Mostrando postagens com marcador artigo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador artigo. Mostrar todas as postagens

sábado, 16 de agosto de 2008

Santo Polemista, Batman!

Batman tomando uma surra do Coringa

Não venho em defesa do Batman. Mesmo porque o Batman sabe se cuidar sozinho. Venho, na verdade, fazer a fama e a cama de um tipo de profissional bastante comum: o polemista gratuito.

Não sei quem cunhou o termo, que me parece ser do tipo de expressão que se faz sozinha, sem necessitar de autoria. Mas conheci a definição no blog Paralelos, postagem de André Luiz Mansur. Ao se referir ao escritor Fernando Vallejo, Mansur destrincha a verdadeira identidade do polemista, o homem que após "soltar suas bravatas" volta para si as atenções e ganha as bocas nas bancas de jornais e mesas de botecos, além de garantir os seus trocados no fim do mês.

Parece óbvio, tão óbvio quanto esquivar-se de defender o Batman, que o polemista gratuito adora que falem dele, sempre depois de sua declaração estrondosa. E eu estou aqui para fazer esse papel. Não, Vallejo, essa não é sua vez. Essa é a vez do Coutinho.

Não dá pra afirmar que João Pereira Coutinho - colunista da Folha de São Paulo, caderno Ilustrada, às terças – é, de fato,um polemista gratuito. Acredito que a honra da nomeação só deve ser dada após a comprovação da alta frequência de falas polemistas proferidas pelo tal. E não é o caso de Coutinho. Me deparei, na verdade, com uma coluna oportunista naquela terça-feira, que foi passada de mão em mão até chegar a minha (o que prova que a polêmica gratuita causa furores até nos mais descompromissados indivíduos, fazendo questão de compartilhar com outrem tão abissal colocação).

A coluna intitulada “Adultos em Pijamas” fala sobre o quão o novo filme do Batman (Batman- The Dark Knight) era, simplesmente, ridículo. Baforada no charuto, olhar ao teto, Coutinho profere em papel jornal, letras garrafais: “Se fantasia já é difícil de engolir como fantasia, imaginem apresenta-la como 'documental'”. Um bom polemista espera a hora certa de falar. Coutinho caprichou: a coluna data de 29/07/08, pouco mais de uma semana após o tão aguardado lançamento mundial do filme norte-americano. Na mesma semana em que milhares e milhares e milhares de humanos comentam de cá pra lá, atravessando fronteiras, cruzando países via satélite, publicando em meios impressos e virtuais mensagens determinadas:

a) O quão legal é o novo filme do Batman

b) O quão tecnicamente bem executado é o novo filme do Batman

c) O quão inteligentes são os diálogos e morais afirmadas no novo filme do Batman

Num momento de euforia fulminante (se me permitem o recurso retórico), Coutinho escreve com arrogância, condenando não só o filme, como toda a linhagem de super-heróis.

Não defendo. Ninguém tem vontade de responder seriamente a Allejo sobre Ingrid Betancourt ou sobre qualquer outra bobagem que ele venha a proferir de boca cheia. Não é válido. A polêmica gratuita parece partir de uma premissa quase coringueana. Sua única lógica é a do escândalo.

Descambar mestres como Vallejo e Diogo Mainardi é difícil, sabemos. Mas, vejamos: talvez sobre um canto ao sol para Coutinho.

CARA CAROLINA ,
é webdesigner e estudante
de Artes Plásticas pelo
Unicentro Belas Artes

terça-feira, 8 de julho de 2008

FLIP 2008 – Densidade à prova



Não que eu esteja duvidando, longe disso. A FLIP é, sem dúvida, um evento dos densos! São muitas mesas, muitos eventos paralelos, muitos preços altos, muito óleo dentro do lendário pastel de 30cm, muita gente circulando pelas desencontradas ruas do centro histórico de Paraty. Nós, munidos dos exemplares do Fabulário #01 e da edição especial do Fabulário em inglês, fomos representar a pequena parcela do que se pode chamar de “off do off” da FLIP. As edições em português esgotaram-se ao final de nossa jornada graças aos visitantes muito receptivos daquele lado do rio (o lado da tenda do telão). Mas quanto ao outro lado....

O jornalista Sérgio Rodrigues, que cobriu o evento em seu blog Todo Prosa, cita a possibilidade do público presente no evento ter diminuído. Dar continuidade a esse tema parece tarefa fácil: altos preços praticados por pousadas e restaurantes devido a aura “chic” do evento. Isso mesmo, “chic”. Parece que a grande graça da FLIP é dar de cara com uma personalidade literária passeando pelas ruas (e, se você for amigo da personalidade em questão, não deixar de comentar isso no seu blog depois!). Ou então figurar na fila para a entrada na tenda dos autores na frente ou atrás de outras personalidades. E, é claro, se você é a própria personalidade, deve obviamente estar escusa deste debate que poderia seguir por enfadonhos parágrafos à frente, mas não vai. Como última prova de fogo, as primeiras moças que abordei para apresentar o Fabulário, ao me ouvirem falar, logo disseram: “Tá vendo como tem gente interessante aqui? Estávamos comentando agora pouco que isso tudo esta parecendo Ipanema, Leblon, Copacabana...”.

Bem, nós fomos a FLIP. Chegamos na segunda-feira e pudemos observar os últimos detalhes da montagem das Tendas, apreciar as ruas quase vazias, visitar Trindade e passear de barquinho. Encontramos ainda na rodoviária duas personalidades, Matheus e Fernanda. O casal, quem diria, não foi para a FLIP, mas nos acompanhou nos passeios turísticos e numa noite num dos bares indicados pelo Delfin na terça-feira (“O pessoal que vem costuma ficar num daqueles bares ali” ele indica. “Qual? O Bar do Che?” pergunto. “Nãaaaaaaao, aqueles ali!” responde indignado apontando dois bares de esquina mais a frente cheios de mesas na rua). Ficamos até a sexta-feira. Não, não ficamos para a mesa do Gaiman. Mas conhecemos duas garotas com interesses em comum que, além de terem escrito uma cartinha pro Gaiman num cybercafé, se dispuseram a entregar Fabulário Special Edition para ele. Terão elas sobrevivido às horas de fila?

Quanto às mesas (e, enfim, a densidade), assistimos a todas sentados do lado de fora do telão. Notamos que os grandes “cabeças” da FLIP ficaram reservados ao fim de semana: Stoppard, Nooteboom, Gaiman, Price. Mas tivemos Schwarz debulhando Dom Casmurro com suas inseparáveis sulfites A4 sendo lidas vorazmente. Ao final, quase não deu a parecer que ele, de fato, havia reinventado a forma de ler e ver Machado.

Na quinta-feira, Roudinesco patinou para responder uma pergunta a respeito da escolha do terrorismo islâmico como exemplo de perversidade contemporânea e não qualquer forma de terrorismo, mas acabou se explicando enfim; Carlos Lyra quase apagou Lorenzo Mammi com tanto carisma e a honestidade daqueles senhores que se deram o direito de falar o que bem entendem; Xico Sá não economizou palavrões (isso sim é “personalidade”), mas Werneck acabou balanceando a mesa que parece ter sido uma das mais apreciadas pelos blogs afora, devido à quebra do padrão flipeano; e, por fim, Zoê Heller, umas das presenças que eu esperava e acabou deixando por desejar, mostra toda a sua elegância inglesa esbanjando arrogância (por sorte havia Inês Pedrosa).

Por uma mudança na programação inicial, pudemos ver as mesas “Formas Breves” e “Ficções”. Na primeira, Rodrigo Naves, que já conhecia no meio das artes plásticas, fala de suas pequenas ficções junto a Modesto Carone e Ingo Schulze. Quanto ao alemão, este já deve ter se cansado de responder perguntas sobre a Alemanha dividida tanto quanto eu cansei de ouví-las. Na segunda, Lucrecia Martel me fez feliz ao dizer que a grande referência de seu cinema é sua propria vivência e Noll foi o escritor de fala mais densa que presenciei. Embora nunca o tenha lido, suas histórias me pareceram igualmente densas.

Como pode ser observado pela densidade de palavras deste post, a FLIP é mesmo um evento denso. A minha única grande dúvida é quanto a densidade do interesse de seus visitantes.

CARA CAROLINA ,
é webdesigner e estudante
de Artes Plásticas pelo
Unicentro Belas Artes

terça-feira, 27 de maio de 2008

O amigo do meu amigo é meu inimigo (?)

Me surpreendi quando entrei, por estes dias, no blog do Fernando Trevisan. E foi uma boa surpresa. Ainda sobre resenhas negativas! e texto anterior Sobre resenhas negativas. Os textos falam sobre como os autores recebem críticas dirigidas a seu trabalho.

O assunto é recorrente desde o início nas reuniões do nosso grupo - antes de qualquer texto entrar para o fanzine, ou assim que ele termina de ser produzido, uma saraivada de críticas é disparada de todos os lados pelos outros membros do grupo, sem piedade. Nem tudo é aproveitado pelo autor (é claro, graças a deus). Me senti um pouco identificado com a postura expressa pelo Fernando. Um pouco.

A postagem dele sobre o assunto me lembrou um artigo do Marcelo Simão Branco que eu havia lido, há algum tempo. Ele fala sobre o que está convencionado chamar por aí de "fandom", mais especificamente, ao que parece pelo contexto do artigo, de um grupo específico inserido nesse cenário:

"(...) O problema é que esta comunidade, a título de se defender do mundo externo, digamos assim, meio que se enquadrou numa espécie de guetto, por vezes com atitudes pouco profissionais, nos quais a atividade da crítica, por exemplo, tem sido severamente desestimulada, quase como se fosse um ambiente de patota, dos amigos que escrevem e não podem ser francos uns com os outros para não ferir suscetibilidades. Outro problema, decorrente em parte deste é a falta de pressão para se escrever melhor, porque não existe um cenário profissional que estimule a competição entre os autores por textos e histórias de melhor qualidade. Ou seja, é uma comunidade que passou a gradativamente desestimular um desenvolvimento artístico mais maduro e profissional."

- Marcelo Simão Branco, no artigo Por que a Ficção Científica Brasileira é invisível e marginalizada?

Não tem desculpa. Sem crítica não há desenvolvimento do trabalho - de qualquer trabalho. O sujeito que não quer ouvir crítica, que só quer regozijo, não quer mudar o que escreve, talvez não esteja nem muito interessado no que escreve afinal.

E com a não-crítica institucionalizada fica difícil colaborar para um cenário com melhor qualidade (seja de produção, seja de compreensão e discussão acerca dos temas e objetos literários). Uma profusão de textos resenhísticos, muitas vezes releases de textos de orelha que não fazem mais do que uma propaganda de comercial nivelam por baixo o circuito da literatura fantástica e congêneros. Para quem produz resenhas ou textos reflexivos sobre a produção desses grupos é um alívio ver-se em um contexto no qual os autores não o odiarão por ser sincero.

E o sistema, se continuar institucionalizado assim, não poupará ninguém. Se ele perdurar, restará ignorar o que não consideramos e super-valorizar (para equilibrar a balança) aquilo que nos é de apreço.

Por aí parece que é diferente, mas para mim é frustrante. Quanto as pessoas dizem "é, está bem escrito" ou o maldito "gostei, legal" e variantes, não adianta nada, isso é ponto comum. Certa vez ouvi um escritor dizer que ficou emocionado, realizado, quando viu o primeiro perfil fake de Orkut com o nome de um personagem do livro dele. Não sei o que passa pela cabeça desse escritor, mas eu não consigo ver nada de bom nisso.

quarta-feira, 19 de março de 2008

O Pacto e sua Conseqüência Social

Esta postagem foi revisada no dia 19 e abril de 2008, após a contribuição do leitor Fernando Trevisan - http://fernandotrevisan.com.br/

É difícil ou mesmo impossível que todas as histórias sobre pactos com demônios tenham absolutamente as mesmas características, do contrário seriam cópias umas das outras. Do mesmo modo, são tantas as variações colocadas nesse mito que enumerar e comentar cada uma delas seria bem difícil. Contudo, embora certas características não façam parte de cada uma das versões já inventadas para o mito, elas comparecem em um número razoável para serem levadas em consideração.


Um pequeno e significante grupo de histórias mostra isso de forma interessante: Fausto de Goethe, A Maravilhosa História de Peter Schlemihl de Chamisso e Crime e Castigo de Dostoiévski. Não pretendo pensar nas possíveis influências que uma obra poderia ter tido sobre a outra, o que seria bem difícil nesse espaço, mas só olhar algumas coisas que podemos perceber quando lemos.


Nas três histórias, uma personagem tem contato com uma situação de caráter profano e, a partir dessa ação, vê seu destino alterado completamente. Esse conflito interno seria suficiente para dar base aos enredos, contudo, não é isso o que acontece. A ação das personagens não somente gera uma convulsão dentro delas mesmas, mas joga-as para outros lados que ultrapassam o espaço individual.


Image:Walpurgisnacht.jpg
Kupferstich von W. Jury, depois de Johann Heinrich Ramberg - Walpurgisnachtszene aus Faust 1 (1829)
Fausto entre bruxas, demônios e outros seres marginais na cena "Noite de Valpúrgis"

Em Fausto, logo que cerra o acordo com Mefisto, a personagem sai da realidade comum da cidade em que vivia (com jovens, moças, velhas e camponeses) e vai para outra, onde reinam todo o tipo de figuras marginais e subversivas: bruxas, demônios, fantasmas etc. O auge dessa relação é a famosa cena da "Noite de Valpúrgis" quando Fausto participa do que seria o maior festival de bruxas. Também, pela relação com demônio é levado (mesmo que involuntariamente) a causar a perdição da jovem Margarida (a quem desvirgina) e ao assassinato da mãe e do irmão desta. Posteriormente, na segunda parte da tragédia, saindo desse choque com a “pequena” sociedade, Mefisto carrega Fausto também para o lugar da alta política (a corte do Imperador) onde, por sua ação, milhares de convulsões acontecem: fome, guerras civis etc.


Já em A Maravilhosa História de Peter Schlemihl a personagem que dá nome ao livro dá sua sombra a um misterioso sujeito vestido de cinza em troca de uma bolsa que tem infinitas moedas de ouro. Aqui, diferentemente de Fausto, a personagem não chega a cometer crimes ou partilhar a companhia de criaturas demoníacas, mas estranhamente sua própria condição o afasta do meio do qual gostaria de participar. O fato de ser um homem sem sombra causa horror e desprezo nas outras pessoas e a personagem é “condenada” a jamais ter o contato social novamente. O que a sombra representa realmente ainda é muito debatido, apesar disso, uma coisa parece provável: a personagem perde o que tudo na sociedade e natureza possui - a sombra - e dessa forma é apartado e levado à solidão plena.


Finalmente, na mais diferente das três obras, Crime e Castigo, o miserável estudante Raskolnikóv resolve cometer um ato e, através dele, tornar-se um homem extraordinário, igualável a Napoleão. Ele resolve assassinar uma ávara usurária e, através desse ato, passar por cima da moralidade daqueles que considera “pusilânimes” e “ordinários”, pactuando com uma ética superior. No entanto, durante o ato, Raskolnikóv acaba por matar também a inocente irmã da usurária, que testemunha o crime, e, desde o duplo assassinato, passa a ser consumido pela culpa e pelo medo de ser descoberto. Ele coloca-se então numa situação de choque com a ordem, representada pelo policial Porfíri. Participa também da realidade de toda sorte indivíduos marginalizados, não demônios como em Fausto, mas prostitutas, bêbados e miseráveis.


São três enredos com motivos e objetivos diferentes, é evidente, como exemplo, poderíamos observar que Fausto jamais atinge tamanho grau de culpa e auto-crítica como Schlemihl e Raskolnikóv. Contudo, uma coisa fica bastante clara: em algumas histórias (algumas das mais importantes do “gênero”) o pacto – com uma entidade, idéia ou ato profanos – não parece apenas gerar problema para a consciência e salvação individual daquele que o realiza, mas também tem o caráter de uma energia poderosa o suficiente para arrastá-lo com força contra as estruturas da sociedade, levá-lo aos limites da ordem da qual ele participa ou mesmo lança-lo acima desta, colocando em suas mãos o caminho de toda a humanidade.


TADEU COSTA ANDRADE,
é estudante do curso de
Letras na FFLCH - USP

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Um zumbi comeu meu post



Começam dia 14 de fevereiro as filmagens de Porto dos Mortos, o primeiro longa-metragem de horror gaúcho”, em Porta Alegre (RS). Mas tudo indica que as ambições do diretor Davi de Oliveira Pinheiro vão além de seguir a linha do Zé do Caixão. Davi pretende “criar uma visão particular do gênero, nunca vista em qualquer parte do mundo”. Bom,está lançado o desafio.

Davi diz que a idealização do projeto vem desde 2005 e segue até hoje num processo contínuo de aperfeiçoamento, com o objetivo de criar uma “identidade única e pessoal”. Parece bom, dado que as referências do diretor não negam um certo bom gosto: Sergio Leone, do “faroeste de arte” Era uma vez no Oeste; François Truffaud, de O último metrô e, como não podia faltar, George A. Romero, o cara que entende de filmes de zumbi.

A premissa é a seguinte: o policial Lockheart (curiosamente, o mesmo nome de produtora do filme) persegue Adam, um assassino serial à solta em um Brasil devastado, povoado por mortos vivos. A grana disponível não deve ser muita, (portanto não imagine um road movie cheio de explosões e seres animalescos correndo na velocidade da luz), mas pelo trailer já dá pra notar uma preocupação técnica maior. A equipe conta também com André Kapel, que já trabalhou com efeitos especiais em filmes de Mojica Marins e outros famosos como Cheiro do Ralo e Amarelo Manga (alguém me corrija se eu estiver falando bobagem!). Agora é aguardar: o filme está programado para sair em novembro.

PARA ÁVIDOS E AUDAZES NAVEGANTES
(incluindo os nerds-fissurados-por-sangue)

Se você quer ser um figurante-zumbie (ou um zumbi-figurante, a escolha é do freguês), mande um e-mail para: queroserzumbi@v2cinema.com. Lembrando que as filmagens serão em Porto Alegre....

Se você quer uma resenha mais engraçadinha que a minha, vá no judão.com. (praticamente a versão indie do Omelete e altamente recomendável).

Se você quer saber who-the-hell-is nosso amigo Davi de Oliveira Pinheiro, sei lá, ligue para a produtora (interurbano, para os conterrâneos) ou assista este curta simpático que eu achei.

PARA MAIS ÁVIDOS E AUDAZES NAVEGANTES

Filmes de zumbis com tomates pré-selecionados dos campos peruanos.

White Zombie (1932): diz a lenda que foi o primeiro filme de zumbi da história da humanidade. Segundo nosso colaborador L. R. Fernades, é aquele clássico filme de zumbis-sonâmbulos com os braços estendidos soltando grunidos initeligíveis e, suposição minha, dizendo “miooooolos”. No elenco, ninguém mais, ninguém menos que Bela Lugosi.

A Noite dos Mortos Vivos (1968): clássico absoluto de Romero, influenciando significativamente toda uma safra de filmes posteriores. Além de sangue (com e sem molho de tomate), violência, multilação e seres putrefados, há uma crítica social focada nos movimentos sociais das minorias. E o mais impressionante: o filme foi rodado com meros U$ 13 mil em preto e branco.

O Despertar dos Mortos (1978): dez anos depois de A Noite dos Mortos Vivos, sai o segundo filme da trilogia de Romero. Muito sangue, víceras, miolos e mortos vivos passeando no shopping center, além da trilha sonora em parceria com o italiano Dário Argento ( que também fez a montagem da versão européia do filme).

Filmes de zumbi com tomates, pesticidas e agrotoxicos.

Extermínio (2002): filme dirigido por Danny Boyle (Transpoiting) e protagonizado por Cillian Murphy (Café da manhã em Plutão). Início surpreendente (silêncio + Cillian Murphy perdido da silva + Londres completamente vazia) e final sem medo de ser feliz. Resultado: uma soma feliz de um bom cineasta e o esquema hollywood.

The Evil Dead (1982): é ou não é um filme de zumbi este filme de Sam Raimi (Homem Aranha)? Um clássico filme B de horror que teve duas sequências não tão bem sucedidas.

Na Dimensão dos Mortos (1989): de um tal David Acomba é, segundo o mesmo colaborador citado acima, um filme com os mortos vivos mais insistentes que ele já viu. E parece engraçado.

Filmes de horros com tomates à brasileira (ou à sulista)

Mangue Negro: filme de zumbi de Rodrigo Aragão com um argumento, no mínimo, incomum: um manguezal contaminado transforma os pescadores em zumbis. Será exibido no Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre no dia 01 de agosto. Veja o trailer no You Tube.

O Carneador: curta metragem independente ( sinônimo de “sem dinheiro”) de Marcio Cannibal Strzalkowski (sinônimo de “pseudônimo duvidoso”). Melhor mesmo é pular meu falatório e seguir pro YouTube.

Paisagens, Pesadelos e Paranóias: outro curta metragem independente de André Bozzetto Junior, indicado como uma homenagem aos filmes de suspense italianos, também conhecidos como “giallos” (italianas nuas, assassinos de luvas negras e uma boa garrafa de whisky J&B). Veja o curta no You Tube: parte 1 e parte 2.

Junho Sangrento: já citado no meu post sobre Ilha Comprida, o filme de Joel Caetano nunca mais saiu de nossas memórias depois do “retardadinho”, tornando-se praticamente uma marca do Fabulário. Agora no My Space.

Tomates Mortos

Era dos Mortos: soma interessante do filme de zumbis de Rodrigo Brandão com quadrinhos complementares de Micael Holderbaum, tudo muito mineiro e com boa dosagem de Pomarola. No site dos caras você pode baixar o filme e os quadrinhos, e comprar o DVD contendo o making of e fotos.

Capital dos Mortos: filme de zumbi “meio fundo de quintal” (e o que não é nessa vida?) com efeitos especiais tocantes. E não é de Porto Alegre, e sim de Brasília. Veja o trailer no You Tube.

Colaboraram: L.R. Fernades, com diversas dicas e apontamentos e o Luiz (agora com "z"), subindo e descendo imagens.

Sites consultados com maior frequência: Infernotícias e Boca do Inferno.

CARA CAROLINA ,
é webdesigner e estudante
de Artes Plásticas pelo
Unicentro Belas Artes

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

O dualismo humano nos pactos de ordem profana


Seguindo o post do Tadeu, pretendo dar sequência a observações acerca dos filmes (e referências em geral) que temos usado na nossa pesquisa sobre do tema "relações faústicas". O texto a seguir é uma reflexão sobre o dualismo humano nos pactos de ordem profana.

É notável no cinema de Murnau um interesse pelos dilemas humanos de ordem moral. Em Tabu, há o amor puro em oposição ao código repressor ilusório. Em Aurora, opõe o natureza e civilização quando o casamento da protagonista, que vive no campo com seu marido, é ameaçado por uma mulher urbana, que desperta no homem desejo pela agitação da cidade. Em Fausto, é o amor verdadeiro que o salva da perdição eterna. Logo, é notável também o "amor" como vórtice no trabalho do cineasta. As tramas construídas por Murnau se movimentam em espiral, seus personagens são pressionados por situações de dualismo, até por fim serem libertos pelo "amor". Mas isso não necessariamente significa que o final seja feliz.

Em Hellraiser, podemos encontrar também alguns dualismos. A protagonista Julia, que de certa forma também pactua com seu antigo amante, não deseja matar o marido, embora seja apaixonada por Larry. Poderiamos aí opor dois sentimentos de maneira bastante atual: o amor da união eterna x a paixão arrebatadora. Já houve uma chance para Júlia optar pelos dois, e ela escolheu casar-se com um homem que lhe daria uma vida "direita". No momento em que Frank retorna, não seria o momento de reverter esta escolha?

Já Frank, que pactua com os cenobitas, parece ser um homem mais decidido, o mal carater que não titubeia diante das situações. Frank, precisamente na situação em que se encontra logo no início do filme, recriando seu corpo, está mais próximo da "fera", embora ainda possua ligação com a humanidade devido ao uso da razão. Citando Louis Vax, "a fera é o aspecto de nós próprios que recusa a prudência, a justiça e a caridade, tudo virtudes que fazem dos homens seres racionais agrupados numa comunidade". Talvez por possuir este aspecto menos humano, Frank não apresente indecisões ao longo da trama. Como exemplo, em nenhum momento Frank se arrepende de ter compactuado com os cenobitas, embora tenha se transformado em um resto putrefado de homem esquecido durante anos num sotão.

Segue, por fim, a proposição de observarmos se em outros casos, cinematográficos ou literários, o pactuante encontra-se a frente de um dilema ou embarca sem pensar duas vezes na proposta duvidável.

CARA CAROLINA ,
é webdesigner e estudante
de Artes Plásticas pelo
Unicentro Belas Artes

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Mefistófeles, Cenobitas e Concepção de Mundo

http://images.greencine.com/images/article/expressionism8.jpg
Mefisto, o demônio de Fausto, lançando a peste sobre a cidade.

Começando nossas pesquisas sobre as “relações fáusticas”, no último domingo escolhemos assistir dois filmes: o Fausto (1926) de Murnau e Hellraiser (1987) de Clive Barker. Em ambos os filmes acontece o que é aparentemente elemento mais básico (ou mais comum) desse tipo de relação: o pacto com uma entidade sobrenatural. Na obra de Murnau, um erudito que sente que seu conhecimento é incapaz de ajudar sua cidade, que é devorada por uma peste, invoca o demônio Mefisto para selar um pacto. Em Hellraiser, um homem que provou todos os prazeres do mundo, insatisfeito, compra um cubo mágico com o qual convoca misteriosas criaturas chamadas cenobitas para, selando um certo tipo de acordo, atingir prazeres inimagináveis.


Mesmo com tão poucas características, já podemos ver fortes diferenças entre os filmes. O demônio de Fausto têm nome e aparência conhecidos e, apesar de estar numa obra moderna, está inserido numa longa tradição onde o Inferno (assim como seus tormentos e suas “regras”) é bem compreendido pelo homem, apesar de temido. Os seres de Hellraiser não tem nome, a não ser o genérico “cenobitas”, além disso, o jeito que estabelecem seus pactos é confuso (jamais se revela o real funcionamento do “cubo mágico”) e o que têm a oferecer é desconhecido ao homem. Qual a razão? Podemos ter algumas hipóteses, das quais me proponho expor uma. A partir da Idade Moderna com as descobertas científicas, o homem passou a ter diante de si um mundo que não era mais inserido numa cosmologia organizada como era na Antigüidade e na Idade Média, mas imenso, com regras ainda a ser (possivelmente) descobertas. Surgiu com força a idéia do Desconhecido, que só ampliou-se com o avançar da modernidade.


Talvez essa seja a diferença: Mefisto, por mais que possa melhorar, em algumas versões do mito, o conhecimento insuficiente de Fausto, (o que também pode estar ligado a essa idéia de incerteza da modernidade, diante do qual o homem sente-se incapaz) é, por si mesmo, um ser incluído em uma cosmologia pré-definida, já os cenobitas são, em si, aquilo que não pode compreendido e, talvez, fruto de uma concepção de mundo que concebe o Desconhecido como um valor a ser reconhecido e representado, nem que seja pelo horror que ele causa.


TADEU COSTA ANDRADE,
é estudante do curso de
Letras na FFLCH - USP

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Processo Criativo e Observação


Pode-se igualmente compará-lo a um espelho tão imenso quanto essa multidão; a um caleidoscópio dotado de consciência, que, a cada um de seus movimentos, representa a vida múltipla e o encanto cambiante de todos os elementos da vida.


- Charles Baudelaire, “O Pintor da Vida Modena”



Talvez alguém se pergunte porque um tema tão geral para uma primeira postagem de um grupo que diz que tem como foco o fantástico. Talvez essa mesma pessoa ache tudo isso irrelevante e... tenha razão. Por que, mesmo sabendo disso, estou escrevendo esse texto? Tenho visto esse tema incomodar a muitas pessoas há tempo: o problema da criatividade, da inspiração. Quando olhamos o escritor do fantástico, também é de se esperar que ele seja muito perturbado por isso (se não for mais do que os outros), uma vez que sempre lhe é cobrado o novo, o encantador. Se eu quero dar uma solução? Por ora não me sinto capaz. O que gostaria de fazer é agrupar algumas considerações que fiz sobre o assunto e, no mínimo, expô-las para alguns amigos, que só as ouviram de forma esparsa.

Se a inspiração é um acontecimento de natureza misteriosa e repentina que oferece uma idéia para a criação de uma obra de arte, eu não acredito nela, pelo menos não muito. Se eu dependesse dessa inspiração, raramente teria escrito uma linha. Acabei encontrando refúgio em outro procedimento que também acabei nomeando, carinhosamente, inspiração. Mais do que iluminação, ele tem muito mais a ver com observação e, por mais que isso pareça contraditório à criação, realidade.


Pelo menos nós que vivemos na grande cidade, às vezes não nos damos conta do número de coisas que acontece à nossa volta: o incontável número de pessoas que vemos, as diversas frases que ouvimos, os inumeráveis eventos que presenciamos e mesmo a quantidade de coisas levemente inexplicáveis que ignoramos. São tantos rostos, roupas... Nós paramos para pensar o que eles significam? Os carros vêm e vão, nunca param. Para onde será que vão todos eles? As duas coisas poderiam dar ótimas histórias. Uma vez vi um acontecimento bastante estranho: eu estava no metrô com um amigo e, de repente, o condutor disse que alguém havia morrido por ter caído na via. Nunca tinha ouvido isso falado de forma tão direta, fiquei espantado, no entanto, quando olhei em volta, o que mais me admirou foi a indiferença na expressão dos passageiros e ainda mais, a frase de despreocupação do meu amigo quando comentei o fato. Independentemente do que pode ser uma “lição de moral”, tanto o acontecimento quanto a reação das pessoas me deram um conto inteiro.


É uma posição parecida com a de um poeta de que gosto muito, Baudelaire.1 Falando de um artista que admirava, ele louvou sua capacidade de, como uma criança, “se interessar intensamente pelas coisas, mesmo por aquelas que aparentemente se mostram as mais triviais”, identificando esse poder com o gênio ( que para ele é como uma infância redescoberta)2. A diferença entre o artista e a criança seria que o primeiro tem suas habilidades desenvolvidas, podendo transformar suas impressões em arte.


Mas alguém poderia dizer: “Observar a realidade: essa não é uma atitude que leva o realismo? Ela não é oposta à fantasia?”. Talvez para responder, eu posso recorrer a Baudelaire novamente: segundo ele, a imaginação ( curiosamente phantasie, em francês) “decompõe toda a criação, e, com os materiais acumulados e dispostos conforme regras das quais não podemos encontrar origem senão no mais profundo da alma, ela cria um mundo novo, produz a sensação do novo”3. Não vemos muitas vezes na fantasia elementos da realidade desconstruídos e recombinados? Não é o minotauro uma mistura de homem e touro? A esfinge de leão, mulher e águia? Tomar a realidade como ponto de partida não significa imitá-la servilmente. É mais como uma coleta de ingredientes que, juntos, cuidadosamente dosados pelo feiticeiro, formam uma poção.


Essas são mais ou menos as idéias que eu queria expor, que, apesar de estarem muito longe de uma visão definitiva sobre a criatividade, me ajudaram a atingir um pouco dela. Espero que possam servir a mais alguém.

A imagem “http://strictement-confidentiel.com/images/photos/baudelaire.jpg” contém erros e não pode ser exibida.

Baudelaire




TADEU COSTA ANDRADE,
é estudante do curso de
Letras na FFLCH - USP




1Poeta francês do século XIX considerado o fundador da poesia moderna e, também, pai do simbolismo. (artigo na Wikipedia : http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Baudelaire . Artigo mis vasto, em espanhol: http://es.wikipedia.org/wiki/Charles_Baudelaire)

2 O texto em questão é “O pintor da vida moderna”, sendo o artista Constantin Guys. O fato de Baudelaire falar de um pintor e não de um escritor não é um problema, uma vez que ele constantemente aproxima as duas artes.
3A afirmação está no texto “Salão de 1859”.