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sexta-feira, 24 de julho de 2009

Live Action de Ficção Científica



O novo live-action da Confraria das Ideias acontecerá amanhã, e a "super-produção" já tem tema definido. O vídeo acima é o trailer do live-action "O maior passo da Humanidade", que tem como tema Viagem no Tempo e é uma ficção científica das polpudas.

Luiz Falcão, do Fabulário, integra a equipe criativa do live-action, que acontecerá amanhã na Zona Leste de São Paulo, Vila Curuçá (acessível para quem é de outras regiões a partir da estação Corinthians-Itaquera do metro). "A história envolve um vírus que destruiu a humanidade, transformando-os em monstros. Cansados de procurar a cura, um grupo de cientista resolveu mudar a estratégia tempos atrás... agora, eles aparentemente desenvolveram uma forma de voltar no tempo. Tudo indica que eles usarão essa tecnologia para impedir que o vírus se espalhe, mas num live-action, só os jogadores podem nos dar qualquer certeza", conta Luiz.

"As referências para a criação da história são extensas e vem principalmente do cinema: La Jette, O Nevoeiro, Eu sou a Lenda... são alguns dos mais fortes. Fora isso, quisemos trazer algo da atmosfera do jogo brasileiro Taikodom, que já é uma referência em FC científica nacional, por isso há entre os personagens um grupo de astronautas". O cenário construído para esse live, como podemos deduzir pelo trailer, tem até algumas semelhanças com o universo ficcional de Taikodom, mas aqui a ação se passará na terra.

Live-Action é uma prática que mistura elementos de jogo e teatro, e é comumente associada aos RPGs. Nesse tipo de atividade, uma equipe de criação desenvolve o cenário (background) da história e os personagens. Os jogadores vão receber cada um 1 personagem e o viverão durante algumas horas, como numa peça de teatro. Mas num live, não há diretor ou roteiro pré-definido, são os jogadores, a partir de suas escolhas e ações enquanto interpretam seus personagens, que definirão os rumos da história.

live-action rpg ficção científica

"Para mais informações: http://rpg-live.blogspot.com/

Para fazer sua inscrição ou tirar dúvidas, envie um e-mail para: contato@confrariadasideias.com.br


A Confraria das Ideias atua há mais de 10 anos com a criação e realização de live-actions, com cases famosos como o primeiro ciclo de lives do grupo O Graal. Há três anos, vêm realizando um trabalho junto às bibliotecas públicas do município de São Paulo. O live-action "O maior passo da Humanidade" encerra a "temporada de 2009".

No site e no blog da Confraria é possível acompanhar as últimas novidades, próximos eventos e as fotos e vídeos de live-actions já realizados.

O tema deste live foi sugerido por um dos jogadores.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Invisíveis porque querem (parte 3)

twittandoAna Cris e Fernando Trevisan, twittando às escuras!O invisibilidades II, segunda edição do evento de ficção-científica do itaú cultural, foi em setembro e eu ainda não terminei o meu relato.Portanto, muito tempo me distancia das duas mesas sobre as quais vou escrever - justo eu que não fazia anotações pois fotografava - vou tentar puxar pela memória...

O Domingo estava um pouco mais vazio: para alguns, era sinal que o sábado não tinha sido bom, para outros, foi o almoço de domingo, para uma terceira parte, uma turma teria exagerado na cervejinha de comemoração da noite anterior, e para o quarto final de teóricos especuladores, foi a pequena discussão sobre Star Treck que afastou uma parcela visível do público.

Domingo, segundo dia - Mesa 1
Por uma crítica de Ficção-Científica no Brasil: primeiros passos


Rodolfo LonderoRodolfo LonderoCheguei atrasado para a mesa com Adriana Amaral, Alfredo Suppia e Rodolfo Londero. A mediação foi de Rodolfo S. Filho, que tive oportunidade de conhecer no dia anterior.

A primeira impressão que tive é que havia algo errado com o nome da Mesa. O correto deveria ser algo como "a jovem pesquisa de ficção científica acadêmica", algo assim. Mas estejam atentos: "primeiros passos", diz o título da palestra. Fábio Fernandes (o curador do evento) não disfarça: ele sugere que não há uma crítica da Ficção Científica no Brasil (oh!) e aposta que ela virá de lá: da academia, dos jovens pesquisadores que estão usando seu tempo para refletir a Ficção Científica e suas reverberações por aí.

Das falas, consegui pegar apenas Adriana Amaral e Alfredo Suppia - o atraso (e o abismo já mencionado que distancia minha memória) comprometeu meu entendimento das posições do Rodolfo Londero - mas ele demonstrou grande repertório e esclarecimento sobre as pontuações. Com tese de mestrado foi sobre a recepção do cyberpunk no Brasil, estudo de caso de Santa Clara Poltergeist (veja adiante). Agora, no doutorado, segue na FC. Por sorte, consegui um trecho interessante em vídeo: confiram um pouco mais adiante.



Adriana AmaralAdriana AmaralAdriana Amaral fez questão de frisar que o campo de estudo dela é a subcultura ligada à ficção-científica, em especial ao cyberpunk. Senti que a fala dela poderia ter sido mais enriquecedora se houvesse um diálogo maior com as demais, pois pareceu-me descontextualizada, especialmente em relação às outras mesas. Mas levantou curiosidade e simpatia, sem dúvida, ainda mais com o Overlock sendo presenteado no dia anterior e circulando ainda nas mãos da platéia - se for para elaborar uma "teoria da conspiração" diria que Fábio Fernandes, em seu plano de revolucionar a literatura de ficção-científica no Brasil, convidou-a para mostrar que a ficção científica pode ir além, fazer mais e dialogar com o mundo real, modificando-o... que pode ser vivenciada. Será?

Adriana também falou um pouco sobre o fandom (fan, de fã, dom, como em kingdom), sobre como a ficção científica parece fechada a um certo grupo de admiradores, como a platéia presente (!). E disse isso como uma antropóloga, de fora da "civilização indígena" para a qual, ironicamente, está discursando. Mas não foi com maldade, não entendam mal. Ela disse em seu Blog, as palavras e as coisas, quando foi convidada para a mesa que na platéia "são todos homens e nerds rs ", mas não é agressivo, não... foi até com uma certa - e para mim preocupante - simpatia.

Alfredo Suppia
Alfredo Suppia

Alfredo Suppia me impressionou com a fala - primeiro porque não foi tolamente pessimista e reclamão, como já estamos habituados a ver por aí, em todas as áreas que consideram-se periféricas ou malditas, segundo porque, muito felizmente, mostrou que estava fazendo jus a sua cadeira no palco: tinha um bom e diversificado repertório e propriedade sobre o que estava falando. Para ele, no cinema - que é sua área de estudo - Ficção Científica não é a margem, é uma das correntes principais e com muito apelo comercial inclusive. Saem dezenas de filmes por ano (senão mais) em Hollywood e muitos, muitos mesmo chegam ao Brasil. Muitos seriam realmente bons filmes, e muitos são bem sucedidos.Rodolfo S. FilhoRodolfo S. Filho

No cinema brasileiro, Suppia disse não ser tão grande a escassez. Isto é, se formos contar a produção de curta metragens. Ele disse que o mercado no Brasil está crescendo (e alguém duvida disso!?) e que há muitos estudantes nas universidades e pessoal recém formado fazendo curta metragens de Ficção Científica - bem, um dia alguns desses caras devem fazer longas metragens, não é? E eles já tem gosto pela coisa, então quem sabe?!

A visão, ou o interesse, de Alfredo Suppia pareceu bastante abrangente (nesse sentido, muito próxima a visão de nosso pequeno coletivo). Entre os filmes que mencionou fazerem parte de sua pesquisa sobre ficção científica, destaco o brasileiro Kenoma. Uma rápida pesquisa pelo seu nome no google nos leva também a um bom número de textos de sua autoria sobre o cinema de ficção-científica.

Quanto ao Rodolfo S. Filho, ele foi um excelente mediador, com umas perguntas meio exageradas e canastronas mas muito instigantes e bem formuladas. Soube conduzir bem a conversa, levá-la e trazê-la de volta, proporcionando uma visão geral e diversidade de temas, sabendo lidar com a mesa heterogênea.
Domingo, segundo dia - Mesa 1
Ficção Científica Brasileira: passado e presente do gênero no Brasil


flagranteFlagrei uma anotação no caderninho da pessoa que estava aa meu lado!Como na mesa anterior, o título também não era assim tão correspondente ao conteúdo. Mas quem se importa! Bráulio Tavares, Fausto Fawcett e Guilherme Kujawski compunham essa mesa mediada por Sérgio Kulpas.

A mediação de Kulpas deixou a desejar, é verdade, mesmo tendo começado bem, com uma pergunta que rendeu assunto até o final da mesa: como os autores presentes lidavam com a linguagem em seus trabalhos.

Kulpas arrancou comentários aborrecidos do público e não era para menos, sua euforia acabou atrapalhando mais do que ajudando: atropelava a fala dos demais com comentários, em geral sem grande pertinência, e acabou por confundir seu papel de mediador, unindo-se a discussão ao lado dos demais. Especialmente na segunda metade da mesa, quando não disfarçava mais seu entusiasmo.

Bráulio TavaresTavaresBráulio Tavares é nosso já conhecido escritor, crítico e compositor brasileiro que dedica uma parte de seu tempo à ficção científica e à literatura fantástica - com pelo menos três coletâneas de contos dignas de nota, publicadas pela editora Casa da Palavra. Mais uma vez (tal qual no Fantasticon), ele fez a ponte entre a literatura convencional e a discussão em torno do gênero. Desconsiderou as colocações do mediador sobre seu texto literário (invenção de linguagem), confessou-se melhor crítico que escritor e trouxe para a discussão a tradição negligenciada da ficção científica Brasileira.

Com habilidade, expôs a sinopse (e os devidos comentários) de textos que ele considerava, na literatura brasileira, essenciais, ou verdadeiras obras primas da ficção científica. Mias uma vez, elaborou uma fala rica, distante da obviedade, do esperado, do comum. Segue abaixo um pequeno vídeo, que serve para ilustrar o sentido de sua fala.


Fausto Fawcett é músico e ficou famoso algumas décadas atrás com o hit Kátia Flávia, mas ele estava lá por ter escrito o livro de ficção científica Santa Clara Poltergeist (que também é nome de música e de vídeo). Com um discurso cheio de idas e vindas, digressões fenomenais e arrancando muitas risadas da platéia, Fausto convenceu a todos. Ainda que se perdesse em alguns pontos e pudesse parecer esguio em outros, traçou relações muito interessantes e - se não resolveu nada - trouxe novo tempero a discussão. Aliás, um tempero bem particular, bastante diferente do que estamos acostumados na FC brasileira.

Sua "tese" que mais me chamou a atenção foi a de que a ficção-científica, no Brasil e em outros países (Índia, Angola...), tem um ar diferente, uma lógica e um comportamento diferente da FC norte-americana e européia: um ar de traquitana, de "jeitinho" que se dá as coisas. Pode parecer óbvio falando assim, mas acredite: muita coisa foi (e ainda é) produzida no Brasil como mero reflexo do que se fez no exterior, e uma visão assim colocada, vinda justamente do padrinho-mor de Kátia Flávia e Regininha Poltergeist, tem muito significado!

Fausto Fawcett
Fausto Fawcett


Guilherme Kujawskio jornalista Guilherme KujawskiKujawski é ligado ao Itaú Cultural (inclusive um dos responsáveis pela bienal de arte e tecnologia, emoção artificial), mas estava lá também por um livro de ficção científica, o seu Piritas Siderais. Foi bastante discreto e humilde, mostrou muito decoro e respeito com os demais componentes da mesa e falou pertinentemente sobre movimentos literários, dando exemplos de literatura onde a forma ganhava maior importância - e como isso poderia ser caro à FC. Nesse sentido, acrescentou muito à fala de Tavares e ao ponto de vista geral da mesa, levantado pelo Kulpas.

Aliás, esta visão geral disse a plenos pulmões: ficção científica é literatura. Está sujeita as regras e avaliações da literatura e não pode esquivar-se do que já foi conquistado nesse campo. Assim, a última mesa "casou-se" com a primeira - e o Invisibilidades II, evento de ficção-científica do itaú cultural, parece ter terminado com a seguinte mensagem: ficção científica é coisa séria!

Pecha Kucha NightPecha Kucha Night

Ou quase. Para terminar descontraído, o evento preparou uma edição temática do Pecha Kucha Night. Não vou me deter muito aqui, deixo três pontos:


1 - Pecha Kucha Night é um evento que surgiu no Japão (Pecha Kucha = burburinho, reza a lenda). Foi criado por um escritório de arquitetura e é uma forma de apresentar projetos, teoricamente mais dinâmica que a tradicional. A idéia é que há um número definido de slides e um tempo definido para cada slide, nada muito além disso - mas com apresentação animada (e quando não "intervenção") da organização. No fundo, no fundo, é um nome descolado para "apresentação de powerpoint".

2 - A versão de São Paulo é bem animada, com interferências do apresentador, gracinhas e boicotes por parte da equipe técnica. Muito bom isso, aliás. O Pecha Kucha paulista está "sediado" no Itaú Cultural, mas o formato foi dado - como nos contou o Kujawski - por Paulo Scott, que comanda o evento Vocabulário, n'o Barco (e mais alguém que - desculpem- eu não me recordo). A apresentação ficou então sob égide do Kujawski que, infelizmente, não tem nem de longe a desenvoltura e carisma do Paulo Scott. Uma pena, pois fica claro que Kujawski está tentando "imitar" Scott e sua turma (dentro dela também o poeta Chacal) - impressão que tenho é que Kuja ganharia mais se tentasse um estilo próprio.

3 - A adesão para esse tipo de evento não costuma ser muito impressionante, nem em número, nem em qualidade. Com o tema ficção científica, então! Mas entre algumas apresentações ruins houve coisa boa. Inclusive uma saída de mestre da organização, que frustou uma apresentação meia-boca e ainda assim mostrou todas as divertidíssimas imagens que o expositor preparou (apenas com o intuito de ser selecionado). O grande destaque foi o Alfredo Suppia, que preparou uma ficção hilariante a partir de frames extraídos de filmes (curtas e longas) de ficção científica de diversos tempos e origens.


Saldo positivo no evento que se mostrou mais denso e interessante que o Fantasticon, pelo menos até agora. Correram pedidos acalorados para que o evento se torne anual, e não bienal. Tolice! Deixem como está, que está de bom tamanho. Dois anos é tempo de distinguirem-se as tendências e os assuntos mais pertinentes relativos ao gênero e de escolher a dedo um bom curador.

Diminuir a frequência seria comprometer a qualidade. E tenho dito!


LUIZ PIRES,
é webdesigner e estudante
de Artes Visuais no Unicentro
Belas Artes

domingo, 18 de janeiro de 2009

"Um livro de outro mundo!"

ficção de polpa volume 2

Ficção de Polpa – Volume 2 é a segunda edição da coletânea que, inspirada nas antigas pulp magazines do início do século XX, reúne contos de ficção especulativa de novos autores, em sua maioria. Com organização de Samir Machado de Machado, Ficção de Polpa teve sua primeira edição lançada em 2007. Enquanto no Volume 1 os contos presentes se aproximaram mais do horror, com narrativas tensas e viscerais, o Volume 2 é mais dedicado à Ficção Científica. Nesta edição, paira no ar a crescente solidão e “uma certa melancolia”.

A citação de Bradbury, logo no início do livro, só poderia ser um feliz prenúncio. Características do universo ficcional do autor americano surgem com frequência em diversos contos da coletânea, alguns em maior dosagem que em outros, ao passo que falam de ausência, saudade e memória, da não-linearidade do tempo.

Impossível não lembrar de A Hora Zero, conto da década de 40 de Bradbury. Se em A Hora Zero, os alienígenas invadem a terra com a ajuda de astutas e bem organizadas criancinhas, em Visitas a presença alienígena surge por intermédio de um walktalk paraguaio, presente que Rafael ganha do pai na véspera de seu aniversário de 8 anos. Embora se passe o interior do Rio Grande do Sul, o cenário de desolação que é o quintal da casa de Rafael, com mesas de plástico sobre a grama molhada, cairia muito bem nas pequenas cidades que povoaram a infância de Bradbury em Illinois.

Olhar para o passado sempre acaba por trazer um tanto de melancolia. Em Traz outro amigo também, de Yves Robert, um detetive aceita um caso dificílimo: encontrar o amigo imaginário, desaparecido há anos, de um cliente de sanidade duvidosa. Pois bem: não haveria curiosa semelhança entre a saga deste detetive, tendo que interrogar um punhado de “miúdos” e interagir imaginariamente com seus respectivos amigos invisíveis a fim de encontrar Cornélios, o desaparecido, e as aventuras de Charlie e o Coronel Stonesteel em A autêntica múmia egípcia feita em casa, de Bradbury? Não seriam a solidão e o marasmo do pacato detetive idênticos ao clima de vazio que reinava em Green Town antes das aventuras arqueológicas que a dupla de Bradbury simulou justamente para a arrancar a vida da “ociosidade mórbida” na “cidade mais comum, ordinária, medíocre e chata de toda a eterna história dos impérios”? As duas histórias, enfim, parecem trazer uma centelha de salvação.

Mas nem só de vespertina melancolia é feito o Ficção de Polpa 2. Em Cura-te a ti mesmo, de Carlos Orsi, um jovem recém formado em medicina começa seu estágio num curioso centro de pesquisa sobre cura mediúnica. Depois que o diretor lhe apresenta as recentes descobertas, o jovem lamenta não ter respondido com sinceridade a pergunta que lhe foi dirigida logo no início sobre sua convicção religiosa. Logo o ex-seminarista se confronta com suas próprias crenças e dúvidas, levando-o a tomar medidas precipitadas. O formato conto funciona muito bem nas mãos do veterano Orsi e a temática científica-esotérica é trabalhada de maneira bastante criativa.

Outros contos poderiam ser largamente abordados por aqui, mas não sem arcar com a ira dos leitores que não conseguiriam terminar este texto enquanto enganam o chefe no trabalho. Portanto, finalizo dizendo que o Ficção de Polpa – Volume 2 é promessa de textos divertidos e de qualidade. E a Não Editora parece ser um “sinal de inteligência vindo de um longínquo sistema solar”.

Quebre o cofrinho e adquira o livro clicando aqui.


CARA CAROLINA ,
é webdesigner e estudante
de Artes Plásticas pelo
Unicentro Belas Artes

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

O Ano Cógnito

terra incognita

Vocês vão ter que nos engolir.

Mas vão gostar.

Assim termina o editorial da 1º edição da revista de ficção científica Terra Incógnita, organizada por Jacques Barcia e Fábio Fernandes e lançada em setembro de 2008. Até agora, são 4 edições que podem ser baixadas gratuitamente (em PDF) no blog. Nomes como Bruce Sterling, Jeffrey Thomas e Charles Stross surgem em entrevistas, contos e artigos. Não faz idéia de quem sejam os caras? Nem mesmo o Sterling? Sem problemas, isto estava na previsão dos ousados editores e só dá mais um motivo para que a revista seja lida. Além dos figurões internacionais, o leitor encontra contos de autores nacionais, alguns bastante inovadores. O que? Leu o conto e não entendeu patavinas? Ótimo. Proferem os editores na 2º edição: A ficção científica no Brasil andou por muito tempo acomodada, dentro de uma zona de conforto crepuscular (uma twilight comfort zone, poderíamos dizer) onde reinaram os contos-clichê, as histórias de viagem no tempo onde alguém sempre viaja para impedir que alguma coisa aconteça, e as velhas histórias de final-surpresa (surpresa que só surpreende quem nunca leu nada do gênero), do tipo ‘e ele era um robô’.

Se isso te pareceu uma espécie de bronca, espere só para ver o próximo: Sim, claro, sabemos que você mostrou um conto a todos os seus amigos, sua namorada, seus pais, seu cachorro e o periquito, e todo mundo disse que era bom. Bem, lamentamos informar, mas Papai Noel e o coelhinho da páscoa não existem. Pois é, leitor incógnito. Se a bronca era direcionada, você acabou levando também. Mas o senhor já é bem grandinho e um bom exercício de interpretação vai te levar além (ou você é o tal cara do periquito?). Páginas e páginas de material literário de qualidade, momentos de diversão e agonia, autores dos quais você nunca ouviu falar mas que são bons pra caramba te aguardam após estes editoriais curtos e grossos. E na 4º Edição, eles nem precisaram dar bronca em ninguém.

Acesse o blog e confira as bordoadas.

Ou, se preferir, baixe diretamente os PDFs aqui:

#01 #02 #03 #04

CARA CAROLINA ,
é webdesigner e estudante
de Artes Plásticas pelo
Unicentro Belas Artes

sábado, 13 de dezembro de 2008

Novo clipe do Metallica é história alternativa com Zumbis...

...Ficção científica e Nostalgia da Gerra Fria. O clipe mistura live-action com efeitos especiais e tem partes em animação. Imperdível, gostando ou não de Metallica (eu, por exemplo, assisti a primeira vez ouvindo outra música).

Para quem quiser conferir no site da Banda (numa qualidade melhor): http://metallica.com/index.asp?item=601688.



LUIZ PIRES,
é webdesigner e estudante
de Artes Plásticas no Unicentro
Belas Artes

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Invisíveis porque querem (parte 2)

Antes de mais nada, gostaria de pedir desculpas pela sumiço geral. Já deve ter passado quase um mês e devo admitir que será um exercício de memória continuar a falar do Invisibilidades, 2° evento de ficção científica promovido pelo Itaú Cultural.

Mesa 2
Mercado Editorial

Com Ana Cris Rodrigues (clfc), Samir Machado de Machado (não), Ednei Procópio (giz), Richard Diegues (tarja) e Jaques Barcia (terraincognita).
Moderação: Sílvio Alexandre (www.universofantastico.com.br )

Edinei ProcópioEdinei, pulso firme e números 'de cabeça'

Fábio Fernandes, curador desta edição do evento, deve ter se realizado quando formou essa mesa. Já há tempos, como pudemos verificar no Fantasticon e nas entrelinhas de postagens em seu Blog, Fábio vem defendendo a idéia da WEB como terreno tão válido para a publicação quanto a mídia impressa. Além de tradutor de livros em papel (de clássicos como "O Homem do Castelo Alto") ele encabeça hoje dois projetos de revistas online com seu parceiro Jaques Barcia: Terra Incógnita e Kalíopes (disponível no site do CLFC). As duas com a pretensão de fazer barulho no cenário da FC nacional e chamar atenção para o que está sendo produzido lá fora.

PAPEL x WEB

Foi assim: Ana Cris, atual presidente do CLFC, e Jaques Barcia - ambos editores de publicações online - defenderam com romantismo a migração dos escritos para a Web, a publicação de textos, revistas, contos e o que mais for na internet. Associaram isto à divulgação maciça, maior visibilidade, mais leituras do material disponibilizado desta forma.

Edinei Procópio e Richard Diegues, editores respectivamente da Giz e da Tarja, se mostraram muito mais abertos e realistas. Reconhecem e acreditam no potencial da internet, mas não desmerecem a boa e velha mídia impressa. Já o Samir, da Não Editora... o negócio dele ainda é papel (mas não descartou nada).

6 MIL DOWNLOADS
Um argumento fraquinho usado no debate foi a quantidade de Downloads em comparação com a quantidade da tiragem de um material impresso. Ana Cris, que está entre trancos e barrancos tocando a digitalização do CLFC, disse que 3 autores convidados a publicar seu material na Somnium recusaram pois preferiram fazê-lo em um veículo impresso.

Ela deu uma leve debochada da atitude comparando a tiragem de 300 exemplares (pouco inferior, diga-se de passagem, à tiragem do Fabulário #1) aos 6.000 downloads da revista BlackRocket. Oras... 6mil exemplares vendidos, por exemplo, seria realmente algo a se admirar, não é? Mas 6mil downloads? Será que é grande coisa mesmo esse número de 6mil downloads? (Não me refiro à revista, ela é sim, muito boa e muito bem feita!)

Donwload não significa também que o material tenha sido lido não é? Ok... essa discussãozinha não é nada produtiva, oras... mas serve para tomarmos mais cuidado com a numerologia empregada neste ou naquele discurso.

Sílvio Alexandre e Ana Christina RodriguesSílvio Alexandre e Ana Cris Rodrigues

NUMEROLOGIA
Por falar em numerologia: Sílvio Alexandre surpeendeu na mediação, levando as perguntas anotadinhas, com dados específicos, numéricos, para colocar em debate. Só surpreendeu mais mesmo Edinei Procópio que, quem diria, apresentou números de cabeça, de institutos de pesquisa diferenciados.

Aliás, Edinei e Richard, respectivamente editores da Giz e da Tarja, pareceram realmente muito preparados, muito inteligentes, muitos "antenados". Se fosse para julgar a publicação dessas editoras pela credibilidade que seus editores conseguiram passar nesta ocasião, poderíamos sair comprando todos os livros. Mas, infelizmente, não é assim.

Se o discurso de Ana Cris e Jaques Barcia foi pautado pela qualidade literária, pela contribuição ao gênero e refinamento dos materiais, ficou a impressão (para algumas pessoas no público que conversaram comigo depois, eu realmente não senti isso na hora) que o discurso dos dois editores "impressos" estava pautado apenas por um critério muito duvidoso de "vendabilidade".

Bem... se podemos conferir o material editado por Jaques e Ana Cris na web, gratuitamente, para averiguar o material da Giz e da Tarja não adianta numerologia ou outras formas, místicas ou não, de especulação: resta ir às livrarias (ou pedir pela internet, que é mais garantido).

Richard Diegues e Edinei Procópio

ENQUANTO ISSO...
Às vezes a gente pode ter a impressão que o movimento na literatura fantástica brasileira se dá geograficamente no eixo Rio-São Paulo (ou no Sudeste) e no Nordeste. Quando fazemos isso, é bastante saudável considerar ingenuidade de nossa parte.

Samir Machado de MachadoSamir Machado de Machado, editor da Não e organizador do Ficção de Polpa
A Não Editora é uma editora independente de Porto Alegre, já velha conhecida do pessoal aqui do Fabulário, e que chamou a atenção da comunidade de ficção científica antes mesmo de existir, com a coletânea Ficção de Polpa. Explico: na época, o lançamento da primeira coletânea foi realizado pela editora Fósforo. (mais detalhes no site das editoras).

Samir Machado de Machado, um dos editores da Não e organizador das coletâneas de "literatura especulativa" Ficção de Polpa, veio para enriquecer a mesa. O discurso dele soa bastante distinto do que ouvimos dos demais editores presentes (online ou não) e do discurso que costumamos ouvir vindo dos dois outros "eixos" ("Nordeste" e "Sudeste", se é que eles existem assim, enquanto eixos).

Ele não se preocupa em separar "mainstream" de "literatura de gênero", não aponta dados desmotivadores da recepção do público, entre muitas outras coisas que prometem, a longo ou a imediato prazo (afinal, você já pode pedir os livros deles pela livraria cultura) um novo fôlego para a literatura fantástica nacional! (Ao menos, para uma delas).

DUAS FICÇÕES DE POLPA, NÃO UMA!
Esse detalhe me chamou a atenção. Quase não falei dele, mas Samir Machado de Machado, um dos editores da Não e organizador das coletâneas Ficção de Polpa estava presente. Como sempre, ele deu seu parecer (lúcido parecer) de quem está de fora do gueto, com visão geral e abrangente.

Em dado momento, Ana Cris falou com alegria do artigo publicado por ela (juntamente com Alexander Lancaster) na Scarium #19: disse que estava falando da mesma coisa que a antologia que veio depois (e sem conhecimento prévio um do outro, vale ressaltar) organizada pelo Samir. Ora! Eu li os dois materiais e tive contato com a conceituação de ambos...

Se há algo que eu posso dizer a respeito é que não, não é a mesma coisa. Samir Machado de Machado e Ana Cris Rodrigues não estavam falando da mesma coisa. Mas isso é assunto para um artigo à parte.

LÁ FORA E AQUI DENTRO
No discurso do Jaques Barcia (e do parceiro e curador, Fábio Fernandes, também) a gente houve algo que pode parecer às vezes um certo culto ao exterior, ao que é produzido lá fora. Bem... a impressão que os dá (digo impressão por que não li nossos contemporâneos estrangeiros ainda, então só tenho discursos de terceiros para me apoiar)... a impressão que dá é de que os americanos estão lá na vanguarda da Ficção Científica.

Fábio e Jaques não escondem nem um pouco a opinião de que deveríamos nos contaminar com a literatura e o espírito desses escritores (que são além de americanos, franceses, russos, romenos ou de onde quer que sejam afinal)... e, afinal, quem poderia ser contra eles nesta opinião? Mas, junto a isso, parecem levantar discretamente a bandeira de que esta é uma obrigação dos leitores/escritores de ficção científica que devem ler os textos em inglês, importar os livros via amazon.com e buscar contos e copylefts na web.

Não é assim a atitude mais mediadora que poderíamos esperar, é verdade, mas os dois também não estão lá fazendo só o gênero reclamão e questionador: é possível conferir que estão indo além disso logo na Terra Incógnita #1, trazendo ao conhecimento do público brasileiro novos autores.

Às pessoas, como eu, que não dominam o inglês a ponto de destrinchar os romances de 300 páginas que são produzidos no exterior, só nos resta esperar a facilidade de pequenos contos traduzidos, entrevistas e quem sabe, uma ou outra indicação, no futuro, vinda de um tradutor de confiança de alguma editora interessada em ficção científica para que traduzam, de repente, um Perdido Street Station tão breve quanto possível....
Jaques BarciaJaques Barcia

CONVERGÊNCIA, OTIMISMO E COBRANÇA

Três coisas ficaram claras no debate:

1) Há sim um crescimento dos gêneros fantásticos, no Brasil, nos últimos tempos (ainda vamos descobrir no que isso vai dar);

2) Parece haver uma tendência, ao menos no discurso da mesa, de liquefação (êêêê) nos limites destes gêneros, seja entre si, seja com aquilo que está "fora do gênero";

3) A mesa, muito sabiamente, cobrou qualidade dos escritores presentes. E acredite, um grande filão do público era composto por escritores ou pretensos escritores. Muito bem feita a cobrança, diga-se de passagem (e particularmente, bastante refinada no discurso do Jaques).

CONCLUSÕES
Este debate foi menos polêmico e mais produtivo que o anterior. A Mediação de Sílvio Alexandre ajudou muito para manter o nível e o preparo, conhecimento do terreno e diversidade de opiniões engrandeceu a mesa.

Nota dez para o Fábio, que parece ter captado as energias certas para a elaboração desta mesa!

Ah! E para aqueles que ficaram achando que "foi dito o mesmo de sempre, o que sempre dizem"... talvez não tenha sido acrescentado muito tempero ao caldo desta discussão, nada foi "repetido" inutilmente.


LUIZ PIRES,
é webdesigner e estudante
de Artes Plásticas no Unicentro
Belas Artes

domingo, 21 de setembro de 2008

Invisíveis porque querem (parte 1)

Acabo de voltar do evento Invisibilidades, do itaú cultural. Rapidamente, vou tentar dar um parecer sobre a primeira das mesas que aconteceram lá ontem (afinal, já passa da meia noite, então é ontem). A segunda mesa fica para uma próxima postagem.

Mesa 1:
Por uma Ficção Científica pós Moderna

Mediação de Gerson Lodi-Ribeiro. Com Max Mallmann, Antônio Xerxenesky, Octávio Aragão, Nelson de Oliveira

Gerson Lodi-Ribeiro
A Não-Mediação
Gerson Lodi-Ribeiro pode ser uma referência para a literatura de ficção científica brasileira (e de história alternativa como ele faz questão de lembrar em todas as ocasiões). Mas isso não foi importante para este debate: cá entre nós, ele não foi igualmente feliz como mediador dessa discussão. Contribuiu mais, a meu ver, como participante do debate.

Autoridade
Max MallmannHá um problema recorrente nas reuniões do Fabulário que é a falta de autoridade sobre determinado assunto, ou melhor: há um ou outro assunto no qual todos querem dar uma de "autoridade sobre o assunto". Com o tempo vamos superando esse problema e aprendendo a entender nosso lugar junto às coisas, afinal, nos reunimos bastante. Esse problema fica especialmente engraçado, ou curioso, quando é visto em um evento do porte do Invisibilidades. (Salvam-se da acusação Antônio Xerxenesky e Max Mallmann, que mandaram bem no quesito "meu espaço".)

Octávio AragãoPós-Hein!?
Há muitas teorias sobre a pós modernidade. A minha teoria preferida é a que chama a pós modernidade de modernidade líquida. Liquefazer é um verbo excepcional, na minha opinião, podemos usá-lo para falar de muita coisa do nosso tempo - e coisas boas. Eu não sei particularmente o que o Octávio Aragão entende por pós-moderno (parece que ele nunca deixa muito claro qual é a referêcnia dele, mas não tenho certeza quanto a isso), mas ele parece levar isso muito a sério mesmo, quase uma obsessão no percurso discursivo (não é a primeira vez!). Os outros componentes da mesa, menos fanáticos ou exaltados, também deram sua contribuição. Mas como sempre, tudo que é pós moderno se desmancha no ar, e ficamos como começamos...

Inovação?
Em um certo momento, o Octávio falou de inovação, que tem que inovar na literatura. Deu a impressão até que é para isso que existe essa tal pós-modernidade (hihi!). Acho que é de Adorno a frase "não existe o novo, o que existe é o desejo do novo" (e devo esta afirmação a Evandro Carlos Jardim). Nada poderia ser mais moderno que ess coisa de inovar, não é? Na minha opinião: liquefaçam.

Antônio Xerxenesky

O rótulo que te pariu
Tem algo que eu provavelmente nunca vou entender que é esse fetiche pelo rótulo (falaram tanto sobre fetiche pelo papel hoje na mesa seguinte, deviam ter dito algo sobre esse fetiche louco pelo rótulo). Funciona assim: algumas pessoas tem um desejo insano de ser chamado de Ficção Científica. Ou pior: de chamar isso ou aquilo de ficção científica. Ainda pior: de ficar discutindo, muito praticamente, se Moby Dick ou Saramago são ficção científica. Às vezes é só um recurso retórico, que varia do divertido: "Moby Dick é branca, é grande e nada mata ela! Só pode ser mutante" - fala do Octávio. Para o insensato: "Um escritor de ficção científica não ganha um Nobel. Se o Saramago escrever algo de ficção científica ele não vai mais ser o Saramago" (sic) - não lembro o autor. Bem insensato se considerarmos o diálogo que existe entre o recentemente adaptado para o cinema Ensaio Sobre a Cegueira e a FC.
E claro, completamente insensato se considerarmos que a ganhadora do Nobel 2007 de literatura foi a Doris Lessing, que tem uma grande parte de seu trabalho desenvolvido na ficção científica. Ainda que não tenha sido exatamente por este mérito.
O que quer dizer então um sujeito que usa essa argumentação?

Nelson de OliveiraO Nelson de Oliveira quer escrever ficção científica como um manifesto anti-literatura convencional. Aí batata: o sujeito se agarra num sub-gênero muito "mal visto" pela "elite arrogante dos narizes-empinados" (palavras minhas, ele não disse nada disso) com a intenção de aprofundar-se no enredo. Beleza: pitoresco e exótico, perfeito!

Já o Xerxenesky foi praticamente caçoado quando disse que não achava que o livro dele era ficção científica. A fome por rotular é tão intensa que os rotuladores nem se preocuparam com detalhes. Minha impressão é que soou mal ao público. Ao menos, soou mal a mim.

O Max Mallmann, único na mesa que eu ainda não conhecia, pareceu também bastante sossegado a respeito. Já o Octávio nem se fala, pareceu febrilmente atacado pelo fetiche do rótulo.

Será que não seria, nessa altura tão "pós-moderna" do campeonato se preocupar menos com esse ou aquele rótulo internacional e simplesmente priduzir literatura de qualidade? Será que o Saramago tivesse se preocupado enormemente em fazer "ficção científica" ele teria ganho o nobel e sido adaptado pelo Meireles (e olha que essas duas coisas são as mais "fichinhas" e superficiais, heim!)? O que será que se ganha com esse esforço de rotulação?

Liquefaçam, por favor
Os pontos altos da palestra foram uma ou outra reinvenção da roda (pode-se falar em FC no Basil sem isso? eu acho que sim, né, mas vamos ver...) e a batalha fanfic X startreck. Alfinetadas ressentidas para tudo quanto é lado. Bom... é assim, né? Fazer o quê? Saí de lá meio lamentoso, é verdade: até quando a patota vai resistir tão sólida como está?

EM OFF
Fabulário

Em off, realizamos duas reuniões do Fabulário: uma antes do evento, sobre o fanzine, e outros projetos, e outra depois do evento (não resistimos a sentar em um restaurante e conversar um pouco com as pessoas que conhecemos e as que não víamos com frequência). Essa segunda girou em torno de literatura, cinema e rpg de terror, do escritor Chuck Palaniuk, de um conto do Carlos Orsi (do qual temos falado bastante) e de impressões dispersas sobre o Invisibilidades.
Fabulário mais amigos

O evento contou com apresentação elegante (ponto para o Fábio que se mostrou um gentleman e, lógico, para o itaú cultural, um dos meus espaços preferidos de arte e cultura na cidade) e cenografia, além de microfones de lapela (que fazem uma grande diferença), ou seja, infraestrutura de primeira. Claro: não foi na sala vermelha nem teve comes e bebes. O espaço utilizado é a "garagem" (brincadeira gente) do itaú cultural, geralmente destinado a teatro e shows onde já vimos Jaraguá Mulungu, Vestido de Noiva pelo Satyros, entre outros.

Vale, e muito, falar de um fanzine que a gente recebeu antes do evento, feito por um pessoal de Santa Maria - RS. Overclock. Fanzine de cultura cyberpunk (música, cybercultura, cinema, hq - embora não tenha nenhuma - ficção científica). O material é muito bonito, com belas imagens e muito bem diagramado. Nesse pequeno tempo ainda não deu para ler muita coisa, mas o material é bom, garantimos: traduções do fanzine de Bruce Sterling (dos anos 80) texto de Bráulio Tavares e outras coisas finas. Lembrando: a diagramação é jeitosa e bonita, muito diferente da grande maioria de fanzines impressos ou virtuais.

Em geral, como sempre, cada um tem suas opiniões, bem divergentes, sobre o evento. Essa postagem é uma forma de expor a minha visão sobre ele e não reflete a opinião do grupo.

Seguirei com meus relatos, mais ou menos demorados, aos longo dos dias, como fiz com o Fantasticon. Espero que apreciem.


LUIZ PIRES,
é webdesigner e estudante
de Artes Plásticas no Unicentro
Belas Artes

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Fantasticon 2008 - Parte 3 (Final)

Encerrando meus relatos do Fantasticon, as duas palestras mais loucas e intensas que fecharam aquele domingo, dia 6 de julho de 2008:


Mesa 5 - "Vida louca, vida intensa – uma viagem pela ficção científica de William S. Burroughs"

É quase uma infelicidade que Bráulio Tavares, nesses dois anos de Fantasticon, tenha vindo sempre a se apresentar como embaixador do Mainstream no Fandom e vice-versa. Se você não está familiarizado com os termos Mainstream e Fandom, não perca seu tempo procurando... não vale a pena. Ao invés disso, leia um pouco mais sobre Bráulio Tavares, esse multi-homem da cultura nacional que é escritor, roteirista, compositor e muito mais coisas.

O próprio Bráulio Tavares por vezes demonstrou não se preocupar com essa separação. Mas uma vez em Roma, ele deve ter pensado, fale como os Romanos.
Nessa visão de mediador, Bráulio trouxe para o Fantasticon um autor pouco comentado entre os leitores, admiradores e produtores de ficção-científica e geralmente enxergado junto a geração beat: William S. Burroughs. A palestra se concentrou em trazer ao conhecimento alguns fatos biográficos, curiosidades da construção de sua obra e em relacioná-lo a outros autores da FC mais conhecidos. Foram eles Philip José Farmer, Samuel Delany e Philip K.Dick.

Devo admitir, com penosidade, que pouco ficou para mim sobre a literatura de Burroughs (em grande parte por não estar muito acostumado com os autores comparados). Retive mais sobre a literatura de Philip K. Dick (em parte devido a um grande interesse por esse autor) e no contexto em que Delany estava inserido. Claro, numa coisa o título da palestra estava seguro arespeito de Burroughs: Vida louca, vida intensa – e todos saíram sem dúvidas quanto a isso.

A exposição de Tavares foi uma das mais ricas do Fantasticon, sem dúvida alguma (senão a mais rica). E não é à toa: Bráulio Tavares é “o cara”. Para conhecer mais sobre ele, eu indico a sua coluna no Cronópios e o blog onde ele publica antigos textos seus publicados no Jornal da Paraíba, o Mundo Fantasmo.


Mesa 6 - Um olhar sobre a Literatura Fantástica atual

Com a dupla Fábio Fernandes e Jacques Barcia e também a participação especial de Guilherme Kujawski (do itaulab), e Sérgio Kulpas (do webinsider). Foi uma mesa “estranha com gente esquisita”, no melhor sentido!

Fábio Fernandes não tentou conter a empolgação e falou pelos cotovelos, citando dezenas de nomes, livros, gêneros! A isso, coube a Jacques Barcia tentar organizar um pouco a bagunça dos “estilos” que estavam em questão. Guilherme Kujawski e Sérgio Kulpas engrandeceram a mesa com algumas impressões pessoais bastante ricas. Talvez você já tenha percebido nesses dois parágrafos: a mesa foi uma loucura!

Para nossa sorte, o Fernando Trevisan preparou um relato minucioso onde dissecou grande parte das referências, autores e títulos citados na mesa. Você pode ler esse relato aqui.

A animação da mesa foi contagiante. O Fábio, especialmente ele, pautou seu discurso num ideal de expansão e globalização da leitura e escrita de ficção científica e fantasia. Nesse sentido ele encabeça, ao lado de Barcia, dois projetos com esse intuito: a revista digital Kalíopes; e o site Terra Incógnita (que ainda está no forno).

Mas ficou um gosto estranho no final. Uma sensação de confiança excessiva nos meios digitais, na internet. Uma impressão até mesmo de subordinação às discussões e conquistas travadas e obtidas no exterior. Vamos torcer para que seja só uma impressão.

No final, o Fantasticon teve saldo positivo. Positivíssimo! Saímos com mais questões e “coceiras” do que entramos! Ano que vem tem mais! E tudo conspira para que seja melhor.

LUIZ PIRES,
é webdesigner e estudante
de Artes Plásticas no
Unicentro Belas Artes

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Fantasticon 2008 - Parte 2

Em dada altura do Fantasticon, tive que me retirar para dar uma força aos amigos da Confraria das Idéias, ong da qual participo e que estava com diversas atividades do 16° EIRPG. Com isso perdi a palestra sobre cinema, que queria muito ver, com a Vivi Amaral da Mostra Curta Fantástico.

Moya e Gonçalo
Mesa 3 - Os Monstros na Literatura Fantástica

(Ok, eu não estive realmente nessa mesa. A Carolina fez algumas gravações em vídeo para mim e eu assiti aqui em casa depois).
Basicamente, a mesa foi uma apresentação do livro “Enciclopédia dos Monstros” de Gonçalo Júnior. Pelo discurso e pelos causos relacionados ficou claro que houve grande esmero no trabalho – e decisões acertadas sobre o que tinha que ficar de fora. O livro é muito bem diagramado, muito bem diagramado mesmo!, com um estilo que cai, pelo bem ou pelo mal, numa cara meio “super-interessante”, meio infográfico (essa parte fica a cargo de Osmane Garcia Filho, ao qual Gonçalo não poupou os louros).

Tudo indica que é um ótimo livro para colecionadores e um livro referência para pesquisadores e produtores: seja de literatura, quadrinhos, ilustração, cinema ou qualquer outra mídia. Ricamente ilustrado e com uma profusão de referências.

A mesa também contou com um convidado ilustre, Álvaro de Moya, decano do quadrinho brasileiro e personalidade internacional. Nós que nem o conhecíamos ficamos boquiabertos...

Tavares, Linaress, Ginway e Calife
Mesa 4 - Visão Alienígena: Outros Olhares da Literatura Fantástica Brasileira

Na realidade, podemos colocar essa mesa no hall das mesas com nomes pretenciosos que não chegaram lá (me refiro aqui ao nome "visões alienígenas"). Ainda assim, foi uma conversa bastante interessante e um encontro muito agradável e proveitoso.

Foi a primeira mesa que vimos no domingo. Infelizmente não contou com a presença do jornalista e escritor (e asmigo nosso) Sérgio Pereira Couto, que poderia colaborar um pouco para essa dita “visão alienígena”. Ficaram na mesa Alexandre Linares, editor que teve relação especial com quadrinhos de ficção científica, mas que é admirador de longa data dos gêneros fantásticos; e Elizabeth Ginway, professora universitária norte-americana de literatura brasileira.

Ginway vem desenvolvendo, já há algum tempo, uma pesquisa sobre a ficção-científica no Brasil, o que a aproximou dos autores que escrevem atualmente no Brasil. Essa aproximação ajudou a deixar sua pesquisa pouquíssimo “alienígena” e muito territorializada, sim senhor. Linares agiu quase que como um mediador, apresentando o trabalho de Ginway, mas fez colocações muito diversas e pertinentes.

Na minha opinião, e vejam que é apenas minha opinião, Ginway foi o lado racional, acadêmico, teórico da mesa e Linares seu lado mais sensível, “antenado”, com colacações mais instigantes e menos “enciclopédicas”. A parte disso, a pesquisa de Ginway bota ordem em anos de ficção científica no Brasil – e ressalta características muito relevantes para a compreensão e apreciação do gênero.

Na platéia, que era muito sucinta (e isso me fez pensar se as melhores mesas seriam também as mais vazias), ajudaram a engrandecer a discussão Bráulio Tavares e Jorge Luiz Calife. Uma dica: se vocês ainda não os conhecem, guardem esses nomes porque eles são figuraças.

Vimos ainda mais duas mesas. E há muito o que falar sobre elas! Em breve, na última parte de meu relato!


LUIZ PIRES,
é webdesigner e estudante
de Artes Plásticas no
Unicentro Belas Artes

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Fantasticon 2008 - Parte 1

Sílvio Alexandre
Sílvio Alexandre, organizador do Fantasticon que abriu todas as mesas
Antes de qualquer consideração sobre o Fantasticon, não vejo como não manifestar minha quase indignação com a escolha da organização das mesas. Elas foram colocadas justapostas, de modo que uma começa, geralmente, uma hora antes do final da anterior. Isso nos obrigou a fazer certas escolhas – algumas delas no escuro, algumas delas "fatais".

Como todo bom crítico deve dar sugestões de melhoria, meu pedido à Organização (aqui representada na figura do excepcional colega Sílvio Alexandre) é que, para os próximos anos, faça uma seleção mais apurada das mesas participantes, reduzinbdo seu número mas privilegiando a experiência do freqüentador e admirador de literatura fantástica – que poderá ver todas as mesas sucessivamente umas às outras.

Claro que uma redução do número de palestrantes contemplados nesse evento (que está apenas em sua 2° edição) poderia também provocar um movimento para o surgimento de um segundo evento para mesas e debates de literatura fantástica. E nós, admiradores e/ou produtores, só teríamos a ganhar.

Segue a isto um relato - não muito breve, é verdade - sobre minha jornada entre as mesas do Fantasticon... (desde a saída atravancada uma hora antes até a conformação e dura e definitiva seleção...)


1a Mesa – Universos Ficionais compartilhados (Transformando Limitações em Triunfos de Enredo)

Essa palestra foi bem legal, só fiquei triste mesmo por Octávio Aragão – criador da Intempol - estar na platéia e não na mesa. A mesa mesmo era composta por representantes (de peso) da equipe de desenvolvimento do Universo Ficcional Taikodom. Entre eles, Gerson Lodi-Ribeiro, um dos grandes escritores de ficção científica (e história alternativa) de sua geração.

Para os que ainda não sabem, Taikodom é um jogo online brasileiro e também uma série de romances e quadrinhos, formando um universo de ficção científica multimídia. Enfim, um universo ficional com vários escritores trabalhando em frentes diferentes.

Como objeto para a discussão, os expositores contaram sobre suas experiências no desenvolvimento do cenário e das ficções que dão suporte ao jogo – como enfrentaram também problemas técnicos do game que tiveram que ser justificados e incorporados na história do universo ficcional. O grosso do cenário foi desenvolvido principalmente pelo Gerson (e compilado no que eles chamam de “bíblias”), mas vários personagens, eventos e detalhes foram sendo acrescentados e desenvolvidos por outros colaboradores.

Abandonei essa mesa, justamente quando as coisas estavam ficando ainda mais interessantes, uma hora antes do final.


Mesa 2 – O Vampiro Antes de Drácula

Proposta bonita essa da Marta Argel e do Humberto Moura Neto, mas não posso dizer que foi uma palestra excepcional. Lembrei-me de um comentário que ouvi certa vez: “fandom mesmo só existe de ficção-científica, os outros...”.

Não querendo desmerecer aqui o trabalho muito bacana dessa dupla: eles conseguiram reunir um bom repertório de histórias e causos, traçando uma cronologia da figura do vampiro a partir do século XVIII de dar inveja em muita gente por aí; mas o público presente não colaborou. Fora as insistentes e cansativas piadas sobre “ser um vampiro” – trocadilhos presentes sempre nesse tipo de mesa e completamente dispensáveis e brochantes. Perdeu-se muito tempo com esse tipo de criancice e os amigos mal tiveram tempo de expôr tudo o que tinham trazido. Uma pena.

Quando público e produtores vão amadurecer, deixar o humor supérfulo de lado e manter conversas mais edificantes? Ponto para FC brasileira, que não alimenta esse tipo de bobeira.
A esperança está no livro deles sobre o tema (com uma boa compilação de contos) que deve ser lançado na Bienal – livre de comentários dispensáveis dos fãs e de piadinhas inoportunas.

Ah! É claro: Marta e Humberto partiram da idéia de que o vampiro - isso que chamamos de vampiro hoje - não é tão antigo como se pensa e que teria nascido na mesma noite que o Frankenstein (em 1818) como uma sátira a figura de Lord Byron. A partir daí, a figura do vampiro se espalhou facilmente pela literatura e pelo teatro, seja no horror/terror seja nas prolíferas sátiras e nas comédias.

Minhas aventuras pelo Fantasticon ainda não acabaram! E para a nossa sorte, as palestras seguintes foram ótimas! Posto mais detalhes dessa jornada em breve...

LUIZ PIRES,
é webdesigner e estudante
de Artes Plásticas no
Unicentro Belas Artes

terça-feira, 27 de maio de 2008

O amigo do meu amigo é meu inimigo (?)

Me surpreendi quando entrei, por estes dias, no blog do Fernando Trevisan. E foi uma boa surpresa. Ainda sobre resenhas negativas! e texto anterior Sobre resenhas negativas. Os textos falam sobre como os autores recebem críticas dirigidas a seu trabalho.

O assunto é recorrente desde o início nas reuniões do nosso grupo - antes de qualquer texto entrar para o fanzine, ou assim que ele termina de ser produzido, uma saraivada de críticas é disparada de todos os lados pelos outros membros do grupo, sem piedade. Nem tudo é aproveitado pelo autor (é claro, graças a deus). Me senti um pouco identificado com a postura expressa pelo Fernando. Um pouco.

A postagem dele sobre o assunto me lembrou um artigo do Marcelo Simão Branco que eu havia lido, há algum tempo. Ele fala sobre o que está convencionado chamar por aí de "fandom", mais especificamente, ao que parece pelo contexto do artigo, de um grupo específico inserido nesse cenário:

"(...) O problema é que esta comunidade, a título de se defender do mundo externo, digamos assim, meio que se enquadrou numa espécie de guetto, por vezes com atitudes pouco profissionais, nos quais a atividade da crítica, por exemplo, tem sido severamente desestimulada, quase como se fosse um ambiente de patota, dos amigos que escrevem e não podem ser francos uns com os outros para não ferir suscetibilidades. Outro problema, decorrente em parte deste é a falta de pressão para se escrever melhor, porque não existe um cenário profissional que estimule a competição entre os autores por textos e histórias de melhor qualidade. Ou seja, é uma comunidade que passou a gradativamente desestimular um desenvolvimento artístico mais maduro e profissional."

- Marcelo Simão Branco, no artigo Por que a Ficção Científica Brasileira é invisível e marginalizada?

Não tem desculpa. Sem crítica não há desenvolvimento do trabalho - de qualquer trabalho. O sujeito que não quer ouvir crítica, que só quer regozijo, não quer mudar o que escreve, talvez não esteja nem muito interessado no que escreve afinal.

E com a não-crítica institucionalizada fica difícil colaborar para um cenário com melhor qualidade (seja de produção, seja de compreensão e discussão acerca dos temas e objetos literários). Uma profusão de textos resenhísticos, muitas vezes releases de textos de orelha que não fazem mais do que uma propaganda de comercial nivelam por baixo o circuito da literatura fantástica e congêneros. Para quem produz resenhas ou textos reflexivos sobre a produção desses grupos é um alívio ver-se em um contexto no qual os autores não o odiarão por ser sincero.

E o sistema, se continuar institucionalizado assim, não poupará ninguém. Se ele perdurar, restará ignorar o que não consideramos e super-valorizar (para equilibrar a balança) aquilo que nos é de apreço.

Por aí parece que é diferente, mas para mim é frustrante. Quanto as pessoas dizem "é, está bem escrito" ou o maldito "gostei, legal" e variantes, não adianta nada, isso é ponto comum. Certa vez ouvi um escritor dizer que ficou emocionado, realizado, quando viu o primeiro perfil fake de Orkut com o nome de um personagem do livro dele. Não sei o que passa pela cabeça desse escritor, mas eu não consigo ver nada de bom nisso.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Iron Sky (ou "o que há no lado escuro da lua")

Iron Sky

Está aí um filme bacana! A dica veio do Blog do Sílvio Alexandre e do Ednei Procópio, o Universo Fantástico.

Na melhor tradição de filmes lunares e de ficção científica (no trailler que é trailler a gente já vê o Meliés e o Lang num minuto só, fora os clássicos óbvios que eu ainda não aprendi a nominar) os nazistas fogem para o lado escuro da lua em 1945 a bordo de discos voadores, constituem um império por lá e retornarão em 2018!!!

Sem xurumelas, pare de ler essa postagem e vá ver o trailer no (ótimo) site da produção:
www.ironsky.net/site/

E se você quiser ler algo em sua língua nativa, conheça já de cara um Blog bacana sobre o gênero (que ainda não foi para nosso hall de links na lateral do site):
Postagem no Universo Fantástico

E, já que estamos aqui documentando, fique com duas fotos como as que podem ser vistas no site (e que estão disponíveis no Flickr da produtora finlandesa)






LUIZ PIRES,
é webdesigner e estudante
de Artes Plásticas no
Unicentro Belas Artes