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Diagnóstico do Ensino Superior: 12 + 5 = 2

Recentemente fiquei a conhecer alguns resultados do projecto PMAT, com o qual a Sociedade Portuguesa de Matemática avaliou o grau de preparação em Matemática que a nossa Escola proporciona aos alunos que entram no Ensino Superior. A respectiva comunicação foi feita no âmbito do Workshop sobre qualidade no ensino superior, que decorreu na Universidade do Algarve, entre 20 e 24 de Fevereiro de 2012, com financiamento do projecto DEQUE/TEMPUS, e foi apresentada pela Prof. Marília Pires

O sumário destes resultados está apresentado nos dois slides da minha palestra:



Com efeito, os investigadores confirmaram uma ausência de conhecimentos memorizados, de forma permanente e reutilizável, de matéria do currículo escolar em Matemática, mesmo nos alunos que entraram no IST com as médias próximas aos 16 valores, e estudarão várias disciplinas de matemática no seu currículo universitário. É de notar que nas entrevistas os alunos referiram que em Setembro já não se lembravam de nada do que estudaram para os exames nacionais em Junho, e na altura da repetição do teste, no fim do 1º semestre, não se aperceberam que estão a fazer exactamente o mesmo teste, com as mesmas perguntas.

Esta é uma consequência necessária e inevitável do paradigma do "pensamento crítico, criativo e independente", realizado na Escola por via de rejeição da memorização, e do uso e desenvolvimento da memorização associativa no ensino.   

Irei então discutir os seguintes pontos:
  1. Como conseguiram estes alunos obter boas notas na Escola, e passar nos exames nacionais?
  2. Como conseguem estudar na Universidade?
  3. O que pode ser feito para melhorar os resultados de aprendizagem?
Os primeiros dois pontos têm a mesma resposta. Como na Escola não se exige decorar nada, uma vasta maioria dos alunos não consegue usar a sua memoria permanente associativa - pois são necessários conhecimentos, anteriormente já memorizados, com os quais estas associações podem se estabelecidas. Além disso, o hábito de "estudar para o teste" faz com que o aluno não estuda sistematicamente, o que mais uma vez impede que os conhecimentos sejam assimilados de forma permanente. Isso, porque a memorização permanente entra em jogo apenas quando a pessoa depara com as mesmas informações repetidamente, várias vezes, em circunstâncias de preferência diferentes, e dentro de um intervalo de tempo relativamente curto, que não ultrapassa 2 semanas. Então o recurso que os alunos conseguem mobilizar - é o da memorização temporária, volátil e de pouca capacidade. Como não conseguem memorizar nada de forma permanente, também não conseguem perceber as matérias curriculares, nem as relacionar com as outras componentes curriculares. Assim, acabam por decorar, sem perceber, páginas e páginas dos seus livros, reproduzindo como respostas os parágrafos onde aparecem as mesmas palavras que leram no enunciado ... Esquecem tudo, dentro de poucas semanas, e estudam de tábua rasa para cada teste. Naturalmente, continuam a fazer na Universidade o que aprenderam na Escola, ou seja, "estudar para os testes", e podem fazer isso, já que nas Universidades também praticam os testes de frequência.

A resposta ao terceiro ponto é óbvia: fazer com que os estudantes trabalhassem durante o semestre inteiro, e não apenas "para o teste". As avaliações por frequência devem ser proibidas, para não perturbar o processo de ensino/aprendizagem - servem para avaliação as épocas do exame. A segunda razão de as proibir - é precisamente para avaliar os conhecimentos assimilados de forma permanente, e não apenas o conteúdo da memória temporária. Não deve ser admitida avaliação por trabalhos/apresentações, pois estes não avaliam os conhecimentos, avaliam as capacidades de apresentação, interacção com auditório - estes também são importantes, mas não dizem respeito a nenhuma disciplina curricular específica, e não podem entrar na avaliação da mesma. Podemos exigir que o aluno faça uma apresentação, como condição de acesso ao exame, mas sem dar pelo respectivo trabalho qualquer parte da nota final.

Na situação corrente, os esforço feito pelo aluno durante 17 anos de estudos, numa vasta maioria dos casos, tem resultados nulos, em termos de conhecimentos assimilados, de forma permanente e reutilizável, numa vasta maioria dos casos. Será que esse foi o nosso objectivo?

Em nome de objectividade, devemos recordar que a ênfase do sistema de ensino ficou deslocado, propósito e deliberadamente, para as competências e capacidades, em detrimento dos conhecimentos. Entretanto, na matemática, línguas e ciências naturais as competências sem conhecimentos não trazem qualquer benefício, ficando mal servidos tanto os próprios estudantes como a sociedade em geral. Daí o título: depois de 17 anos de estudos, um estudante médio não consegue assimilar os conhecimentos e competências que antigamente se adquiriam na escola primária.