Ponto prévio – Grande parte da opinião que tenho sobre esta matéria diverge de uma visão que considero ser o resultado de uma mentalidade negativista e que encontra conforto numa permanente critica a tudo o que é feito. Um dizer mal que é de tal forma comum que se antecipa à própria reflexão, sendo por isso também contra-producente. Apesar disto, são evidentes alguns aspectos altamente negativos ao nível da organização da prova. Destaco o triste espectáculo da Choupana, onde decorreu um jogo que devia ter sido adiado mas como essa era uma situação de tal forma incómoda para todas as partes, o incumprimento da lei acabou por ser um favor que serviu a todos. Outro aspecto mais recente foi o do “goal average” que, literalmente, deveria ter apurado o Belenenses. Não porque essa fosse a intenção da regra, mas porque é isso que ela acaba por ditar.
Sem revoluções, haverá melhor ideia? – Em 2006 passamos a ter um campeonato de 16 clubes. Isto implica menos jogos e, mais importante, menos receitas. A solução passou por criar esta competição que tem, precisamente, esses 2 objectivos. Preencher o calendário competitivo e gerar receitas. Hoje temos uma prova que envolve, mesmo que a meio gás, os principais clubes nacionais e que desperta as atenções da totalidade dos adeptos, mesmo se estes ainda não valorizam a importância da prova em si. Assumindo que os clubes não querem uma revisão mais profunda no seu modelo competitivo global, que melhores alternativas haveria?
Aumentar de novo o campeonato para 18 equipas e recuperar 4 jornadas? Isto significa, basicamente, trocar os jogos que tivemos e vamos ter na Taça da Liga, por jogos do campeonato de 2 equipas vindas da Liga Vitalis. Pegando na classificação do ano passado, significaria trocar isto pelos jogos de Vizela e Gil Vicente (3º e 4º na Liga Vitalis 2008) no primeiro escalão. Do ponto de vista competitivo e do interesse da generalidade da massa adepta, não há comparação possível. Do lado da receita, muito menos. A outra alternativa era, obviamente, não jogar. Acho curioso como tantas vezes se critica a falta de jogos em Portugal e, paralelamente, se demonstra tanto incómodo perante esta competição.
O Modelo –É verdade que do ponto de vista competitivo não é o mais justo? Sim. Mas, antes de criticar, é preciso enquadrar o ciclo de vida desta competição e os seus propósitos. Para gerar receitas que tornem esta uma competição muito apelativa para a generalidade dos clubes, a prova precisa de captar as atenções dos adeptos. Em Portugal, goste-se ou não, só há 3 clubes verdadeiramente capazes de despertar uma atenção significativa das massas. O que aconteceu o ano passado foi, por isso, um passo ao lado. O modelo era mais justo, mas a competição não foi valorizada por Benfica e Porto. Este ano era importante garantir uma competição, talvez não justa, mas mediática. Isso está a acontecer e ganhará ainda mais força nos 3 jogos finais. Outro ponto altamente demagógico vem das criticas de alguns clubes. A taça da liga é, para eles, uma grande oportunidade de garantir receitas muito relevantes para os seus orçamentos. Isto só acontece porque há uma receita global que é distribuída. Ou seja, os pequenos ganham com a presença dos grandes, muito mais (em termos de % do orçamento) do que os próprios grandes. Não é, aliás, por acaso que os próprios votaram este modelo. No geral, diria que este não é seguramente o modelo ideal, que deve ser revisto, mas será provavelmente um mal necessário num ano em que era preciso aumentar o mediatismo da prova.
Assistências – Este é o ponto que mais me parece surreal. Quantas pessoas, em média, temos na principal competição de clubes disputada ao fim de semana? Então porque razão se haveria de pensar que a terceira prova, disputada a meio da semana seria um sucesso de bilheteira?! Esta é, aliás, uma discussão que se vem eternizando no tempo. Lembro-me como, antes do Euro, se defendia que os estádios não tinham condições para cativar os espectadores. Hoje prova-se que não são as condições que afastam as pessoas. Depois há o problema do preço dos bilhetes. Escandalosamente elevados em certos casos, sem dúvida, mas há várias experiências que provam que preços baixos não trazem, só por si, um aumento drástico dos espectadores. Agora chegou a moda dos jogos à tarde. Traria mais gente? Talvez, mas muito pouco. Para perceber isso basta ver o que acontece nos estádios de futebol por esse país fora ao Domingo à tarde e comparar com o que acontecia há 20 anos. Há muito menos gente e não há futebol na TV à mesma hora, nem sequer grandes a fazer concorrência. O problema que ninguém parece querer ver é essencialmente cultural e resulta do efeito que tem a globalização do futebol num país de apenas 10 milhões de pessoas e que está tripartido clubisticamente. Enquanto não perceberem que este é o problema, que ele “mata” por baixo e que não são os grandes as suas vitimas, nunca conseguirão combatê-lo realmente.
Quanto à Taça da Liga, as assistências nunca foram, nem poderiam ser um objectivo essencial. A TV e as audiências são o gerador fundamental de receitas.
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