domingo, 30 de janeiro de 2011

sei de mim _ poema de Helena Armond



um milagre vivo...
animal inteligente
tendo no "outro" a cada instante
um...parceiro um crítico
um conselheiro...
sei de mim em ofício d´arte...
perfeita definição de um mestre:
"arte é comunicação..."
vai na contramão
quem passa...vendo-se...
e à tudo mais indiferente...
sei de mim a interrogar seca árvore
há quatro anos...e ela não responde...
pontualíssima num certo antes de primavera...
era enorme "mancha" num quase índigo
um pouco mais de azul que nas ametistas
posto em vermelho na medida certa...
hoje temos vernissage coletiva
d´arte catastrófica portanto...
alerta...









domingo, 16 de janeiro de 2011

Desenho palavras


palavras me desenham
letras saltam
em relevo

ontem na ala das baianas
soltei as cadeiras
caí no samba

deixei a terra dos cegos
ganhei dois olhos
braços e pernas

fui rainha

No avião


um tempo jiboia

me engole
engorda

pesa
e me arrasta

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Penúltimo dia de 2010

contagem regressiva

atravesso
o medo
impreciso

domingo, 26 de dezembro de 2010

Mistérios de acalentar mãe



_ Senhora dona Sancha

feita de ouro e prata

na infância da língua

eras uma rainha



_ Que anjos me rondam?


Ando velha e medrosa

não mais toco o piano

sinfonias não componho


_ Senhora dona Sancha,

silhuetas, sombras

vestidas de branco

guardiões de vossos sonhos,

dispensamos ouro e prata

mal nunca vos faremos


_ Estou velha

bem velhinha

tenho medo de morrer


_ Medo? Pois pois,

por que medo?

por que medo?


Se no vosso coração

canta uma menina

com quem brincamos

de roda?


Dona Sancha

nossa senhora,

vos espantastes a morte

como se espanta

galinhas,

shô morte, shô



_ É verdade, é verdade,

shô morte, shô


Para os prados partirei

cavalgando meu cavalo


Sobre a cama da fazenda

me aguarda o vestido

feito na minha medida


Anjos meus

por onde andais?


Senti algum calafrio


_ Sombras vestidas de branco

somos a infância da língua

somos vossos guardiões


Vosso medo espantamos

com histórias

que contamos


_ Anjos, brancas silhuetas

segurem a minha mão

e dormirei sossegada

para acordar na fazenda

onde me aguarda azul

o vestido, nos braços

de meu namorado


Segurem a minha mão

como minha mãe segurava

quando eu ia ao dentista


Shô, morte shô

montada no meu cavalo

espanto muitas galinhas



sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

A caixa dos três segundos...



... ensina a parar o mundo.
Pare três segundos antes de falar ou agir.
Se possível até de pensar.
Pare.
Aí o mundo para
e você descansa.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Tempocídio


Quando o pai não voltou nunca mais, a mãe contou à menina que ele ficou na estrada. Cresceu e passou a vida procurando o pai e salvando homens. Da estrada. Deixar de procurar o pai não fez para ela o mundo diferente.  Rasgou papel, apagou textos, pintou quadros _ nada mudava.  Matou o pai e encontrou a Morte.  Desde então, toda certeza desmatelada em poça d´agua, menos uma _ a Morte existe, e se o tempo para os mortais é curto, usá-lo mal é crime.