Kay Ruane













A esperança engana, mente o sonho, eu sei. Que mentiras lindas eu mesma inventei e contei para mim..   

Helena Kolody

Kay Ruane









RETRATO ANTIGO

Quem é essa
que me olha
de tão longe,
com olhos que foram meus?

Helena Kolody


Kay Ruane









FLAMA

Na flama divina
que em nós resplandece,
palpita a alegria
de ser para sempre.

Helena Kolody

NOITE

Luar nos cabelos.
Constelações na memória.
Orvalho no olhar.

Helena Kolody


JORNADA

Tão longa a jornada!
E a gente cai, de repente,
No abismo do nada.

Helena Kolody




Kay Ruane







Luminosa alegria de olhar!
De todos os lados, o apelo do verde,
Da vida verde e serena.
Aquele cipreste
Que gesticula e dança,
Acorda-me na lembrança
Reminiscências vegetais:
Pequenino fremir de relva
No dorso dos campos;
Altos pinheiros imóveis;
Floresta oceânica e múrmura.
Festivo apelo do verde,
da vida verde e serena.

Ventura elementar de estar ao sol,
Viva e sem dor.

Helena Kolody

Kay Ruane






SEM AVISO


Sem aviso,
o vento vira

uma página da vida

Helena Kolody


Kay Ruane








ALEGRIA DE VIVER

Amo a vida.
Fascina-me o mistério de existir.

Quero viver a magia
de cada instante,
embriagar-me de alegria.

Que importa a nuvem no horizonte,
chuva de amanhã?
Hoje o sol inunda o meu dia.

Helena Kolody

Kay Ruane









LOUCURA LÚCIDA

Pairo, de súbito,
noutra dimensão

Alucina-me a poesia,
loucura lúcida.

Helena Kolody

Kay Ruane








ABISMAL

Meus olhos estão olhando
De muito longe, de muito longe,
Das infinitas distâncias
Dos abismos interiores.
Meus olhos estão a olhar do extremo longínquo
Para você que está diante de mim.
Se eu estendesse a mão, tocaria a sua face.


Helena Kolody

Kay Ruane







SAUDADES

Um sabiá cantou.
Longe, dançou o arvoredo.
Choveram saudades.

Helena Kolody

Kay Ruane







INFINITO PRESENTE

No movimento veloz
de nossa viagem,
embala-nos a ilusão
da fuga do tempo. Poeira esparsa no vento,
apenas passamos nós.
O tempo é mar que se alarga
num infinito presente.

Helena Kolody

Kay Ruane







VOZ DA NOITE

O sol se apaga.
De mansinho,
a sombra cresce.

A voz da noite
diz, baixinho:
esquece... esquece...

Helena Kolody

Kay Ruane





 FUGITIVO INSTANTE             

Captar os seres
em seu fugitivo instante de beleza.

Helena Kolody





Kay Ruane

Por muitos anos desenhei figuras em um quarto com micro paisagens por uma janela. Penso nos desenhos como dioramas, ou pequenos mundos em grafite. Inicialmente, esses desenhos eram formais na imagem, bem como apenas em branco e preto. Recentemente, venho prestando muito mais atenção a detalhes como o tipo de flor, o título de um livro sobre uma mesa ou um quadro na parede. Quero que esses detalhes estejam ligados a temas específicos em cada desenho, com uma dose de humor e sexualidade. Frequentemente o tema específico está ligado a uma ruptura cultural, assim como querendo fazer parte de uma diferente realidade física e a cultura que incorpora. Ao mesmo tempo, existe um medo de realmente experimentar a cultura, ou outro mundo, representado pelo que “está do lado de fora da janela” . Os detalhes são, às vezes, superabundantes e tomam o desenho como um excesso, literalmente invadindo o espaço da figura. Também pode haver uma associação infantil ou estereotipada com os objetos e paisagens, por exemplo, a imaginação de um safari ou uma coroação no estilo Disney. Mesmo embora eu seja o modelo para as figuras no desenho, eu uso minha imagem como um ponto de partida e cada figura, então, cria vida própria. E uso as figuras finais para explorar meu próprio senso de identidade e minhas relações com o mundo físico, mas as figuras também desenvolvem suas próprias e únicas identidades e relacionamentos.