terça-feira, 29 de março de 2011

Investimentos...


Devo aqui ao blogue alguns textos, nas últimas semanas, que hei-de repôr muito brevemente. Mas ao saber da mais recente aquisição da Câmara da Guarda, não podia de aqui deixar algumas questões que o tema me coloca.
Falamos de uma Câmara que está actualmente fortemente limitada na sua capacidade de actuação pelas dificuldades financeiras que atravessa; que, segundo dizem alguns, deve muito dinheiro a fornecedores que não podem falar publicamente porque senão acabam os negócios com a Câmara (imagino então que sejam proveitosos...); que deve à banca muitos milhões de Euros, pelo que deduzo que terá actualmente encargos financeiros que pesarão cada vez mais, face à tendência de subida das taxas de juro que veremos nos próximos anos.
Perante este cenário, e com o produto da venda do edifício do hotel de turismo, não seria sensato amortizar alguma dessa dívida; deixar as vindouros um ónus menos pesado? Parece não ser este o caminho que o executivo quer seguir, ao ter anunciado a compra do edifício conhecido como "bacalhau", onde funciona a escola profissional da Guarda.
Obviamente nada me move contra o projecto; daquilo que conheço, é um projecto bem sucedido e que tem dado o devido contributo para que a Guarda possa oferecer aos seus cidadãos mais opções na hora de optar por uma via de formação. Mas existem concerteza outras opções. Existem sempre outras opções.
Se o património da Câmara tem crescido à custa de financiamento bancário para lá do desejável e, provavelmente muito em breve, do suportável, não estará na hora de ponderar a hipótese de tornar esse património mais operacional? Adequá-lo à sua real capacidade financeira?

domingo, 27 de março de 2011

Crónica Diária - Rádio Altitude

Crónica de 16 de Março:

"Notícias recentes na imprensa regional dão conta que a reorganização da rede escolar pública deverá, já no próximo ano, fazer mais algumas vítimas entre as poucas escolas que restam nos meios mais rurais do Distrito.
Sendo o primeiro a concordar com que se dê a todos os jovens oportunidades de aprendizagem em ambiente propício, quer ao nível das condições físicas dos edifícios, quer ao nível da sã convivência entre os alunos, preocupam-me as consequências que o encerramento de escolas vai ter nas aldeias do Distrito.
Se pensarmos que só o Concelho da Guarda tem 55 freguesias, que destas certamente mais de 90% são aldeias, com uma média de 2500 pessoas, rapidamente se conclui a importância que uma simples escola adquire em comunidades tão restritas. Se a isto juntarmos o perfil demográfico dos residentes – evidenciando uma população bastante envelhecida – não é difícil antever a aceleração do processo de morte de algumas destas aldeias.
Com o fecho das escolas, a fraca atractividade das actividades agrícolas na nossa região e a escassez de emprego nas nossas aldeias, os custos de por lá ficar a viver serão brevemente incomportáveis, não restando outra solução aos activos residentes senão a de procurar melhor vida nas vilas ou cidades, num movimento migratório que ditará o fim de muitas dessas aldeias.
Apesar de tudo isto ser mais ou menos evidente, não vejo da parte das autoridades com responsabilidade no planeamento territorial grandes preocupações.
Entre amigos, costumo dizer que o último governante a preocupar-se com a ocupação de todo o nosso território foi D. Sancho I – o que lhe valeu o cognome de O Povoador – e que depois dele poucos foram os que se debruçaram e fizeram esforços nesse sentido.
Razão pela qual hoje temos quase ¾ da população concentrados junto à faixa Litoral, com os custos que daí advêm – assimetrias regionais graves, custos na qualidade de vida das pessoas, custos ambientais, para citar os mais óbvios.
Com a intensificação da migração e o desaparecimento natural dos mais velhos, em menos de 20 anos a maior parte das nossas aldeias ficarão completamente desertas. Cabe-nos pois, reflectir se é este o destino que queremos para elas. E como queremos o nosso Concelho daqui a 20 anos.
A isto chama-se planeamento estratégico e é coisa que não estamos habituados a fazer. São as Comissões de Coordenação Regional que o fazem por nós. Mas participar nas suas decisões, nas Consultas Públicas, é um acto de cidadania. E divulgar essas consultas – ou quaisquer outras forma de participação – é um acto de boa gestão política.
Voltando ao início desta minha crónica, defendo para as crianças uma escola que lhes dê conhecimento e ajude a integrá-las na sociedade. E essa escola não funciona com 10 ou 12 alunos.
Defendo que o nosso Concelho mantenha e tire partido da ruralidade que lhe é característica. E isso faz-se com gente com formação. Que aproveite as condições que o mercado global apresenta para novos modelos de exploração dessa ruralidade.
Vale a pena pensarmos se queremos ter 100 aldeias, a maior parte delas moribundas, ou 30 núcleos de aldeias com gestão conjunta e com vitalidade própria.
Tudo isto de que falo é um processo que está em marcha e há muito se iniciou. Não vai ser possível pará-lo para tomar decisões colaterais. Mas as que forem tomadas condicionarão certamente o resultado final. Por isso, deixo o desafio a agências de valorização territorial e organismos com competência na valorização da envolvente para rapidamente promoverem uma discussão que possa dar resposta a pelo menos algumas destas questões. O Concelho, a suas gentes e a desejável coesão sairão certamente beneficiados."

quarta-feira, 2 de março de 2011

Crónica Diária - Rádio Altitude

Ouço dizer cobras e lagartos do Facebook. Mesmo aqui, aos microfones da rádio, tenho ouvido algumas opiniões muito críticas acerca do fenómeno, que obviamente respeito. Parece-me até natural que tal aconteça, tal é a mudança de paradigma de relacionamento que as ditas redes sociais – das quais o facebook é a mais popular, pelo menos no nosso País – vêm trazer.

Pela minha parte, confesso que gosto imenso das possibilidades que as redes sociais me dão de comunicar. De re-encontrar amigos, de reatar elos quebrados, de enviar facilmente uma palavra – um sinal – de que uma pessoa, uma frase, um pensamento chegam a mim, ainda que esse sinal seja um “Like”. Há todavia um princípio básico que uso desde sempre: estou no Facebook como na vida. Dou a cara pelas minhas opiniões, respeito as opiniões diversas, esforço-me por cumprir o que prometo.

Tudo isto vem a propósito da manifestação contra a introdução de portagens realizada na passada segunda-feira na sessão da Assembleia Municipal.

Já aqui havia referido, logo na minha primeira crónica da actual temporada, que considero a introdução de portagens na A23 e na A25 uma traição feita à Guarda. Não concebo como é que responsáveis do Partido Socialista disseram na Guarda que não haveria introdução de portagens nestas 2 vias, foram eleitos com os votos dos cidadãos da Guarda, e agora, perante a anunciada introdução dessas mesmas portagens, assobiam para o lado como se não fosse nada com eles. Como se fosse algo que não lhes diz respeito. Do seu silêncio, apenas posso concluir que este caso passará sem consequências…

Assim sendo, não poderia deixar de me associar ao protesto. O convite surgiu via Facebook. Não sei se devido à facilidade de disseminação da mensagem pelo efeito de networking, se por questão de moda. Não respondi logo, porque tratando-se de uma segunda-feira de manhã, não poderia assumir o compromisso de estar presente sem antes avaliar se no meu local de trabalho teria condições de me ausentarr. Reunidas essas condições, lá me dispus a juntar-me ao protesto logo que me foi possível. Ouvi no caminho, pela rádio, o seu principal dinamizador referir que tinha mais de 200 confirmações no facebook, pelo que previa uma afluência razoável.

Depois de entrar na sala da Assembleia Municipal com ligeiro atraso – embora não tanto como certamente mais de metade dos deputados municipais – apercebi-me de quão poucos eram os manifestantes. Muito longe dos tais 200 esperados. E lembrei-me que de facto é mais fácil clicar em “Vou estar presente” no conforto da sala de estar numa noite de fim de semana e pôr o assunto para trás das costas, do que passar a manhã de segunda feira a correr, para poder dispor de algum tempo para me juntar ao protesto, tempo que no final do dia tive de compensar, que o controlo biométrico de presenças não perdoa.

Uns diziam que, por ser dia de trabalho, muita gente não tinha podido ir; outros falavam na falta de divulgação; entre outros motivos apontados para a baixa afluência. Por mim, só encontro uma explicação: desinteresse. Falta de cultura cívica. A mesma que justifica a elevada abstenção nas útlimas eleições. Ou que estejam presentes 5 ou 6 sócios em assembleias gerais de associações ou clubes com centenas, às vezes milhares, de sócios. Sócios esses que têm sempre uma opinião pronta sobre o que deveria ser feito e ninguém faz.

Não compreendo como numa cidade como a Guarda não se encheu completamente a Galeria pública da sala da assembleia; abro aqui um parêntesis para confessar que, ingenuamente, era esse o meu receio ao chegar atrasado: já não caber na sala. Não percebo porque não foram essas 200 pessoas protestar; ou 100, que fosse… Porque continuo convencido que a maior parte das pessoas é contra as portagens. Não estão é para se maçar por isso!

O séc. XX foi um século de grandes conquistas civilizacionais; que custaram muita energia, às vezes vidas. E hoje, que o mais difícil está feito, parece que já nada consegue mobilizar as pessoas.

A geração dos meus pais, filhos da beira, passou por muitas privações: de educação, cultura, até de alimento; a minha, foi criada com muito mais abundância, embora ainda com a preocupação em gerir com olhos postos no futuro. A dos meus filhos, francamente, não sei que futuro terá. Duma coisa tenho a certeza: colherão aquilo que nós lhes deixarmos semeado. E isso preocupa-me imenso…