sábado

Limite de tempo

Correm-se riscos. Joga-se com compromissos. Rodeiam-se obstáculos. Chega-se a um limite. Tudo para poder obter um prazer carnal diferente. Até que ponto compensa cruzar essa linha ténue? Até onde pode chegar esse limite? A margem do risco é uma corrida contra o espaço, contra o tempo e contra toda a ordem racional daquilo que se constrói quotidianamente. Se é aliciante dançar nessa linha é porque se quebram todas as regras e atinge-se uma adrenalina suprema, de outra forma impossivel de obter.
Helena olha para o relógio. Faz um cálculo mental entre a hora actual e o limite que definiu para si própria e estabelece o tempo que tem disponivel. Entra com o carro pela garagem e estaciona-o. O lugar do passageiro está ocupado pelo amante. O amante predilecto. O amante que preenche as suas necessidades sexuais mais insólitas. Alberto é um dos melhores clientes da empresa que Helena gere em conjunto com o seu marido. Alberto já está na casa dos cinquenta anos e sabe exactamente o que quer da vida. Alberto tem consciência das suas capacidades na arte de bem seduzir. Ele sabe exactamente como colocar uma mulher madura e casada, como Helena, louca por si. E tudo o que recebe é um imenso prazer. Esta não é a primeira vez que Alberto visita o primeiro esquerdo do Edificio Magnolia. Uma mão não chega para contar as vezes que ele se deleitou com o lar de Helena. A sua predilecção é ver a mulher cozinhar. Excita-o, incita-o a entregar-se a ela. E o beijo secreto e cremoso que eles trocam no lugar de estacionamento do carro dela é apenas o primeiro momento sensual.
Rodrigo está ao balcão do Espaço Magnolia. Degusta o seu café enquanto fixa o olhar na funcionária do estabelecimento. Clarisse ocupa-se da limpeza da loiça enquanto o seu colega atende os clientes que enchem o café. Ela percebe que está a ser vigiada. Sente-se lisonjeada pelos olhares do homem que sempre a desejou. E enquanto ela vagueia do outro lado do balcão, gera-se uma comunicação silenciosa entre os dois. É apenas uma questão de tempo até eles entenderem o que querem, como querem e onde o querem.
A cozinha do 1º esquerdo é um espaço afável. Aberto, luminoso, muito devido à enorme janela que dá para as traseiras do edificio. Helena entrega-se aos braços do amante. As mãos dele envolvem a parte superior do seu rabo, com tendência a deslizar para baixo. As mãos dela seguram-se uma à outra, junto à nuca dele. Helena esboça um enorme sorriso. Apaixonada, enfeitiçada, sedenta. Os lábios carnudos dela transparecem todo o desejo que ela quer entregar ao homem. Alberto olha para ela fixamente, encantadoramente. Empurra-a vagarosamente até ao balcão, ao mesmo tempo que lhe despe a camisola verde alface. Sem soutien, sem nada que pudesse adiar a descoberta dos seus seios quentes e húmidos. Ao fim de um dia de trabalho, o peito de Helena encarna cansaço e intensidade. Um beijo perfumado é novamente trocado. Ele apalpa as nádegas dela, empurrando a cintura dela contra o seu sexo inchado. As mãos de Helena querem escorregar pelo corpo dele até chegar à cintura. Calmamente, desaperta o cinto, o botão, o fecho. Ele morde o lábio inferior dela e ao deixar as calças cair até aos tornozelos, adivinha o que a amante pretende.
Rodrigo invade a cozinha do Espaço. Pela mão da jovem funcionária, eles estão por detrás da pronta a beijarem-se. Clarisse pensa ter tudo controlado. Combinou com Vasco que na próxima hora ela ficará responsável pela cozinha e ele procurará atender todos os clientes. Clarisse tem tudo controlado. Trouxe o seu amante para um espaço mais reservado do seu local de trabalho e procura os beijos dele. Rodrigo troca a lingua juntamente com ela. Sente-se a respiração intensa dela. Sente-se o peito dela inchado e entesado. Ele puxa as alças do avental de trabalho da jovem e descobre parte do peito dela. As mamas de Clarisse apenas têm a cobrir um top preto, daqueles que se tenta segurar ao relevo mamário. Junto ao lava-loiça de serviço, Rodrigo já deitou os seios dela para fora. Ao mesmo tempo que se baixa para saborear os grandes mamilos da jovem, ele coloca a mão esquerda por dentro das calças de Clarisse. Os seus dedos escorregam por entre a pele suave dela até alcançarem os lábios vaginais húmidos. Ela já não o consegue esconder. Clarisse derrete-se de desejo.
Alberto está de pé, com uma mão apoiada no balcão da cozinha e com a outra a acariciar os cabelos da sua amante. Helena está ajoelhada no chão da sua própria cozinha. Tem o sexo dele na sua boca e faz questão de o saborear vagarosamente. Os seus lábios carnudos percorrem todo o pénis. Deixam um ténue rasto de saliva. E mesmo provando cada pedaço dele de uma forma dedicada e lenta, Helena sabe que tem que ser célere. O tempo está contado ao minuto e ela não pode dar-se ao risco de uma eventual surpresa. As suas mãos finas seguram as bolas do homem e a sua lingua excita ao máximo a ponta do sexo masculino. Alberto gosta. Aproveita cada movimento da boca dela, cada sensação saborosa que lhe percorre o corpo, desde o seu sexo. Geme vagarosamente, mesmo sabendo que o broche o está a pôr louco. Helena deixa escapar alguns sons de satisfação. Ela conhece o que chupa. Já o provou e sabe na perfeição os pontos sensiveis do seu brinquedo carnal. Na cozinha de uma familia virtualmente perfeita, a ousadia enche o espaço, sem qualquer contemplação, sem qualquer remorso.
Ainda que sozinhos na enorme cozinha do café, o casal de amantes sabe o risco que corre. Continuar qualquer tipo de envolvimento sexual é brincar com o fogo. Até porque a qualquer momento, o colega de Clarisse pode estranhar a ausência dela junto ao balcão e irromper pela cozinha. Rodrigo também tem isso em mente e já fez questão de levar a jovem excitada para a dispensa num dos cantos do espaço. Fechou-se a porta e os dois adultos estão agora fechados num espaço exíguo. Ela já não tens as calças. Estão penduradas numa das prateleiras da dispensa. Rodrigo está ajoelhado no chão. Acaricia com a mão esquerda por entre as pernas dela, por cima das cuecas brancas. Segura com a mão direita a coxa dela, por baixo e levanta-a. Desvia o tecido e descobre a rata molhada da jovem. Rodrigo não hesita em colar os seus lábios aos lábios vaginais da amante. Ele não perde tempo e insere a lingua no intimo de Clarisse. Ela procura não gemer. Pelo menos tenta não largar gemidos que se ouçam para além daquele espaço apertado. Mas liberta o seu gozo. Coloca uma mão na caixa que está ao lado de si, mesmo próxima da arca onde ela pousa o rabo fofo. Rodrigo lambe a amante com devoção, mas com alguma celeridade. Com a mão esquerda, abre um pouco mais a perna, de forma a conseguir penetrar com a lingua mais profundamente. O sitio não é o mais apropriado, no entanto carrega-se de uma excentricidade que estimula a excitação deles até aos píncaros. Não levará muito tempo até Clarisse sentir a sua rata explodir de prazer.
Helena já segura com as duas mãos o sexo do amante. O pedaço de carne está excitado, está tenso e procura libertar-se. A mulher percepciona esse detalhe e retira a picha da boca. Coloca-a junto ao seu peito e faz escorregar a ponta na sua pele suave. Alberto não suporta mais tamanha excitação. Sabendo que o tempo escasseia, liberta-se para o peito da amante. O liquido prazeirento do homem desliza pelos seios de Helena. Contorna-os e faz um trajecto no vale por entre as mamas. Depois de assistir a momento tão intenso, ela levanta a cabeça e sorri para o seu cliente. No calor da excitação, ela derrete o objecto do seu desejo no peito aberto ao prazer.
Clarisse trinca o seu próprio lábio. Tem os dedos do pé esquerdo fincado no chão e segura-se com força à caixa que a mantém de pé. Vem-se. Os seus pulmões expandem-se e tornam as suas mamas vigorosas. A boca de Rodrigo enlouquece-a. Deixa-a fora de si e é preciso uma grande dose de comedimento para não ser libertado um enorme grito de loucura. Rodrigo está excitado. Provar a rata da jovem deixa-o ainda mais estimulado. O tempo urge e há que libertar tamanha fome.
Junto à enorme janela da cozinha do apartamento, Helena está nua. Olha para o exterior, onde o sol se vai pondo, onde as traseiras da rua do Edificio Magnolia se retratam vazias. É para esse vazio que Helena olha quando sente as mãos do seu amante amante lhe invadirem as ancas. Quando sente o sexo teso dele roçar por entre as suas nádegas. Quando sente um vigor carnudo cingir uma força por entre as suas pernas. Alberto penetra-a vagarosamente. Mas o factor tempo é sempre tido em conta. Por isso, não demora até Helena sentir o sexo dele completamente dentro da sua rata. Na cozinha predilecta do homem, ele envolve a mulher numa acção carnal perigosa. Dali, muitos vizinhos de outras ruas poderão assistir à cópula. Dali, é possivel ver os seios de Helena com os bicos rijos. Dali é possivel vê-la a cerrar brevemente os olhos de cada vez que o amante a penetra profundamente. Não é possivel ouvir os seus gemidos, nem cheirar o suor que o seu pescoço liberta, de tão intensa que é a paixão. Mas é possivel sentir tudo isto. Porque a mulher transparece uma larga sensação de prazer. Vibra com a forma como Alberto a segura, lhe acaricia as ancas, sobe suavemente pelo seu corpo, lhe apalpa as mamas exaustivamente, desliza pelo seu pescoço húmido, lhe põe um dedo na boca, do qual ela chupa com os lábios inchados. O amante de Helena fode-a e mima todo o seu corpo. Por maior que o sonho seja, ela tem que manter os olhos abertos, a mente racional e estar atenta ao relógio.
Ela está encostada contra a arca. O seu rabo continua a apoiar-se, de forma a elevar o corpo à altura do sexo do amante. Rodrigo já está de pé. Volta a saborear as enormes mamas de Clarisse. Porque elas são intensas. São surreais. Porque elas são um estimulo a qualquer mente masculina. Ele come os seios e segura-os com as mãos completamente abertas. Afasta os dois seios e coloca a boca no vale. Clarisse adora. Tudo isto a estimula. A sensação da rata a arder. A adrenalina do tempo que corre. O calor de um espaço tão pequeno. Rodrigo tem as calças pelos tornozelos. Volta a segurar a coxa direita dela, abre-a e com o seu pénis completamente ao rubro, explora o intimo da jovem amante. Clarisse tem as duas mãos agarradas aos cabelos da nuca dele. Procura beijá-lo. Procura comê-lo. Procura saborear instantaneamente cada pedaço da sua paixão resgatada. O homem penetra em si e faz questão de demonstrar o quão inchado e esfomeado ele está. Os gemidos dela são abafados. Ela tenta mostrar só para ele o quanto a está a satisfazer cada uma das penetrações. E Rodrigo ouve. Cada grito fino que se liberta da garganta da jovem vai ecoar directamente no ouvido dele. As mamas dela espalham-se por todo o peito do homem, pedindo que a aperte, que demonstre o quanto ele a deseja. E Rodrigo quer. Precisa de foder a jovem o quanto antes. Precisa de transportar para um patamar ainda mais elevado toda a loucura que brinca na alma de Clarisse e percorre todo o corpo feminino. E Rodrigo beija-a. Engole a boca dela. Prova a sua lingua e delicia-se com a pele suave dela, até chegar ao seu pescoço. Clarisse já deixou de estar ali. Perdeu-se num sonho apertado mas amplamente prazeirento. E Rodrigo fode. Rasga de prazer o intimo molhado da amante. Desfaz a postura serena e racional da funcionária do Espaço. Todo o corpo de Clarisse sucumbe às constantes penetrações exercidas por uma picha que se quer saciar. E Rodrigo cheira. Pressente que o tempo se esgota. Percepciona a estimulação de ambos os corpos a chegar a um limite. Essencialmente o seu. As penetrações são dadas com mais imponência, com mais vigor, de uma forma mais seca, mas mais profunda. Ele olha afincadamente para a rapariga e depois beija-a com força. Para que ambos possam libertar um orgasmo mútuo. Aquele que tem que se esconder. Aquele que ninguém pode ouvir. Aquele que mais ninguém pode sentir. A não ser eles mesmos. E quando Clarisse e Rodrigo se preparam para evadir por completo do mundo real, há uma voz que é solta da cozinha. Clarisse abre os olhos assustada e segura-se ao corpo do amante. Do outro lado, junto à porta entre a cozinha e o interior do estabelecimento, Vasco chama pela sua colega. Atrapalhada, ela procura agora libertar-se do corpo de Rodrigo. Pede-lhe que se vista enquanto ela própria procura ajeitar as suas roupas. Pede-lhe que se despache, ao mesmo tempo que ela procura pensar numa solução. Vasco volta a chamar e ela responde. Clarisse pede a Rodrigo que se mantenha na dispensa até ela conseguir tirar Vasco da cozinha. Clarisse pede ao amante que nesse momento, ele saia pela porta das traseiras. Ele ouve e procura perceber para depois obedecer. Ela veste-se e ajeita-se, para sair com toda a fé da exígua arrecadação.
Helena adora. O seu prazer explica-se na forma como ela se apoia no vidro da janela e geme desenfreadamente. Na verdade, o sexo de Alberto faz maravilhas no interior da sua rata. Alcança os pontos pródigos. Aqueles que a levam às nuvens. E efectivamente, Helena está prestes a vir-se. A obter o seu prazer, algum tempo depois de já ter experimentado o gozo do seu cliente. Ela vem-se. Ela geme. Ela grita. Helena é penetrada por trás, de pé, no local onde daqui a poucos minutos o seu marido esperará pelo jantar, juntamente com os seus dois filhos. E enquanto a sua respiração se descontrola, ela vagueia com o olhar. Olha para várias janelas em redor. Olha para o tecto da sua própria cozinha. Olha para a entrada da garagem, onde entrou ainda há pouco. Olha para as traseiras do edificio, onde junto a um aglomerado de caixotes pertencentes ao Espaço Magnolia, vê o seu marido a caminhar em direcção à porta de acesso ao Edificio.
O tempo esgotou-se. Alcançou-se o limite e o risco é máximo. Após libertar um último grito intenso, Helena sai da frente do seu amante. Liberta-se do seu corpo. Pula de ansiedade. Ela só precisa de entoar um vez baixinho o nome dele, para que Alberto perceba exactamente o que se passa. Imediatamente, ele levanta as calças e procura sair apressadamente daquela casa.
O 1º esquerdo está como sempre esteve. O pôr do sol quase que se sente, mesmo no interior da casa. A calma impera num espaço tão tranquilo. Ouve-se a porta de entrada do apartamento a abrir e depois a fechar. Rodrigo vai entrando, percebe que algumas luzes já estão ligadas e procura alguma presença. Alguns segundos depois, Helena sai da casa de banho, nua. Tem apenas uma toalha junto ao pescoço, onde ela limpa a pele. O ar ansioso e nervoso dos dois é visivel. O limite é este e nenhum deles sabe exactamente como o ultrapassar. Um olhar impávido é trocado entre marido e mulher. Ela olha para o ar desconsolado dele. Ele percorre com o olhar de alto a baixo a nudez dela. E sem perceberem bem o que pretendem, sem saber o alcance do que estão a dizer, sem procurarem pensar o que pode ter ocorrido com a sua cara metade. Sem um pingo de racionalidade, eles falam. E no resto dessa noite, muita coisa pode acontecer.
- Porque é que entraste pelas traseiras? - pergunta Helena.
- O que estás a fazer nua a esta hora? - pergunta Rodrigo.

sexta-feira

Periodo intenso

Está calor dentro do 2º esquerdo. A cozinha ainda liberta os vapores do jantar que foi preparado e agora está servido na mesa da sala. Tania sugeriu que nesta noite, toda a gente pudesse partilhar o mesmo jantar. Para convivio, para passar uma noite mais agradável, para ter um serão diferente daqueles que ela está acostumada a ter. Quem é essa gente? Filipe, o seu namorado. Lúcia, a sua amiga e colega de casa. Joana, a amiga colorida da sua amiga. E um convite para jantar a mais três pessoas não significa que seja ela própria a prepará-lo. Não. Tania é péssima a cozinhar. E a melhor justificação que consegue dar a Lúcia é que hoje não é um dia pródigo em mexer nos ingredientes e utensilios culinários. Ainda assim, Lúcia sabe que a amiga é mesmo má a cozinhar e deparou-se com duas soluções. Ou recusava um convite para um jantar que seja preparado por Tania, ou então fazia ela mesmo. O bacalhau com natas que está servido na mesa é então a solução encontrada por Lúcia para tornar a noite o mais agradável possivel. Ainda que tal não se apresente assim.
- Importam-se que ligue a televisão? - pergunta Tania.
- Para que a queres ligar? Não tens necessidade. - responde Filipe.
- Eu não me importo... - indica Joana.
- Sim, Tania. Claro que podes ligar. A novela já começou, não já? - diz Lúcia.
Tania lança um sorriso reconfortante para a parceira. Só mesmo ela a pode entender. Quando ela acende a televisão, percebe-se efectivamente que uma das novelas da noite já iniciou. Mas não é mais uma novela. É a novela preferida de Tania.
- Esta é a personagem que te tinha falado, Lúcia.
- Ela é bonita.... - solta a amiga.
- Namora com a que está sentada no sofá...
- Realmente, tem tudo menos ar de lésbica.
- Bem, ela diz que é bissexual, mas eu também achei que não estava encaixada...
- Não, Tania, ela está a representar.
Soltam-se alguns risos na mesa. Toda a gente já saboreou o prato divinal de Lúcia. A ama da casa esmerou-se, mesmo não estando com toda a disposição para agradar a todos os presentes.
- Lúcia!... - chama Filipe - Posso perguntar-te uma coisa?
- Se eu puder responder...
- Não é bem a ti...Quer dizer, é a ti, mas acho que a Joana também deve conseguir responder.
- Desembucha!...
- Vocês namoram?
Depois de Filipe lançar muito fixamente o olhar para Lúcia, gera-se um silêncio incomodativo na mesa. Do fundo, ainda são perceptiveis alguns diálogos saídos da televisão que prossegue mais um episódio. Tania levanta o olhar. Se à primeira reacção olhou para o seu namorado, como que a questionar o sentido de lançar uma pergunta tão descarada, logo de imediato a jovem olha para Lúcia. Também ela espera uma resposta, mesmo que saiba que a mesma não deveria ser dita ali.
- Como acho que deves perceber...Não preciso de te responder. No entanto, para que não tentes procurar a resposta de outra forma...eu respondo-te. E acho que a Joana pensa o mesmo.... Não namoramos....Somos amigas. Somos um pouco mais do que isso. Gostamos uma da outra. Mas não queremos assumir um compromisso...
- Não percebo porquê. - interrompe Filipe - Vocês dão-se bem. Passam o tempo juntas. Devem ter imenso em comum e partilham imensas coisas. Por isso é que não percebo porque vos custa assim tanto assumir uma relação....
- Talvez tu tenhas mais isso em mente do que nós... - interrompe também Joana - Quer dizer, tendo em conta o tempo que já namoras com a Tania e tudo isso...e não que seja mesmo da minha conta...Mas só assume um compromisso quem sabe que o cumpre...
Filipe bloqueia. De uma maneira assombrosa, a resposta de Joana deixa-o atordoado. No fundo, ele sabe que a jovem loira tem razão. No seu intimo, Filipe sente-se atingido com a resposta. E a confusão invade-lhe a cabeça. Aquelas palavras seriam indirectamente dirigidas a si? Ela poderá saber alguma coisa que o comprometa? O seu silêncio é revelador. No entanto, e perante as circunstâncias, só uma pessoa tem a certeza do objectivo das suas palavras. Joana. A sua amante baixa o olhar. Também Lúcia percebeu o que ela queria dizer, mas não queria comprometer-se ali, diante de todos. É certo que ela não esquece o beijo roubado na cozinha e as suas implicações. Mas ela não pretende desmascarar Filipe à mesa de jantar. Ela leva mais uma garfada à boca e apenas cinge brevemente o olhar na sua parceira de casa. Tania ouviu toda a conversa, mas algo lhe escapou. E só duas coisas lhe invadem a mente. A ousadia do seu namorado em afrontar as escolhas e decisões da sua amiga e da sua amante. O desenrolar da novela, que parece estar num momento de clímax.
- Deixem ouvir! Deixem ouvir! - grita Tania - .........Esta aqui é uma grande vaca....Aceitou o pedido de casamento daquele, mas está apaixonada pelo chefe...e já foi para a cama com ele. É tão, mas tão vaca...
- Amor, não leves isso tão a sério....
- Como é que não posso levar a sério?! Mulheres assim são falsas...Fazem-me confusão...
- Eu sei que tu não és assim, amor.... - continua Filipe.
Lúcia e Joana trocam o olhar entre si. A sensação de uma enorme hipocrisia diante delas atormenta-as. A mão de Filipe coloca-se sobre a da sua namorada. Como se a chamasse a atenção para o jantar e para não ligar tanto à novela. Depois de cativar Tania com o olhar, ele desvia a cabeça brevemente para Lúcia. Ela está confusa. Não consegue suportar aquela situação. Não consegue lidar com o facto de não perceber porque é que ele a beijou, quando vende um compromisso à sua colega de casa, amiga e paixão secreta. Joana percebe a troca de olhares. Aquele mundo não é dela, ela não se deve intrometer. Ainda assim, percebe exactamente o que se passa e procura controlar-se. Ela quer reagir. Uma tensão absorve o espaço onde os quatro jovens jantam. Inclusivamente, Tania pressente que o ambiente se tornou mais pesado. E enquanto olha para todos os presentes, procura perceber o motivo.
- O que vão fazer hoje, Lúcia? - pergunta Tania.
- Vamos sair...Ainda não sei onde vamos.
- Eu conheço um bar perfeito para vocês... - diz Filipe sarcasticamente.
- És capaz de te calar um bocadinho, amor?!
A única explicação que Tania encontra para o confronto que se coloca sobre a mesa é o facto de ele poder não gostar da presença de Joana. Tania sabe que a sua colega de casa não morre de amores pelo seu namorado. E que Filipe sempre demonstrou, em conversas privadas, que é um sentimento reciproco. A presença da loira na mesma mesa de jantar só pode intensificar esse choque.
- Nós até saíamos com vocês, mas hoje não estou nos meus dias...
- Deixa estar, Tania...Nós também não nos vamos demorar...
- Se chegarem cedo posso fazer um chá...
- Eu vou dormir a casa da Joana...
- Ah...Ok...
- Que pena... - solta Filipe - Eu gosto que durmas cá, Lúcia... Especialmente quando tens companhia...
- Filipe!!...Por favor!...Anda, preciso de falar contigo.....
Ao mesmo tempo que se levanta, Filipe mantém um sorriso pretensioso. O braço da sua namorada puxa-o e eles seguem caminho até à cozinha. Lúcia fica na sala com a sua amante. Joana está apreensiva. Dentro de si existe uma enorme vontade de desmascarar toda a situação. No entanto, pode ser um passo em falso. Para todos os efeitos, foi apenas um beijo. Um beijo roubado do qual mais ninguém assistiu. E tanto Tania pode não acreditar, como Filipe pode negar ou até criar um filme ainda mais inesperado. Quando Joana coloca a mão sobre o braço ansioso de Lúcia, ela sabe que, não obstante a vontade interior, aquele mundo não lhe pertence.
- Tens que contar-lhe, Lúcia.
- Não posso! Não posso, Joana....A rapariga acredita mesmo que ele o ama...Ela jamais iria acreditar que houve um beijo. E o mais certo era dar-lhe o crédito a ele.
- Como?
- O mais certo é ela achar que fui eu que o seduzi ou que o levei a isso....Eles namoram há imenso tempo, Joana...E isso vai fazer a diferença...
- Mas tens que arriscar....Eu sei que ela é tua amiga...Mas se ela se chatear com isso...Bem, é o problema o dela...Os amigos descobrem-se aí...Os verdadeiros...Tens que dizer-lhe!
- Não agora! Não assim....Se a magoo, nunca mais a tenho...
- Como assim?!
Joana sente-se confusa com a resposta da sua amante. Lúcia está em pânico e prestes a explodir. Ainda assim, a jovem loira sente que algo lhe escapa. Mais do que não pertencer àquele mundo, ela gosta de Lúcia. É uma amizade colorida, efectivamente. Disso ninguém dúvida. Mas senti-la assim distante, deixa Joana desorientada. Sem entender o que vai dentro da cabeça da jovem morena. Quando Lúcia gira a cabeça, olhando directamente para a amiga, Filipe e Tania voltam a entrar na sala.
- Desculpem...já voltámos. - diz Tania - O Filipe quer pedir desculpa pela forma parva como vos está a falar. Não queres, amor?
O casal de namorados volta a sentar-se na mesa e a pegar nos talheres. Tania sorri, mais calma com a sucessão de acontecimentos. Filipe já perdeu o sorriso presunçoso, mas mantém um ar confiante. Lúcia e Joana estão silenciadas, não percebendo exactamente o que podem esperar. Tudo está demasiado confuso.
- Amor?!....
- Sim...pois...Eu quero pedir-te desculpa...Aliás, quero pedir-vos desculpa...Eu às vezes sou um pouco bruto. Digo demasiadas vezes aquilo que penso, faço aquilo que quero...
- Lá isso é verdade... - solta a jovem loira.
- Joana.... - diz Lúcia.
- De qualquer forma, quero pedir-vos desculpa. Eu não tenho nada contra vocês, ao contrário do que a Tania pensa...ao contrário do que vocês possam achar. Eu peço desculpa...Acima de tudo a ti, Lúcia....Não me leves a mal...Eu quero que nós nos demos bem....Porque sabes...és boa pessoa, a Tania gosta muito de ti e....eu também gosto muito de ti...
Lúcia inspira fundo. Sofregamente. Ela aperta com força a mão da sua amante loira e antes de ter coragem de dizer algo indevido, levanta-se.
- Eu vou-me embora...Espero que tenham gostado do jantar...Eu vou-me embora. Já comeste, Joana?...Eu vou-me embora...
- Porquê?! - pergunta Tania surpreendida.
- Já se faz tarde e aqui não se aprende nada. Não me leves a mal, Tania. Vens ou não, Joana?
A convidada acena afirmativamente e prontamente levanta-se. Mesmo que não tenha ainda terminado o jantar. Lúcia está furiosa. Não consegue afrontar o olhar de ninguém, muito menos o de Filipe. O sorriso presunçoso dele regressa. A morena sabe que neste momento é uma bomba-relógio prestes a explodir. E antes que isso aconteça, ela procura sair de casa o mais depressa possivel. Pega no casaco, olha-se ao espelho que está colocado no hall de entrada e abre a porta. Joana sai em direcção à porta do elevador. Tania, ainda desorientada com o que se está a passar, levanta-se e acelera o passo em direcção à sua amiga, antes mesmo dela sair.
- Lúcia!....O que se passa? Ele pediu desculpa...
- Não, Tania....Estás longe de poder perceber o que se passa...
- Diz-me então o que se passa.
- Não posso...Não sei...não consigo dizer. Não...
- Não o quê?
- Por favor, fica e fala comigo...
- Não...a Joana está à espera...
- Então volta e falamos....
- Não, Tania! Eu vou dormir a casa dela....Hoje não....
- Porquê?! Bolas, sou a única que está com o período?
- És....Hoje vou sair, vou-me divertir e vou ter a minha foda....Amanhã, logo se vê...
- Tu é que sabes...Mas não estou a perceber.
- Pois....Posso confiar-te a loiça?
- Sim.....Podes....
O ar de estupefacção de Tania é enorme. A amiga aproxima-se dela, dá-lhe um beijo na testa e sai de casa. Tania dirige-se novamente para a mesa de jantar, procurando esquecer o que se passou. A novela ainda continua e ela ainda está sozinha em casa com o namorado. Mesmo que o corpo não permita, ela ainda pode ter uma noite agradável. Quando Lúcia entra no elevador, ela sabe exactamente o que se vai passar no 2º esquerdo. O mais provável é a sua parceira ajoelhar-se diante da mesa, abrir as calças dele e fazer um broche ao homem que a deseja, ao contrário de tudo o que se possa esperar. Joana olha fixamente para a amante, enquanto carrega no botão. Em silêncio, as duas jovens estudam-se mutuamente. Lúcia procura pôr de lado o que se passou no jantar e abre um sorriso. No entanto, algo também atormenta a mente de Joana.
- Vais ser sincera comigo? - pergunta a loira.
- Em relação ao quê?
- Tu estás apaixonada pela Tania, não estás?
Lúcia perde o sorriso. O elevador desce os dois andares e abre a porta para a entrada do Edificio. Joana continua a olhar para a amante e procura uma resposta.
- Falamos quando chegarmos ao bar...pode ser?
Joana acena afirmativamente. Há muito ainda a contar nesta noite. Há muito para reflectir. Há imensos pormenores a clarificar. E apesar de não estar em causa uma noite de prazer imenso para as duas amantes, amanhã muita coisa vai mudar.

quinta-feira

Espaço de tempo

O Espaço Magnolia é um cenário que permite adaptar-se aos desejos e sonhos de cada cliente. Os sofás, num dos cantos do estabelecimento, podem pintar-se de uma atmosfera envolvente e intima. Esse recanto pode traduzir-se num lugar aberto e amplo, que permite respirar cada pedaço do espaço. Pode até ser uma mistura destes dois. Como se quem estiver ali sentado possa ter a possibilidade de desfrutar de uma conversa intima e saber que o mundo à volta gira. Apressado. Atormentado. Ali não. O mundo pára. Sem pressas, sem limites.
Não há tempo. Vasco apressa-se a atender os poucos clientes que àquela hora da manhã ainda não tomaram o pequeno-almoço, ainda tomam o primeiro café do dia, ainda não sentiram a hora para chegarem a tempo ao trabalho a chegar.
- Vai ser o costume? - pergunta ele.
- Para mim, eu quero uma meia de leite e um croissant folhado com aquele doce de morango... - responde Laura.
- Eu quero um galão e uma torrada. - pede Afonso.
- E vocês? - diz novamente Vasco.
- Não sei.... - responde Sofia - Acho que também vou comer uma torrada e....um sumo de laranja natural.
- Eu quero um café e um pastel de nata... - diz Diogo.
- Muito bem...é só?...Trago já. - finaliza Vasco.
O funcionário dirige-se ao balcão, onde afincadamente procura satisfazer o pedido do sofá encostado à janela. Os dois casais encontram-se, tal como combinado na tarde de ontem. Falta pouco tempo até ao fim de semana e este espaço de tempo é vital para acertar pormenores.
- Se pudesse, viria aqui tomar o café todos os dias.
- Só há duas soluções, Diogo. Ou vens morar para aqui ou compras o sitio e serves o teu próprio café. - interpõe Laura.
Sofia sorri ao comentário da amiga. A loira acordou melancólica, com um certo ar de preguiça, com uma enorme vontade de permanecer na cama por mais uma ou duas horas. Ainda assim, o convite do casal amigo, tira-a efectivamente da cama. Enquanto sorri, ela vagueia o olhar até Afonso, que está sentado à sua frente. O namorado de Laura reserva alguma ansiedade. Ele sabe a importância deste pequeno-almoço. Confronta o olhar da amante e sorri. Depois, desvia a cabeça até alcançar Laura, sentada ao lado de Sofia. A inquilina do Edificio Magnolia está confiante. Bem disposta e viva. As suas mãos estão colocadas sobre a mesa, ainda que com algum nervosismo. De resto, ela transparece o seu olhar a Diogo, que não retira o olhar de si. O namorado de Sofia tem dois panfletos diante de si e aguarda apenas que o seu café seja posto sobre a mesa.
- Aqui está.... Espero que esteja tudo ao vosso gosto...
Vasco traz o pedido dos quatro adultos que se sentam no sofá recatado. E um aroma diferente percorre a mesa onde estão as bebidas e a comida. Durante quase dois minutos, irrompe um silêncio naquele espaço. O açúcar mergulha no café, a colher mistura a composição do galão, pega-se em dois guardanapos para segurar o croissant e tira-se as côdeas mais duras da torrada. Pequenos gestos que antecipam a razão de tudo isto.
- Então, fica marcado? - solta Diogo.
- Não sei...o que é que afinal está marcado? - pergunta Laura.
- Já fiz a reserva no hotel. À partida podemos ficar na Sexta e no Sábado.
- Lá está...Não há muito a decidir.
- Querem ficar no Domingo?
Um novo silêncio volta a ocupar a mesa entre os sofás. Os olhares trocam-se. Entre Laura e Diogo. Entre Laura e Afonso. Afonso evade-se em Sofia. Sofia perde-se com o olhar e refugia-se no seu namorado. Diogo realça a face da sua mulher por um par de segundos, mas volta a olhar com confiança para Laura. Afonso procura intrometer-se. Mas é-lhe mais fácil fixar o olhar de Sofia. A comunicação entre os quatro adultos é confusa. A troca de olhares pede mais que uma confirmação. Entrega mais do que certezas. Recebe mais do que sedução. Os olhares envolvem-se mutuamente. Devoram-se e procuram falar com o destinatário desse mesmo olhar.
- No Domingo fica apertado, Diogo. - diz Afonso.
- Também concordo. - corrobora Laura - Na Segunda já é dia de trabalho, escola, deitar a menina... Essas coisas.
- E temos sempre dois dias. - remata Sofia.
- Portanto, saimos daqui na Sexta, o mais cedo possivel. Damos entrada no hotel e....Voltamos no Domingo...Por volta de que horas? - constata Diogo.
- Sei lá...seis, sete horas...As horas que acharmos mais conveniente. - responde Afonso.
- Muito bem... - finaliza Diogo.
- Acho que é tempo suficiente para aproveitarmos... - diz a loira.
Sofia mantém um sorriso. Mas desta vez é um esticar de lábios mais incisivo. Mais avivado. E enquanto olha para Afonso, parece que na cabeça dela há algo a magicar.
- Uhm...como queres aproveitar, Sofia? - relança Laura - Como queres saborear estes dias?
O olhar da namorada de Diogo escapa-se. Aprisiona-se na atenção que a amiga lhe pede. E ainda assim, ela tem agora três pares de olhos colocados sobre si. Ela dá mais uma trinca na torrada, respira fundo e olha para eles.
- Quero que seja diferente. Quero que seja o nosso fim-de-semana....Quero ter assim momentos como este. Mas num sitio isolado. Onde ninguém nos conheça. Onde ninguém sequer olhe para nós, sabendo que....
- Sabendo que o quê? - pergunta Laura - Que somos amantes?!...Sofia, aqui não temos nada a esconder. O Vasco, aquele rapaz que nos veio atender não deve ter a minima dúvida do que se passa. Os nossos vizinhos já desconfiam há algum tempo do que fazemos e...bem...quem está aqui em redor...O que têm eles a ver com isso?
- Nada! - responde Sofia - Mas é isso mesmo. Quero estar num sitio onde ninguém saiba quem somos. Quero estar nesse sitio e não estar sequer preocupada com o que as pessoas pensam.
- Eu percebo-te... - encaixa Afonso - Seria giro depois de tomarmos o pequeno-almoço, podermos ir dar uma volta. Falarmos, trocarmos...sei lá...carinhos, beijos....sem que ninguém se atreva a fazer sequer um olhar...
- Isso é dificil, amor. - interpõe-se Laura - Há sempre alguém que irá olhar...E isso excita-me... Excita-me saber que podemos chegar ao hotel em dois pares. Eu contigo, a Sofia com o Diogo. Pedir as chaves na recepção, como dois casais apaixonados... E na manhã seguinte, passar pela mesma recepção e verem que tu sais com a Sofia e eu contigo. Se possivel a cheirar a sexo.
O olhar de Laura prende-se em Diogo, que mesmo estando atento à conversa que se desenrola, continua a analisar os folhetos do hotel no qual os dois casais decidiram passar um fim de semana diferente. Muito diferente. É um hotel numa cidade mais a norte. Uma cidade mais pequena, mais pitoresca, mais recatada. Um local sublime para relaxar, para passear, para libertar todas as ansiedades e todos os desejos. Por esta altura, os quatro amigos estão efectivamente excitados. A conversa está a estimulá-los. Mesmo àquela hora da manhã. E a troca de olhares volta a surgir em silêncio. É uma comunicação erótica, estimulante e peculiar. E a intensidade dessa comunicação silenciosa é uma cadência que só é cortada pelos pormenores que têm que ser acordados entre todos. Diogo levanta o olhar e fixa-se em Laura.
- Ainda falta saber se querem os quartos lado a lado ou.... - diz Diogo.
- Claramente um ao lado do outro. São camas de casal, não são? - pergunta Laura.
- Obviamente que sim. São quartos de casal, a casa de banho com um pequeno jacuzzi, com mini-bar, uma varanda fenomenal, cama enorme, acho que até é vibratória...
- Uhm....escolheste mesmo bem o sitio, Diogo...
- Bem, se gostarmos...pode ser o primeiro de muitos...
- Eu gostei do sitio...Pelo menos do que vi. - diz Afonso - Tem um restaurante ali perto. O passeio na marginal deve saber bem. Tomarmos um copo, um pé de dança...Acho que até tem um miradouro próximo, com vista para a cidade, para o mar e....
- Pois...deves querer tirar muitas fotografias, deve ser isso...
Laura larga um riso. Ao mesmo tempo, passa o olhar por entre todos os presentes. Primeiro por Diogo que percebe o que ela está a dizer. Depois pelo seu namorado, que larga um sorriso com o que ela diz. E finalmente por Sofia, que ainda continua a imaginar o fim de semana escaldante que se prevê.
- Não duvido que vais querer comer a Sofia com o olhar...Assim como estás a fazer agora.
- Possivelmente... - diz Afonso.
- É isso que pretendes? - pergunta Sofia.
- Não é por isso que vamos ter estes dias? Para trocarmos olhares? Para nos comermos? Estou enganado? Sou o único que está ansioso por isso?
- Não, não és amor. Eu também estou em pulgas para passar uma noite com o Diogo.
Sofia desvia o olhar e procura perceber o que vai na cabeça do seu namorado. O homem está a olhar para Laura com desejo. Como se a despisse com a sua imaginação. Naqueles sofás, onde toda a gente os vê, mas ninguém os sente. Na cabeça de todos, Laura está de peito desnudado. Se dependesse da mente dela, o seu amante já estaria a seu lado, a tocar-lhe nos seios, ao mesmo tempo que ela lhe despia as calças. O Espaço é um lugar público, onde dezenas de pessoas entram e saem, onde centenas de pessoas passam diante do estabelecimento, mesmo defronte daqueles sofás. Ainda assim, tudo é possivel ali dentro. Porque a imaginação de Afonso já tem a imagem de Sofia despida. A loira continua sentada no sofá, com o olhar a vaguear entre os outros três. Mas acima de tudo, ela constata o desejo do seu amante. Percebe a forma como ele lhe imagina os seios entesados e as pernas cruzadas a tapar o sexo que agora está mais quente do que o habitual. Afonso também está nu. A fantasia de Laura mistura-se com a da sua amiga. Elas percepcionam a visão semelhante, assim que trocam o olhar e sorriem. Na verdade e realmente, a respiração dos quatro adultos está ofegante. Ali mesmo, naquele espaço inusitado. Porque mais intenso que uma fantasia, é a certeza de que os dias que se aproximam serão no minimo escaldantes.
- Bom... - diz Diogo - Agora que todos temos a certeza do que queremos... Já que não há dúvidas do que vai acontecer este fim-de-semana... Resta saber se resistimos até lá...
- Oh...eu por mim, subia já contigo, Diogo.... - responde Laura.
- E deixamos os nossos amores aqui sozinhos?
- Eu não tenho medo. Tenho confiança no Afonso...Sei que ele tomava conta da Sofia...
- Também acho que sim. - acrescenta a loira.
- Não se acanhem só por estarmos aqui. - diz Afonso.
De uma forma surreal, os dois casais estão dispostos a trocarem entre si. Neste exacto momento. A ansiedade mistura-se com uma confiança exacerbada. Antagónico? Não. Os casais efectivamente complementam-se. E as certezas dos seus sentimentos, cobertas de uma paixão imensa, fazem evocar uma necessidade incontrolável. E depois de despirem os seus amantes com a própria mente, o próximo passo será avançar. Laura irá pegar na mão de Diogo e levá-lo até ao 2º direito. Sofia irá aguardar pela desejo de Afonso e esperar que ele diga onde a quer comer.
- Eu não estou acanhado, Afonso. - responde o seu amigo - Seria com todo o gosto que te deixava aqui com a Sofia. Seria com imenso prazer que subiria com a Laura. Com mesmo muito prazer......
Mas não há tempo. A manhã já começa a libertar-se. O sol já aquece. O rodopio de pessoas vai diminuindo. Não há tempo e é um dia útil. O fim-de-semana está próximo, mas até lá, ainda é preciso trabalhar.
- ....De qualquer maneira, já estou atrasado para ir trabalhar.
- Eu também... - complementa Sofia. - Mas adorava ficar contigo, Afonso.
Laura ri-se. Divide o olhar entre o seu namorado e a sua amiga. Mais do que ninguém, ela estava entusiasmada com a indecisão do que poderia acontecer nesta manhã entre Sofia e Afonso. Mas a verdade é que já não há espaço para divagações. Após terem tomado o pequeno-almoço, os quatro amigos levantam-se. Após uma discussão amigável, junto a Vasco, para decidir quem paga a conta, eles dirigem-se para a saída do Espaço Magnolia.
- Como é que ficamos, então? - pergunta Diogo.
- Como assim? Não estamos já combinados? - diz a namorada de Afonso.
- Sim, Laura. Nós passamos por aqui depois de sair do serviço. Vêm no nosso carro e chegamos lá ainda a tempo de jantar. - responde Sofia.
- Se não houver jantar, não haverá qualquer problema...Temos todo o tempo. - conclui Afonso.
Risos, primeiros beijos de despedida, olhares inequívocos, sorrisos cúmplices. Numa reunião à porta do estabelecimento, os quatro adultos envolvem-se. Apesar de já terem vestido os amantes na sua mente, ainda resta um fôlego de desejo. Ainda paira a sensação do toque alheio, mesmo que ainda não exista. Os dedos suaves a percorrerem a face, aliciando a um beijo. A mão firme a percorrer o pescoço até alcançar os seios irresistiveis. A palma da mão gentil a acariciar o sexo inchado. Eles gemem. Sofia, Afonso, Laura e Diogo gemem. A fantasia deles prolonga-se. O espirito surreal do Espaço envolveu-se neles e tudo isto será transportado até ao fim-de-semana diferente. Só deles. Tudo o que houver a contar será a continuação destes gemidos silenciosos. Pequenos risos, últimos beijos de despedida, olhares pretensiosos, sorrisos intimos. Por agora, não há tempo. Mas haverá espaço para a paixão partilhada em fantasias.

quarta-feira

Instante decisivo

O próximo segundo que se vive pode ser sempre uma surpresa. O próximo minuto pode alterar o rumo do que julgámos certo nas nossas vidas. Este dia pode ser totalmente diferente das perspectivas realizadas no exacto instante em que acordámos. Ana veste a sua máscara diária. Entra na rua do Edificio Magnolia cumprindo rigorosamente o seu ritual matinal. Vestida com o fato de treino azul, ela termina agora a sua meia-hora escrupulosamente cumprida. Reduz o ritmo dos seus passos rápidos e depois de esvaziar a garrafa de água que segura na mão esquerda, retira as chaves do bolso. Abre a porta do Edificio, retira a correspondência dentro da caixa de correio, cumprimenta os vizinhos do primeiro andar que seguem para o trabalho e entra no elevador. Enquanto prossegue a viagem, vê por alto as cartas que recebeu. Contas, facturas, catálogos de uma marca de roupa e um envelope branco. Sem destinatário, sem remetente, sem qualquer inscrição no papel. Qualquer semelhança com a sua máscara nocturna é mera realidade. Ela abre apressadamente o envelope e lá dentro estão duas notas grandes e um bilhete que não está assinado. "Não pago por sexo, mas não gosto de ficar a dever".
- Grandessissimo cabrão, filho de uma grande égua!
A porta do elevador abre-se e neste momento, Ana já ebule uma enorme fúria em si. No terceiro andar, ela decide não seguir para o lado direito. Irrompe pelo corredor e toca abruptamente na campainha do lado esquerdo. E só para de tocar quando Rafael abre a porta. Ele já sabia antecipadamente quem era. Só uma mulher lhe poderia bater na sua porta assim. Só uma mulher quereria impulsivamente confrontar-se com ele àquela hora tão matinal. Rafael entrega-lhe um sorriso presunçoso. O olhar aguerrido de Ana pretende demonstrar em gestos que a acção do seu vizinho irritou-a profundamente. E a extensão do sorriso dele aumenta. Porque sente que conseguiu chegar onde queria.
- Se pensas que vou aceitar o dinheiro, é porque tens uma mente muito limitada.
- Bem, tens o dinheiro na mão. Se o quisesses mesmo devolver, terias deixado na minha caixa de correio. Sabes onde moro, podia deixar por debaixo da porta.
- Vai-te fo....Não...Não me vou rebaixar a alguém como tu....
- Veremos....Queres entrar?
- Achas mesmo que quero entrar na tua casa?!
- Não sei....Queres que eu entre na tua?
- Ouve, Neves....Eu não sigo nos teus jogos. Eu não quero o teu dinheiro....
- Não foi isso que pareceu a última vez que nos encontrámos.
- Se fosses para a merda....
- E se parasses de dizer asneiras no meio do corredor e entrasses?
Ana desvia o olhar dele durante dois segundos, como que a reflectir sobre o que haveria de fazer. Mantém o envelope branco na mão e aguarda alguma reacção do vizinho à sua inércia. Mas ele não cede. A vontade dela é chamar-lhe todos os nomes possiveis e no entanto, ela não nega a si mesma a atracção de poder entrar no espaço de Rafael. Dá cinco passos em frente e pisa o chão do 3º esquerdo.
- Queres limpar-te?
- Agora vais oferecer-me banho, é isso?
- Queres parar de ser ofensiva comigo?!.... Vou buscar uma toalha para te limpares.
O suor escorre dos cabelos de Ana e humidifica no pescoço. Rafael dirige-se à casa de banho e quando sai, Ana já está diante da porta. Na mão direita dele está uma toalha branca. Por entre os dedos do membro direito dela está o envelope, pronto a ser entregue. Um silêncio volta a interpôr-se entre os dois vizinhos. Ana quer entregar o envelope e não quer receber a toalha. Pelo menos a dele. Rafael não quer receber o envelope de volta e adoraria entregar-lhe a toalha. Centimetro a centimetro, os objectos aproximam-se dos seus destinatários. A respiração deles espelha a indecisão daquele momento. Nenhum deles sabe como reagir. E quando Ana decide pegar a toalha, o envelope escapa-lhe por entre os dedos. Quando Rafael sente o envelope a cair no chão, empurra o tecido branco contra o corpo da vizinha e encosta-o ao pescoço dela. Ana bloqueia. Um terramoto irrompe-lhe pelos pulmões, procurando controlar a respiração. A jovem sente-se arrebatada por aquele gesto sensual, do qual Rafael estudou a lição toda. A toalha escorrega pela pele do pescoço, enxaguando o suor que transpirou durante o passeio matinal dela. Quando ela finalmente consegue expirar o ar intenso que guardava dentro de si, Ana geme. Um soltar fino de voz acusa-a. Compromete toda a postura que ela procurou demonstrar desde o inicio. E agora, nem ela sabe como se comportar. Porque ela tem que decidir. Há uma força surreal que a puxa para dois pólos. Ela procura afastar o seu corpo da toalha. Ele pretende baixar-se e apanhar o envelope. Mas a decisão está feita. A toalha começa a descer para o peito dela e uma escaldante sensação de desejo transborda do interior da jovem. Antes mesmo dele conseguir baixar-se, ela levanta os braços, segura a face e beija-o. Um beijo intenso, fogoso. A boca dela engole os lábios dele. Ainda que ansiasse pelo momento, ainda que o pudesse perspectivar, Rafael não podia imaginar que ela se entregasse assim de forma tão apaixonante. Os seus braços envolvem o corpo da vizinha. A decisão de Ana foi tomada com alguma impulsão e nessa medida, ela empurra o professor contra o lavatório. As mãos dele apalpam o rabo redondo mas firme de Ana e pressionam-na contra si. O beijo prolonga-se. É saboroso, é viciante, é um consumar de uma fome que tardou em ser saciada. Eles respiram fundo. Descolam os lábios e trocam um olhar fulminante. Alguém se rendeu e cedeu. Ela está nos braços dele, com alguma dose de incoerência, com uma sensação fria de descontrolo. Finalmente, o homem consegue arrebatar a sua conquista mais complexa, mais dura de roer, mais atraente.
- É isto que tu queres, não é?...Uhm?! Queres trazê-las para o covil e...
- Cala-te!....Queres mais do que eu...
Ela volta a beijá-lo e ambos se calam. As pernas de Ana roçam no corpo dele. As mãos de Rafael acariciam todas as curvas carnudas da vizinha. Depois de passarem pelas ancas ansiosas, as mãos dele fazem subir o casaco de fato de treino da jovem. Enquanto a despe, Rafael percebe que ela apenas veste um top confortável por debaixo. Tão simples de retirar como uma pétala de uma flor. As mãos de Rafael seguram-se às mamas da acompanhante. Mas seguram com força. Com impulsividade. Com firmeza. Com fome. Ana sente-se manipulada. Literalmente. Sente-se presa ao desejo do homem. Tenta libertar-se dos membros dele. Cola as mãos ao peito de Rafael, puxando para o lado oposto ao dele. E quanto mais força ela faz, mais ele enche a palma da mão com os seios dela. Os mamilos rijos roçam nas mãos do professor. E só assim ele entende o quanto aquele momento a excita. Os pólos atraem-se, por mais que eles tentem separar-se. E neste caso, acabam por colar-se, como dois imans. Ana procura libertar-se mas apenas consegue ficar encostada ao lavatório, de frente para o espelho e com a cintura dele colado ao seu rabo. Sempre presa. As mãos dele deliciam-se autenticamente com as mamas redondas e salientes de Ana. A cena é excitante, ainda para mais quando os dois conseguem ver-se mutuamente e ainda assim olharem na mesma direcção. Mais importante que isso, eles olham-se. Ao contrário da última vez que se envolveram, Ana e Rafael sentem mais do que o tacto. Vêem-se. Decoram os traços sensuais um do outro. Ela ainda dá um safanão com a cintura, procurando libertar-se. Mas percebe que pertence ao homem. Percebe que o sexo dele está entesado por entre as suas nádegas. E que basta que ele dispa as duas calças para que a pele dela sinta o calor da carne de Rafael. Mais simples que retirar outra pétala.
- Ohhh!!....Neves...continuas um cabrão!...
- Tu é que sabes....Posso parar agora....É só dizeres...
Mas a picha dele já está dentro da rata dela. As pernas já estão abertas e o sexo dela já está suficientemente lubrificado. Agora que ele já entrou imponentemente na sua rata, Ana já não quer parar. Dizer falsamente que quer parar seria desperdicio. Admitir que pretende que ele continue é uma fraqueza que ela não quer largar. Por isso, a única resposta que ela tem para lhe dar, é um enorme suspiro. Olha para o reflexo do olhar dele e segura as mãos no lavatório. Os dedos de Rafael acariciam os seios de uma forma terna e ao mesmo tempo apaixonante e intensa. Ana está enfeitiçada com tais gestos. Não consegue suprimir os gemidos na sua garganta e liberta-os a um ritmo estonteante. Sente o sexo inchado a percorrer o seu interior enquanto o seu ventre quente roça na porcelna fria do lavatório.
- Uhm...ohhh....está tão quente...ohhh....Rafael...oohhh!!!
- Não consegues resistir, pois não?...Tu gostas de me provocar...uhmmm...
Uma das mãos de Rafael apalpa as mamas excitantes da jovem. Da sua boca saem provocações que acendem o orgulho e a personalidade de Ana. A outra mão escorrega pelo corpo escaldante da amante e dirige-se para a torneira da água, ligando a corrente. Rafael molha toda a mão, em especial nos dedos. Depois, com a mão fria, volta a colá-la ao ventre dela. Enquanto a fode, Rafael acaricia o clitóris de Ana arrefecendo a explosão que ocorre na rata da jovem.
- Ohhh...odeio-te..uhmmm...odeio-te tanto, Rafel...oohhh...sim!!!
Ela está a ferver. Literalmente. E nem a mão molhada de Rafael consegue acalmar a sensação quente que invade a sua vagina. O sexo dele penetra nela em toadas secas. Cada vez que ele entra, o corpo de Ana sente-se arremessado contra uma almofada. Cada vez que ele sai, é como um esvaziar de um balão. E tudo se repete. E volta a contecer. Ele está incansável. Percebe a excitação da amante e exige mais dela.
- Tu adoras...adoras saber que eu sou diferente dos outros....
- Cala-te!...Ahhh...Ohhh...cala-te e fode-me...oooohhhh!
Ana olha para a sua imagem reflectida no espelho, onde percebe a extensão do seu prazer. Ele continua com cada uma das zonas erógenas dela, pelo que a excitação é visivel aos dois. No entanto, assim que a sente prestes a gozar, Rafael prende de novo a jovem e empurra-a. Desta vez, leva o corpo, que lhe pertence por uns momentos, para junto da banheira. Gira a torneira do chuveiro, desvia a porta de vidro e empurra-a mais um pouco. Sem esperar que a água possa atingir a temperatura certa, ele incita-a a entrar dentro da banheira. Ana acede. A sua excitação põe-a fora de si. Deixa-a exposta aos prazeres da carne. A sua máscara diária não tem a mesma força de espirito que a sua faceta nocturna. Não se está a falar de dupla personalidade. Está-se a falar de desejo incorente e ambiguo. E isso, diante do seu amante, ela não consegue esconder. Porque há algo diferente que a move. Existe algo surreal, algo mais confuso que a mistura entre o ódio que sente por ele e atracção carnal que a faz deter ali. Como uma jovem imatura que apenas quer perceber se aquilo é mesmo bom ou não. Mas aquilo, o âmago daquilo que Rafael lhe dá é efectivamente bom. É saboroso. É forte. É irrecusável.
- Ahhhh...cabrão!...Está fria...uhmmm....ohhh!
O corpo suado e húmido de Ana mergulha para debaixo do chuveiro, guiada pelas mãos dele. Ela ainda não está despida. As calças baixaram até aos joelhos e o seu top e o seu casaco voltaram a descer. Por isso, a sua própria roupa ensopa-se. E todo o seu orgulho encharca naquela água fria. Ela solta um gemido profundo, intenso, vagaroso. Ela cede. Deixa que o chuveiro tome conta de si. Rafael acaricia o corpo da amante, procurando perceber se ela está em sintonia com o que ele pretende. Ela está. Ana quer. Quer ainda mais. Quer sentir o prazer dele e poder gemê-lo. Gemer em voz alta que foi ele que a levou àquele estado. E depois de se adaptar à temperatura da água que cai sobre a sua cabeça e escorre pelo seu corpo a ferver, ela vira-se e encosta-se à parede. Olha directamente para o vizinho e pela primeira vez desde que entrou no Edificio Magnolia, solta um sorriso. Depois ri-se. De alguma forma, Ana está encantada com o momento quente, insólito e peculiar que vive. Deixa Rafael aproximar-se de si, deixa o amante agarrar-lhe a coxa e levantar-lhe a perna, deixa o homem voltar a entrar em si. O sexo dele está ao rubro, a sua rata já conhece o tacto impresso pelo pedaço de carne inchada. Rafael encosta-se ao peito dela. Sente o calor que percorre pelas mamas da jovem e roça os lábios na sua face suave. A mão direita dela segura-se à nuca dele. Dai em diante, a temperatura da água vai aquecendo. Dai em diante, as penetrações que ele incide na rata apetitosa só têm uma conclusão. Dai em diante, os gemidos que se libertam da boca de Ana são abafados pelos beijos que ela pinta no ombro dele. Dai em diante, o prazer dela é justificado pelo orgasmo do homem. Rafael liberta-se para dentro dela. Quatro ou cinco penetrações fortes são suficientes para aliviar a sede de sentir tal prazer. Porque é fome que os invade. Não é paixão. Não é uma atracção irresisitivel pela beleza dela, pela sedução dele, pela personalidade excitante dela, pelo ar charmoso dele. A fome que os devora mutuamente é um instante em que a tentação do sexo assume contornos ousados. Lado a lado, morando bem próximos um do outro, qualquer um deles, qualquer inquilino ou vizinho adivinhava que a atracção entre os dois se tornaria um vicio. E quando Ana o sente profundamente dentro de si. No momento em que o prazer dele se espalha por toda a sua vagina. Nesse instante, Ana rende-se. É uma evidência demasiado grande. Ela adorou e nenhum dinheiro do mundo lhe paga aquela sensação.
- Estás bem? - pergunta ele carinhosamente.
- Sim...estou....Estou bem...Estou muito bem, Rafael...
A mão dele apalpa com ternura o seio excitado dela e segue até à face da jovem, onde ela ruboriza todo o prazer recolhido. Dessa mesma face, Ana não consegue esconder efectivamente a satisfação. Sorri para ele, acaricia-lhe os cabelos e dá-lhe um beijo suave. A água quente continua a encharcar os dois corpos e as roupas que os envolvem. Cedo, Rafael tem que ir trabalhar e num curto espaço de tempo, Ana irá perceber que algo no seu dia está diferente. Por ora, ela desembaraça-se finalmente do corpo dele, levanta as calças, sai da banheira e volta apegar numa toalha. Coloca-a à volta do corpo e segue rapidamente caminho para fora da casa de banho. Rafael não a persegue. Não lhe diz nada. Num pequeno instante, houve uma conquista. Não se pode considerar que esteja dentro das necessidades e expectativas de cada um. Mas foi uma conquista satisfeita. Há tempo para perceber o seu alcance. Para já, Ana sai do 3º esquerdo, pingando ochão todo, desde a casa de banho até à sua casa, onde se despe por completo e segue para o seu banho privado. Rafael fecha a torneira e depois de retirar todas as roupas, apercebe-se que no chão, está o envelope com as duas notas grandes. Encharcado.

terça-feira

Tempo de reflexão

-
"A carne seduz. A paixão mata"

Tagline do filme Basic Instinct, de 1992, com Sharon Stone, Michael Douglas e Jeanne Tripplehorn http://www.imdb.com/title/tt0103772/

"Nick entra em casa, juntamente com Beth. Dois dedos de conversa são suficientes para criar ambiente. Ele segura no corpo dela e encosta-a à parede. Beth sente-se arrebatada. Deixa-se levar pelas mãos dele que lhe percorrem as pernas, a saia de doutora aprumada e a blusa de seda verde. De tal maneira que ela se sente envolvida nas mãos imponentes do policia, que os amantes colam um beijo intenso, fogoso e sinistro. Violentamente, ele rebenta os botões da blusa dela e abre-a, descobrindo o peito. Nick quer a mulher. Nick entesa-se de pensar na sensualidade da sua amante. Nick está descontrolado. Pega no corpo dela e abraça-a. Ela empurra-o para a parede em frente. Cedo ela está de costas para ele, entregue aos caprichos de Nick. Ele apalpa as mamas escaldantes de Beth. A boca dele procura os lábios carnudos da mulher, ao mesmo tempo que o seu corpo se apodera dela. Impulsivamente, Nick empurra-a contra a parte traseira do sofá e em actos selvagens puxa-lhe a saia, rasga as cuecas dela e apalpa-lhe o rabo. O homem abre as suas próprias calças que caem aos seus tornozelos e penetra vigorosamente na mulher, que está inclinada sobre a poltrona. Beth sente-se consumida. Sente-se possuida pelo seu amante, que agarra na sua cabeça com extrema garra. Beth sente-se cheia. Sente que dentro de si, algo irrompeu violentamente. E no entanto, quer. E no entanto ela deseja aquela foda. E no entanto, ela própria geme com aquele sentimento ambiguo. Nick, o seu amante quer comê-la impulsivamente. E Beth deixa. Naquele momento, a paixão e o desejo sobrepõem-se a qualquer sentimento, a qualquer dor, a qualquer acção."
O cinema, como muitas outras formas de arte, podem fascinar-nos, podem fazer-nos fantasiar, podem até mesmo levar-nos a confundir a ficção com a realidade. Seja o conteúdo efectivamente real ou notoriamente ficção. Principalmente quando nos sentimos envolvidos nas histórias, nas personagens, nos sitios, ou na forma como são contadas. Muitas vezes, o cinema e as suas obras, levam a que os espectadores se sintam entusiasmados - até excitados - com as histórias de amor e as cenas eróticas que vão surgindo. "Instinto Fatal", ou Basic Instinct, como preferirem, é só um exemplo. Mas haverão outros que servem perfeitamente para demonstrar aquilo que é pretendido dizer nesta postagem. O filme que lançou Sharon Stone e Michael Douglas para um patamar muito alto do estrelato e da capacidade de representação, é um bom filme. Claro que é uma opinião subjectiva, no entanto é legitimo dizer que tem um argumento envolvente. E como tal, agarra muitos dos espectadores que já se lançaram a visioná-lo. Não só a história num mundo que existe. Não só a carga dramática das personagens que poderiam existir. Não só o famoso cruzar de pernas. Também e acima de tudo, as cenas de sexo cativam imenso o espectador. Isso é inegável. E a cena em que Nick Curran e Beth Garner se envolvem pode considerar-se um dos pontos altos do filme.
Agora pergunta o leitor. O que tem o filme e em concreto a cena de sexo a ver com a postagem de hoje e a vivência do Edificio Magnolia? Quer na acção que foi descrita acima, retirada do visionamento do filme citado, quer em muitas das histórias do Edificio, não existe ou não é dado a conhecer a existência no pénis do homem de um preservativo!
Eu sugiro ao leitor que retorne a ler a descrição da cena do filme. Sugiro que entre o momento em que ele baixa as calças, apalpando em seguida o rabo e o momento em que ele a penetra violentamente, coloque outra descrição. "Ele abriu o preservativo o mais rápido que pôde, colocou-o afincadamente no seu sexo e depois de lubrificar convenientemente o buraco anal dela, penetrou-a vigorosamente." Àqueles que tiveram oportunidade de ver o filme e que ainda relembram este episódio, imaginem o Nick Curran a fazer exactamente isto. É dificil, não é? Pouco estimulante para uma cena que se pretende intensa. Para uma penetração que se pretende vigorosa. Mostrar que o homem tem um preservativo ou que até lubrificou o rabo da amante pareceria no minimo improvável. O mais certo é parecer inestético, sem emoção, sem ritmo e desmotivante. Creio não estar em erro dizer que todas as outras cenas de sexo do filme não fazem menção a preservativos, a lubrificantes, ou a qualquer outra forma de tornar o sexo mais seguro, mais confortável, mais adequado. Creio não estar em erro quando afirmo que a maioria das cenas eróticas que se vê no cinema comercial contemporâneo não contêm qualquer descrição de sexo seguro. Assim, porque haveria de ter um texto erótico uma descrição sobre sexo seguro?
Esta primeira pergunta é colocada com base no facto de surgirem temporariamente comentários sobre a forma como as personagens do Edificio poucas vezes usam preservativo, ou como muito poucas vezes é feita referência ao mesmo. Longe de quem coloca com frequência as revelações do Edificio Magnolia, não querer aceitar as criticas ou sugestões que são feitas. Pelo contrário. No entanto e de acordo com o que alguns leitores legitimamente já referiram, este parece ser um assunto ou um tema que merece um outro tipo de análise e de resposta que vai para além de um simples comentário.
Porquê?
O Edificio Magnolia é um blogue, como muitos outros, que pretende transmitir descrições eróticas, fantasias sexuais, revelações que sendo reais ou não, são verdadeiras. Pretende dar a conhecer pontos de vista surpreendentes sobre sexo e relações. Pretende ampliar, dentro do que é possivel, a imaginação de quem o visita. Porque acima de tudo, o Edificio é um local onde apesar de haver alguma descrição, é incentivada uma enorme liberdade de imaginação. No entanto, já que se trata de sexo, já que se trata de relações, já que se trata de fantasias, deixo a segunda pergunta. Porque haveria o Edificio Magnolia de ter um carácter pedagógico?
Creio que a maioria dos leitores assiduos deste espaço vêm aqui por causa de sexo. Não vêm aprender, vêm descobrir. E se vêm por causa do sexo e das fantasias que tais textos possam gerar, precisam de ser ensinados? Quem aqui entra e fica algum tempo sabe minimamente o significado de sexo. Caso contrário, provavelmente fecharia a página à primeira vez que visse as palavras "rata", "foda" ou "picha". Quem costuma aqui vir sabe possivelmente imensas posições sexuais, jogos eróticos e sonha frequentemente com amantes. Ainda bem que sim. É saudável. Quem entra aqui possivelmente sabe as precauções a tomar relativamente ao sexo. A forma como é possivel gerar vida através do mesmo, as doenças inerentes à prática irresponsável de sexo, os desconfortos que as mesmas práticas podem provocar corporalmente. E claro, haverá sempre quem não sabe. É legitimo. No entanto, mais uma vez...Terá um blog que guarda um carácter de lazer, de entretenimento, de fantasia e liberdade de imaginação, que conter pedaços de educação sexual? Porque haveria de ser este blogue e não outros que contém linguagem sexual? Porque haveria de ser um blogue e não um filme? Porque haveria de ser um blogue ou um filme, se há livros de carácter erótico que em imensas páginas não fazem referência a um preservativo?
Quem pensa, escreve e edita o Edificio Magnolia está ciente do poder da comunicação como influência à sociedade, como veiculador de mensagens. Mas não acho que o facto de indicar que Ana, do 3º direito tem sempre relações sexuais com um cliente só com preservativo se torne mais educativo e que consciencialize mais jovens e prostitutas a fazerem-no sem excepção. Não acho que referir o facto de Maria José tomar a pílula dê uma maior consistência à personagem e que alerte para gravidezes indesejadas. Não creio que dizer que quando Rodrigo penetrou no rabo da sua mulher na casa de banho usou lubrificante, abra a mente de quem não tem cuidado com possiveis futuras lesões ou irritações anais. Pelo contrário, apenas arrefeceria o tom intenso, erótico, excitante e acima de tudo fantasioso que é pretendido dar a cada pedaço de história. Acima de tudo, essa é a preocupação de quem escreve diariamente para os leitores que, acredito, vêm aqui efectivamente para estimularem a sua imaginação, não para se consciencializarem.
As personagens do Edificio, reais ou não, têm a sua dose de consistência. Já foi demonstrado o uso do preservativo em várias situações. Em muitas delas, não foi indicado que usavam, mas também não foi dito o contrário. E noutras vezes, não houve sequer esse uso. Seja porque a descrição assim o referiu, seja porque a situação em que as personagens estavam envolvidas não o permitia. Nunca foi dito que as personagens eram educativas. Nem o pretendem ser. Nunca ninguém disse que as personagens eram perfeitas. São uma procura de aproximação a algumas realidades. E se a realidade dissesse que toda a gente usa preservativo, não se usavam milhares de euros em campanhas de sensibilização.
Não é pretendido com isto fugir a uma realidade social. Nem tão pouco se pretende que o Edificio seja contra qualquer tipo de pedagogia em meios de comunicação para o uso do preservativo e consciencialização das doenças sexualmente transmissiveis. De qualquer forma, este blogue não pretende ser um manual de educação sexual e por consequência descrever todas as situações de uma forma que transmita a ideia de sexo seguro. Se outros meios de comunicação não o fazem, porque haveria este blogue ou muitos outros de o fazer?
Séries juvenis na televisão portuguesa e estrangeira transmitem diariamente conselhos pedagógicos em várias áreas, incluindo o sexo, por entre os seus argumentos ficticios. Reforçam constantemente o choque entre sexo seguro e sexo irresponsável, preservativos, pilulas do dia seguinte, planeamento familiar, interrupção voluntária da gravidez, doenças sexualmente transmissiveis, etc, etc, etc. Isto tudo em conversas com os pais, em salas de aulas, em conversas de café. E no entanto, mesmo que o público alvo dessas mesmas séries sejam jovens que começam a sua vida sexual, os episódios mostram frequentemente a contracenação de actores em cenas escaldantes e em quase nenhuma delas salta um preservativo ou a rapariga a dizer antes de se consumar o acto que tomou a pilula. Contraditório, não é?
O público-alvo deste blogue não está especificado. Provavelmente situa-se em pessoas que tem uma vida sexual já activa ou que procuram novas sensações, dar largas à imaginação. Claro que para uma regra há sempre a excepção e possivelmente deve haver vários leitores jovens, outros adultos, pouco informados, dogmáticos, inconscientes, irresponsáveis, que possam ler alguns pedaços de histórias. E é aqui que voltamos ao "Instinto Fatal". Com certeza que muitos dos leitores deste blogue que não têm um conhecimento efectivo de sexo seguro, já viram o filme. Ficaram mais ou menos sensibilizados depois de o verem? Em meu entender, acho que isso pouco interessa. A educação, como diz o povo sabedor, parte dentro da própria casa, mas também da escola e do meio social que envolve o ser humano. Tudo o resto são fragmentos que esse mesmo ser vai encaixando e adaptando à sua personalidade e forma de viver.
Respondendo a alguns comentários que já houve ( os quais são bem vindos, porque este também pretende ser um espaço com uma ampla liberdade critica ), gostava que imaginassem um post qualquer do Edificio. O vosso preferido, o mais excitante, o mais ousado...qualquer um. E que no momento em que achassem adequado, imaginassem também uma descrição do homem a colocar correctamente o preservativo ou a pedir alguns minutos à mulher antes de ir buscar a vaselina ou o lubrificante. Claro que em alguns casos pode tornar a história mais escaldante, o momento mais intenso. Mas na maioria das vezes, apenas torna a descrição da cena mais constrangedora. Mais uma vez, as histórias permitem uma enorme liberdade criativa ao leitor. Já o referi num comentário a uma leitora. Por isso, se aquilo que está na vossa mente, é a colocação do preservativo ou de um lubrificante, isso só pode ser positivo. A personalidade dos inquilinos, a descrição dos lugares, os gestos que são trocados, as coisas que são ditas, não terminam com o que é escrito por quem narra. É ai que começa. Só termina na mente de quem imagina.
Na esperança de que esta postagem possa ser correctamente entendida e determinante da forma de os leitores habituais entenderem o ponto de vista de quem narra e desvenda as revelações do Edificio, deixo assim espaço de manobra para expressarem tudo o que vos venha à cabeça. Não só está em vocês a capacidade critica, como fundamentalmente está, e repito, a liberdade criativa. O Edificio Magnolia é tudo aquilo que a vossa imaginação quiser. Por isso, sintam-se livres aqui.

segunda-feira

Momento ansiado

Aquele palpitar de coração. A respiração mais ofegante. As mãos que tremem. Os pés que teimam em não caminhar da forma certa. Paulo alcança o Edificio Magnolia e olha de soslaio para a primeira janela do lado direito. Ao chegar à porta de entrada tem as campainhas do lado esquerdo e as caixas de correio do lado direito. Mantém o olhar nervoso durante cerca de dez segundos numa das campainhas. A sua mão ergue ligeiramente. No entanto, em vez de alcançar o botão, abre a sua mala de carteiro. Retira uma mão cheia de envelopes e vai olhando pormenorizadamente para o espaço do destinatário. Coloca quatro cartas nas caixas do terceiro andar, fica confuso em colocar o envelope maior na caixa esquerda ou direita do segundo andar, mas toma a decisão acertada. A caixa no canto inferior esquerdo não tem correspondência para introduzir e ele segura na mão a carta que lhe resta. Transporta-a a medo para a caixa do 1º direito e segura-a. Volta a olhar para a campainha correspondente a este apartamento e respira fundo. Num gesto seco, empurra a carta para o fundo da caixa de correio. O seu coração volta a palpitar com força. Paulo olha agora para a caixa e percebe que o seu trabalho está feito naquele prédio. Continua com o olhar preso na caixa do canto inferior direito. A sua respiração está ofegante. A ansiedade que aquele apartamento gera ao carteiro é intensa. Ele estica a mão direita e sem querer pensar mais no assunto cola o dedo ao botão da campainha. Ela provavelmente nem está em casa, pensa ele. Paulo pressiona o botão, ouve-se um som abafado e no segundo seguinte a porta de entrada é aberta. Ele não esconde o ar de estupefacção. Larga o botão e entra no Edificio Magnolia.
Ao subir os dois últimos degraus, Paulo olha para a porta do primeiro andar do lado direito. Está entre aberta. Lentamente, ele chega-se junto à entrada. Coloca a mão na porta de madeira e empurra a medo, mas com ansiedade. Ao abrir toda a porta, consegue avistar Maria José, a inquilina do apartamento que tanto faz tremer o carteiro.
- Olá, Paulo...Bons olhos te vejam...
- Ah, pois...Olá....Maria José...
A mulher está de pé, junto à janela da sala. Tem os braços cruzados e lança um sorriso ao jovem. Não esconde que esperava por ele. Já estava a vê-lo da janela, abriu-lhe a porta imediatamente e aguarda por ele, ao fundo.
- Há cartas para mim?
- Uhm...Não...Sim, há...
- É o quê?
- Uma carta de uma seguradora...
- Ah, deve ser a confirmação...Deixa ver. Onde está?
- Deixei-a...lá em baixo...Pus na caixa e....
- Porque não fechas a porta e entras?...
Paulo entra timidamente na casa. Como se fosse a primeira vez. Mas aquela casa tem um pedaço de si. De uma forma transcendente, mas o homem conhece melhor o ar que respira ali do que a própria inquilina actual. Entrar pela casa adentro, para ele, é um processo natural. Aproximar-se de Maria José é que o assusta mais. Ela veste um pijama lilás que recebe a luz natural e ensopa no tecido macio e possivelmente confortável. Paulo guarda dois passos de distância da mulher.
- Fizeste uma promessa, Paulo.
- Eu?!
- Prometeste que virias entregar-me em mão as minhas cartas.
- Ah...não...há muitas vezes que venho cedo demais e...outras vezes não tem e....
- Não fujas ao assunto...Estás com medo de mim?
- É que...tenho tido umas coisas e....
Ele baixa o olhar, como um garoto assustado. No entanto, ao mesmo tempo, repara na postura da mulher. A sensualidade que ela transmite é fascinante. Sem qualquer roupa interior por baixo do pijama, os mamilos da mulher estão salientes. E isso nunca foge à atenção do carteiro.
- Não me mintas...Anseio por ti. Sabes disso?
- Uhm?!
- Beija-me....Por favor, beija-me Paulo.
Ele dá dois passos em frente e recebe as mãos dela na sua face. As bocas colam-se e eles beijam-se. A boca molhada dela desesperava por sentir os lábios do jovem. Ele recorda novamente o prazer de provar a lingua dela.
- A tua carta está lá em baixo na caixa e...
- Eu quero lá saber das cartas que me trazes ou não. Eu ando à espera que me voltes a comer...
As mãos de Maria José percorrem o peito do carteiro, por cima da farda profissional dele. Com o passo trocado, os dois adultos alcançam o quarto de Maria José. Ela senta-se ao fundo da cama e levanta o olhar em direcção ao semblante assustado do jovem.
- Não me queres comer? Eu posso parar, se quiseres...
- Não...Não, não é isso....Eu quero, Maria José...Quero-te loucamente...
Paulo engole em seco. A respiração dele intensifica-se. A mulher tem a face diante da cintura dele. Ela abre as calças e retira a camisola do pijama de algodão. Os seus seios estão quentes. Ele delira com tal visão. Desde o primeiro momento que a viu, ele fascina-se com a forma singela como as mamas de Maria José descaem. Para ele, a recordação que ele leva quando sai daquela casa é o sorriso que brilha no olhar da mulher e os seus seios. Ela deita-se na sua cama e estica os braços. Olha para ele com desejo, com paixão, com anseio, pedindo-lhe um beijo, um toque, uma lambidela, um gesto que demonstre o quanto ele a quer. Paulo ajoelha-se e coloca as mãos sobre as coxas dela. Desliza os dedos até lhe tocar na barriga morna. Puxa as calças do pijama dela para baixo e arranca-lhe um suave gemido. Lentamente, Maria José fica nua aos olhos do seu amante. E quando o último pedaço de tecido roça nas unhas do pés dela, as pernas da mulher abrem-se. Os calcanhares seguram-se na ponta da cama e o seu intimo é revelado bem perto do olhar do jovem. Paulo desliza os dedos pelos joelhos, desce pelas canelas e apalpa com ternura os pés. Volta a subir e acaricia a parte interior das coxas até tocar nas virilhas.
- Não consigo espera mais, Paulo...por favor!
Ele ouve a respiração intensa da mulher e aproxima-se do seu sexo. E enquanto fixa o olhar nos mamilos rosados e rijos de Maria José, tira a lingua para fora e lambe os lábios vaginais. Maria José liberta um novo gemido. Desta vez mais intenso. Ele não tira o olhar dos seios dela. Por entre o vale do peito, descobre-se o queixo tenso da mulher. E ele volta a passar a lingua. Os dedos dos pés dela esticam. De cada vez que a lingua dele percorre a rata, penetra um pouco mais, abre os lábios, desvenda o clitóris húmido. E ela geme, como uma mulher rendida. Paulo lambe o sexo da amante como se tivesse junto à sua boca um sorvete. Baunilha. É um sabor semelhante a baunilha que deve ser extraido da rata molhada dela. A mão da mulher acaricia um dos seios. Ele distrai-se, pára de lamber e fixa o olhar nos dedos carinhosos dela. Mas Maria José já está compenetrada no minete. O seu corpo entrou num carrossel de desejo e não tenciona parar. A outra mão dela empurra de novo a cabeça dele contra a sua rata e desta vez obriga o jovem a lambê-la.
- Porque paras agora?...Ohhh..estás louco? Não pares!...
Ele fecha os olhos e chupa o clitóris. Maria José está completamente entregue à boca dele. Paulo segura o pequeno fruto da paixão da professora e lambe-o. Um turbilhão de sentimentos rodopia no seu interior. Maria José vem-se e procura controlar o seu corpo deitado na cama. A boca dele está enterrada naquela carne erógena e sente os lábios a vibrarem. Tudo na rata dela lateja. Os gemidos dela dão lugar a pequenos gritos quelibertam a ansiedade do seu corpo. A respiração dela procura controlar-se mas ela só expira a saciedade que o minete lhe provocou. As pernas dela apertam a cabeça dele pelas orelhas. E quando o carteiro pressente que a amante aligeira o seu gozo, ele levanta a cabeça. Guarda o sabor a baunilha nos seus lábios e senta-se também ele na cama. Maria José procura recuperar. A sua manhã não pode parecer mais perfeita. Respira fundo e percebe que o jovem olha para o seu peito. O movimento da sua respiração torna-se intensamente excitante. Ela levanta-se, com um sorriso na face. Olha para ele, passa a mão pela cara dele e dá-lhe um beijo terno.
- És fantástico, Paulo....Era isto que eu ansiava...Era isto que eu esperava que já me tivesses entregue...Mas...eu estava à espera que...o que se passa contigo?
Maria José levanta-se da cama. O seu corpo nu está em bicos dos pés e imediatamente ela vê o reflexo da sua postura no espelho da cómoda. Mas ao mesmo tempo, percebe que Paulo mantém um ar sinistro. Sentado na cama, ela baixa o olhar. Ela gira o seu corpo sobre si e olha para ele.
- Paulo?...O que se passa? Não gostaste?
- Gostei...
- Então?
- ...Acabei com a minha namorada...
- O quê?! Namorada?! Tu tinhas uma namorada? Quem?...Quando???
- Nada de especial...Acabámos ontem...Começámos há um mês...
- E gostavas dela....
- Gostava dela desde os meus dezasseis anos....
- Descobri que afinal....
- Afinal não era assim tão perfeita quanto a concebeste...
- Sim....
- Bem, pelo menos levaste só um mês para perceber isso.
Ela larga um riso irónico à situação. No entanto, ou ele não atingiu ou não achou mesmo graça nenhuma ao comentário. Maria José percebe que não consegue retirar o ar sinistro do amante. Pelo contrário, afundou-o ainda mais. Aproxima-se dele, senta-se no seu colo, onde as calças dele descobrem o sexo teso. Com os joelhos na cama e o corpo a envolver o jovem, Maria José abraça-se ao carteiro e encosta as mamas entesadas ao cimo do peito dele. Acaricia-lhe os cabelos enquanto ele envolve os seus braços nas costas desnudadas e macias dele.
- Ok, eu percebo...desculpa....Paulo, a vida continua...e neste momento, eu estou aqui contigo.
- Sim, estás...
- Não era isso que querias quando meteste a carta na caixa?
- Sim, era....eu também te quero muito, Maria José.
O jovem, que mantém uma diferença de idade considerável em relação à professora quarentona despoleta uma série de beijos no pescoço enrugado da amante. Ela gosta. A mão dela procura o chumaço entre as pernas de Paulo. Retira o sexo dentro das cuecas e ajeita as suas ancas. Com pouco trabalho, ela consegue tê-lo dentro de si. Num abraço terno, os dois adultos voltam a envolver-se Maria José cavalga sobre o colo dele e entrega um prazer reconfortante no sexo dele que exigia a sua dose de gozo. Aquela foda tem um nome. Aqueles saltos dela sobre o seu amante, prendendo-o ao seu desejo resume-se num sentimento. O sexo dele inchado a penetrar na rata que ele tinha acabado de lamber provoca uma sensação única. E todos os gemidos adjacentes, todo desejo que é libertado em respirações ofegantes, em beijos calorosos e em caricias muito fraternas, são uma reacção muito explicita. E quando ela salta por cima dele para se sentir comida por ele, quando ele agarra as nádegas dela com a sensação de que a foda está a ser poderosa, os dois amantes tem uma certeza. No entanto, essa certeza não os faz perspectivar o que pode acontecer dali em diante. Porque quando ele se vier dentro dela. Porque quando a respiração da mulher se descontrolar de novo. Quando o suor se misturar por entre os dois corpos. Quando um deles ceder e parar a cópula. Essa certeza irá parecer demasiado assustadora. E nem o abraço forte que ela lhe entregar, demonstrando que tudo aquilo é mais um pedaço da sua nova liberdade a explodir, os vai iludir. Nem seuqer o beijo seco ou a justificação de ter que ir trabalhar, antes mesmo de vestir e ir embora, o vai esconder. No exacto momento em que a foda parecer uma sensação fabulosa que acabaram de sentir, quer Maria José, quer Paulo vão consciencializar-se de algo muito forte. E isso vai ser vital para o futuro relacionamento deles. Esta foda tem um nome que demonstra um sentimento perigoso. Compaixão.

domingo

Há sempre razões para comemorar

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"Movendo-nos à velocidade da vida, estamos destinados a colidir uns com os outros"
Tagline do filme Crash, de 2004, escrito e realizado por Paul Haggis http://www.imdb.com/title/tt0375679/


Há sempre alguma coisa que nos faz pensar. Que nos faz sentar por uns momentos e olhar para um ponto que nos obrigue a reflectir. Essa coisa é ainda mais gratificante se tivermos o computador aberto à frente dos nossos olhos e abrir o mundo à nossa própria mente. Esse computador dá-nos ainda mais se estiver aberto num blog que nos entregue algo de novo. Que aqueça o coração, que incendeie a alma. É esse o motivo que faz existir o Edificio Magnolia. No 50º post, do qual alguém especial fez questão de mencionar, valorizar e dar uma sintese do que já foram quarenta e nove posts, não há muito a dizer. Não há muito a pensar sobre o passado, nem nada a perspectivar sobre o futuro. Quem acompanha o Edificio desde há algum tempo, especialmente desde o inicio, sabe que novas revelações vão acabar por surgir. E essa é sempre a promessa que pode ser feita deste lado. A procura em surpreender diariamente.
Há sempre bons motivos para receber prémios. Especialmente quando vêm de pessoas especiais. E haverá sempre formas especiais de agradecer e torná-los um pedaço de todos. Porque o blogue é de todos. Os que querem ler, os que querem comentar, os que em silêncio gostam de dar um pulinho, nem que seja na escadaria principal do Edificio. O prémio recebido nesta última semana foi entregue por alguém que sente as coisas de forma diferente. Por alguém que nos visita, que sente e que dá. Numa cadeia que se pretende sempre inesgotável, ela decidiu atribuir um prémio que ela própria recebeu ao Edificio. No seu espaço Devaneios, ela faz questão de mencionar o porquê. Aqui, fazemos apenas questão de agradecer e desenvolver o espirito do prémio "É um blog muito bom, sim senhora", criado inicialmente pelo blog Provoca-me. Assim, em nome de quem narra diariamente as revelações, em nome dos inquilinos, em nome de alguns vizinhos, em nome de todos os espaços existentes no Edificio, em nome de tudo o que é respirado aqui dentro, agradeço à Adore a atribuição de mais um prémio. E hoje é especial. É uma espécie de oferta pelo marco que efectivamente foi alcançado. Pretende-se que isto seja uma pequena gota, uma parede pintada de histórias, das imensas que percorrem o imóvel. Mas talvez possa não ser assim. O amanhã pode nem sequer existir, mas irá ficar guardada a sensação de que cinquenta é um óptimo registo. Que soube bem, que foi feito com orgulho, com devoção, com imenso prazer, com a ajuda de todos. Porque só por alguém estar a ler é que foi e continua a ser possivel postar diariamente.
Assim, e ao mesmo tempo que são referidas as regras de atribuição do próprio prémio "É um blog muito bom, sim senhora", serão divulgados os espaços que merecem um pedaço deste prémio. Porque são espaços efectivamente bons. Porque cativaram a atenção de todos os intervenientes neste Edificio. Porque são blogues apreciáveis, consumidos e com imensa margem de manobra para continuarem com qualidade e com leitores assíduos. Para além disso, uma imensa parte deste prémio vai ser partilhada com alguém especial. A tag do prémio "É um blog muito bom, sim senhora" já está afixada na Prata da Casa, da qual os habitantes do Edificio terão imenso orgulho em ter afixado junto à portaria. E efectivamente, os mesmos habitantes não se esqueceram do intuito do prémio, sabendo do orgulho que tal representa. Para além do espaço que atribui o prémio, ficam mencionados os presentados com aadmiração dos inquilinos:
- Shiuuuu. Por ser um novo espaço irreverente. Por já ser um habitué nas visitas diárias que fazemos. Pela forma profunda como mexe com os sentimentos e pede para despi-los. E pela forma como consegue fazer isso tudo de uma forma tão simples. Um blog assim tem que ser visto, tem que ser conhecido, tem que ser apreciado. Um blog assim, é muito bom, sim senhora.
- Tenho Uma Amiga Que. Achamos que ela não deve ser adepta de prémios, mas talvez é por isso mesmo que o entregamos. Porque é um blog irreverente, escrito de uma forma que se identifica com os moradores. Escrito de uma forma que diverte os moradores. Escrito de uma forma que parece mesmo que foi uma amiga nossa a pensar aquilo. E amigas assim, tem que ser congratuladas. Mesmo que não gostem de prémios.
- Julio 135. Não. Não tem link para o blog. Tem um link para uma imagem que representa o que o Julio já significa para este Edificio. Julio é o vizinho perfeito. Tem a porta mesmo ao lado. Ele não espreita. Ele vê. Ele não escuta. Ouve. E sabe tudo sobre o edificio. Sabe tudo o que se passa entre os vizinhos. E não esquece. Guarda segredo mas faz questão de comentar com quem de direito. Cusca mas sempre para elogiar. Sugere e sugere bem. Está na porta ao lado todos os dias. Incansavelmente. Cumprimenta todos os residentes e faz questão de manter o bom ambiente na rua onde já se habitou a morar. Porque ele mora nesta cidade. Vem do Brasil, mas mora aqui. E daqui já ninguém quer que ele saia. O Julio não tem blog. Não precisa. Porque mesmo assim, os comentários e as suas visitas são muito boas, sim senhora. Agradeço-te, em nome deste espaço, por tudo.
Só são atribuidos três prémios. Só não significa pouco. Só significa que desde a recepção do último prémio, estes foram os espaços que marcaram a vida deste Edificio. Não de uma forma melhor que os outros. Apenas e só de uma forma especial. A todos os outros que nos visitam diariamente. A todos os outros que sabem que o Edificio também vai até vocês, um agradecimento especial. Porque vocês sabem que o melhor prémio é estarem vivos neste mundo que, ainda que virtual, é imensamente importante para a sobrevivência do Edificio Magnólia.
Há sempre uma boa razão para encontrar. Para um encontro. Para um encontrão. Espera-se que os próximos dias possam ser tão gratificantes com os últimos. E que no fundo, todas estas vivências, todas estas revelações possam fazer com que, mesmo com a distância virtual, os inquilinos do Edificio Magnolia possam chocar entre si, entre os vizinhos e entre quem visita regularmente este espaço.