sábado, 29 de dezembro de 2012
segunda-feira, 24 de dezembro de 2012
MENSAGEM PARA 2013
Queridos blogueiros,
obrigada a todos, obrigada por suas mensagens amigas. Estou lendo Amós Oz, "de amor e trevas". Na página 76 ele diz: "Não precisamos de literatura lamuriante, e já nos cansamos de (...)".
Esta frase bateu forte em mim.
Que tenhamos em 2013 uma arte original e inovadora. E que esta arte nos forneça outras visões de mundo. A dor existe e é parte da vida, mas não façamos de nossa dor lamentações.
Que possamos usar a alegria e a dor para criar perspectivas, e também para encontrar saídas.
Precisamos de territórios e saídas. Desejo-lhes de coração que encontrem territórios e saídas. Que o "estrangeiro" de cada um de nós se fortaleça, e nos fortaleça. Desejo que cada um de nós possa fazer da própria vida uma obra de arte.
Todo meu carinho!
sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
Mensagem de Natal e Ano Novo
Deixo uma cumbuca de cristal bem límpido com cerejas e romãs à porta de cada poeta, confrades queridos de tantos anos. Os blogs estão aqui _ desde 2008? Cerejas e romãs símbolos de criatividade e prosperidade. Em minha cabeça e coração ronda uma música de Natal, que todos vocês sejam abençoados. Será que o tempo realmente, passa mais rápido? Será que a rotação do planeta ganhou velocidade? Acho que deveríamos perguntar à ciência da física, com suas investigações ela abriu e construiu paradigmas. O Pensamento complexo brota bastante da física. E a física (era) uma ciência que se chamava exata... Não Mais? ! Bendita física quântica. Não somos exatos. Somos. cada um de nós, inesperados. Benditos cada um de vocês, cada um de nós. Com amor, Eliane
(A ilustração é a carta "O Mago", do Tarô, desenhada por mim. Ou seja, não foi copiada de nehum baralho consagrado. Esta carta representa alguém seguindo seu caminho, de posse dos instrumentos aprendidos, ao longo da vida).
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
A amiga enseada
onde aportei meu barco tantas vezes,
recebida em festa e alegria,
entre almofadas macias e iguarias.
A amiga enseada partiu.
Sinto-me rica pelo seu legado,
cumplicidade onde cabiam risos e lágrimas,
sonhos derrocados,
outros realizados.
Sua partida me deixou mais só,
e me faz sentir ser monja
em voto de pobreza.
quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
Alguns gostam de poesia
Poema de Wislawa Szymborska
Tradução de Regina Przybycien
Alguns_
ou seja nem todos.
Nem mesmo a maioria de todos, mas a minoria.
Sem contar a escola onde é obrigatório
e os próprios poetas
seriam talvez uns dois em mil.
Gostam_
mas também se gosta de canja de galinha,
gosta-se de galanteios e da cor azul,
gosta-se de um xale velho,
gosta-se de fazer o que se tem vontade
gosta-se a afagar um cão.
De poesia_
mas o que é isso, poesia.
Muita resposta vaga
já foi dada a essa pergunta,
Pois eu não sei e não sei e me agarro a isso
como uma tábua de salvação.
Tradução de Regina Przybycien
Alguns_
ou seja nem todos.
Nem mesmo a maioria de todos, mas a minoria.
Sem contar a escola onde é obrigatório
e os próprios poetas
seriam talvez uns dois em mil.
Gostam_
mas também se gosta de canja de galinha,
gosta-se de galanteios e da cor azul,
gosta-se de um xale velho,
gosta-se de fazer o que se tem vontade
gosta-se a afagar um cão.
De poesia_
mas o que é isso, poesia.
Muita resposta vaga
já foi dada a essa pergunta,
Pois eu não sei e não sei e me agarro a isso
como uma tábua de salvação.
quinta-feira, 8 de novembro de 2012
Palavras afloram
Palavras libélulas
borboletas
grilos
traças
corvos azuis
passam por mim,
e me atravessam.
_ Não pertencem ao presente,
são ancestrais.
Minh´ alma sopra.
_ Anteriores á linguagem? Pergunto,
e a alma me responde:
_De onde o tempo não importa,
talvez, quem sabe,
de um espaço-tempo sem palavras ?
Escutando minha alma que se fez palavras,
apesar de negá-las,
aquelas animais descansam em meus ombros,
frágeis pássaros quebradiços.
Transformada em árvore,
rezei a um deus desconhecido:
_ Fiquem comigo, lhes imploro!
Me acompanhem,
me dêm o tempo de compreender.
Ao perceber o fervor do meu espanto
fugiram assustadas,
não mais me rodearam a quebra mar,
nem dançaram à luz de meu olhar.
Mas outras chegaram fortes e palpáveis,
na verdade frágeis coriscos em noite de verão.
Frágeis e fortes,
criando não um momento fauna-flora,
me tornando libélulas
borboletas
grilos
traças
corvos azuis.
Multipla, animais e árvore recebo o que me vem,
e o deus desconhecido
aflora em mim.
domingo, 4 de novembro de 2012
A comadre
Moema Borges e sua horda de afilhados e afilhadas, para ela, reis e rainhas. E suas comadres, cada qual intimamente ligada e se sentindo única. E ao mesmo tempo se reunindo umas às outras, se tornando amigas, aglutinadas em torno da comadre Moema. Até merece inventar uma etiologia para a palavra “comadre”: “co-madre(s): mulheres sendo mães juntas, dividindo, trocando, compartilhando experiências, no gerúndio”. As comadres da Moema, uma confraria, a irmandade feminina amando crianças, meninada bonita que crescia conosco e aos nossos olhos, festa barulhenta e divertida. “Comadre”, certamente, também é simbólico, como tudo o que diz respeito ao humano. Não importa quem Moema batizou. Em torno dela se reuniram mulheres, homens e crianças, pessoas de diferentes credos, crenças, idades e etnias, tribo a qual tantos pertencemos. Se batismo tem o sentido de iniciação, Moema iniciadora amorosa, incentivadora nunca autoritária, propiciava.
Na verdade, cada pessoa das famílias de quem Moema se aproximava a queria, e com ela usufruiu. Tão amada, muitos de nossos jovens a quiseram madrinha de casamento, e ela subiu a muitos altares. Em cada encontro abria o sorriso de olhos verdes e os braços aconchegantes, dizendo: “Coooooomaaaaaadre”. Ou, “Amiiigaaaaaaaaaa”. Ou “Queeeeeeriiiiiiiidaaaaaaa”.
Aprendi tanto com ela! Cada dia uma novidade, algumas pragmáticas, outras sonhadoras. No nosso caso, duas arianas tão diferentes, e tão parecidas. Nossas mães, o mesmo nome, Mariinha. Nossos filhos regulando em idade. Deliciosa contadora de histórias. Em uma delas, a sua avó, recém-parturiente, amamentando sua criança. A avó morava “na Fazenda”. Diferentemente dos outros filhos, aquele bebê passava fome, o leite da mãe não o sustentava. Chorava, e a mãe não sabendo o que fazer, chorava também. Um dia, acharam a jiboia que morava no teto, e na calada da noite descia sorrateira, para sugar o leite da mulher adormecida. Alguém matou a cobra, e rasgada sua barriga o leite ainda fresco escorreu, nem tempo de talhar. Contei à comadre que esta história ganhou mundo e virou lenda, pois, primeiro soube dela através do meu avô, quando pequena. Aquela mulher com sua criança, e aquela cobra, povoam ainda hoje meu imaginário.
Irmãs não consanguíneas, eleição mútua, linhagem espiritual que se vive e não se explica, também discordávamos, no trocar ideias, no teimar. Afinal, arianas, né? Nossa concepção de vida e mundo, esta sim, da mesma cosmologia. Em determinado momento no campo dos debates começávamos a rir uma da outra, e cada qual de si, “Nooossaa Senhoora!” Nunca nos despedimos sem imaginar e combinar o próximo encontro.
Feminina e original, a comadre gostava de se vestir. Nunca escondeu procedências e endereços, dava-os de bandeja, e seus fornecedores e fornecedoras passavam a fazer parte da tribo de amigos, do bando. Na cozinha arrasava, em pouco tempo a mesa era um banquete, fosse comida goiana-mineira, ou das mais sofisticadas, lanches, almoços, jantares. Inventava doces, compotas de frutas, bolos tortas, biscoitos. Chamava de “comida de Deus”. Em meio ás delícias culinárias, correram saraus literários e de artes em geral, ela nos cercava de beleza. Arquitetou a reforma do apartamento em que moramos hoje, o compadre dela e eu. Adorou nos ter na Avenida Paulista. Bastava um telefonema para combinar o que fazer: um filme na Reserva? Um café na Cultura? Passar na Fnac? Na Martins Fontes? Tomar o metrô e comprar o pão dos beneditinos? E lá íamos braços dados falando e rindo de qualquer bobagem, tecendo sociologias do povo que cruzava conosco, do que nos cercava, filosofando. Tecelãs, tramando e urdindo, e nos sentindo parte das horas, das pessoas e dos acontecimentos. Vivas na vida, lúdicas, e levando viver muito a sério, vivíamos no tempo. Não é possível falar da Moema no geral, e tenho certeza, cada amiga, amigo, comadre ou compadre, terá infinitas lembranças e histórias para contar. E os afilhados e afilhadas? Nossa Moema de Freitas Borges continua em cada um de nós.
Moema Borges e sua horda de afilhados e afilhadas, para ela, reis e rainhas. E suas comadres, cada qual intimamente ligada e se sentindo única. E ao mesmo tempo se reunindo umas às outras, se tornando amigas, aglutinadas em torno da comadre Moema. Até merece inventar uma etiologia para a palavra “comadre”: “co-madre(s): mulheres sendo mães juntas, dividindo, trocando, compartilhando experiências, no gerúndio”. As comadres da Moema, uma confraria, a irmandade feminina amando crianças, meninada bonita que crescia conosco e aos nossos olhos, festa barulhenta e divertida. “Comadre”, certamente, também é simbólico, como tudo o que diz respeito ao humano. Não importa quem Moema batizou. Em torno dela se reuniram mulheres, homens e crianças, pessoas de diferentes credos, crenças, idades e etnias, tribo a qual tantos pertencemos. Se batismo tem o sentido de iniciação, Moema iniciadora amorosa, incentivadora nunca autoritária, propiciava.
Na verdade, cada pessoa das famílias de quem Moema se aproximava a queria, e com ela usufruiu. Tão amada, muitos de nossos jovens a quiseram madrinha de casamento, e ela subiu a muitos altares. Em cada encontro abria o sorriso de olhos verdes e os braços aconchegantes, dizendo: “Coooooomaaaaaadre”. Ou, “Amiiigaaaaaaaaaa”. Ou “Queeeeeeriiiiiiiidaaaaaaa”.
Aprendi tanto com ela! Cada dia uma novidade, algumas pragmáticas, outras sonhadoras. No nosso caso, duas arianas tão diferentes, e tão parecidas. Nossas mães, o mesmo nome, Mariinha. Nossos filhos regulando em idade. Deliciosa contadora de histórias. Em uma delas, a sua avó, recém-parturiente, amamentando sua criança. A avó morava “na Fazenda”. Diferentemente dos outros filhos, aquele bebê passava fome, o leite da mãe não o sustentava. Chorava, e a mãe não sabendo o que fazer, chorava também. Um dia, acharam a jiboia que morava no teto, e na calada da noite descia sorrateira, para sugar o leite da mulher adormecida. Alguém matou a cobra, e rasgada sua barriga o leite ainda fresco escorreu, nem tempo de talhar. Contei à comadre que esta história ganhou mundo e virou lenda, pois, primeiro soube dela através do meu avô, quando pequena. Aquela mulher com sua criança, e aquela cobra, povoam ainda hoje meu imaginário.
Irmãs não consanguíneas, eleição mútua, linhagem espiritual que se vive e não se explica, também discordávamos, no trocar ideias, no teimar. Afinal, arianas, né? Nossa concepção de vida e mundo, esta sim, da mesma cosmologia. Em determinado momento no campo dos debates começávamos a rir uma da outra, e cada qual de si, “Nooossaa Senhoora!” Nunca nos despedimos sem imaginar e combinar o próximo encontro.
Feminina e original, a comadre gostava de se vestir. Nunca escondeu procedências e endereços, dava-os de bandeja, e seus fornecedores e fornecedoras passavam a fazer parte da tribo de amigos, do bando. Na cozinha arrasava, em pouco tempo a mesa era um banquete, fosse comida goiana-mineira, ou das mais sofisticadas, lanches, almoços, jantares. Inventava doces, compotas de frutas, bolos tortas, biscoitos. Chamava de “comida de Deus”. Em meio ás delícias culinárias, correram saraus literários e de artes em geral, ela nos cercava de beleza. Arquitetou a reforma do apartamento em que moramos hoje, o compadre dela e eu. Adorou nos ter na Avenida Paulista. Bastava um telefonema para combinar o que fazer: um filme na Reserva? Um café na Cultura? Passar na Fnac? Na Martins Fontes? Tomar o metrô e comprar o pão dos beneditinos? E lá íamos braços dados falando e rindo de qualquer bobagem, tecendo sociologias do povo que cruzava conosco, do que nos cercava, filosofando. Tecelãs, tramando e urdindo, e nos sentindo parte das horas, das pessoas e dos acontecimentos. Vivas na vida, lúdicas, e levando viver muito a sério, vivíamos no tempo. Não é possível falar da Moema no geral, e tenho certeza, cada amiga, amigo, comadre ou compadre, terá infinitas lembranças e histórias para contar. E os afilhados e afilhadas? Nossa Moema de Freitas Borges continua em cada um de nós.
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
quarta-feira, 15 de agosto de 2012
No ateliê do professor
No Ateliê de Sergio Fingermann
Anotações de Eliane Accioly
A arte
7 de agosto, 2012
1. Oferece pistas para onde você vai/indo (no gerúndio) , com suas experiências. É estar em contato com o que acontece (acontecendo).
2. O processo Artístico é parecido com o que ocorre com o encontro entre o Par Analítico. (Paciente e terapeuta).
3. O artista perde as referências exteriores ao contexto do objet...
Anotações de Eliane Accioly
A arte
7 de agosto, 2012
1. Oferece pistas para onde você vai/indo (no gerúndio) , com suas experiências. É estar em contato com o que acontece (acontecendo).
2. O processo Artístico é parecido com o que ocorre com o encontro entre o Par Analítico. (Paciente e terapeuta).
3. O artista perde as referências exteriores ao contexto do objet...
o de arte, por exemplo, um quadro, um poema, um conto. O artista usa as referências externas para se perder.
4. O estranho em nós: conhecer muito e esquecer muito. O estrangeiro, o que está de passagem, que não habita e não pertence.
Aula de Hoje
14 de agosto, de 2012
1. O que é a imagem? A imagem não é o que aparece, ou o que parece. A imagem é memória, porosidade, trânsito. É a dimensão da evocação. Quando escutamos um acorde, o acorde termina nele mesmo. Escutamos a continuidade. Pensamos que escutamos uma frase musical. (E até escutamos a frase musical). Mas cada frase musical é feita de acordes que se sucedem. Nossa memória guarda o primeiro acorde, o segundo... a infinidade dos acordes. Nossa memória (artística) é feita de porosidade. É porosa. Nossa memória é uma ficção para construir sentido, onde não há sentido.
2. Somos vazio. Cascas de cebola que vamos tirando para chegar ao.......... vazio. Somos um grande vazio.
3. A dimensão do sagrado ajuda a elaborar o estar junto na alteridade. A noção do outro.
4. Aonde a imagem se faz? O destino da imagem não é entendimento, mas a compreensão no tempo.
5. Celebrar a vida é viver a experiência. É “como uso minha experiência”. É inclusive, “tirar o minha”, porque é preciso deixar o eu, e, a subjetividade de lado. Elaboramos a experiência vivendo outra experiência. E assim, sucessivamente.
que ocorre com o encontro entre o Par Analítico. (Paciente e terapeuta).
3. O artista perde as referências exteriores ao contexto do objeto de arte, por exemplo, um quadro, um poema, um conto. O artista usa as referências externas para se perder.
4. O estranho em nós: conhecer muito e esquecer muito. O estrangeiro, o que está de passagem, que não habita e não pertence.
Aula de Hoje
14 de agosto, de 2012
1. O que é a imagem? A imagem não é o que aparece, ou o que parece. A imagem é memória, porosidade, trânsito. É a dimensão da evocação. Quando escutamos um acorde, o acorde termina nele mesmo. Escutamos a continuidade. Pensamos que escutamos uma frase musical. (E até escutamos a frase musical). Mas cada frase musical é feita de acordes que se sucedem. Nossa memória guarda o primeiro acorde, o segundo... a infinidade dos acordes. Nossa memória (artística) é feita de porosidade. É porosa. Nossa memória é uma ficção para construir sentido, onde não há sentido.
2. Somos vazio. Cascas de cebola que vamos tirando para chegar ao.......... vazio. Somos um grande vazio.
3. A dimensão do sagrado ajuda a elaborar o estar junto na alteridade. A noção do outro.
4. Aonde a imagem se faz? O destino da imagem não é entendimento, mas a compreensão no tempo.
5. Celebrar a vida é viver a experiência. É “como uso minha experiência”. É inclusive, “tirar o minha”, porque é preciso deixar o eu, e, a subjetividade de lado. Elaboramos a experiência vivendo outra experiência. E assim, sucessivamente.
que ocorre com o encontro entre o Par Analítico. (Paciente e terapeuta).
3. O artista perde as referências exteriores ao contexto do objeto de arte, por exemplo, um quadro, um poema, um conto. O artista usa as referências externas para se perder.
terça-feira, 31 de julho de 2012
O invisível
Há uma enorme diferença entre o oculto e o invisível.
Estou com muitas saudades de meus amigos blogueiros.
Será um tema pare desenvolver aqui, com vocês.
Curto o invisível.
A voz humana, o ar que respiramos são palpáveis e invisíveis, não é o máximo?
A saudade e os sentimentos também são invisíveis.
Enorme abraço
Estou com muitas saudades de meus amigos blogueiros.
Será um tema pare desenvolver aqui, com vocês.
Curto o invisível.
A voz humana, o ar que respiramos são palpáveis e invisíveis, não é o máximo?
A saudade e os sentimentos também são invisíveis.
Enorme abraço
quinta-feira, 12 de julho de 2012
Gerações: música em três tempos
Foto de arquivo pessoal _ Espanha, Cuenca
I - 1321 A.C.
No princípio, amanheci deserto.
III - Terceiro Milênio
Atravessamos o mar, conheci meu marido, tivemos filhos. Agora, avó, em meus sonhos, permaneço jovem e loira. Neles visto leves e transparentes véus, cavalgo camelos enluarados, quando, os cheiros, sons, e ritmos vivos, torneados e sacrílegos me possuem, em tempos e verbos de língua brasileira.
I - 1321 A.C.
No princípio, amanheci deserto.
Um homem _
metade sol, metade lua _ escalando dunas, descobriu-me os seios. Oculto no
remanso de um abraço infindo fecundou-me. Ao conceber os gêmeos renasci oásis,
uádi, poço, palmas, tamareiras.
Desde então,
os frutos que de mim brotam alimentam pássaros, camelos, cabras, cobras,
lagartos, as caravanas dos tuaregues, a luz e as sombras do meu homem. E os
meninos: o Negro e o Dourado.
II - 1950 A.D.
A cama de
espaldar alto e dossel de filó não protegia meu sono de menina das areias, do
calor, da comida, da língua e musica árabe, ou dos murmúrios do Nilo, que,
renegados pela cultura de minha gente, apesar de vivermos no Cairo, entravam
sorrateiros e caudalosos pelas conversas proibidas nas sombras da cozinha.
As tias, avós,
primas mocinhas, minha bela mãe, vestidas de sedas e rendas de Chantilly, preenchiam
salas luminosas de risos e vozes musicais. Os homens desmanchavam-se na fumaça
dos charutos, embriagados com a promessa dos lucros nos negócios. As crianças
corriam por varandas, caramanchões, jardins. Vivíamos nas bordas do Sahara, e
falávamos o francês.
III - Terceiro Milênio
Atravessamos o mar, conheci meu marido, tivemos filhos. Agora, avó, em meus sonhos, permaneço jovem e loira. Neles visto leves e transparentes véus, cavalgo camelos enluarados, quando, os cheiros, sons, e ritmos vivos, torneados e sacrílegos me possuem, em tempos e verbos de língua brasileira.
quarta-feira, 11 de julho de 2012
Tradução de Eliane Accioly, por Norma Segades Manias
ALGO PARECIDO A UNA TRADUCCIÓN
Cuando visité México, para el Onceavo Encuentro de Mujeres Poetas en el País de las Nubes, pensaba que su gente, los nativos, podrían comprender mis poemas en português, al leerlos durante los encuentros. Fue ese uno de los mayores engaños que debí afrontar. La lengua española me parecía “similar” a la lengua portuguesa, después de todo, ambas son romances. Sin embargo, comprendí lo profundamente disímiles y misteriosas que son en sus particularidades. Así, sentía inútiles mis poemas, que no serían comprendidos en português, y una semana por delante, para desesperarme. O retornar antes a Brasil, con el rabo entre las piernas.
Me salvó la poeta Norma Segades. Los poemas que llevé, en su mayoría, habían sido publicados en dos libros. Y no eran necesarios más que seis u ocho poemas porque serían leídos en pueblos y ante públicos diferentes. Norma no me dejó leer ningún poema en português para que fuera mejor comprendida. Y estaba en lo cierto. ¡Bendita amiga!
Por la noche, nos reuníamos las cuarenta poetas en un bar sencillo y acogedor donde comíamos nuestros bocadillos. Fue en este sitio, en el pueblo de Emilio Fuego, que Norma y yo, trabajamos sobre los poemas. Ella los tradujo, incansablemente. Un trabajo inolvidable a cuatro manos, cuatro ojos, dos corazones, y la presencia de dos mujeres aventurándose entre dos idiomas. La primera noche nos pusimos de acuerdo y detuvimos la tarea casi de madrugada. Trabajamos también otras noches aunque por esas horas estábamos exhaustas. Ya que, desde la mañana al fin de la tarde, nos afanábamos amorosamente en llevar la poesia a los pueblos cercanos.
Al comenzar las presentaciones, con las traducciones en mis manos, me sentia bendecida y a salvo. Entonces, leía mi poema en português y una poeta de lengua hispânica lo hacía, a su vez, en español. Experiencia única para cada uno de nosotros y para el público. Las lenguas desconocidas son musicalidad pura, cuando se trata de poemas. De los buenos poemas, por cierto. Así fue que escuchamos poemas en mixteco, hebreo, danés, inglês y español.
Fue en esta ocasión que me dí cuenta de las marcadas singularidades entre ambos idiomas. Y como fue posible encontrar una hermana del alma, en la poesia y en Norma.
Cuando mi hija menor fue a vivir a Madrid, donde se casó y tuvo una hija, comprendí mejor la diferencia entre ambos idiomas. Fuera del ámbito familiar, comprendo lo absolutamente trivial pero no puedo conversar profundamente con casi nadie. Norma ha sido siempre una excepción. Con ella, no sé como, pude atravesar las fronteras de los sentimientos y las emociones.
Uno de esos misterios.
Uno de esos misterios.
Ensaio: Duas poetas traduzem poemas
Publicado por Norma Segades-Maniás em http://gacetaliterariavirtual.blogspot.com
PÁGINA 10 – ENSAYO
ELIANE ACCIOLY FONSECA
(San Paulo-Brasil)
(San Paulo-Brasil)
DIÁRIO DE VIAGEM: 2003
Quando estive no México para o XI° encontro de“Mujeres poetas em el Pais e las Nubes”, acreditava que as pessoas de lá, os nativos, pudessem compreender meus poemas, quando eu os lesse nos encontros, em Português. Foi um dos maiores engodos que me aprontei. A língua espanhola me parecia “parecida” com a língua portuguesa, afinal são neolatinas. No entanto, são profundamente diferentes e misteriosas em suas diferenças. Assim, tinha meus poemas inúteis, que em português não me serviriam, e toda uma semana pela frente, para me desesperar. Ou retornar antes ao Brasil, com o rabo entre as pernas.
A poeta Norma Segades-Manias me salvou. Os poemas que levei em grande parte, estavam publicados em dois livros. E não seriam necessários mais que seis ou oito poemas, pois eles seriam lidos em pueblos diferentes e para diferentes públicos. Norma não me deixou ler nenhum poema em português, me convencendo que não seria compreendida. Ela tinha razão. Bendita amiga! Á noite nos reuníamos todas as quarenta poetas em um bar simples e simpático onde comíamos nossos lanches.
Foi neste bar, no Pueblo de Emílio Fuego, que Norma
e eu nos debruçamos sobre os poemas. E ela os traduziu incansavelmente. Um
trabalho inesquecível em quatro mãos, quatro olhos, dois corações, e a presença
de duas mulheres se aventurando entre dois idiomas diferentes. Na primeira
noite praticamente ficamos acordadas, e varamos a madrugada. Trabalhamos em
outras noites também, trabalho extra, pois por essas horas estávamos exaustas.
Trabalhávamos de manhã ao fim da tarde, o que adorávamos, pois nossos trabalhos era levar poesia ao povo do lugar.
Ao começaram as apresentações dos poemas pelas
poetas, com as traduções de Norma Segades-Maniás em minhas mãos, sentindo-me
abençoada e salva! Então eu lia o poema na língua portuguesa, e uma poeta de
língua hispânica o lia por sua vez, em espanhol. Experiência única, para cada
uma de nós, e para o público. A língua desconhecida, para nós, é pura
musicalidade, tratando-se de poemas. Bons poemas, por sinal. Escutei poemas em
mixteca, hebreu, danês, inglês e espanhol.
Foi por esta ocasião que me dei conta do quanto os
idiomas português e espanhol são distintos entre si. E como foi possível
encontrar uma irmã de alma, na poesia, em Norma.
Quando minha filha mais nova foi viver em Madrid,
onde se casou e teve uma filha, compreendi ainda melhor a diferença entre os
idiomas. Fora do âmbito familiar ali me compreendem no absolutamente trivial,
mas não posso conversar profundamentecom quase ninguém. Uma das exceções
sempre foi Norma, com quem, nem sei como, pude avançar as fronteiras dos
sentimentos e emoções.
Um desses mistérios.
segunda-feira, 9 de julho de 2012
sábado, 7 de julho de 2012
Contradições
“Ela” habita a casa em que moro,
e ali não sou senhora.
Se desejo galinha à cabidela
“Ela” cozinha caranguejos,
e eu os devorarei alegremente.
Aprontou versões perigosas de mim,
traduções estranhas nas quais me espantei,
sofri e morri muitas vezes
mas agradeço, pois, me fizeram ampla.
De uma vida juntas,
comendo sal na mesma gamela,
mútuas descobertas,
de nós duas quem envelhece sou eu,
“Ela” permanece uma menina.
Agora, fluindo em mim torna-se pintora,
aprecia minhas mãos, me sopra aos ouvidos:
_ Mãos que fazem coisas,
manejam pincéis, desenham esboços
e palavras, plantam orquídeas,
e penteiam crianças,
cozinham e tiram a poeira dos móveis,
de quando em quando.
Quem trabalha sou eu,
“Ela” brilha em meus olhos
faz leve ou pesado meu coração
e eu que tanto me assustei
já quase não me assusto,
“Ela” chega a me fazer rir de mim e dela,
quando a percebo independente,
dizendo ou fazendo
o que nem pensei.
sábado, 23 de junho de 2012
Resenha de Edimilson de A.PEREIRA, de "Poemas na Arena"
“Poemas à flor da pele: a poesia de Eliane Accioly Fonseca”. In: Corrente. Pirapora, Ano XXII, No 959, 01 de novembro de 2002, p. 6, de Edimilson de A.PEREIRA
A leitura de Poemas na arena é um convite à luta, sem intervalos. Luta que – embora evidencie amazonas e cavaleiros como contendores – se estende para ser uma tomada de atitude do ser humano contra todas as iniqüidades. A presença de uma voz que se assume como a voz da mulher exprime, por um lado, a justa reivindicação de quem se viu historica-mente espoliada de seus direitos; por outro, o desafio para compreendermos nesse fio específico a análise das tensões que dizem respeito a todos nós.
Para navegar nessas duas margens, simultaneamente, Eliane Accioly assume a palavra como seu meio de trabalho e a persona de poeta como sua identidade: "poeta/extraio lucidez/da loucura // e do bruto/loucura liquefeita/ translúcida" (Instantes). Essas escolhas, antes de serem amarras que a limitam a dois campos da realidade, se convertem em agentes legitimadores de sua ação criadora. Por isso, quando nos dá ver a sua criação, Eliane Accioly nos apresenta a si mesma, agora multiplicada através da persona do poeta.
Assim, a poeta entra na arena e seu embate com a palavra, embora difícil, não anula a possibilidade dos frutos pois, afinal, "palavras pulsam" e "cunham fados" – estão vivas para quem vive ("encarno o tempo/ e os enxames// quando respiro"). A partir desse reconhecimento é necessário acrescentar outro, central para que se possa tocar o cerne dos poemas. A poeta emprega a colméia – isto é, seus agentes (abelha rainha, operárias, zangões) e as relações (de hierarquia, trabalho, sexualidade, violência) que estabelecem entre si – como metáfora para falar dos agentes humanos e de suas relações. Em vista disso, pode-se dizer que os temas se apresentam aparentemente restritos ao confronto feminino/masculino, mas intrinsicamente vinculados às indagações de todos os seres humanos; aparentemente tecidos em torno de uma poética da natureza, mas profundamente mergulhados na psicologia humana.
É, portanto, sob o signo da multiplicidade da palavra e das metáforas que nos deparamos com a recuperação do mito para expressar as experiências do sujeito contemporâneo, como em Coro de Sibilas: "oh enxame de Dionísio,/o vosso gozo não conta". Nesse caso, a mitilogia funciona como suporte para a veiculação de um discurso amoroso tenso, atravessado pelo lirismo e pela violência. Tangenciando, para diferenciar-se, da síntese camoniana em que platonicamente "Transforma-se o amador na cousa amada", Eliane Accioly nos dá conta de que o amar é perder-se exatamente porque decorre de uma realidade concreta, marcada por confrontos: ":a flecha deixa seu arco/ fere o alvo, se oferta".
O amor, por sua vez, desce à arena onde "os personagens/apresentam-se/na flor da carne" (Teatro) e, diante da nudez humana, se revela múltiplo: como desejo ("amor, cio/andrógino", Platônico); como transformação do ser e do corpo ("a cópula/ delimita o par: recorte cósmico", Metamorfose); e, sobretudo como luta ("chegam os cavaleiros /…/ sob o vermelho cruel/ de um céu que não os protege/ nos jogos nupciais", Consortes). Apesar do confronto, é no confronto mesmo que o amor se realiza ("o sexo da rainha,/caverna templo/ câmara matrimonial// arena// de um encontro indissolúvel entre a fêmea e o macho", Primórdios).
Dentre outros temas abordados sob a ótica anterior, é interessante realçar: a politização do texto mediante o emprego da metáfora da colméia, ou seja, para se contrapor ao discurso masculino dominante a poeta encarna a potência da mulher abelha e afirma: "nua refém/ paramentos de apicultor/ não me acodem", Uma mulher abelha); a desconstrução da imagem romântica da mulher a partir de sua apresentação como identidade plural ("a mulher/ abelha/ é o picadeiro", Circo; "operárias guerreiras/ amas curandeiras sibilas, em mutirão", Arquiteta; "a moça guerreira", Lenda); a erotização do discurso religioso como forma de criticar a vigilância que a religião impôs à sexulidade feminina ("o consorte// habita/consome/fertiliza/a amada// a morada/o consome", Mistério gozoso); a inversão do significado do ato de vencer através da crítica à ideologia que propaga esse fato como privilégio masculino ("oh bem amado guerreiro!/ olvide vossa vitória/ a colméia vos conquista", Coro de Sibilas).
Mas, sob a multiplicidade da palavra e da metáfora, a poeta surpreende a permanênca do discurso patriarcal que demarcou os valores considerados suficientes para definir a mulher. Valores que transmutaram a sua capacidade geradora em prisão para ela mesma, submetendo seu desejo e sua individualidade à força das necessidades da espécie: "a guerreira abre alas/ entre fileiras vivas/transformando-se na matriz/aguardada pela aldeia// o ciclo da história se marca:/ oh guerreiro, oh soberana,/ vossas vontades não contam/ quando canta a colméia" (Lenda).
Ao abordar os embates entre feminino e masculino, Eliane Accioly propõe uma verdadeira alquimia do verbo, pois elabora um discurso direto mas que se nutre da multiplicidade de sentidos da palavra e das metáforas. Desse modo, imagens conhecidas decorrentes da associção da mulher à natureza adquirem novas configurações. Mais do que flor e abelha, a mulher que se apresenta na arena percebe que suas atribuições englobam e ultrapassam essas associações. Ciente disso, a poeta pode dialogar com o masculino criticando-o e redescobrindo-o como interlocutor, além de descobrir-se a si mesma como sujeito que, "entre temperos e palavras", cria significativamente o seu discurso.
Poemas na arena se orienta como um livro que instiga o leitor a entrar no círculo de conversas, seja para contestar ou partilhar a voz da poeta mas, acima de tudo, para assumir-se como parte dessa experiência humana. E este é um outro caminho que Eliane Accioly palmilha para criar um discurso perturbador, pois se na aparência é a poeta quem se desnuda, ao final nos quedamos também com essa sensação "à flor da carne". Ou seja, diante um livro de coragem, a abertura ao diálogo das mulheres entre si, dos homens entre si, bem como de mulheres e homens entre si, se insinua como uma atitude possível e necessária.
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Edimilson de Almeida Pereira
Genebra, 14 janeiro 2002
quarta-feira, 20 de junho de 2012
sábado, 16 de junho de 2012
De finitude e infinito
Uma crônica
Neste agora ela é mais esquecimento
que lembranças. Do que se lembra? Do que se esquece? A sensação regente é real,
como o vento que entra pela janela aberta. É como uma notícia que chega e conta
que ela se esquece de expressões e palavras de sua infância, regionais, há
pouco frescas como fruta ao ponto de comer em pé de árvore, ao alcance. O
esquecimento a esvazia. O silêncio traz o oco fundo. Escorrega em paredes duras
e arredondadas, e as abençoa, sentindo-se abençoada. Não ser o que foi a desconcerta e a
desconhece de si e dos outros. Vagas
nostálgicas batem nela e a arrancam da falésia onde se agarrava. Em seu corpo nascem guelras e barbatanas. Em
seus sonhos cobras deixam para trás as velhas peles, e um pardal se incendeia e
renasce. Estranha suas filhas, três
mulheres desconhecidas como ela mesma, ou seja, como ela-outra.
Três vezes ao dia os ponteiros do
relógio são uma linha reta tendendo ao infinito, apenas por um instante.
Percepções
segunda-feira, 4 de junho de 2012
"Poema Percebido", de Gabriel Arcanjo
Quero um poema
sem pausa
Sem ponto
Sem virgula
Que seja lido corrido
Reinvente as palavras
Sem rima
Que por mais
Que seja mal escrito
Que ele gere polêmicas
Silêncio e gritos
Mas que não seja metafísico
Que se arrisque
E que corra perigo
Um poema sem história
Que não fale do passado
Nem recorra a memória
Que seja dito
Ao pé do ouvido
Quer seja preto e branco
Ou colorido
Que seja transparente
Mas não passe despercebido
Que ateie fogo ao quarteirão
E provoque o libido
Um poema profundo
Que abra as portas do mundo
Há muito tempo fechadas
Que sacie a fome
E alivie a dor
Enfim um poema de amor
Que seja de dominío público
Como uma oração
Feita dos pais para os filhos
E dos filhos para os pais
E que ninguém saiba
De onde ele veio
E para onde ele vai
Que seja dito por camponeses
E executivos
Que suplante a guerra
E instaure a paz
E que ninguém diga
Que tanto faz
sábado, 12 de maio de 2012
Crônica
Entre costuras
Pregava os botões que caiam de minhas roupas, cerzia meias, interpretava os vestidos que eu sonhava em moldes tesoura provas e alfinetes, e pedalava a máquina de costura. Também bordava. Fez meu vestido de primeira comunhão, e antes, a camisola do batizado. Assistia comigo as serenatas que me ofereciam, me levava a bailes, e eu lhe contava de namorados. Acompanhou passo a passo o enxoval, e vibrou no dia do casamento. Gostava do meu jovem marido, estava no hospital quando nasceu a primeira filha. Seu sorriso iluminava-lhe o rosto, lindos dentes, olhos pretos tez azeitona. Quando pequena costumava me dizer, jocosamente:
_ O que seria de você sem mim?
Pregava os botões que caiam de minhas roupas, cerzia meias, interpretava os vestidos que eu sonhava em moldes tesoura provas e alfinetes, e pedalava a máquina de costura. Também bordava. Fez meu vestido de primeira comunhão, e antes, a camisola do batizado. Assistia comigo as serenatas que me ofereciam, me levava a bailes, e eu lhe contava de namorados. Acompanhou passo a passo o enxoval, e vibrou no dia do casamento. Gostava do meu jovem marido, estava no hospital quando nasceu a primeira filha. Seu sorriso iluminava-lhe o rosto, lindos dentes, olhos pretos tez azeitona. Quando pequena costumava me dizer, jocosamente:
_ O que seria de você sem mim?
sábado, 5 de maio de 2012
Roberto Bolaño, "2666".
(Imagem do acervo pessoal: Escultura de arame e capsulas de nescafé, Eliane Accioly, Título, Atravessador em Viagem)
Resenha de Eliane Accioly
Originalmente, pela vontade do autor, o livro sob o nome de "2666" seria publicado em cinco diferentes livros ou volumes. Lançado após a morte de Bolaño, surgiu como um livro de cinco capítulos. Obra de arte literária única, eu diria, cada capítulo constitui em si um livro. Os personagens transitam nos diferentes livros/capítulos, em diferentes épocas de suas vidas, e uma cidade vai se constituindo como o lugar/espaço reunificador das narrativas. Narrativas no plural porque a escritura de Bolaño, neste livro, é voluntáriamente fragmentada, feita de muitos fios, sem que nos percamos, e se sim nos perdemos, podemos nos reencontrar, e novamente nos perder. Digo voluntária porque Bolaño sabia passo a passo o que fazia. Um de seus recursos é quebrar a todo momento "o muro negro que separa o sonho da vigília"; ou desmanchar as fronteiras entre a sanidade e a loucura.
O personagem chave é o escritor Benno von Archimboldi, candidato ao Nobel, figura mítica e histórica, no livro, e o ídolo de alguns críticos, que o tornam o leimotiv de suas vidas. Em torno de sua obra gravitam a vida de, pelo menos, quatro críticos. Archimboldi, em cuja história inicial (no último capítulo), como nascimento e infância nada nos levaria a crer que seria o escritor do porte em que se tornou. Nasce Hans Reiter, na Baviera, e luta na segunda guerra mundial. Hans Reiter e seus parceiros de fileiras, não tinham a menor ideia do que ali faziam. Archimboldi, o eterônimo de Bolaño?
Descobri Roberto Bolaño lendo este livro, embora já houvesse escutado acerca do escritor chileno, morto prematuramente, talvez, das consequências de hepatite C.
Estando no Chile durante a queda de Allende pelo golpe militar, Bolaño foi preso, não por pertencer a algum partido, mas ser tido como suspeito; era um pensador, um artista, escritor. Na prisão apenas não foi torturado porque três carcereiros haviam sido seus colegas de classe, em sua infância e adolescência. Mas escutou os gritos dos que eram torturados. Os colegas/amigos conseguiram libertá-lo, e ele se exilou. Em Barcelona conheceu uma catalã, com quem se casou. Tiveram dois filhos. Bolaño dizia que a única pátria que conhecia eram sua mulher e seus dois filhos.
quinta-feira, 3 de maio de 2012
sexta-feira, 13 de abril de 2012
Diálogo aberto _ Versos e conversas acerca de: "o que é ser poeta?"
Foto de viagem, acervo pessoal: Espanha
Dilmar GomesApr 11, 2012 07:04 PM
Amiga Eliane, acho que ser poeta é deixar transbordar a emoção, é dizer aquilo que muita gente traz trancado no peito. Ser poeta é esquecer de si e ver a beleza que ainda existe apesar de todos os ditos em contrário.
Um abração. Tenhas uma noite poética.
Morgana GazelApr 12, 2012 03:36 PM
Dilmar GomesApr 11, 2012 07:04 PM
Amiga Eliane, acho que ser poeta é deixar transbordar a emoção, é dizer aquilo que muita gente traz trancado no peito. Ser poeta é esquecer de si e ver a beleza que ainda existe apesar de todos os ditos em contrário.
Um abração. Tenhas uma noite poética.
Morgana GazelApr 12, 2012 03:36 PM
Acrescento: ser poeta é destino sem amarras, ser romancista é destino que nos leva ao gozo de uma prisão libertadora.
Um afetuoso abraço
Um afetuoso abraço
Poeta é "bicho doido" e que bom seria se este mundo fosse um hospício. Viveríamos sem violência e desrespeito humano, apenas poetando... Já pensou??? (risos) Amei... Beijos.
http://elianeacciolypsicanalisearte.blogspot.com
http://elianeaccioly.blogspot.com
http://elianeacciolypsicanalisearte.blogspot.com
http://elianeaccioly.blogspot.com
Querida Vitoria Lucio, queridos blogueiros, este mundo é um hospício no mal sentido, que delícia se fossem todos poetas e in-sensatos. Seríamos amor reconhecendo uns aos outros, distribuindo poemas, pão e flores. E tomando vinho, certamente. Beijos
Ser poeta é sentir música e cores nas palavras. É ter coragem de abrir o coração e deixá-las saltar para o papel incondicionalmente...
Oi Eliane, se me permite: ser poeta é enxergar elementos e fenômenos gratuitos que a natureza nos dá.
Poeta amador
Não é aluno nem professor
É ser humano não é robô
Hoje ele escreve no com-puta-dor
Mas ainda não usa despertador...
Não é profeta
Nem é filósofo
Só esquenta a cabeça
Palito de fósforo.
Passa o dia a toa, a toa...
Que a vida é boa!
É boa!
No meio da noite desperta
Aperta a caneta na caderneta
Desenha nas pautas a sua letra.
Escreve poemas
A toda hora
Que não tem hora para escrever
Que ser poeta não tem escolha
Fazer poesia não tem querer...
Não é aluno nem professor
É ser humano não é robô
Hoje ele escreve no com-puta-dor
Mas ainda não usa despertador...
Não é profeta
Nem é filósofo
Só esquenta a cabeça
Palito de fósforo.
Passa o dia a toa, a toa...
Que a vida é boa!
É boa!
No meio da noite desperta
Aperta a caneta na caderneta
Desenha nas pautas a sua letra.
Escreve poemas
A toda hora
Que não tem hora para escrever
Que ser poeta não tem escolha
Fazer poesia não tem querer...
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Usted está muy feliz de ayudar.
Me pongo cuando creé mi blog he encontrado varias dificultades. Sólo después me enteré de algunas cosas con el tiempo.
Trato de explicar cómo agregar el traductor. Con la esperanza de ayudarle. Así que cuando me vienen a visitar se hace más fácil para mí y para otros para entender su contenido.
Luego, en la página del blog en la esquina superior derecha hay un icono con las palabras de arriba y luego haga clic en Diseño en el lado izquierdo de la página se verá voces diferentes ... lo que tienes que hacer clic en el DISPOSICIÓN elemento de la pantalla que aparece haz clic en el elemento Añadir Gadget después de la verás muchos gadgets, pero basta con hacer clic en el elemento y después de agregar el TRADUCTOR GOOGLE guardar el diseño.
Espero haber sido claro, ya sé que no es muy fácil, pero verá usted tenga éxito y nos vemos pronto besos
Vi que ya se han resuelto. Brava. Un abrazo