Quarta-feira 11 novembro 2006 Urgência de uma nova moralidade Leonardo Boff | | Thursday November 11 2006 Urgent need for a new morality Leonardo Boff |
Os relatórios sombrios sobre o estado da Terra e sobre o futuro desalentador da espécie humana nos sugerem a urgência de uma nova moralidade. Mais e mais nos damos conta de que esta situação dramática se prende à forma insensata e até imoral com a qual nos relacionamos com a natureza, depredando-a sem remorços através um modo de produção que faz do lucro sua única lei e religião. Somente agora quando a alarme ecológico chegou às páginas de economia é que vem sendo tomado a sério pelos governos e grandes instituições internacionais. A crise não vem; já estamos dentro dela, atingindo milhões de pessoas. Al Gore em seu documentário Verdade inconveniente nos forneceu os dados. Ou investimos já agora na dimuição dos gazes de efeito estufa ou então nos próximos anos teremos que aplicar mais de um trilhão de dólares anuais para estabilizar o aquecimento a dois graus acima do atual nivel. Ou então vamos ao encontro de catástrofes como nunca vistas antes. | | The dark news about the state of the Earth and the disheartening future of the human race suggests an urgent need for a new morality. More and more we take note that this dramatic situation takes its senseless and even immoral shape from the way we relate to nature, devastation without remorse in the manner of production which makes profit the only law and the only religion. It is only now that the ecological alarm has reached the economic pages and is being taken seriously by governments and large international institutions. The crisis is not coming; we are already in the middle of it, it is touching millions of people. In his documentary, An Inconvenient Truth, Al Gore gave us the facts. Either invest now in reducing greenhouse gases or we will shortly have to invest more than a trillion dollars annually to stabilize heating at two degrees above the current level. Either this or we willo encounter catastrophes such as we have never seen. |
Bem analisadas, estas medidas são apenas paliativas. Partem de um pressuposto equivocado: pensam que limando os dentes do lobo diminuinos a sua ferocidade. Quer dizer, podemos continuar com o mesmo paradigma de produção e consumo, apenas diminuindo a dosagem. Esse paradigma nos condenará a todos porque se baseia numa metafísica falsa, a de que podemos dispôr dos recursos a nosso bel prazer e que nossa relação com a natureza é apenas de ordem utilitária. Entendemo-nos for a acima e contra a natureza. Ela se vingará, talvez nos expulsando definitivamente de seu seio como se expulsa uma célula cancerígena. | | Looked at cldearly, these remedies are nothing but palliatives. Coming from an equivocal premise: they think that cleaning the wolf's teeth reduces his ferocity. That is to say, we can continue with the same paradigm of production and consumption, simply reducing the dose. This paradigm will condemn us all because it is founded in a false metaphysic, which lets us dispose of resources as we wish and that our relationship with nature is nothing but utility. |
Por isso, de pouco valem soluções técnico-científicas fundadas naquela metafísica. Precisamos, antes, de uma equação moral que mude os fins e não apenas os meios de nossa civilização. Eis alguns pontos para a nova moralidade. | | |
Em primeiro lugar, devemos tomar a sério o princípio de precaução e de cuidado. Ou cuidamos do que restou da natureza e regeneramos o que temos devastado ou então nosso tipo de sociedade terá dias contados. Ademais filosoficamente o cuidado é a pre-condição para que surja qualquer ser e é o norteador antecipado de toda ação. | | In the first place, we must take seriously the principle of precaution and care. Either we care for what remains of nature and regenerate what we have already devastated or the days of our type of society are numbered. Ademais filosoficamente o cuidado é a pre-condição para que surja qualquer ser e é o norteador antecipado de toda ação. |
Em segundo lugar, importa dar centralidade ao afeto, à compaixão, ao coração e à piedade, como princípios morais. Isso nos ensinam o budismo no Oriente e Schopenhauer no Ocidente. Ambos afirmam:" não faças mal a nenhum ser, antes esforça-te em ajudar a todos o mais que podes". | | Second, |
Em terceiro lugar, urge resgatar o repeito e a veneração diante de cada ser porque representam um valor em si mesmo. Como o formulou Albert Schweitzer:"ética é a ilimitada veneração diante da vida e o respeito diante de cada ser". | | Third, |
Em quarto lugar, faz-se mister assumir a responsabilidade pelo futuro do planeta e da vida. Somos os guardiães do ser. Hans Jonas exprimiu assim o princípo de responsabilidade:"aja de tal maneira que teus atos não sejam destrutivos da vida". | | Fourth, |
Em quinto lugar, em vez da competição há que se reforçar o princípio de cooperação porque é a lei suprema do universo: todos os seres são interdependentes e se ajudam uns aos outros para co-evoluir, sem excluir os mais fracos. | | Fifth, |
Se vivermos essa nova-velha moralidade mudaremos os comportamentos dos estados e das pessoas para com a natureza e assim nos salvaremos. Vale a frase de 1968 nos muros de Paris:"sejam realistas; exijam o impossível". | | Se vivermos essa nova-velha moralidade mudaremos os comportamentos dos estados e das pessoas para com a natureza e assim nos salvaremos. It is worth remembering the phrase written in 1968 on the walls of Paris: "Be realistic - demand the impossible". |