Saudades de todas vocês!
Descansei alguns dias, afinal o trampo no supermercado no final do ano foi punk e eu fiquei morta com farofa....hahaha
Bom, mas passou e já dei uma arribada o suficiente para retornar ao blog!
Ano novo, vida nova - ao menos é o que dizem... Mas aqui os problemas são os mesmos do ano passado: pagar contas em supermercado rende tanto quanto enxugar gelo. E não adianta reclamar, pois as duplicatas chegam com uma rapidez assustadora...hahaha
Mas mudando o rumo da prosa e indo ao encontro do ano novo, lembrei-me que em dezembro assisti a um filme lindo na Tv a cabo: Confidencial.
O filme conta a história da criação de um livro de Truman Capote. Capote é um escritor controverso e o livro A Sangue Frio é sua maior obra prima. Um livro lindo e repleto de grandes descobertas sobre os norte americanos, além de ser o precursor num dos tipos de literaturas mais lidos do mundo atualmente: Capote deu início a última revolução importante na literatura e no jornalismo do século 20, o “romance verídico, de não-ficção” (hoje chamado de Novo Jornalismo).
O raciocínio dos críticos da época que discordaram era o seguinte: como é que um romance, que lida com a ficção, podia ser classificado de não-ficção? É justamente aí que está a inovação e a surpresa de Capote: ele escreveu uma reportagem que pode ser lida perfeitamente como ficção. No caso, um romance com boa dose de suspense e narrativa cinematográfica.
Isso mesmo: um romance baseado em fatos reais que, até 1965, não existia. Portanto queridas, corram para ler ou para ver o filme, pois ambos são monumentais do ponto vista tanto histórico quanto literário. Todos os filmes que vimos e livros que lemos após 1965 com essa narrativa diferenciada se deve a Truman Capote.
O filme se baseia na decisão de Capote, até então jornalista de periódicos do New Yorker, de ir a uma pequena cidade do Kansas tentar saber mais sobre um brutal assassinato: dois rapazes matam a sangue frio uma família de 4 membros (pai, mãe e 2 filhos adolescentes).
Após saber mais a respeito do crime, Capote decide que a história poderia dar um belo romance. Contra tudo e todos, ele parte em busca desse furo que celebraria a descoberta de uma nova literatura.
Mas o filme em si, que poderia ser enfadonho, cresce surpreendentemente com a história de amizade e intimidade que nasce entre ele e um dos assassinos e com a relação de Capote com os habitantes da pequena cidade de Holcomb, que tem apenas 270 habitantes.
Homossexual assumido, afetado, baixinho (media 1,58), com uma voz fininha de garoto, Capote se sentiu extremamente desconfortável naquele ambiente de “faroeste”. Virou a atração principal da cidade. Os moradores da cidadezinha imitavam os seus trejeitos e a sua voz, mas duas semanas depois era Capote quem os ridicularizava.
O assassino Perry Smith, que se mostra de infânica a mais dura e sofrida que se possa imaginar, mas de grande delicadeza e inteligência, cativa Capote a ponto surgir entre eles muito mais que amizade. E Capote faz de Perry um dos maiores personagens da literatura americana. Tanto Capote quanto Perry tiveram uma infância semelhante e o escritor se questionava da sorte de ter seguido um outro caminho. Por saber das dores de Perry, não o culpava da mesma maneira como tantos outros.
A história de amizade e de amor entre esses dois homens tão diferentes e tão semelhantes é cativante, delicada, apaixonante e arrebatadora.
Quando o filme termina e você se vê entre muitos sentimentos banhados por lágrimas, sabe que a história é verdadeira, que o sentimento existiu e que, enfim, você é mais um refém das tramas do brilhante Capote.
Não há como não se emocionar com esse filme, como não ver que qualquer que seja o caminho da criminalidade, lá pode se esconder alguém de imensa sensibilidade e, por mais paradoxal que seja, de imensa pureza.
Capote, com seu egocentrismo e fixação em terminar o romance, cometeu muitos erros com os 2 assassinos e isso o acompanhou até a morte: depois de “A Sangue Frio”, Capote nunca mais foi o mesmo. Como artista, entrou em decadência irreversível, até morrer em agosto de 1984, um mês e pouco antes de completar 60 anos, vítima da depressão, do álcool e das drogas pesadas.
O seu romance-reportagem entra para a história não só como um dos principais marcos da literatura e do jornalismo do século 20, mas também como um dos relacionamentos mais tensos, neuróticos e complexos de que se tem notícia entre um autor e sua obra.
E, adianto logo, esse filme é muito superior a Capote, com Philip Seymour Hoffman. Muito superior mesmo!
E se nada disso a animou a assistir ao filme, adianto também que o papel de Perry Smith coube ao belíssimo e talentosíssimo Daniel Craig (o novo 007), que no filme está.... moreno!... :O)
Daniel Craig caracterizado de Perry Smith
Fotos do verdadeiro Perry Smith
Leia mais sobre o filme aqui.
Trailer do filme:
Capa do livro A Sangue Frio
Minha dica de hoje é essa: que o amor, o respeito e a sensibilidade podem surgir das mais diferentes relações, seja qual for a diferença social existente.
E que em 2010 deixemos aflorar esse amor intenso de Truman Capote em todos nós.
Boa leitura e bom filme!
Beijooooooo