Quem lê / Who's reading

"a escrita é a minha primeira morada de silêncio" |Al Berto

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Bolha de silêncio

Há tanto vivo
numa bolha de silêncio,
auto-imposta
pelo ruído à volta.

No meu silêncio,
falo comigo mesma,
qual louca sem camisa de forças.

Rendo-me!

Se o mundo tivesse sido feito
pelos sãos,
ainda viveríamos numa caverna,
com medo de espreitar a luz.
Ficarei aqui,
mesmo sabendo que só os loucos
saberão encontrar-me!

# Monólogos da Desalinhada #

The Spirit of Photography, Anne Brigman.(1869–1950)

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Árvore – lanterna

Da série Correspondence, (c) Gaëlle Boissonnard
Presente da Fátima


Com a cortina agora já quase encerrada sobre Janeiro, amparo-me à minha pequena árvore-lanterna. Ainda lá se mantém no cimo a luz que apanhei  no Solstício de Inverno, e ainda que os dias sejam já mais claros, é lá que a quero manter.

Hoje que chove e faz frio, recolhi as asas, acolho a lembrança dos dias quentes e nela me agasalho. Protegida dos elementos, me renovarei, de acordo com o mês de Jano.

Ainda assim, ao contrário do deus, olharei apenas numa direcção, para o que vem.

sábado, 25 de janeiro de 2014

Falling

And so I left myself fall
I was at the top of the cliff
Climbed there with only one purpose
To fall
Hoping to build wings
In the way down
Pushed by the cold wind

And so I fell
Eyes closed
Faith in my soul
It seemed I was falling too quickly
Then I slowed down…

And I was no longer falling
There was no floor bellow
There was no sky above

Just me

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

domingo, 19 de janeiro de 2014

Poema sem sentido

Nasceu pássaro
Perdeu as asas
Por falta de uso;
Tentou cantar
Mas não era ave canora
Esse ofício não ia ter;
Não sabia nadar
Peixe não poderia todavia ser;
Correr também não conseguia
Para a savana não havia de ir.

Fincou-se então ao chão
Falou com a terra
Bem alto lhe pediu,
A terra acedeu.

Árvore ali nasceu
Dá abrigo e sombra,
A quem asas tem
E a voar quer aprender.


Arte: “Desejo”, de Carlos Saramago
http://carlos-saramago.blogspot.pt/


Este poema foi originalmente publicado no Tubo de Ensaio - Laboratório de Artes, aqui.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Mundo


City-Vortex_Gabriel-Rocha




Para lá de mim,
O Mundo que os rege;
Não consigo ir.






Este haiku foi publicado originalmente no Blog Pense fora da Caixa, aqui.

sábado, 11 de janeiro de 2014

Aquela estátua

Dizem que a chuva já se foi, então porque a sinto em mim, escorrendo pela pele, pelos cabelos, então porque a sinto a entranhar-se nos ossos, então porque sinto um trovão a ribombar cá dentro?
Porque sinto a água a misturar-se no pó, lentamente a formar lama em torno de mim, uma camada protectora de lama.
Quando vier o sol, secará. E então tornar-me-ei estátua.
Presa dentro de mim mesma, a ver a vida à minha volta, a passar por mim, a ver os Outros a caminhar por ali, a passar sem me olharem sequer. Outros, alguns a pararem apenas para uma recordação. Uma foto com aquela que um dia Foi.
Por quanto tempo será que me vou debater com o invólucro? Será que me vou debater sequer? Será que este outro invólucro está tão cheio quanto eu o vejo?
Será que esta chuva é outra? A da rua? A da rua da estátua daquela que uma dia foi?

# Monólogos da Desalinhada #
Isa Lisboa


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