não é necessariamente mau), mas há uma coisa de que estou seguro e que me satisfaz profundamente. Seja qual for o resultado da crise, em 2009 haverá, de novo, grandes jogos, grandes golos e grandes momentos de futebol. O dinheiro tornou-se na maior condicionante da indústria associada ao jogo. Para quem, como nós, gosta mesmo é da bola, não há grande coisa a temer!

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5.7.08

Acordo TV do FC Porto: Afinal quanto valem 52 milhões?

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52 milhões é um belo número, sem dúvida. Tão belo que, para qualquer a adepto que o veja associado como receita do seu clube, é quase imediata a associação com uma imagem de novos craques a reforçar o emblema em causa. 52 milhões foi o número de euros anunciado pelo FC Porto para as suas receitas televisivas da Liga Portuguesa para as próximas 6 temporadas. A verdade é que estes 52 milhões são o reflexo do grande problema do futebol português, tornando-se esta ideia particularmente acentuada se tivermos em conta que é o melhor acordo que do futebol português.
52 milhões em 6 épocas representam cerca de 8,6 milhões de euros por temporada. Este é um valor totalmente desfasado com a dimensão dos principais clubes portugueses e, mais ainda, com aquilo que eles têm representado em termos desportivos na Europa. Ficam aqui alguns dados que recolhi e que facilmente deixam perceber o estado do futebol português nesta matéria e o quanto representa a diferença neste aspecto em particular:


- Receitas Direitos TV Liga Portuguesa em 07/08 – 48 milhões de Euros (cerca de 24 milhões destinados aos 3 grandes): média de 3 milhões por clube.
- Receitas Direitos TV Liga Inglesa em 07/08 – 955 milhões de Euros: média de 48 milhões por clube.
- Receitas Direitos TV Liga Alemã a partir de 2009 – 500 milhões de Euros/ano: média de 28 milhões por clube.
- Receitas Direitos TV Liga Francesa a partir de 2008 – 566 milhões de Euros/ano: média de 28 milhões por clube.
- Receitas Direitos TV Liga Escocesa a partir de 2008 – 39 milhões de Euros/ano: média de 3,3 milhões por clube.
- Receitas Direitos TV Liga Belga a partir de 2008 – 45 milhões de Euros/ano: média de 2,5 milhões por clube.
- Receitas Direitos TV Liga Belga a partir de 2008 – 34 milhões de Euros/ano: média 1,9 milhões por clube.
- Receitas Direitos TV Liga Belga a partir de 2008 – 34 milhões de Euros/ano: média 1,9 milhões por clube.
- Receitas Direitos TV (Liga) Man Utd em 07/08 – 62 milhões de Euros
- Receitas Direitos TV (Liga) Bolton 07/08 – 40 milhões de Euros
- Receitas Direitos TV (Liga) Bayern Munique 07/08 – 29,1 milhões de Euros
- Receitas Direitos TV (Liga) Real Madrid a partir de 2008 – 155 milhões de Euros/ano
- Receitas Direitos TV (Liga) Barcelona a partir de 2008 – 150 milhões de Euros/ano
- Receitas Direitos TV (Liga) Juventus a partir de 2008 – 110 milhões de Euros/ano
- Receitas Direitos TV (Liga) Atl.Madrid a partir de 2009 – 42 milhões de Euros/ano
- Receitas Direitos TV (Liga) Valencia a partir de 2009 – 30 milhões de Euros/ano


As fontes destes dados foram diversas e se houver outras informações ou correcções, agradeço que sejam feitas.
Os dados são claros quanto à disparidade e à insignificância do contrato assinado pelo FC Porto – repito, o mais rentável em Portugal até ao momentos – face a dezenas de clubes espalhados pela Europa. Este é um ponto em que tenho insistido muitas vezes e, por isso, não me vou alongar muito. Apenas chamo atenção para o facto da importância das ligas em relação à dimensão dos clubes em si. Curioso é como no meio de tantas reuniões importantíssimas que se fazem na liga, nenhuma aborde este tema...


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16.5.08

Evolução das contas da Porto SAD

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Ao longo dos últimos anos a gestão da SAD portista tem gozado de alguns elogios que, como é costume, surgem mais por arrasto da performance desportiva do que de uma análise mais cuidada às contas da sociedade. A mim, estes elogios sempre me pareceram algo exagerados, particularmente pela dependência do seu equilíbrio das receitas provenientes de transferências de jogadores. A verdade, no entanto, é que a gestão do futebol portista soube tirar partido dos seus êxitos desportivos para evoluir para uma fase que, agora sim, creio poder ser alvo de maiores elogios, encontrando-se numa situação muito favorável para se reforçar desportivamente nas épocas vindouras.

A fase pré Mourinho
À semelhança das suas rivais, a SAD portista entrou nos primeiros anos do novo milénio com uma situação profundamente desequilibrada no que respeita às suas contas. A ausência de receitas da Liga dos Campeões e o nível elevado de custos com o pessoal forçavam um desvio muito pesado das contas excluindo passes de jogadores e, mesmo no que respeita ao balanço dos negócios de atletas, as vendas não eram suficientes para cobrir as amortizações dos investimentos feitos. Esta situação aconselhava a uma revisão profunda da componente de custos que representaria, mais do que provavelmente, uma quebra da qualidade do plantel. O olho clínico de Pinto da Costa faria, no entanto, chegar às Antas um tal de José Mourinho e os efeitos do trabalho do “Special One” foram altamente relevantes para a saúde financeira e desportiva da SAD, muito para além do seu “reinado” como líder do balneário azul e branco.

A fase Mourinho
O que se pode dizer da época 02/03 é que a SAD arriscou. À margem de uma equipa de futebol brilhante, que ganhou tudo o que havia para ganhar, em 02/03, a situação das contas portistas não evoluiu muito. O ano mais relevante seria o seguinte, não só pela conquista da Champions League mas pela mudança de estádio que surgiu na fase ideal, com as vitórias desportivas a atrair muitos adeptos, aumentando significativamente as receitas de bilheteira, comercial e quotização. Neste ano houve, porém, uma série de receitas fora do comum (transferências e prémios de performance desportiva) que disfarçaram um desvio nas contas extra passes de jogadores e que faziam prever um duro regresso à realidade nos anos seguintes...

Pós Mourinho
O que se temia aconteceu. Com a performance desportiva a cair após a saída de Mourinho, os elevados custos com o pessoal (que, entretanto, não foram racionalizados depois de 01/02) e o aumento de custos passaram a ser demasiado elevados para as receitas geradas e, também ao nível das transferências, as contas portistas não foram famosas após as vendas dos heróis de Gelsenkirchen. Resultado, entre 04/05 e 05/06, a SAD acumulou perdas ao nível do que havia ganho em 03/04 e evidenciava-se a necessidade da SAD em realizar importantes mais valias com vendas de jogadores, face ao nível de amortizações e ao desvio entre as custos e proveitos extra passes de jogadores.

O efeito Jesualdo
A época de 06/07 não começou nada bem. A saída de Adriaanse não foi a melhor forma de iniciar uma temporada que se percebia ser importante ao nível desportivo, por esse rendimento poder afectar decisivamente o equilíbrio das contas da SAD que, nos últimos anos, não havia sido famoso. O trabalho de Jesualdo foi por isso muito importante e o resultado de 06/07 mostra uma nova realidade, bem mais optimista do ponto de vista das perspectivas portistas. A principal nota vai, naturalmente, para o equilíbrio das contras extra passes de jogadores, o que aconteceu pela primeira vez em vários anos. O segundo destaque vai para o encaixe feito com os passes de Anderson e Pepe (este entra apenas em 07/08), o que permitiu um alívio importante não só para 06/07, mas também para 07/08.

O futuro imediato
Aquilo que se percebe hoje é que o Porto SAD se mantém dependente da realização de encaixes com passes de jogadores, mas bem menos do que num passado recente. Assim, a SAD tem ainda o relevante desafio de encaixar em transferências uma média anual equivalente ao seus encargos com amortizações de passes (que tem sido de 19 milhões de Euros). Se é verdade que este é um desafio à primeira vista não trivial, as boas notícias vêm logo a seguir. Primeiro, no que respeita às contas extra passes de jogadores, a situação está controlada desde que haja receitas de liga dos campeões – o que não tem sido problema. Depois, o Porto tem hoje uma equipa de elevado rendimento e com jogadores muito valorizados, não tendo todavia necessidade de realizar mais valias imediatas. A venda de Pepe (que entrará em 07/08) e o mais recente negócio de Bosingwa garantirão à SAD a possibilidade de não fazer grandes encaixes até ao final de 09/10, podendo nesta altura concentrar-se em alguns investimentos cujo retorno é apenas necessário a largos anos de distância. Se juntarmos a isto o controlo do passivo do clube e a sua evidente superioridade desportiva no planto interno, pode dizer-se que as preocupações portistas se poderão realmente centrar numa resolução positiva do... caso “Apito Dourado”.

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8.5.08

"Bom, até aqui tudo bem..."

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Boavista e Estrela da Amadora têm animado a actualidade futebolística nacional das últimas semanas com os seus deprimentes casos de incumprimento salarial. Naturalmente que os dois casos resultam de motivos diferentes. Se no caso do Boavista não é difícil perceber que houve algo de muito errado com a gestão do clube durante anos em que se conseguiram receitas muito acima da normalidade, o caso do Estrela é aquele que mais espelha para onde caminha o futebol português.

Vejamos o que se passa com os clubes de pequena dimensão do primeiro escalão (que é a maioria, realmente). A ligação com a comunidade local é cada vez menor, com as transmissões televisivas a reduzirem a importância do “segundo clube” para as populações. Resultado, menos gente nos estádios, seja o jogo a que preço ou a que horas for. Sobram as receitas de publicidade e televisão que são o motor de outras ligas de países bem mais populosos mas que em Portugal têm um crescimento reduzido. Estas receitas são, no entanto, vitais e por isso a descida de divisão é encarada com tanto temor pelos dirigentes dos clubes. O problema é que o pouco crescimento das receitas não permite acompanhar as exigências de um mercado cada vez mais global e os clubes, que no passado estavam protegidos pelo efeito das fronteiras, deparam-se com um dilema: (1) viver dentro da sua realidade mas ver a qualidade do seu elenco diminuir a cada ano, não havendo capacidade para segurar jogadores que nem precisam de ser excepcionais, mas arriscando seriamente perder as tais receitas essenciais por via de uma descida de divisão, ou (2) tentar garantir uma qualidade mínima no plantel, vivendo para isso acima da realidade do clube.

Dentro deste dilema e seja qual for a decisão, o que se pode ver no longo prazo é que a qualidade destas equipas está a cair gradualmente. Hoje, o jogador que perde as expectativas de “saltar” para um grande faz algo muito simples: ruma ao estrangeiro e em 3 ou 4 anos ganha um salário que lhe permite encarar com outros olhos a sua vida, podendo depois, se assim entender, regressar a Portugal, para terminar a carreira.

Como em todas “crises”, quem mais a sente são os pequenos, mas os médios e grandes também não ficam com a melhor das situações. As suas receitas também não crescem ao nível de outros países e, por outro lado, o campeonato interno tende a ser cada vez menos competitivo, com o fosso a abrir-se entre grandes e pequenos e a dimensão média ser um privilégio para muito poucos. O interesse externo (entenda-se de outros países) na prova perde-se, os jogadores começam a torcer cada vez mais o nariz sobre a hipótese de colocar Portugal no mapa das suas carreiras e, perante um nível financeiro de crescimento inferior a outros países, a qualidade dos grandes também cai, mais vagarosamente, mas cai.

Quando entro no campo das soluções, volto a esbarrar com a minha forte convicção. Entre muito trabalho de marketing, ao nível local por parte dos clubes, e ao nível externo por parte da liga, é fundamental uma revisão dos modelos competitivos das ligas profissionais. Só com menos clubes no primeiro escalão e mais jogos entre os melhores se poderá fazer crescer (creio que poderiam até duplicar a muito curto prazo) as receitas televisivas e voltar a aumentar a qualidade dos planteis em Portugal. Entretanto, a evolução do futebol português vai-me fazendo lembrar aquela história do individuo que cai do trigésimo andar e, ao passar pelo vigésimo, pensa para ele próprio: “bom, até aqui tudo bem...”.

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26.4.08

Serão assim tão "apetecíveis"?

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A recente crise desportiva de Benfica e Sporting tem suscitado uma série de análises catastrofistas sobre os respectivos clubes. A “febre” provocada pelo mau campeonato dos dois emblemas é tanta que, nos últimos dias, tem havido gente com algum peso nos respectivos “universos” a mostrar-se favorável a uma mudança nos estatutos do clube de forma a permitir a entrada de accionistas capazes de, com investimento, dar outra força à vida desportiva dos clubes. Uma das expressões que normalmente acompanham esta análise é de que o “clube “X” é apetecível para investidores”... o que pergunto é: serão os clubes portugueses realmente “apetecíveis”?

Os motivos que justificam o adjectivo “apetecível” são, invariavelmente, o número de adeptos e a história dos clubes. Para ver a coerência destes argumentos, pergunto se acham que clubes como, por exemplo, Fenerbahce, Galatasaray, Olympiacos ou Steaua de Bucareste são igualmente “apetecíveis”? É que, estando igualmente na Europa, estes clubes têm pelo menos tantos adeptos como qualquer clube português, sendo clubes históricos nos respectivos países. Nestes casos haveria ainda a vantagem de serem clubes “compráveis” não se correndo o risco do trauma dos adeptos em relação à adaptação de ter um dono na sua equipa.

Mas vamos lá ver, objectivamente, a questão. A pergunta que nos temos de fazer é: que vantagens e desvantagens tem uma pessoa, ou empresa, em fazer um hipotético investimento num clube português?

Aspecto financeiro
Hoje, há vários exemplos de investidores que, por motivos estritamente capitalistas, estão interessados em clubes de futebol, por entenderem que estes podem gerar receitas futuras que rentabilizem os seus investimentos. O problema é que, invariavelmente, estes concentram atenções no futebol Inglês. Porquê? A resposta é simples: receitas televisivas. É este o verdadeiro atractivo do futebol para os investidores e, se em alguns países esta componente dos proveitos cresce anualmente e em bom ritmo, em Portugal isso não se passa.
Então, se qualquer clube da Premier League ou de meio da tabela em Espanha, Alemanha ou Itália consegue o mesmo nível de receitas que um “grande” português. Se a tendência, analisando os últimos anos, é para que o crescimento das receitas televisivas e de publicidade se dê sobretudo nestes países, então, por que motivo haveria um investidor considerar “apetecível”, em termos financeiros, um “grande” português em vez de um qualquer emblema destes países?

Aspecto desportivo
Todo este exercício pressupõe, como é evidente, uma cedência de poderes no futebol para os respectivos investidores. Agora, pense-se que condições pode esperar um potencial investidor para chegar ao sucesso desportivo quando, como se vê, a cada derrota se coloca em causa treinador, equipa e direcção. Quando se sabe que projectos de médio e longo prazo a nível desportivo estão condenados a ser colocados em causa a cada época em que não se consiga vencer, com os adeptos, estimulados pela imprensa, permanentemente a exigir que “rolem cabeças” como paga para as frustrações desportivas. Tendo em conta as diferenças culturais, por exemplo, em relação aos adeptos ingleses ou alemães, por que motivo haviam de ser os nossos “grandes” apetecíveis para quem tem projectos desportivos de médio/longo prazo?

Conclusão
A conclusão a que chego é que apenas um português (pela paixão por um clube) muito rico e disposto a perder dinheiro para se divertir no futebol poderia achar “apetecível” um investimento num clube português (qualquer que seja) e esse não será certamente um cenário bem visto por qualquer adepto desse clube.
O futebol e os clubes são hoje realidades bem diferentes do fim “não lucrativo” com que foram concebidos. O lucro e o sucesso desportivo confundem-se no futebol actual, pelo que maximizar o lucro significa, forçosamente, aumentar as possibilidades de sucesso desportivo a prazo. Neste sentido, já o referi, faz todo o sentido que os clubes sejam sociedades abertas a investidores. Em Portugal, no entanto, o futebol e os clubes só seriam seriamente “apetecíveis” se se encontrasse uma forma de aumentar as suas receitas televisivas. Essa já deveria ter sido, aliás, a preocupação dos actuais “investidores” das SAD: os próprios clubes.


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20.3.08

Figo: Visão Zero

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Volto a um tema que parece já ter sido ultrapassado mas que me parece continuar a merecer uma reflexão, sobretudo num enquadramento diferente daquele que normalmente é feito, ou seja, o plano desportivo.

Tal como na época passada, o aproximar do final de temporada traz mais algumas incógnitas sobre o futuro daquele que foi o mais conceituado jogador português desde Eusébio e uma das principais referências do panorama futebolístico mundial da última década. O futuro de Figo parece passar pela continuidade no Inter ou pelo eclipse do futebol de alta roda, seja com o final de carreira, seja com uma integração numa liga menos exigente, mas bem mais apetecível em termos financeiros. No meio disto tudo, só posso estranhar – ou talvez não – o desinteresse do Sporting.

Parto com o recurso a um anúncio de uma marca de cervejas que, num mercado altamente competitivo, tem apostado enormemente no lançamento de um produto associando-o ao futebol, ao ponto de ter conseguido o patrocinio da principal competição nacional, batendo as casas de apostas até aqui sem rival no que respeita ao investimento desportivo. Ora, para cara do anúncio que actualmente vemos repetido vezes sem conta a preparar o Euro a aposta forte passou por... Luis Figo. Porquê? Porque Figo é e será durante mais alguns anos uma cara que os portugueses (e não só) associam ao sucesso desportivo e com a qual se identificam pela imagem que foi criando ao longo do tempo, quer dentro, quer fora do campo.

É também por tudo isto que vejo o aparente desinteresse do Sporting como algo estrategicamente errado, numa altura em que se fala tanto de receitas e da sua importância para aumentar a capacidade de investimento no futebol. Afinal o que os clubes, tardiamente, parecem já ter percebido é que o que traz receitas de forma sustentada é a ligação do clube aos seus sócios e adeptos, potenciando o valor dos patrocínios e as receitas de quotização e bilheteira (isto sobretudo num país onde as receitas televisivas são limitadas e não parece haver visão corporativa para alterar essa situação). O próprio Sporting que acordou mais tarde do que Benfica e FC Porto para esta necessidade, iniciou recentemente o lançamento de um objectivo no que respeita ao número de sócios, conjuntamente com a venda de um cartão. Ora, não vejo, talvez para além de Cristiano Ronaldo, rosto mais enquadrado com o mercado alvo leonino do que Luis Figo e a pergunta que faria ao gabinete de Marketing do Sporting é quanto valeria em termos de rentabilidade comercial uma época com Figo de leão ao peito? Talvez a Sagres possa dar uma ajuda...

Desconto, no meio de tudo isto, a mais valia desportiva que representaria Luis Figo – afinal, se o Inter o quer manter... – mas mesmo que esse fosse um argumento duvidoso, parece-me que pelo menos o Sporting deveria deixar claro que tudo fez para fazer regressar Figo (que, lembre-se, durante muitos anos afirmou querer terminar a carreira no clube onde se lançou). Aqui, ou há algo que me ultrapassa, ou não tenho dúvidas tratar-se de uma grosseira falta de visão de quem gere o clube.

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12.2.08

39ªjornada: O primeiro passo para uma Premier League mundial?

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Em Inglaterra vai um aceso debate sobre a proposta inédita de acrescentar uma jornada ao calendário, que seria jogada em 5 cidades diferentes espalhadas pelo mundo. A ideia da 39ªjornada tem como objectivo a extensão da competição a todo mundo, aproximando-se fisicamente do seu mercado real e, naturalmente, garantindo um volume de receitas fantástico – fala-se em 7,5 milhões de Euros por clube.

Obviamente esta proposta gera grande controvérsia. Por um lado os puristas, defensores dos valores tradicionais do futebol. Por outro estão aqueles que reconhecem os méritos da evolução da competição nos últimos anos, aumentando significativamente a qualidade do futebol do país e fazendo dele o melhor produto desportivo do mundo.

Pessoalmente não posso ser mais a favor das emoções que se vivem no estádio e da preservação de algumas das raízes do jogo. No entanto, é preciso que o futebol seja hoje visto e encarado como um espectáculo global, que interessa a todos, fazendo dele não só um jogo mas um negócio milionário. Negar esta realidade é o maior dos erros e quem insistir em fazê-lo vai continuamente sofrer as consequências de querer manter um jogo global preso a realidades e dimensões locais. O negócio do futebol global de hoje é decdido corporativamente, não individualmente, e esse foi o grande triunfo da Premier League sobre as demais competições domésticas da Europa. Foram as estratégias globais, com todos os clubes a perceberem que fora do campo os seus interesses são mais comuns do que opostos, que dinamizaram a competição desde a sua criação no inicio dos anos 90. O que se passa hoje é que a Premier League consegue a maior fatia de receitas do futebol mundial, fazendo com que os seus clubes consigam progressivamente investir mais e mais no futebol, aumentando inevitavelmente a sua qualidade. Se hoje ainda é possível comparar a dimensão futebolística do futebol inglês com outros campeonatos, a tendência é para que esta liga se torne na liga de elite do futebol mundial, com prejuizo para todos os clubes que não estão lá inseridos.

E Portugal?
Não posso deixar de fazer um paralelismo com a realidade Portuguesa onde os dirigentes permanecem mais concentrados nos objectivos desportivos de curto prazo do que em inverter a tendência de perda de competitividade em relação às principais ligas europeias. A cada pergunta sobre esta situação assistimos a um repetitivo encolher de ombros dos principais responsáveis dos clubes, apelando ao eterno lamento da dimensão reduzida do nosso mercado. Se esse é um facto inegável, porque não ajustam de uma vez por todas o modelo competitivo à dimensão do mercado?


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2.1.08

As contas do 1º Trimestre 07/08

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Nos últimos dias foram apresentadas as contas das SAD dos 3 grandes relativamente ao 1ºTrimestre da temporada 07/08. A nova realidade do futebol torna estes documentos peças importantes para a compreensão da realidade do futebol dos 3 maiores clubes portugueses, tanto no que respeita ao presente como às expectativas futuras. Antes de passar a um comentário sobre cada uma das SAD, saliento 2 aspectos. O primeiro tem a ver com uma alteração do ‘timing’ em que são reconhecidos os prémios de presença na Liga dos Campeões. Normalmente este prémio era assumido no momento em que a equipa garantia a presença na competição do ano seguinte, o que permitia um aumento de receitas no final da temporada. Este ano houve um alteração e essas receitas passarão a ser incluídas no momento em que a equipa inicia a sua presença na prova, ou seja, no inicio do exercício e não no seu final. Este facto (apenas não confirmado no relatório do FCP, ficando para mim a dúvida neste caso) faz com que os resultados sejam melhores do que é hábito nesta altura, perdendo-se, por outro lado, esse benefício que normalmente era antecipado para o final do ano. O outro ponto tem a ver com o facto de as contas do Benfica dizerem respeito ao período entre 01 de Agosto e 31 de Outubro, enquanto que as SAD de Sporting e Porto iniciaram o exercício 1 mês antes, terminando o 1º trimestre em 30 de Setembro. Naturalmente, isto implica para o Benfica a inclusão das receitas do mês de Outubro da Liga dos Campeões neste relatório.

FC Porto
O modelo de gestão da SAD portista está fortemente dependente das grandes receitas que o clube tem conseguido com vendas extraordinárias de passes de jogadores. O Porto sustenta com estas entradas o prejuízo acumulado com os elevados valores de custos com o pessoal e amortizações de passes de jogadores (fruto dos muitos milhões investidos nos últimos anos). De resto, este desequilíbrio nas contas extra transferências de jogadores pode ser ainda hoje comprovado pelos resultados operacionais negativos. O Porto atravessa, no entanto, um momento claramente positivo após as vendas de Anderson e Pepe (cujo valor da venda foi incluída neste exercício). A SAD apresenta um lucro que a salvaguardará de grandes problemas nos próximos tempos, não estando minimamente dependente de uma grande venda no próximo ano e podendo até – dado o modelo até agora seguido – esperar-se um investimento significativo da SAD em algum talento emergente. Saliente-se ainda que o FC Porto será aquele que mais milhões encaixará com a Champions, o que contribui ainda mais para o cenário desafogado nos próximos tempos. Nota, finalmente, para o valor de receitas operacionais apresentado. Fica a dúvida se este valor inclui ou não os cerca de 4 milhões de presença na Champions deste ano. De todo o modo, dada a evolução positiva que a SAD portista tem conseguido neste campo nos últimos anos é provável que tal não aconteça e que essa verba ainda esteja por incluir...

Benfica
Na Luz, as vendas de Manuel Fernandes, Karadas e Anderson, juntamente com o prémio de presença na Champions League, permitiram um resultado muito positivo neste primeiro trimestre. O Benfica conseguiu evoluir muito positivamente no que respeita à obtenção de receitas nos últimos anos e esse facto faz com que a SAD possa hoje suportar custos com o pessoal perto do que apresenta o FC Porto e cerca do dobro do Sporting. Este é um mérito muito importante no trabalho feito nos últimos anos pela SAD encarnada e que parece garantir ao Benfica uma maior capacidade competitiva que se poderá estender aos próximos anos.

Sporting
A SAD do Sporting é aquela que mais baixos lucros apresenta, mas não é por aí que os adeptos se devem preocupar. Essa diferença em relação aos mais directos competidores explica-se muito simplesmente pela ausência de vendas significativas no início deste exercício (a venda de Nani foi incluída no último exercício e apenas a transacção de Ricardo “migrou” para 07/08). De resto, o Sporting é mesmo a SAD que melhores resultados operacionais apresenta das 3, muito por força da redução de custos levada a cabo desde há uns anos. Percebe-se que o Sporting (pelo menos a sua SAD) não está dependente de grandes vendas porque tem as contas equilibradas, mas o problema para os Sportinguistas está noutro ponto... É que para equilibrar as suas contas, o Sporting precisa de ter custos com o pessoal que representam cerca de metade dos seus competidores. Isto faz com que as condições para as vitórias sejam objectivamente menores do que Porto e Benfica. Torna-se urgente que a SAD leonina consiga aumentar as suas receitas significativamente nos próximos anos, sob pena de se tornar cada vez mais naquele que, entre os 3, menos possibilidades tem de ser bem sucedido desportivamente.

Relatórios completos:

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