é estudante do curso de
Letras na FFLCH - USP
Marcadores (tags): autor:tadeu, literatura, relações faústicas, tradução
Büchner não é muito conhecido aqui no Brasil. Autor alemão da primeira metade do século XIX, ele escreveu peças de teor "realista" e "social", além de estar sempre envolvido em ações revolucionárias. Apesar de sua obra ter demorado para ser reconhecida, foi extremamente influente. Entre seus admiradores estão Brecht e Orson Welles.
Woyzeck é uma das suas peças mais comentadas. É sua última obra e não foi terminada. Ela conta a história de Woyzeck, um soldado muito pobre, que é submetido a uma experiência: ele é obrigado a se alimentar apenas de ervilhas enquanto tem que prestar uma série de serviços. Isso afeta profundamente a mente do soldado.
TADEU COSTA ANDRADE,
é estudante do curso de
Letras na FFLCH - USP
Marcadores (tags): autor:tadeu, história infantil, literatura, teatro, tradução
Setembro é um mês simbólico para o Fabulário. No dia 03, nosso Blog fez aniversário. De uma certa maneira, isso é um marco para os mais de dois anos de reuniões e trabalho.
Nossos membros e amigos falam de sua experiência e expectativas em relação ao grupo.
Inspirada pelo Homem do Castelo Alto (Philip K Dick) decidi perguntar ao I CHING (Livro das Mutações - Oráculo Chinês) sobre o futuro do Fabulário... Eis a resposta:
A Sentença:
Ku indica grande progresso e sucesso ao que souber agir como deve. Haverá vantagens em esforços, tais como atravessar o Grande Caudal. Deverá, entretanto, ponderar bem os fatos, muito antes de chegar à Encruzilhada, e ponderar bem os fatos, por bastante tempo, depois da Encruzilhada.
Queda
Destruição, grande força, reconstrução.
E quanto à interpretação da resposta: 'Devemos ter em mente que as interpretações e análises são ao mesmo tempo subjetivas, poéticas, filosóficas e intuitivas; deve ser assim consideradas pelo Consulente, que deve dar asas à sua imaginação e intuição, para interpretar e aplicar as Revelações Oraculares a seu Universo Íntimo.'
Deixo a todos que lerem a Sentença a missão de desvendar a mensagem e o prazer de voar e criar nesse meio místico.
Pra mim, a mensagem vem como um bom prenúncio, e desejo ao Fabulário um futuro milenar!
Pra falar a verdade, relutei para entrar no grupo. Primeiro porque sempre detestei trabalhar em grupo. Segundo porque no início as reuniões ocorriam de madrugada, e eu como pessoa naturalmente diurna (daquelas que dormem em festas) não me sentia muito predisposta a varar noites semi-acordada. Terceiro porque acreditava que não poderia dar ao grupo tudo que ele necessitava: tempo, empenho, atenção.
Muita coisa mudou. Aprendi a gostar de trabalhar em grupo e descobri a diferença essencial entre grupo e coletivo: um trabalho coletivo reúne pessoas com interesses em comum e vontade de realizar coisas, sejam discussões, sites, palestras, oficinas, peças de teatro. Um coletivo contempla trabalhos individuais, questionando, criticando e melhorando a produção de cada um. Também promove trabalhos feitos por todos, trabalhos em que a opinião e a mão de obra dos membros são fundamentais.
Quantos aos outros dois tópicos, as reuniões se tornaram diurnas (ainda bem!) e o Fabulário, meio que sem querer, ganhou parte do meu tempo, muito de meu empenho e de minha atenção. Não há como terminar sem desejar que o Fabulário faça muitos mais aniversários.
Não faz muito tempo, fui convidado por dois bons amigos a dar uns “pitacos” em uma tal “produção independente de literatura fantástica”. Relutante em aderir a mais um projeto difícil, fui seduzido pelo potencial que senti ao ter em mãos a primeira edição do “Fabulário”.
E então de lá pra cá, muita coisa aconteceu, nossas vontades e ações foram crescendo, e resultando em projetos que antes não imaginávamos.Com a força do grupo, crescemos através de erros, acertos, criticas, conselhos, discussões e muitas risadas.
O aniversário do blog é apenas uma pequena data para configurar algo que não tem medida. Apenas uma placa sinalizando que estamos seguindo um bom caminho. Sem atalhos, com direito a retornos e revisão de rotas, mas certos de seguir em frente.
Já faz algum tempo em que três de nós tiveram, em alguma madrugada aí, a idéia vaga de um grupo que discutisse e escrevesse literatura fantástica. Talvez por causa do sono que todos estavam no dia. Só sei que muita coisa mudou desde o tempo em que nós ficávamos discutindo até o fim da noite, muitas vezes sem sair do lugar e muitas sem mesmo precisar fazer isso.
Não sei o que mudou para melhor ou pior, mas a certeza é a de que no mínimo não estagnamos. Reuniões, Zine, Blog, apoios... Se não sei exatamente para onde vamos , é bom saber que pelo menos estamos indo!
A primeira vez que um grupo foi reunido entre alguns de nós em torno do tema foi em novembro de 2005. As mensagens em nossa primeira lista de discussão pipocaram até 17 de fevereiro de 2006. Não deu muito certo naquela época, é verdade, mas plantou uma semente para o futuro.
Exatamente um ano depois (18 fev) eu "reinaugurei" nossa lista de discussão, motivado pelas reuniões que começamos a fazer nas madrugadas de domingo, em um apartamento na Parada Inglesa. Dessa vez foi de verdade.
As discussões iniciais nos levaram a pesquisas e as pesquisas a propostas. O Fanzine, que a princípio foi uma sugestão simples, ganhou vigor - e nos motivou também a criar este Blog.
Algumas pessoas se afastaram pelo tempo ou desinteresse. Mas muita coisa bacana aconteceu e novas pessoas se aproximaram. Escrevemos, desenhamos, fizemos 3 fanzines, estivemos em muitos eventos, entrevistamos, viajamos (Ilha Comprida, Paraty...), os Fanzines Viajaram (Goiás, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Protugal, Texas...), fotografamos, discutimos, brigamos, nos entendemos, lemos muita coisa (uns mais, outros menos), conhecemos muita coisa nova e muita gente. É impossível mensurar todas as conquistas... com essas já dá para ter uma idéia.
Nessa ocasião simbólica de aniversário de 1 ano do Blog, eu queria agradecer a todas as pessoas que estiveram ao nosso lado, agradecer imensamente. Todos as pessoas que de alguma forma estiveram com a gente nesse tempo, presencial ou virtualmente, sabendo ou não que estavam conosco. De Franz Kafka à mocinha que nos ajudou no B_arco. Obrigado a todos! Sem vocês nossas conquistas não seriam possíveis.
Deixo um agradecimento especial para nosso membros mais distantes: Pedro Rebucci, Rodrigo Canale, L R Fernandes, Eduardo Geber. As portas sempre estarão abertas para vocês, com uma cerveja gelada na geladeira se for o caso!
A verdadeira história do Fabulário é o que venho expor neste post de aniversário. (Eu sou do tipo que sempre dá parabéns atrasado) Eis: Um dia, quando os titãs ainda punham seus pés sobre o solo, alguns Deuses da floresta comemoravam o qüinquagésimo sexto dia do ano em uma grande festa - no dia anterior haviam comemorado o qüinquagésimo quinto dia do ano.
Mário de Andrade dizia que cada poema tem uma gota de sangue e, se analisarmos bem, tudo que nós produzimos tem uma gota de sangue. Ao contrário do artista, o sangue não significa simplesmente uma parte da vida que se esvai e fica, mas a completude da eterna significação que nós damos a esse mundo.
Nunca a expressão "dar a vida" foi tão significante para mim!
Ao observar esse grupo, é eminente argüir sua aspiração: nascidos para dar mais vida a esse mundo sublunar, eles conseguem galgar muito além desses objetivos. Andando e dialogando com as estrelas, sem nem ao menos perder o rumo do chão, eles cresceram... se fortaleceram... e lançaram seu zine. Agora, chegaram, ao fecundo momento de grande celebração. Já passou-se um ano? Um ano indubitavelmente fértil, onde muito foi aprendido.
(...)
Mais do que um aprendizado, vocês engendraram algo mais profundo: o (re)conhecimento... o (re)conhecimento desses pequenos cortes de pompa da realidade chamado ficção.
Bom, essa é minha homenagem e relato.
Parabéns, boa sorte e bom trabalho.
Muy Atenciosamente,
Paula Betereli, Daniel Falcão, Joyce Nicioli, Tadeu Andrade, RAfael Castro e Diogo Nogeira,
São os membros do Fabulário e agradecem
Marcadores (tags): #editorial, autor:diogo, autor:edu, autor:joyce, autor:luiz, autor:paula, autor:rafael, autor:tadeu, Fabulário
Esta postagem foi revisada no dia 19 e abril de 2008, após a contribuição do leitor Fernando Trevisan - http://fernandotrevisan.com.br/
É difícil ou mesmo impossível que todas as histórias sobre pactos com demônios tenham absolutamente as mesmas características, do contrário seriam cópias umas das outras. Do mesmo modo, são tantas as variações colocadas nesse mito que enumerar e comentar cada uma delas seria bem difícil. Contudo, embora certas características não façam parte de cada uma das versões já inventadas para o mito, elas comparecem em um número razoável para serem levadas em consideração.
Um pequeno e significante grupo de histórias mostra isso de forma interessante: Fausto de Goethe, A Maravilhosa História de Peter Schlemihl de Chamisso e Crime e Castigo de Dostoiévski. Não pretendo pensar nas possíveis influências que uma obra poderia ter tido sobre a outra, o que seria bem difícil nesse espaço, mas só olhar algumas coisas que podemos perceber quando lemos.
Nas três histórias, uma personagem tem contato com uma situação de caráter profano e, a partir dessa ação, vê seu destino alterado completamente. Esse conflito interno seria suficiente para dar base aos enredos, contudo, não é isso o que acontece. A ação das personagens não somente gera uma convulsão dentro delas mesmas, mas joga-as para outros lados que ultrapassam o espaço individual.
Em Fausto, logo que cerra o acordo com Mefisto, a personagem sai da realidade comum da cidade em que vivia (com jovens, moças, velhas e camponeses) e vai para outra, onde reinam todo o tipo de figuras marginais e subversivas: bruxas, demônios, fantasmas etc. O auge dessa relação é a famosa cena da "Noite de Valpúrgis" quando Fausto participa do que seria o maior festival de bruxas. Também, pela relação com demônio é levado (mesmo que involuntariamente) a causar a perdição da jovem Margarida (a quem desvirgina) e ao assassinato da mãe e do irmão desta. Posteriormente, na segunda parte da tragédia, saindo desse choque com a “pequena” sociedade, Mefisto carrega Fausto também para o lugar da alta política (a corte do Imperador) onde, por sua ação, milhares de convulsões acontecem: fome, guerras civis etc.
Já em A Maravilhosa História de Peter Schlemihl a personagem que dá nome ao livro dá sua sombra a um misterioso sujeito vestido de cinza em troca de uma bolsa que tem infinitas moedas de ouro. Aqui, diferentemente de Fausto, a personagem não chega a cometer crimes ou partilhar a companhia de criaturas demoníacas, mas estranhamente sua própria condição o afasta do meio do qual gostaria de participar. O fato de ser um homem sem sombra causa horror e desprezo nas outras pessoas e a personagem é “condenada” a jamais ter o contato social novamente. O que a sombra representa realmente ainda é muito debatido, apesar disso, uma coisa parece provável: a personagem perde o que tudo na sociedade e natureza possui - a sombra - e dessa forma é apartado e levado à solidão plena.
Finalmente, na mais diferente das três obras, Crime e Castigo, o miserável estudante Raskolnikóv resolve cometer um ato e, através dele, tornar-se um homem extraordinário, igualável a Napoleão. Ele resolve assassinar uma ávara usurária e, através desse ato, passar por cima da moralidade daqueles que considera “pusilânimes” e “ordinários”, pactuando com uma ética superior. No entanto, durante o ato, Raskolnikóv acaba por matar também a inocente irmã da usurária, que testemunha o crime, e, desde o duplo assassinato, passa a ser consumido pela culpa e pelo medo de ser descoberto. Ele coloca-se então numa situação de choque com a ordem, representada pelo policial Porfíri. Participa também da realidade de toda sorte indivíduos marginalizados, não demônios como em Fausto, mas prostitutas, bêbados e miseráveis.
São três enredos com motivos e objetivos diferentes, é evidente, como exemplo, poderíamos observar que Fausto jamais atinge tamanho grau de culpa e auto-crítica como Schlemihl e Raskolnikóv. Contudo, uma coisa fica bastante clara: em algumas histórias (algumas das mais importantes do “gênero”) o pacto – com uma entidade, idéia ou ato profanos – não parece apenas gerar problema para a consciência e salvação individual daquele que o realiza, mas também tem o caráter de uma energia poderosa o suficiente para arrastá-lo com força contra as estruturas da sociedade, levá-lo aos limites da ordem da qual ele participa ou mesmo lança-lo acima desta, colocando em suas mãos o caminho de toda a humanidade.
TADEU COSTA ANDRADE,
é estudante do curso de
Letras na FFLCH - USP
Marcadores (tags): artigo, autor:tadeu, Fabulário Fanzine #2, literatura, relações faústicas
Mefisto, o demônio de Fausto, lançando a peste sobre a cidade.
Começando nossas pesquisas sobre as “relações fáusticas”, no último domingo escolhemos assistir dois filmes: o Fausto (1926) de Murnau e Hellraiser (1987) de Clive Barker. Em ambos os filmes acontece o que é aparentemente elemento mais básico (ou mais comum) desse tipo de relação: o pacto com uma entidade sobrenatural. Na obra de Murnau, um erudito que sente que seu conhecimento é incapaz de ajudar sua cidade, que é devorada por uma peste, invoca o demônio Mefisto para selar um pacto. Em Hellraiser, um homem que provou todos os prazeres do mundo, insatisfeito, compra um cubo mágico com o qual convoca misteriosas criaturas chamadas cenobitas para, selando um certo tipo de acordo, atingir prazeres inimagináveis.
Mesmo com tão poucas características, já podemos ver fortes diferenças entre os filmes. O demônio de Fausto têm nome e aparência conhecidos e, apesar de estar numa obra moderna, está inserido numa longa tradição onde o Inferno (assim como seus tormentos e suas “regras”) é bem compreendido pelo homem, apesar de temido. Os seres de Hellraiser não tem nome, a não ser o genérico “cenobitas”, além disso, o jeito que estabelecem seus pactos é confuso (jamais se revela o real funcionamento do “cubo mágico”) e o que têm a oferecer é desconhecido ao homem. Qual a razão? Podemos ter algumas hipóteses, das quais me proponho expor uma. A partir da Idade Moderna com as descobertas científicas, o homem passou a ter diante de si um mundo que não era mais inserido numa cosmologia organizada como era na Antigüidade e na Idade Média, mas imenso, com regras ainda a ser (possivelmente) descobertas. Surgiu com força a idéia do Desconhecido, que só ampliou-se com o avançar da modernidade.
Talvez essa seja a diferença: Mefisto, por mais que possa melhorar, em algumas versões do mito, o conhecimento insuficiente de Fausto, (o que também pode estar ligado a essa idéia de incerteza da modernidade, diante do qual o homem sente-se incapaz) é, por si mesmo, um ser incluído em uma cosmologia pré-definida, já os cenobitas são, em si, aquilo que não pode compreendido e, talvez, fruto de uma concepção de mundo que concebe o Desconhecido como um valor a ser reconhecido e representado, nem que seja pelo horror que ele causa.
TADEU COSTA ANDRADE,
é estudante do curso de
Letras na FFLCH - USP
Marcadores (tags): artigo, autor:tadeu, Hellraiser, relações faústicas
Marcadores (tags): autor:tadeu, Fabulário Fanzine #2, fantástico, literatura, relações faústicas
O fanzine Somnium, do Clube de Leitores de Ficção Científica, vai lançar seu novo número (101), especial de fim de ano, e busca material de escritores (contos e artigos) que envolva Ficção Científica e Fantasia. O interesse, segundo os editores, é em contos inovadores e originais, dando preferência àqueles que têm no máximo 3000 caracteres. Os artigos poderão ter maior extensão.
O material deve ser enviado para o e-mail somnium@clfcbr.org até o dia 10 de Dezembro.
Marcadores (tags): autor:tadeu, CLFC, fantasia, fanzine, ficção científica, literatura
Marcadores (tags): autor:tadeu, cinema, horror/terror, Mojica, mostra de cinema, noticia
Pode-se igualmente compará-lo a um espelho tão imenso quanto essa multidão; a um caleidoscópio dotado de consciência, que, a cada um de seus movimentos, representa a vida múltipla e o encanto cambiante de todos os elementos da vida.
- Charles Baudelaire, “O Pintor da Vida Modena”
Se a inspiração é um acontecimento de natureza misteriosa e repentina que oferece uma idéia para a criação de uma obra de arte, eu não acredito nela, pelo menos não muito. Se eu dependesse dessa inspiração, raramente teria escrito uma linha. Acabei encontrando refúgio em outro procedimento que também acabei nomeando, carinhosamente, inspiração. Mais do que iluminação, ele tem muito mais a ver com observação e, por mais que isso pareça contraditório à criação, realidade.
Pelo menos nós que vivemos na grande cidade, às vezes não nos damos conta do número de coisas que acontece à nossa volta: o incontável número de pessoas que vemos, as diversas frases que ouvimos, os inumeráveis eventos que presenciamos e mesmo a quantidade de coisas levemente inexplicáveis que ignoramos. São tantos rostos, roupas... Nós paramos para pensar o que eles significam? Os carros vêm e vão, nunca param. Para onde será que vão todos eles? As duas coisas poderiam dar ótimas histórias. Uma vez vi um acontecimento bastante estranho: eu estava no metrô com um amigo e, de repente, o condutor disse que alguém havia morrido por ter caído na via. Nunca tinha ouvido isso falado de forma tão direta, fiquei espantado, no entanto, quando olhei em volta, o que mais me admirou foi a indiferença na expressão dos passageiros e ainda mais, a frase de despreocupação do meu amigo quando comentei o fato. Independentemente do que pode ser uma “lição de moral”, tanto o acontecimento quanto a reação das pessoas me deram um conto inteiro.
É uma posição parecida com a de um poeta de que gosto muito, Baudelaire.1 Falando de um artista que admirava, ele louvou sua capacidade de, como uma criança, “se interessar intensamente pelas coisas, mesmo por aquelas que aparentemente se mostram as mais triviais”, identificando esse poder com o gênio ( que para ele é como uma infância redescoberta)2. A diferença entre o artista e a criança seria que o primeiro tem suas habilidades desenvolvidas, podendo transformar suas impressões em arte.
Mas alguém poderia dizer: “Observar a realidade: essa não é uma atitude que leva o realismo? Ela não é oposta à fantasia?”. Talvez para responder, eu posso recorrer a Baudelaire novamente: segundo ele, a imaginação ( curiosamente phantasie, em francês) “decompõe toda a criação, e, com os materiais acumulados e dispostos conforme regras das quais não podemos encontrar origem senão no mais profundo da alma, ela cria um mundo novo, produz a sensação do novo”3. Não vemos muitas vezes na fantasia elementos da realidade desconstruídos e recombinados? Não é o minotauro uma mistura de homem e touro? A esfinge de leão, mulher e águia? Tomar a realidade como ponto de partida não significa imitá-la servilmente. É mais como uma coleta de ingredientes que, juntos, cuidadosamente dosados pelo feiticeiro, formam uma poção.
Essas são mais ou menos as idéias que eu queria expor, que, apesar de estarem muito longe de uma visão definitiva sobre a criatividade, me ajudaram a atingir um pouco dela. Espero que possam servir a mais alguém.
Baudelaire
Marcadores (tags): artigo, autor:tadeu, fantasia, fantástico, inspiração, processo criativo