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Fraldas, Chupetas, Infantilização da Juventude e Insucesso Escolar

O abuso das fraldas e chupetas pelos pais tem consequências inevitáveis para o desenvolvimento intelectual e social da criança, com repercussões ao nível do ensino escolar.
Uma criança que já começou a andar é perfeitamente capaz de aprender a usar o bacio e faz o uso do mesmo com a maior das satisfações, pelo trabalho bem conseguido, depois de algum esforço dos pais, e deixa assim de precisar das fraldas. Esta criança tem mais incentivos para comunicar verbalmente quer com os adultos quer com as crianças mais velhas e recebe por isso uma maior compensação moral e emocional, aprendendo deste modo a falar mais cedo e com maior facilidade, deixando também de precisar da chupeta visto que esta interfere com a comunicação verbal.

Ora, a escolha pelos pais de um caminho aparentemente mais "fácil", o de deixar a criança andar com fraldas, desincentiva a aprendizagem do uso do bacio, pois a criança com fralda deixa de sentir o desconforto da roupa molhada e suja, e não precisa de se esforçar para melhorar a sua situação. Em resultado disso, surgem várias consequências indesejáveis: a criança atrasa-se no seu desenvolvimento social, ficando desincentivada de comunicar com os adultos, atrasa-se no seu desenvolvimento intelectual e emocional, aprendendo a falar mais tarde, usa a chupeta por mais tempo, o que atrasa ainda mais o desenvolvimento das capacidades verbais, e deforma a dentição. Assim, com bastante frequência surgem casos de crianças que não aprendem a controlar devidamente as funções da bexiga, mesmo com 4 ou 5 anos de idade, o que traz consequências psicológicas bastante graves, pois nesta idade já se tornam alvos da troça dos seus pares.

Esses atrasos no desenvolvimento social e intelectual nunca se recuperam completamente. Deste modo, crianças com idade biológica de 6 anos que entram no 1º ciclo podem ter um desenvolvimento social e intelectual equivalente a uma criança normal de 3 ou 4 anos, não possuindo a capacidade de concentrar a atenção naquilo que a turma está a fazer, não possuindo qualquer noção de disciplina. Assim, além de não conseguirem aprender, criam na aula distracções para o resto da turma, atrapalhando o processo de ensino/aprendizagem.

Nos países mais desenvolvidos, as crianças com atrasos significativos no desenvolvimento social e intelectual, provocados pelo abuso dos bens da civilização, constituem uma percentagem muito significativa das turmas. Criam condições para o insucesso escolar muito comum já no 1º ciclo do ensino básico, apesar dos esforços para melhorar o funcionamento do sistema escolar. Naturalmente, os alunos que falharam no 1º ciclo terão imensas dificuldades em triunfar nos ciclos mais avançados, pois com os atrasos no seu desenvolvimento intelectual e social continuarão a acumular falhas na aprendizagem, e assim reciprocamente.

Propõe-se: informar os pais sobre os benefícios dos seus filhos não usarem fraldas desde que começam a andar.

( Prevê-se uma oposição encarniçada a estas ideias das empresas produtoras de fraldas.)


Introdução pessoal: história da descoberta

O essencial numa descoberta é fazer uma pergunta certa.

Acontece que estamos numa posição única e privilegiada, pois temos uma experiência ampla de pelo menos dois sistemas de ensino bastante diferentes, um dos quais é o sistema nacional. Assim, podemos usar as experiências pessoais para avaliar o seu funcionamento, em todos os níveis da formação, desde o ensino pré-primário e o 1º ano do 1º ciclo do ensino básico, a até aos mestrados e doutoramentos. Deparamos desde o início dos nossos contactos com o ensino nacional com um fenómeno bem conhecido: a inabilidade deste sistema de proporcionar uma formação adequada a um aluno de capacidades médias (aluno médio, ao qual vamos em diante referir simplesmente como "aluno").

A pergunta que então colocamos foi: o quê é que impede aos alunos a estudarem com aproveitamento, embora os conteúdos programáticos são cientificamente válidos e, na maioria dos casos, satisfatoriamente apresentados?

Tendo reflectido sobre vários níveis de ensino durante mais de uma década, analisando vários casos concretos da vida quotidiana, chegamos à conclusão que as razões do insucesso escolar generalizado prendem-se com uma deficiência pedagógica e metódica
fundamental do 1º ciclo de ensino básico (escola primária), a qual se revela fatal para todo o percurso escolar de um aluno.

Esta deficiência
pedagógica e metódica exprime-se em duas abordagens separadas, as quais vamos discutir em pormenor nos outros capítulos: o método global (visual) de ensino de leitura, e a recusa de aproveitar e desenvolver as capacidades de memorização sistematizada dos alunos (proibição de decorar). As justificações que foram dadas na altura em que estas abordagens foram introduzidas, há cerca de 30 anos, pareciam bem válidas: tornar o processo de aprendizagem mais atractivo aos alunos, aproximando este aos jogos, e proporcionar o desenvolvimento do pensamento crítico e independente dos alunos, educando-os para serem pessoas mais independentes e mais criativas, mais activas e mais úteis socialmente.

Para isso, foram introduzidos no sistema nacional do ensino escolar (e, igualmente, duma grande maioria dos países europeus, como constatamos mais tarde) um método específico (método global de ensino de leitura, reconhecimento de palavras inteiras pela sua aparência visual, sem saber letras nem sílabas), e um princípio fundamental (proibição de decorar seja o que for, ou seja, uma
recusa do educador de aproveitar e desenvolver as capacidades de memorização sistematizada dos alunos).

O método global de ensino de leitura, de modo como se encontra implementado, não funciona. Já vimos turmas inteiras que não sabiam ler no início do 4º ano do 1º ciclo, o que significa que o método falha redondamente e sistematicamente. É bem óbvio que um aluno destes perdeu 3 anos da sua vida inutilmente, não tendo adquirido as competências essenciais para o seu desenvolvimento educativo, intelectual e social. De facto, este método precisa de certas condições para seu funcionamento, incluindo os livros e os materiais metódicos adequados (e não o são, embora são também inadequados para o método sintético - b e a, ba, etc.), e professores adequadamente preparados para o usar (e em 90% dos casos também não o são). Na prática, um professor com algum bom senso usa o método sintético, dificultado pelos livros existentes que foram preparados para o método global. A maioria, entretanto, usa o método global, na sua forma tipicamente absolutizada, sem saber qual a altura certa de passar para o método sintético, e com os resultados tipicamente desastrosos: os alunos não aprendem a ler, nem em tempo útil (2º ano do 1º ciclo), nem de tudo, continuando a reconhecer apenas as palavras cujo visual já conhecem, e incapazes de ler e reconhecer as outras, de visual desconhecido, mesmo depois de acabarem o 12º ano. Entre outros efeitos, isso limita drasticamente o vocabulário activo desses alunos, ou seja, o conjunto de palavras que eles conseguem usar na escrita. Há uma única saída desta situação: proibir o método global, reintroduzindo o método sintético, com os livros e materiais metódicos adequados, como o único método oficial.

No âmbito da proibição geral de decorar a matéria, foram expurgados dos currículos de todas as disciplinas escolares todos os exercícios de desenvolvimento da memória. Assim, esta medida afecta directamente o processo de aprendizagem em todos os ciclos do ensino básico e secundário, e também no ensino superior. Abdicando da memorização sistematizada, o paradigma vigente do ensino aposta no desenvolvimento do pensamento independente e crítico do aluno. Este paradigma, como vamos mostrar, está fundamentalmente viciado tanto em relação ao processo de aprendizagem, como em relação ao desenvolvimento intelectual dos alunos.

No que diz respeito a aprendizagem, basta notar que a capacidade de pensamento crítico e independente ainda não existe nos alunos do 1º ciclo do ensino básico, pois a capacidade de apresentar as opiniões próprias (críticas e independentes), que por vezes irrita tanto os pais, desenvolve-se no cérebro de uma pessoa jovem na altura de puberdade, ou seja, na altura do 2º ou 3º ciclo do ensino básico. Deste modo, as tentativas de usar o "pensamento crítico e independente" durante a primeira metade da vida escolar dos alunos são condenadas a falhar, pois as respectivas capacidades ainda não existem, de mesmo modo que é impossível ensinar a ler a um miúdo médio de 3 anos. Por outro lado, a recusa de "decorar as coisas", tais como poemas, tabuada, regras das operações matemáticas, regras gramaticais, fórmulas, datas históricas, nomes dos rios, etc., faz com que os alunos não adquirem os conhecimentos fundamentais necessárias em todas as disciplinas escolares e na vida adulta. Na ausência de conhecimentos previamente adquiridos e memorizados, o aluno fica privado das bases para comparações, o que impossibilita não só o pensamento "independente e crítico", mas todo e qualquer pensamento, ficando a pessoa assim formada a mercê das opiniões emitidas pelos meios da comunicação social na semana passada, pois mais que isso não consegue recordar. Devemos notar que mesmo que estes alunos aparentarem usar o "pensamento independente e crítico", na realidade apenas interpretam as dicas dadas consciente ou inconscientemente pelo professor, simulando aquilo que lhes esperam.

Entretanto, a recusa de "decorar as coisas" ainda equivale a recusa de desenvolver as capacidades de memorização sistematizada, afectando o desenvolvimento intelectual adequado dos alunos, e, por consequência, não apenas o seu percurso escolar, mas a totalidade da sua vida familiar e social. Nas sociedades primitivas a transmissão de conhecimentos efectuava-se pela tradição oral, tipicamente de avós para os netos, dai a importância de famílias alargadas naqueles condições. As informações transmitidas pela tradição oral revelam-se muito mais estáveis e duradouras que às transmitidas pela escrita, persistindo durante dezenas de milhares de anos, prazos que nenhum CD consegue aproximar minimamente. São inevitavelmente filtrados pelas inúmeras gerações, ficando o mais fundamental, embora a tradição oral é altamente conservadora, sempre tentando transmitir a totalidade, com os necessários acréscimos modernos. Assim, durante todo o tempo prévio ao aparecimento da escrita, a memorização sistematizada tinha um papel fundamental no desenvolvimento social humano, e no desenvolvimento intelectual dos indivíduos. Consta que o homem moderno, nas sociedades civilizadas na sua maioria um "homem urbano", já não precisa dos mesmos conhecimentos sem os quais um homem menos civilizado morrerá, entretanto, continua a precisar dos exercícios para desenvolvimento adequado das suas capacidades de memorização sistematizada, sem os quais o seu potencial intelectual fica não reclamado e mal aproveitado. Uma pessoa sem os conhecimentos memorizados fica ignorante, não só em termos de aprendizagem, mas tanto para os efeitos da vida quotidiana, não conseguindo efectuar as suas tarefas normais, como entregar a declaração dos impostos, ou perceber uma carta oficial, e deduzir quais devem ser as suas acções. Para isso, tem que recorrer à ajuda dos outros, por exemplo, dos funcionários públicos da repartição que enviou a carta. Entretanto, em certas situações a falta de conhecimentos memorizados pode ser literalmente fatal, como vimos no exemplo recente do tsunami indonésio. Ai, morreram dezenas de milhares de pessoas civilizadas, embora um tribo primitivo nem por um instante hesitou em fugir para os terrenos mais elevados, e sobreviveu, tanto como os animais selvagens.

As matérias que devem necessariamente ser decoradas podem ser discutidas disciplina a disciplina, mas tipicamente seriam as mesmas que estavam a ser decoradas tradicionalmente, excluindo talvez os itens com cariz puramente ideológico, os quais podem condicionar a independência e a capacidade crítica do pensamento do aluno. Entretanto, as sociedades nunca abdicam de perseverar aquilo que reconhecem como os valores da sua própria organização social, além dos valores reconhecidos como universais, e é daí que surge a possibilidade de manifestações fundamentalistas de vária natureza. Entretanto, as capacidades de memorização sistematizada em si nada têm a ver com as consequências sociais indesejáveis, sendo necessárias e imprescindíveis para desenvolvimento intelectual e social da pessoa.