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Jogos na Sala de Aula, Desenvolvimento Cerebral e Insucesso Escolar

No capítulo anterior, concluímos que brincadeiras e jogos não conseguem motivar os estudos; será que devem ser utilizados como método de ensino, como estão a ser correntemente?
Jogar ou esforçar-se?

No espírito do paradigma vigente, o jogo como método de ensino veio substituir a maioria dos outros métodos e técnicas, principalmente na escola primária. Ora, o cérebro não se desenvolve sem o exercício proporcionado pela aprendizagem esforçada, como mostram os estudos neurobiológicos [1].

Os investigadores descobriram que os novos neurónios nascem constantemente no hipocampo, os quais apenas sobrevivem se o indivíduo for sujeito à necessidade de aprender a fazer alguma tarefa desconhecida e difícil, confirmando a sabedoria popular que o cérebro só se desenvolve se for sujeito ao exercício. Na ausência de tarefas difíceis, os neurónios recém-nascidos nesta estrutura cerebral, que se formam tanto em crianças como em adultos, durante toda a vida, morrem e desaparecem, por não terem adquirido qualquer função útil.

Deste modo, a aposta na aprendizagem sem esforço está destinada ao fracasso inevitável, pois impede o desenvolvimento cerebral adequado e oportuno, dificultando a aprendizagem e potenciando o insucesso escolar, por perda de motivação e consequente falta de empenho do aluno. Os alunos sujeitos a estas "experiências educativas" sofrem atrasos no seu desenvolvimento intelectual, nomeadamente no que diz respeito à capacidade de memorização, pensamento associativo e lógico, e capacidade de concentração. Naturalmente, estes alunos têm dificuldades inultrapassáveis na aquisição de competências [2] que lhes são transmitidas no processo de aprendizagem.

Tudo no seu tempo

Outros estudos neubiológicos confirmaram mais uma opinião da sabedoria popular: cada coisa deve ser feita na altura própria. Os investigadores estudaram a formação de mielina, substância branca que envolta e isola as fibras nervosas no cérebro. Estes estudos confirmam a existência de fases distintos de desenvolvimento cerebral, nas quais se formam vias de ligação entre neurónios, primeiro nas zonas necessárias nas funções mais antigas e mais fundamentais, tais como visão, que se formam antes de 4 anos de idade, depois nas zonas necessárias às ligações familiares, tais como a linguagem, e nas etapas finais - nas zonas necessárias nas interacções sociais, tais como as responsáveis pelo auto-controlo - estas tipicamente acabam a sua formação na idade de 20 anos [3].

As conclusões que podemos tirar destes estudos, com implicações educativas, são os seguintes:
  • Os alunos que não conseguiram adquirir certas competências na altura certa do seu desenvolvimento terão muitas mais dificuldades de as adquirir mais tarde, pois o seu cérebro já não terá capacidade de se moldar facilmente para as acomodar, depois de acabada a construção das respectivas zonas.
  • É melhor começar a trabalhar o cérebro mais cedo, de que mais tarde - por exemplo, os cientistas notaram que as zonas necessárias para tocar piano se desenvolvem mais em pianistas que começaram a estudar seriamente antes de atingirem 11 anos de idade.
  • Aprendizagem difícil estimula a mielinação, acelerando e reforçando o desenvolvimento cerebral, que deste modo chega aos níveis mais elevados e mais rapidamente.
  • As insuficiências na mielinação nas crianças com grande falta de atenção familiar ou social são traduzidas na redução do seu Quociente de Inteligência (Q.I.).
Referências

1. "Saving new brain cells", T. J. Shors, Scientific American, March 2009, pp. 41-48.
O mesmo artigo encontra-se disponível na Internet: "Saving new brain cells".
2. Aquisição de competências forma a base do Sistema de Bolonha.
3. "White matter matters", R. D. Fields, Scientific American, March 2008, pp. 42-49.
O mesmo artigo encontra-se parcialmente disponível na Internet: "White matter matters".