Uma Epígrafe



"...Quanto à poesia, parece condenada a dizer apenas aqueles resíduos de paisagem, de memória e de sonho que a indústria cultural ainda não conseguiu manipular para vender."...[Alfredo Bosi, in O Ser e o Tempo da Poesia, p. 133]

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terça-feira, abril 17, 2012

OFICINA






















Assim, o artífice anima ao ourives,
e o que alisa com o martelo,
ao que bate na bigorna,
dizendo da soldadura: Está bem feita.
Então, com pregos fixa o ídolo para que não oscile.
Is. 41:7




O pequenino
o pequenino gesto
O pequenino gesto repetido
o pequenino e mesmo gesto repetido
e repetindo-se
move o anelo
no mesmo elo
elo por elo
move o martelo
faz do martelo flor desse gesto
fruto da gesta
abstraído de uma floresta,
flor desses gestos, abstraídos,
da martelagem
no peso o apenso
penso e pondero
pênsil pingente
pondero e penso
a peça rara
du’a ourivesaria
sob incensos

nas muitas dobras
e mais redobras
e mil batidas como em aldabras
tão repetidas essas palavras
pedras em salvas
ouro das lavras
de um tempo intenso
de tempo imenso
de um temp(l)o antigo
um santuário para o Infinito.

ouvir seus g/ritos
distinguir ritos,
haurir seus gritos
um ourives aos gritos,
hiero-gritos:

- Datemi un martello!
- Che cosa ne vuoi fare?

- Moldar os mitos.

Com hieroglifos
florões e grifos
oraiseescritos
roots e ritos
:
Assim, dá alento
ao lento
ourives,
e ao que modela os elos
os velos de oiro
sob o martelo
cravando os pontos
de filigranas
soldas precisas
e derretidas
sob as batidas
leves batidas
de modelagem numa bigorna...
(wayüHazzëq Häräš ´et-cörëp maHálîq Pa††îš ´et-hôlem Pä`am).

E o que modela com o martelete,
forja a cutelos, cravo e cut-up
“batte le métal en plaques”
fold-in, em dobraduras da joiaria,
pinos e pinças,
brincos e broches
“breitgehämmerte Bleche”
molde e persona,
mote e martelo,
elo por elo ,
dobra-se a alma
na oficina
bate um martelo
bate o martelo
bate martelo...

...e um temp(l)o oscila.


Eurico,
em dobraduras experimentais...rs
Meu Deus! Oscilo?


Fontes dos cut-up e fold-in:

http://www.ouviroevento.pro.br/publicados/Firmamentum.pdf

http://ourivesariahavila.blogspot.com/2007/10/histria-da-ourivesaria.html
http://letras.terra.com.br/rita-pavone/64293/traducao.html
Imagem:

domingo, setembro 19, 2010

EU-PROFUNDO (cardumes líricos)






















Vir emergindo, bem lá do fundo,
do abismo escuro, de um oceano,
com toneladas de um eu-profundo,
que vem subindo, bem lentamente,
do inconsciente à flor das águas azuis, marinhas,
Vir com a profunda necessidade,
imperiosa necessidade,
de esguichar-me nessas palavras.



















Ou,


Vir emergindo,
em álacres bandos,
súbitos saltos, vôos sem asas,
singrando os mares,
um imenso aquário
do imaginário,
(telas de aquático LCD);
Cantando em odes ou para-odes,
coral submerso, sons guturais,
salmodiando com alegria
gregoriana, simples, vital:
palavras-peixes,
mar virtual...






Fonte da imagem:
1- recolhida do PicasaWeb
2- http://contanatura.weblog.com.pt/arquivo/5%20dolphins.jpg

quinta-feira, setembro 16, 2010

OFICINA (lirismo fold-in, em semantema retrátil)




















Assim, o artífice anima ao ourives,
e o que alisa com o martelo,
ao que bate na bigorna,
dizendo da soldadura: Está bem feita.
Então, com pregos fixa o ídolo para que não oscile.
Is. 41:7




O pequenino
o pequenino gesto
O pequenino gesto repetido
o pequenino e mesmo gesto repetido
e repetindo-se
move o anelo
no mesmo elo
elo por elo
move o martelo
faz do martelo flor desse gesto
fruto da gesta
abstraído de uma floresta,
flor desses gestos, abstraídos,
da martelagem
no peso o apenso
penso e pondero
pênsil pingente
pondero e penso
a peça rara
du’a ourivesaria
sob incensos

nas muitas dobras
e mais redobras
e mil batidas como em aldabras
tão repetidas essas palavras
pedras em salvas
ouro das lavras
de um tempo intenso
de tempo imenso
de um temp(l)o antigo
um santuário para o Infinito.

ouvir seus g/ritos
distinguir ritos,
haurir seus gritos
um ourives aos gritos,
hiero-gritos:

- Datemi un martello!
- Che cosa ne vuoi fare?

- Moldar os mitos.

Com hieroglifos
florões e grifos
oraiseescritos
roots e ritos
:
Assim, dá alento
ao lento
ourives,
e ao que modela os elos
os velos de oiro
sob o martelo
cravando os pontos
de filigranas
soldas precisas
e derretidas
sob as batidas
leves batidas
de modelagem numa bigorna...
(wayüHazzëq Häräš ´et-cörëp maHálîq Pa††îš ´et-hôlem Pä`am).

E o que modela com o martelete,
forja a cutelos, cravo e cut-up
“batte le métal en plaques”
fold-in, em dobraduras da joiaria,
pinos e pinças,
brincos e broches
“breitgehämmerte Bleche”
molde e persona,
mote e martelo,
elo por elo ,
dobra-se a alma
na oficina
bate um martelo
bate o martelo
bate martelo...

...e um temp(l)o oscila.



Eurico,
em dobraduras experimentais...rs
Meu Deus! Oscilo?

Fontes dos cut-up e fold-in:
http://www.ouviroevento.pro.br/publicados/Firmamentum.pdf
http://ourivesariahavila.blogspot.com/2007/10/histria-da-ourivesaria.html
http://letras.terra.com.br/rita-pavone/64293/traducao.html

Imagem:

terça-feira, setembro 14, 2010

MASCAVO

























"os antagonismos não resolvidos da realidade retornam às obras de arte como os problemas imanentes de sua forma" (Adorno)




Eu não sou isso.
Esse instante entre/cortado à lâmina de estrovenga.
Essa instável dissolução caiena.
Esse devir usinável.
Essa face de isopor.
Esse retraço
de coisa mercadejada,
Esse nada ou quase nada, embebido em suor e melaço.

E sou quase tudo isso.
Um oco histórico, sem mim.
Um pária, a esboroar-se entre alfenins
Um nada esmagado no bagaço.

(e esse re/corte me faz enxergar mais fundo e além
dessa matéria inerte, em que eu estou sendo,
ou em que me deixo estar...)

Mas sou um outro,
inútil tacho de bronze
em fogo morto;
Sou um outro,
mascavado e espúrio, mas o Outro.

Est’outro

que não esse...


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Fonte da imagem:Auto-retrato

Fonte da epígrafe:Alea: Estudos Neolatinos

quinta-feira, março 11, 2010

ISSO































“...menino sonha com coisas
que a gente cresce e não vê jamais...”
Roberto Ribeiro(de Nelson Rufino e Zé Luiz)


Disso que, em verdade, não vejo
e que, sinceramente, a minha mão não alcança;
é dessa coisa singela e estranha
que cuido o dia todo, todos os dias...
Disso que, enquanto olho, não percebo o tanto,
(porquanto, é a minha alma, estrábica)
é nisso que me ocupo,
eis minha fábrica:

Isso, inefável,
Isso, indizível,
Isso, volátil e jamais tocado...

Nisso me erijo
desde criança,
Nisso invisível (eu, que não creio)
sonho o meu sonho,
nessa esperança...

segunda-feira, julho 20, 2009

Arquitetura Volátil (sculptores lapidum liberorum)





























Gn. 28:12,13




Essas paredes ascendem
por verticais monolíticas;
Saem do chão abruptas
Fundadas na pedra bruta.
Sete carreiras, na rocha
Lapidada em cantaria.

Erguer degraus é poesia?

Alvenaria abstrata,
Frases de argamassa e cal.
Essa peleja não é vã:
Tirar arestas à pedra;
Erigir versos de arrimo
E por a prumo as vertentes
Du'a volátil escadaria.



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Fonte da imagem:
O Sonho de Jacob

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P. S.:
Retomando uma parceria antiga, com o Carlinhos do Amparo, desde os tempos do Eu-lírico impresso, em que ele fazia um breve comentário aos meus poemas , a partir deste Arquitetura Volátil, o leitor poderá, se quiser, clicar em Resenha Poética, para ir ao blogue Sítio d'Olinda. Lá estarão as inusitadas "explicações poéticas" do meu compadre Carlos Pequeno do Espírito Santo, filodóxo e hermenauta das Olindas. Divirtam-se!

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domingo, março 22, 2009

URO NO ESCURO





Não atarás a boca ao boi que debulha o grão.
1 Cor 9:9



Ó não perguntes pela poesia,
essa Palavra que não desvendo,
túpida e funda,
grão semeado,
morte fecunda
:
mesmo nas sombras
ouvindo Uros,
aflitos urros,
acenda a porta
que a Noite abriga.
Uro, no escuro,
raiva incontida.
Na sombra, o Uro,
selvagem ainda,
urra, obscura
força da vida,
protopoesia,
noturna e linda.

***
Fonte da img.:
Velho búfalo que voa
***





sábado, março 21, 2009

Sagração



...unge a tua cabeça, e lava o teu rosto
Mt 6:17



Fiz-me ao mar de mim.

Sou um silêncio
em que se funda o mito;
um mar intenso.


Fiz-me ao mar de noite.

O meu nigredo.
E ouço o marulhar:
mistério e medo.


***

(Essa totalidade eu não invento.
Se estou uno, a unicidade vem de dentro. )

***