Queridas cuscas e cuscas das cuscas,
Preciso da vossa sábia ajuda para resolver uma pequenina questão. Claro que não é uma questão minha. Não! Nada disso. É a questão, digamos… de uma amiga.
Prólogo
Essa amiga tem um amigo desde a adolescência, com quem partilhou muitas descobertas dessa empolada fase de vida; desde a passarem férias juntos, a dar um pé de dança aos fins-de-semana, a deixarem-se atropelar pela bebida, a conversar, a encontrarem-se todos os dias no café da terrinha – que mais parecia a sala de estar das casas de cada pessoa daquele grupo de amigos – ou a ter jantares de casais [pois, esqueci-me desta parte: ele começou a namorar com uma rapariga e ela com outro rapaz]. Continuavam a encontrar-se, em grupo, a jantar juntos, a estar no café, dar uns mergulhos juntos no verão and so on.
Nunca falaram daquele verão em que uma espécie de atracção parecia meter-se entre os dois. Sempre souberam que era fruto de verão e, contraditoriamente, verde – não passaria daquilo, nem tinham realmente vontade de saber se passaria daquilo. O fruto apodreceu. Já não se lembrava(m) dele. Ela (a minha amiga, não se esqueçam) e a namorada do amigo (designação possível, já que a dita bem pode ler este blogue ou ter agentes infiltradas) davam-se bem. Sem grandes cumplicidades (que nada tinham que ver com ele), mas sentiam-se confortáveis na partilha da mesa do café ou de um jantar (um deles chegou, até, a ser em casa da tal namorada). Ela (ainda a minha amiga) deixou de namorar e, milagre dos milagres, parece ter-se transformado num monstro que criava na namorada do tal rapaz um igual monstro, mas amarelo [hum... espero que amarelo faça lembrar ciúme; bem, elas percebem]. À minha amiga, as coisas costumam passar-lhe ao lado. Dizem que é distraída; eu digo que deve ter mecanismos de defesa bem afinados e não chega a aperceber-se porque o que não lhe interessa é recalcado. Continuaram, então, a encontrar-se esporadicamente. A minha amiga notava qualquer coisa de murcho no tom do rapaz – logo ele que costumava ser exuberante e estridente – mas achou que era só naquele dia. O que não se apercebeu foi que aquele dia estava a ser todos os dias, desde há algum tempo.
Certo dia, ouviu a minha amiga dizer, ele e a namorada iam casar. Ela - a minha amiga - perguntou ao rapaz, na tal distracção que a caracteriza, se era verdade (sim, ela achava que não sabia porque podia não haver casamento marcado ou, a haver, ainda não havia convites oficiais). Ele disse que sim, num tom notoriamente mais discreto do que lhe era característico. Ela ficou admirada – ele nunca havia falado em casamento ou, a falar, fazia-o num tom de troça e de coisa-distante. Meses depois, ela (sim, a minha amiga) soube que todas as amigas do grupo (mesmo aquelas com quem a noiva não ia jantar, nem partilhava mesa de café, nem nem) tinham sido convidadas. A minha amiga – que mesmo a distracção tem os seus limites – “caiu em si”: não ia ser convidada para o casamento do amigo.
Vamos ao que interessa
Bem, a minha amiga sentiu-se um bocado estúpida: por ter perguntado se iam casar (quando eles já sabiam que não a iam convidar), por ter tentado fazer conversa com a rapariga, a ver como corria o início da vida profissional da noiva [gosto da palavra noiva! ]… enfim, sentiu-se estúpida não por não ter sido convidada (esse adjectivo era para o noivo – ele é que era seu amigo), mas por não se ter apercebido disso mais cedo e por, até se aperceber, continuar a agir da mesma forma com os dois. Agora, o que é que ela pode fazer – e aqui entram vocês:
Enviar um naperon bem piroso, como prenda de casamento, e um cartão todo meloso e com desejos de felicidades para eles?
Enviar umas algemas com pelinho cor-de-rosa, com um cartão a dizer "porque sei que gostas, querido X e porque, querida Y, também pareces gostar de o ter bem seguro"?
Aparecer na igreja, em trajes de fazer o vestido da noiva corar?
Dizer à noiva que sente uma especial e incontrolável atracção por homens casados?
Ajudem lá nos delírios da minha amiga e digam, se fosse convosco – ou com uma amiga vossa ;) – o que vos apeteceria fazer?
Imagem: Ray Caesar