In Público (2/1/2010)
«Chego à varanda e há qualquer coisa que se mexe no meu estômago. Esta náusea começou há dias quando a cruz de ferro que havia no terreno em frente desapareceu e deu lugar a um buraco ruidoso onde se escavam as fundações da Igreja de S. Frankenstein Xavier. A nova igreja do Restelo merece este nome: foi claramente concebida a partir dos cadáveres de meia dúzia de arquitecturas diferentes. Já lhe chamaram, com igual acerto, a Barca do Inferno.
Não creio que estes nomes desagradem ao autor: este já manifestou apreço por projectos "no limiar entre o kitch e o piroso" e a sua inspiração, no caso deste, no conceito surrealista do "cadáver esquisito". E mais lhe assume a intenção do manifesto: um insulto estrepitoso ao modernismo, àquela gente que "só sabe fazer peixe podre" - a mesma, devo recordar, que concebeu o plano urbanístico que ainda faz do Restelo o lugar aprazível de que desfrutam os moradores e os paroquianos em particular.
Esta jactância, aliás vulgar disfarce para mais vulgares fraquezas, transformou a construção de uma igreja de paróquia, de outra forma pacífica e até festiva, num acto de absurda violência contra o rosto urbano do lugar cujos estragos se reflectem já em toda a volta: no embaraço da Igreja, na vergonha das autoridades municipais, na consternação dos moradores, no alarme dos munícipes.
Dir-se-á que este é o preço da liberdade do artista, talvez esquecendo que a arquitectura é, de várias formas, menos arte que poder. E que este inclui, para começar, o de se impor ao espectador e lhe condicionar a fruição do espaço que habita. Podemos fechar um livro, sair a meio de um espectáculo ou evitar um museu. Mas para escapar à contemplação diária desta coisa, terei de mudar de casa ou ficar cego.
Posso adivinhar a intolerância dos promotores deste projecto para várias acções artísticas que assim lhes batessem à porta ou entrassem pela janela. É que este terreno comum inclui uma fronteira que tem de ser negociada com respeito e delicadeza e ainda com o saber que a arte também não dispensa.
Ninguém tem o direito de o oferecer, à revelia dos que habitam, ao primeiro Homer Simpson que calhe reclamá-lo. Foi para evitar abusos destes
que se inventou o escrutínio público, o concurso, o júri, a disciplina do urbanismo e o seu pelouro municipal. E se continua a investir nos princípios da civilidade.
Talvez por isso ainda espero que os actores desta opereta lhe consigam engendrar um final menos bufão. Que a Igreja se arrependa de infligir a todos a despesa da vaidade que lhe impingiram - e que o faça ainda antes que comece a eternidade; que os responsáveis camarários acabem de sacudir do capote a água que usam para lavar as mãos - e assumam com lealdade a tarefa que lhes foi confiada; que os moradores se determinem a exigir o seu direito à qualidade do lugar - mesmo os que, mais indiferentes, só venham a ler o esbulho no valor das suas casas; e que os lisboetas continuem a insistir que as anedotas se devem manter confinadas aos parques de diversões - pelo bem da higiene e da boa digestão das coisas feitas em público. Seríamos todos melhor servidos por uma outra nova igreja do Restelo.
António Paixão, Lisboa»
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04/01/2010
Câmara vai pagar apoio em falta à igreja de Troufa Real
In Público (4/1/2010)
Por José António Cerejo
«Assembleia municipal pediu a revisão do projecto, mas o gabinete do presidente confirma que protocolo de 2001 está por saldar
Debate público
A Câmara de Lisboa reconhece que deve cerca de 205 mil euros à paróquia do Restelo, a título de apoio à construção da polémica igreja projectada pelo arquitecto Troufa Real. O pároco António Colimão aludiu algumas vezes a essa dívida, nos últimos dois meses, mas a autarquia nunca a havia confirmado. Pelo contrário, o vice-presidente, Manuel Salgado, declarou mesmo que desconhecia qualquer documento que comprometesse o município com o financiamento daquela obra, que arrancou há menos de dois meses.
Agora, o gabinete do presidente da Câmara de Lisboa, através de uma assessora, reconheceu a existência dessa dívida naquela ordem de valores. "A câmara efectuou um pagamento de cerca de 29.250 euros (5850 contos) em 27 de Dezembro de 2001" e faltam pagar três tranches num total de 40.950 contos, o que equivale a perto de 205 mil euros, disse a assessora de imprensa de António Costa, na semana passada, ao PÚBLICO.
De acordo com a mesma fonte, "o vereador Manuel Salgado vai agora calendarizar esses pagamentos", que poderão obrigar a câmara a fazer uma alteração ao orçamento de 2009 (em vigor em regime de duodécimos até à aprovação do de 2010), ou incluí-los no orçamento para 2010, que está em elaboração.
Nos mandatos de Santana Lopes e Carmona Rodrigues a paróquia pediu o pagamento das verbas devidas, mas a resposta foi sempre a de que não havia disponibilidade financeira.
Já neste mandato os responsáveis pela autarquia afirmaram diversas vezes desconhecer os dois protocolos sobre este assunto. Na sequência das perguntas e pesquisas feitas pelo PÚBLICO os dois documentos acabaram por aparecer, reconhecendo agora a câmara a existência da dívida.
Paróquia sem meios
O apoio do erário público à igreja foi aprovado por unanimidade em 5 de Dezembro de 2001, a 11 dias das eleições ganhas por Santana Lopes a João Soares. O documento então submetido à deliberação do executivo de João Soares previa "um subsídio até 46.800 contos" à Fábrica da Igreja Paroquial de São Francisco Xavier porque esta "não dispõe de meios suficientes" para "financiar os custos dos projectos de arquitectura, e das especialidades e da assistência técnica à obra".
O texto aprovado nessa altura acrescentava que "a assunção deste encargo por parte do município constitui condição para a contratação do gabinete de arquitectura, que encarregou de realizar os referidos projectos e tarefas". A frase, tal qual está escrita, indica que seria a câmara a contratar o gabinete, que já teria sido encarregue de fazer os projectos. Na realidade, os projectos já estavam em grande parte concluídos pelo gabinete de Troufa Real e tinham dado entrada nos serviços da autarquia em Agosto desse ano, juntamente com o pedido de licenciamento da obra.
Projecto tinha sido doado
Troufa Real, um arquitecto amigo de João Soares, tinha aliás começado a trabalhar na concepção da igreja-caravela, com uma torre em forma de minarete de 100 metros de altura, no início de 1997, seis meses antes de o então presidente da câmara ter assinado com a paróquia um primeiro protocolo. Que, tanto quanto foi possível apurar, nunca foi aprovado em sessão de câmara.
Nesse primeiro protocolo, o município "associando-se às aspirações da comunidade católica da freguesia de São Francisco Xavier", prometia à Fábrica Paroquial "o projecto de arquitectura que o professor arquitecto José Troufa Real graciosamente colocou à disposição da autarquia, bem como todo o acompanhamento na execução da obra".
Quatro anos depois, a deliberação de Dezembro de 2001 aprovou o texto do segundo protocolo a celebrar entre o município e a paróquia, no qual se estabelecia a atribuição do tal subsídio de 46.800 contos "para suportar os custos da realização dos projectos e acompanhamento da obra". A primeira prestação seria de 5850 contos e acabaria por ser a única a ser paga, tal como previsto, logo após a aprovação do protocolo "em reunião de câmara". As seguintes, de 17.550, 11.700 e mais 11.700 contos, seriam entregues "no momento da entrega comprovada à Fábrica Paroquial da totalidade dos projectos de arquitectura e especialidades"; no momento da entrega dos "projectos de execução"; e no início dos trabalhos de execução da obra", respectivamente. As obras começaram em Novembro de 2009.»
Por José António Cerejo
«Assembleia municipal pediu a revisão do projecto, mas o gabinete do presidente confirma que protocolo de 2001 está por saldar
Debate público
A Câmara de Lisboa reconhece que deve cerca de 205 mil euros à paróquia do Restelo, a título de apoio à construção da polémica igreja projectada pelo arquitecto Troufa Real. O pároco António Colimão aludiu algumas vezes a essa dívida, nos últimos dois meses, mas a autarquia nunca a havia confirmado. Pelo contrário, o vice-presidente, Manuel Salgado, declarou mesmo que desconhecia qualquer documento que comprometesse o município com o financiamento daquela obra, que arrancou há menos de dois meses.
Agora, o gabinete do presidente da Câmara de Lisboa, através de uma assessora, reconheceu a existência dessa dívida naquela ordem de valores. "A câmara efectuou um pagamento de cerca de 29.250 euros (5850 contos) em 27 de Dezembro de 2001" e faltam pagar três tranches num total de 40.950 contos, o que equivale a perto de 205 mil euros, disse a assessora de imprensa de António Costa, na semana passada, ao PÚBLICO.
De acordo com a mesma fonte, "o vereador Manuel Salgado vai agora calendarizar esses pagamentos", que poderão obrigar a câmara a fazer uma alteração ao orçamento de 2009 (em vigor em regime de duodécimos até à aprovação do de 2010), ou incluí-los no orçamento para 2010, que está em elaboração.
Nos mandatos de Santana Lopes e Carmona Rodrigues a paróquia pediu o pagamento das verbas devidas, mas a resposta foi sempre a de que não havia disponibilidade financeira.
Já neste mandato os responsáveis pela autarquia afirmaram diversas vezes desconhecer os dois protocolos sobre este assunto. Na sequência das perguntas e pesquisas feitas pelo PÚBLICO os dois documentos acabaram por aparecer, reconhecendo agora a câmara a existência da dívida.
Paróquia sem meios
O apoio do erário público à igreja foi aprovado por unanimidade em 5 de Dezembro de 2001, a 11 dias das eleições ganhas por Santana Lopes a João Soares. O documento então submetido à deliberação do executivo de João Soares previa "um subsídio até 46.800 contos" à Fábrica da Igreja Paroquial de São Francisco Xavier porque esta "não dispõe de meios suficientes" para "financiar os custos dos projectos de arquitectura, e das especialidades e da assistência técnica à obra".
O texto aprovado nessa altura acrescentava que "a assunção deste encargo por parte do município constitui condição para a contratação do gabinete de arquitectura, que encarregou de realizar os referidos projectos e tarefas". A frase, tal qual está escrita, indica que seria a câmara a contratar o gabinete, que já teria sido encarregue de fazer os projectos. Na realidade, os projectos já estavam em grande parte concluídos pelo gabinete de Troufa Real e tinham dado entrada nos serviços da autarquia em Agosto desse ano, juntamente com o pedido de licenciamento da obra.
Projecto tinha sido doado
Troufa Real, um arquitecto amigo de João Soares, tinha aliás começado a trabalhar na concepção da igreja-caravela, com uma torre em forma de minarete de 100 metros de altura, no início de 1997, seis meses antes de o então presidente da câmara ter assinado com a paróquia um primeiro protocolo. Que, tanto quanto foi possível apurar, nunca foi aprovado em sessão de câmara.
Nesse primeiro protocolo, o município "associando-se às aspirações da comunidade católica da freguesia de São Francisco Xavier", prometia à Fábrica Paroquial "o projecto de arquitectura que o professor arquitecto José Troufa Real graciosamente colocou à disposição da autarquia, bem como todo o acompanhamento na execução da obra".
Quatro anos depois, a deliberação de Dezembro de 2001 aprovou o texto do segundo protocolo a celebrar entre o município e a paróquia, no qual se estabelecia a atribuição do tal subsídio de 46.800 contos "para suportar os custos da realização dos projectos e acompanhamento da obra". A primeira prestação seria de 5850 contos e acabaria por ser a única a ser paga, tal como previsto, logo após a aprovação do protocolo "em reunião de câmara". As seguintes, de 17.550, 11.700 e mais 11.700 contos, seriam entregues "no momento da entrega comprovada à Fábrica Paroquial da totalidade dos projectos de arquitectura e especialidades"; no momento da entrega dos "projectos de execução"; e no início dos trabalhos de execução da obra", respectivamente. As obras começaram em Novembro de 2009.»
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19/12/2009
Câmara prometeu pagar projecto de Troufa que Soares doou à igreja
In Público (19/12/2009)
Por José António Cerejo
«Na história da igreja do Restelo ainda há muito por esclarecer mas duas coisas são certas: autarquia fez promessas contraditórias que não cumpriu
Intervenientes no processo remetem-se ao silêncio
João Soares, ex-presidente da Câmara de Lisboa, prometeu em 1997, através de um protocolo, ceder à paróquia de São Francisco Xavier o projecto da polémica igreja do Restelo, que o seu amigo Troufa Real disponibilizara "gaciosamente" à autarquia. Quatro anos depois, a duas semanas das eleições ganhas por Pedro Santana Lopes, a câmara aprovou um subsídio de cerca de 234 mil euros para a paróquia pagar os projectos, incluindo os "graciosos" de Troufa Real.
Ainda muito está por perceber na história da igreja em forma de caravela, com uma torre de 100 metros de altura, cujo projecto a Assembleia Municipal de Lisboa pediu há duas semanas que fosse revisto, o mesmo defendendo dias depois o bispo auxiliar de Lisboa D. Carlos Azevedo. Falta saber como é que o projecto foi parar às mãos de Troufa Real, qual a validade dos compromissos assumidos pela câmara e o que já pagou à paróquia. O padre diz que só recebeu 25 mil euros. A câmara diz que não sabe se pagou alguma coisa.
O pároco António Colimão disse há semanas ao PÚBLICO que a autarquia lhe prometeu 234 mil euros, por escrito, para pagar os projectos de Troufa, e que só recebera 25 mil. Ao Expresso afirmou o mesmo, esclarecendo que foi por indicação de Soares que Troufa o contactou. João Soares, contudo, assegurou ao PÚBLICO que não foi ele a impor o arquitecto. "Quem me apresentou o padre foi o próprio Troufa", adiantou, frisando não se recordar de ter sido atribuído qualquer subsídio à paróquia para pagar projectos.
O actual vereador do Urbanismo, Manuel Salgado, por seu lado, garantiu que desconhecia a existência de qualquer protocolo em que a autarquia prometesse apoiar a obra.
Os protocolos desaparecidos
Um protocolo encontrado esta semana pelo PÚBLICO no processo de licenciamento da construção da igreja faz, porém, alguma luz sobre a escolha do arquitecto. O documento, que segundo os elementos disponíveis nunca foi aprovado pelo executivo, tem a assinatura de João Soares e do padre António Colimão, tendo sido assinado em 25 de Junho de 1997, na presença de D. Albino Cleto, actual bispo de Coimbra. O seu artigo sexto reza assim: "... a câmara municipal, uma vez mais associando-se às aspirações da comunidade católica da freguesia de São Francisco Xavier, proporcionará à Fábrica Paroquial o projecto da arquitectura do equipamento religioso, que o professor arquitecto José Troufa Real graciosamente colocou à disposição da autarquia, bem como todo o acompanhamento na execução da obra." Ou seja, Troufa Real dava o projecto e a câmara oferecia-o à igreja, garantindo o acompanhamento dos trabalhos.
Quatro anos depois, em 2 de Dezembro de 2001, por proposta do vereador das Finanças de João Soares, a história deu uma volta e foi aprovado por unanimidade o protocolo de que falava Colimão mas de que Soares não se lembrava e que Salgado desconhecia. Resultado: a câmara comprometeu-se a atribuir um subsídio à paróquia, até 234 mil euros (46,8 mil contos), para que esta pagasse "a realização do projecto de arquitectura e das especialidades", bem como "a assistência técnica" da obra. O projecto acabou por ser aprovado já em 2005 e os trabalhos começaram há semanas.»
Por José António Cerejo
«Na história da igreja do Restelo ainda há muito por esclarecer mas duas coisas são certas: autarquia fez promessas contraditórias que não cumpriu
Intervenientes no processo remetem-se ao silêncio
João Soares, ex-presidente da Câmara de Lisboa, prometeu em 1997, através de um protocolo, ceder à paróquia de São Francisco Xavier o projecto da polémica igreja do Restelo, que o seu amigo Troufa Real disponibilizara "gaciosamente" à autarquia. Quatro anos depois, a duas semanas das eleições ganhas por Pedro Santana Lopes, a câmara aprovou um subsídio de cerca de 234 mil euros para a paróquia pagar os projectos, incluindo os "graciosos" de Troufa Real.
Ainda muito está por perceber na história da igreja em forma de caravela, com uma torre de 100 metros de altura, cujo projecto a Assembleia Municipal de Lisboa pediu há duas semanas que fosse revisto, o mesmo defendendo dias depois o bispo auxiliar de Lisboa D. Carlos Azevedo. Falta saber como é que o projecto foi parar às mãos de Troufa Real, qual a validade dos compromissos assumidos pela câmara e o que já pagou à paróquia. O padre diz que só recebeu 25 mil euros. A câmara diz que não sabe se pagou alguma coisa.
O pároco António Colimão disse há semanas ao PÚBLICO que a autarquia lhe prometeu 234 mil euros, por escrito, para pagar os projectos de Troufa, e que só recebera 25 mil. Ao Expresso afirmou o mesmo, esclarecendo que foi por indicação de Soares que Troufa o contactou. João Soares, contudo, assegurou ao PÚBLICO que não foi ele a impor o arquitecto. "Quem me apresentou o padre foi o próprio Troufa", adiantou, frisando não se recordar de ter sido atribuído qualquer subsídio à paróquia para pagar projectos.
O actual vereador do Urbanismo, Manuel Salgado, por seu lado, garantiu que desconhecia a existência de qualquer protocolo em que a autarquia prometesse apoiar a obra.
Os protocolos desaparecidos
Um protocolo encontrado esta semana pelo PÚBLICO no processo de licenciamento da construção da igreja faz, porém, alguma luz sobre a escolha do arquitecto. O documento, que segundo os elementos disponíveis nunca foi aprovado pelo executivo, tem a assinatura de João Soares e do padre António Colimão, tendo sido assinado em 25 de Junho de 1997, na presença de D. Albino Cleto, actual bispo de Coimbra. O seu artigo sexto reza assim: "... a câmara municipal, uma vez mais associando-se às aspirações da comunidade católica da freguesia de São Francisco Xavier, proporcionará à Fábrica Paroquial o projecto da arquitectura do equipamento religioso, que o professor arquitecto José Troufa Real graciosamente colocou à disposição da autarquia, bem como todo o acompanhamento na execução da obra." Ou seja, Troufa Real dava o projecto e a câmara oferecia-o à igreja, garantindo o acompanhamento dos trabalhos.
Quatro anos depois, em 2 de Dezembro de 2001, por proposta do vereador das Finanças de João Soares, a história deu uma volta e foi aprovado por unanimidade o protocolo de que falava Colimão mas de que Soares não se lembrava e que Salgado desconhecia. Resultado: a câmara comprometeu-se a atribuir um subsídio à paróquia, até 234 mil euros (46,8 mil contos), para que esta pagasse "a realização do projecto de arquitectura e das especialidades", bem como "a assistência técnica" da obra. O projecto acabou por ser aprovado já em 2005 e os trabalhos começaram há semanas.»
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14/12/2009
Vereador do Urbanismo de Lisboa desconhece protocolo de apoio para a igreja do Restelo.
In Público (14/12/2009)
Por José António Cerejo
«Pároco garante que documento existe, João Soares diz que não se lembra e Salgado não sabe de nada
Três semanas depois de ter surgido a polémica sobre a construção de uma igreja em forma de caravela na paróquia de São Francisco Xavier, no Restelo, a Câmara de Lisboa ainda diz que não sabe se assumiu algum compromisso para apoiar a obra, nem se o respeitou ou não.
Manuel Salgado, vice-presidente do município e vereador do Urbanismo disse isso mesmo aos jornalistas, no final da reunião do executivo camarário de ontem: "Se existiu algum protocolo, eu, pessoalmente, não tenho conhecimento".
No PÚBLICO de terça-feira, o padre António Colimão, responsável por aquela paróquia há 19 anos, garantiu que o compromisso da autarquia foi assumido por escrito e se traduziu na promessa de 225 mil euros, destinados ao pagamento dos projectos do arquitecto Troufa Real. Segundo o pároco, só terão sido entregues 25 mil euros, presumivelmente ainda antes do fim de 2001, no mandato de João Soares. Este, por seu lado, afirma que não se recorda de ter sido atribuído qualquer subsídio, mas António Colimão acrescenta que no mandato de Santana Lopes ainda pediu os 200.000 euros em falta, tendo-lhe sido respondido que não havia dinheiro disponível.
Estas declarações não coincidem, contudo, com uma notícia publicada em Setembro de 2002, no Diário de Notícias, onde se citava o protocolo anteriormente celebrado entre o município e a paróquia. De acordo com essa notícia, a autarquia tinha prometido 234 mil euros e já tinha pago uma primeira parte, faltando apenas 87 mil euros.
O pároco tem-se escusado a divulgar o protocolo e a autarquia, já solicitada por escrito pelo PÚBLICO, continua a não esclarecer o assunto. "O senhor pároco não colocou o problema à câmara" de uma eventual dívida, limitou-se a dizer Manuel Salgado.
Ordem quer debate
A Ordem dos Arquitectos (OA) convidou, há 15 dias, o arquitecto Troufa Real para apresentar o projecto da igreja do Restelo, nas sessões públicas que tem promovido sobre casos mediáticos. De acordo com fonte da OA, citada pela Lusa, o convite da secção regional sul da OA seguiu há 15 dias para o arquitecto, mas ainda não teve resposta.»
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09/12/2009
Bispo auxiliar de Lisboa defende alteração do projecto da igreja de Troufa Real
In Público (8/12/2009)
Por Ana Henriques
«Padre António Colimão diz que a câmara ainda deve à paróquia de S. Francisco Xavier 200 mil euros de uma verba prometida num protocolo aprovado em 2001 para pagar os projectos
Perto de três mil contestatários no Facebook
"Igreja ficou exótica"
O bispo auxiliar de Lisboa D. Carlos Azevedo defende a alteração de alguns aspectos da polémica igreja em forma de caravela que o arquitecto Troufa Real projectou para o Alto do Restelo, em Lisboa, e cuja construção começou há três semanas.
O também director da Escola das Artes de Lisboa da Universidade Católica pensa que nesta fase inicial da obra ainda é possível rever, em diálogo com o arquitecto e com a paróquia de S. Francisco Xavier, "alguns detalhes" do edifício, que Troufa Real quer pintar em dourado, vermelho, verde e laranja, além do branco. "A igreja que está a ser iniciada não serve bem os cânones de uma estética cristã", escreveu recentemente o bispo auxiliar na sua coluna de opinião no Correio da Manhã.
Em declarações ao PÚBLICO, D. Carlos Azevedo diz que o templo idealizado por Troufa Real não só enferma de "um pouco de mau gosto" como não parece "respeitar os cânones do que é hoje a concepção de uma igreja". Ora "o arquitecto de uma igreja não pode fazer o que lhe apetece, mas o que serve à comunidade cristã".
No artigo que publicou, o bispo faz ainda críticas ao processo que, no final dos anos 90, levou à escolha do arquitecto. Segundo o responsável pela paróquia, o padre António Colimão, foi João Soares, nessa altura presidente da Câmara de Lisboa, quem escolheu Troufa Real - seu amigo - para desenhar o templo. "Não percebi porquê", acrescenta o padre.
Para o director da Escola das Artes da Universidade Católica, todo este processo evidencia alguns "elos fracos": "a falta de critérios de quem encomenda" a obra, mas também "a aceitação de presentes perigosos, tais como projectos pagos por autarquias selectivas do artista". Isto porque a câmara concedeu um apoio financeiro à paróquia para esta pagar os projectos da igreja.
Acontece que, segundo António Colimão, dos cerca de 225 mil euros que o município se comprometeu, por escrito, a entregar-lhe, faltam pagar 200 mil. Lembra-se de os ter solicitado no mandato de Santana Lopes e de a então vereadora das Finanças, Teresa Maury, lhe haver respondido: "Padre, não temos dinheiro". O que não significa que tenha desistido de reivindicar a verba em falta: "Acredito que a câmara há-de pagar".
Dos cerca de 25 mil euros que recebeu, entregou "qualquer coisa" a Toufa Real. Quanto, não diz. Tinha sido anunciado que o arquitecto trabalharia a título gracioso, mas afinal havia ainda uma factura a pagar. "Ouvi dizer que já não quer receber mais um tostão", refere o padre.
Desenhada com uma torre de cem metros, a igreja custará três milhões de euros só na sua primeira fase. D. Carlos Azevedo vê aqui mais um elo fraco: "a ausência de frontalidade para corrigir e recusar soluções onerosas para as comunidades, seja do ponto de vista económico, seja do ponto de vista da identidade eclesial". No patriarcado, a sua posição é sobejamente conhecida. O que não quer dizer que vingue perante a hierarquia eclesiástica.»
Por Ana Henriques
«Padre António Colimão diz que a câmara ainda deve à paróquia de S. Francisco Xavier 200 mil euros de uma verba prometida num protocolo aprovado em 2001 para pagar os projectos
Perto de três mil contestatários no Facebook
"Igreja ficou exótica"
O bispo auxiliar de Lisboa D. Carlos Azevedo defende a alteração de alguns aspectos da polémica igreja em forma de caravela que o arquitecto Troufa Real projectou para o Alto do Restelo, em Lisboa, e cuja construção começou há três semanas.
O também director da Escola das Artes de Lisboa da Universidade Católica pensa que nesta fase inicial da obra ainda é possível rever, em diálogo com o arquitecto e com a paróquia de S. Francisco Xavier, "alguns detalhes" do edifício, que Troufa Real quer pintar em dourado, vermelho, verde e laranja, além do branco. "A igreja que está a ser iniciada não serve bem os cânones de uma estética cristã", escreveu recentemente o bispo auxiliar na sua coluna de opinião no Correio da Manhã.
Em declarações ao PÚBLICO, D. Carlos Azevedo diz que o templo idealizado por Troufa Real não só enferma de "um pouco de mau gosto" como não parece "respeitar os cânones do que é hoje a concepção de uma igreja". Ora "o arquitecto de uma igreja não pode fazer o que lhe apetece, mas o que serve à comunidade cristã".
No artigo que publicou, o bispo faz ainda críticas ao processo que, no final dos anos 90, levou à escolha do arquitecto. Segundo o responsável pela paróquia, o padre António Colimão, foi João Soares, nessa altura presidente da Câmara de Lisboa, quem escolheu Troufa Real - seu amigo - para desenhar o templo. "Não percebi porquê", acrescenta o padre.
Para o director da Escola das Artes da Universidade Católica, todo este processo evidencia alguns "elos fracos": "a falta de critérios de quem encomenda" a obra, mas também "a aceitação de presentes perigosos, tais como projectos pagos por autarquias selectivas do artista". Isto porque a câmara concedeu um apoio financeiro à paróquia para esta pagar os projectos da igreja.
Acontece que, segundo António Colimão, dos cerca de 225 mil euros que o município se comprometeu, por escrito, a entregar-lhe, faltam pagar 200 mil. Lembra-se de os ter solicitado no mandato de Santana Lopes e de a então vereadora das Finanças, Teresa Maury, lhe haver respondido: "Padre, não temos dinheiro". O que não significa que tenha desistido de reivindicar a verba em falta: "Acredito que a câmara há-de pagar".
Dos cerca de 25 mil euros que recebeu, entregou "qualquer coisa" a Toufa Real. Quanto, não diz. Tinha sido anunciado que o arquitecto trabalharia a título gracioso, mas afinal havia ainda uma factura a pagar. "Ouvi dizer que já não quer receber mais um tostão", refere o padre.
Desenhada com uma torre de cem metros, a igreja custará três milhões de euros só na sua primeira fase. D. Carlos Azevedo vê aqui mais um elo fraco: "a ausência de frontalidade para corrigir e recusar soluções onerosas para as comunidades, seja do ponto de vista económico, seja do ponto de vista da identidade eclesial". No patriarcado, a sua posição é sobejamente conhecida. O que não quer dizer que vingue perante a hierarquia eclesiástica.»
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07/12/2009
Obra da igreja do Restelo contornou parecer da Inspecção-Geral das Actividades Culturais
In Público (7/12/2009)
«O auditório da igreja-caravela desenhada por Troufa Real mudou de nome, para salão paroquial, evitando assim os pareceres obrigatórios face à lei
O arquitecto Troufa Real, autor do polémico projecto da igreja-caravela, no Restelo, contornou o parecer da Inspecção-Geral das Actividades Culturais (IGAC) mudando a designação de um dos blocos, que, contudo, manteve as mesmas características.
Segundo o processo camarário desta obra, que arrancou há cerca de um mês, depois de a autarquia ter frisado que era preciso um parecer do Regimento Sapadores Bombeiros e da IGAC relativamente ao edifício que deverá acolher o auditório, o arquitecto alterou a designação desse bloco para "salão paroquial".
Num dos documentos constantes do processo, o arquitecto altera a designação do auditório - que por ter determinadas características e poder acolher actividades culturais precisava de parecer da IGAC - para "salão paroquial".
De acordo com o IGAC, precisam de parecer desta entidade todos os recintos de espectáculos e natureza artística e mesmo os que, permitindo outro tipo de actividade, contemplam na sua concepção palcos, camarins, cabinas de projecção e outras estruturas, designadamente os auditórios com palco, como é o caso do edifício incluído neste projecto.
Mesmo assim, já depois desta alteração, os técnicos da autarquia chamaram a atenção para o facto de o auditório apenas mudar de designação, mantendo, porém, as mesmas características.
O recinto, de acordo com o projecto, teria um palco com divisão no soalho para se poderem abrir alçapões. O pároco local, António Colimão, confirmou que o edifício será para actividades culturais.
"Será um espaço polivalente que permitirá várias opções, como conferências e actividades culturais como teatro e música", afirmou.
O Ministério da Cultura foi contactado para saber se recebeu até ontem algum pedido de parecer para o edifício em causa, mas não deu resposta em tempo útil. As perguntas sobre a matéria enviadas por correio electrónico ao arquitecto Troufa Real também ficaram sem resposta.
O projecto, cujas obras arrancaram em Novembro, 12 anos depois da cerimónia de lançamento da primeira pedra, mereceu já diversas críticas e até Nuno Teotónio Pereira, um dos autores do Plano de Urbanização do Restelo, o considerou "uma aberração", defendendo em declarações ao PÚBLICO que "ofende de forma grave a paisagem urbana".
A obra de Troufa Real baseia-se na vida do Apóstolo do Oriente, S. Francisco Xavier e nos Descobrimentos. O projecto inclui a igreja, em forma de caravela dourada, uma torre de 95 metros com uma sala panorâmica revestida de vidro a 60 metros de altura, e outros quatro edifícios, mas apenas três estão contemplados na obra que arrancou agora: auditório/salão paroquial, residência do pároco e um outro com salas de formação e catequese. Para mais tarde ficará o centro social. PÚBLICO/Lusa»
«O auditório da igreja-caravela desenhada por Troufa Real mudou de nome, para salão paroquial, evitando assim os pareceres obrigatórios face à lei
O arquitecto Troufa Real, autor do polémico projecto da igreja-caravela, no Restelo, contornou o parecer da Inspecção-Geral das Actividades Culturais (IGAC) mudando a designação de um dos blocos, que, contudo, manteve as mesmas características.
Segundo o processo camarário desta obra, que arrancou há cerca de um mês, depois de a autarquia ter frisado que era preciso um parecer do Regimento Sapadores Bombeiros e da IGAC relativamente ao edifício que deverá acolher o auditório, o arquitecto alterou a designação desse bloco para "salão paroquial".
Num dos documentos constantes do processo, o arquitecto altera a designação do auditório - que por ter determinadas características e poder acolher actividades culturais precisava de parecer da IGAC - para "salão paroquial".
De acordo com o IGAC, precisam de parecer desta entidade todos os recintos de espectáculos e natureza artística e mesmo os que, permitindo outro tipo de actividade, contemplam na sua concepção palcos, camarins, cabinas de projecção e outras estruturas, designadamente os auditórios com palco, como é o caso do edifício incluído neste projecto.
Mesmo assim, já depois desta alteração, os técnicos da autarquia chamaram a atenção para o facto de o auditório apenas mudar de designação, mantendo, porém, as mesmas características.
O recinto, de acordo com o projecto, teria um palco com divisão no soalho para se poderem abrir alçapões. O pároco local, António Colimão, confirmou que o edifício será para actividades culturais.
"Será um espaço polivalente que permitirá várias opções, como conferências e actividades culturais como teatro e música", afirmou.
O Ministério da Cultura foi contactado para saber se recebeu até ontem algum pedido de parecer para o edifício em causa, mas não deu resposta em tempo útil. As perguntas sobre a matéria enviadas por correio electrónico ao arquitecto Troufa Real também ficaram sem resposta.
O projecto, cujas obras arrancaram em Novembro, 12 anos depois da cerimónia de lançamento da primeira pedra, mereceu já diversas críticas e até Nuno Teotónio Pereira, um dos autores do Plano de Urbanização do Restelo, o considerou "uma aberração", defendendo em declarações ao PÚBLICO que "ofende de forma grave a paisagem urbana".
A obra de Troufa Real baseia-se na vida do Apóstolo do Oriente, S. Francisco Xavier e nos Descobrimentos. O projecto inclui a igreja, em forma de caravela dourada, uma torre de 95 metros com uma sala panorâmica revestida de vidro a 60 metros de altura, e outros quatro edifícios, mas apenas três estão contemplados na obra que arrancou agora: auditório/salão paroquial, residência do pároco e um outro com salas de formação e catequese. Para mais tarde ficará o centro social. PÚBLICO/Lusa»
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30/11/2009
Mau gosto e necessidade duvidosa
In Público (30/11/2009)
«É difícil acreditar que a Câmara Municipal de Lisboa tenha aprovado o projecto para a edificação da nova igreja do Restelo, sobretudo se pensarmos que a necessária autorização foi obtida durante o mandato de três presidentes da autarquia. Não sei quais os desígnios do arquitecto responsável por tamanho mamarracho, mas o resultado é simplesmente catastrófico. Mesmo que a intenção tenha sido de conotar a obra com os Descobrimentos portugueses e a consequente evangelização dos povos nativos através da representação de um barco, a volumetria excessiva, as proporções duvidosas e as cores psicadélicas chegavam para que se tivesse impedido que o projecto vingasse. O uso do minarete, com 100 metros de altura (mais consentâneo com uma mesquita do que com a simbologia de um templo cristão) só pode ter sido criado por uma imaginação delirante.
Apesar de também ser católico, custa-me aceitar que o Patriarcado de Lisboa não se tenha oposto a que se gastem milhões de euros na construção de mais esta igreja, sobretudo numa época de acentuada crise económica, mesmo que uma boa parte dos custos tenha sido suportada por doações. A realidade é que no Restelo (e à sua volta) existem variadíssimas igrejas que, além dos Jerónimos, são mais do que suficientes para as celebrações dos actos de culto. Pior do que isso, é a constatação que as mesmas nunca se encontram cheias de fiéis, mesmo durante a celebração da missa dominical. Parece, pois, descabido que se apadrinhe uma megaconstrução (ainda por cima de inegável mau gosto) quando se trata de uma obra perfeitamente dispensável.
Não seria melhor que as autoridades eclesiásticas tivessem incutido um pouco de bom senso no clérigo que a idealizou, lembrando-lhe que a generosidade dos fiéis poderia e deveria ter sido encaminhada para minorar a pobreza extrema que, cada vez mais, é o triste apanágio da sociedade em que vivemos?
Fernando Raposo de Magalhães, Lisboa»
«É difícil acreditar que a Câmara Municipal de Lisboa tenha aprovado o projecto para a edificação da nova igreja do Restelo, sobretudo se pensarmos que a necessária autorização foi obtida durante o mandato de três presidentes da autarquia. Não sei quais os desígnios do arquitecto responsável por tamanho mamarracho, mas o resultado é simplesmente catastrófico. Mesmo que a intenção tenha sido de conotar a obra com os Descobrimentos portugueses e a consequente evangelização dos povos nativos através da representação de um barco, a volumetria excessiva, as proporções duvidosas e as cores psicadélicas chegavam para que se tivesse impedido que o projecto vingasse. O uso do minarete, com 100 metros de altura (mais consentâneo com uma mesquita do que com a simbologia de um templo cristão) só pode ter sido criado por uma imaginação delirante.
Apesar de também ser católico, custa-me aceitar que o Patriarcado de Lisboa não se tenha oposto a que se gastem milhões de euros na construção de mais esta igreja, sobretudo numa época de acentuada crise económica, mesmo que uma boa parte dos custos tenha sido suportada por doações. A realidade é que no Restelo (e à sua volta) existem variadíssimas igrejas que, além dos Jerónimos, são mais do que suficientes para as celebrações dos actos de culto. Pior do que isso, é a constatação que as mesmas nunca se encontram cheias de fiéis, mesmo durante a celebração da missa dominical. Parece, pois, descabido que se apadrinhe uma megaconstrução (ainda por cima de inegável mau gosto) quando se trata de uma obra perfeitamente dispensável.
Não seria melhor que as autoridades eclesiásticas tivessem incutido um pouco de bom senso no clérigo que a idealizou, lembrando-lhe que a generosidade dos fiéis poderia e deveria ter sido encaminhada para minorar a pobreza extrema que, cada vez mais, é o triste apanágio da sociedade em que vivemos?
Fernando Raposo de Magalhães, Lisboa»
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25/11/2009
Assembleia pede à Câmara que reveja projecto de igreja projectada por Troufa Real
A Assembleia Municipal de Lisboa pediu hoje que a Câmara “reveja” o projecto do arquitecto Troufa Real para a construção de uma igreja no Restelo e “zele pelo cumprimento da legalidade”, nomeadamente da área de construção.
O projecto da igreja foi objecto de uma recomendação apresentada pelo CDS-PP, aprovada com os votos contra do PSD, a abstenção do MPT e de quatro deputados independentes eleitos pelo PSD.
PS, PCP, PEV, BE e os vereadores independentes do movimento Cidadãos por Lisboa (eleitos na lista do PS) votaram a favor.
Na recomendação, considera-se “imprescindível” a reapreciação do projecto, que não faz “qualquer referência” nem à altura da torre projectada para a Igreja, nem às cores a usar.
“Os funcionários [municipais]apenas repararam em questões de planeamento, como o número de lugares de estacionamento ou as taxas de construção a pagar pela Igreja à autarquia – 198 mil euros – que foram perdoadas dada a finalidade da obra”, lê-se na recomendação, que cita o jornal Público.
O projecto contempla uma torre com 17 sinos, inspirada no quadro “As tentações de Santo Antão”, de Bosh, com uma altura que, de acordo com a recomendação, não está especificada no processo, e uma nave dourada, a sugerir uma caravela num temporal.
Inclui ainda a casa do pároco, que pretende ser uma referência à “casa portuguesa” do arquitecto Raul Lino, e um centro social, a construir numa segunda fase do projecto, a fazer lembrar as antigas fortalezas portuguesas da época dos descobrimentos.
As paredes vermelhas, cor-de-laranja, verdes e brancas são uma referência à Índia, o destino de viagem de São Francisco Xavier, e a Portugal, acrescenta a recomendação, que recorda que a igreja já começou a ser construída num lote cedido pela Câmara, com cerca de 3300 metros quadrados.
Os deputados municipais, que consideram “fundamental” a construção naquele local de uma igreja, já que as missas são actualmente realizadas num “barracão”, pedem à Câmara que “reveja o projecto e zele pelo cumprimento da legalidade, nomeadamente, no que respeita à área de construção e construção/reabilitação da zona envolvente”.
A Assembleia recomenda ainda que o projecto seja objecto de “discussão pública”, permitindo que os munícipes participem do debate, em particular os moradores da Freguesia de São Francisco Xavier, que serão os “principais usufruidores deste espaço”.
in Lusa
O projecto da igreja foi objecto de uma recomendação apresentada pelo CDS-PP, aprovada com os votos contra do PSD, a abstenção do MPT e de quatro deputados independentes eleitos pelo PSD.
PS, PCP, PEV, BE e os vereadores independentes do movimento Cidadãos por Lisboa (eleitos na lista do PS) votaram a favor.
Na recomendação, considera-se “imprescindível” a reapreciação do projecto, que não faz “qualquer referência” nem à altura da torre projectada para a Igreja, nem às cores a usar.
“Os funcionários [municipais]apenas repararam em questões de planeamento, como o número de lugares de estacionamento ou as taxas de construção a pagar pela Igreja à autarquia – 198 mil euros – que foram perdoadas dada a finalidade da obra”, lê-se na recomendação, que cita o jornal Público.
O projecto contempla uma torre com 17 sinos, inspirada no quadro “As tentações de Santo Antão”, de Bosh, com uma altura que, de acordo com a recomendação, não está especificada no processo, e uma nave dourada, a sugerir uma caravela num temporal.
Inclui ainda a casa do pároco, que pretende ser uma referência à “casa portuguesa” do arquitecto Raul Lino, e um centro social, a construir numa segunda fase do projecto, a fazer lembrar as antigas fortalezas portuguesas da época dos descobrimentos.
As paredes vermelhas, cor-de-laranja, verdes e brancas são uma referência à Índia, o destino de viagem de São Francisco Xavier, e a Portugal, acrescenta a recomendação, que recorda que a igreja já começou a ser construída num lote cedido pela Câmara, com cerca de 3300 metros quadrados.
Os deputados municipais, que consideram “fundamental” a construção naquele local de uma igreja, já que as missas são actualmente realizadas num “barracão”, pedem à Câmara que “reveja o projecto e zele pelo cumprimento da legalidade, nomeadamente, no que respeita à área de construção e construção/reabilitação da zona envolvente”.
A Assembleia recomenda ainda que o projecto seja objecto de “discussão pública”, permitindo que os munícipes participem do debate, em particular os moradores da Freguesia de São Francisco Xavier, que serão os “principais usufruidores deste espaço”.
in Lusa
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Sá Fernandes acha igreja de Troufa Real "medonha"
In Público (25/11/2009)
Por Ana Henriques
«Vereador dos Espaços Públicos não gosta do edifício, mas vereador do Urbanismo defende liberdade criativa do arquitecto
Facebook
A igreja colorida em forma de caravela que o arquitecto Troufa Real desenhou para o Alto do Restelo continua a dividir opiniões, mesmo entre o executivo que governa a Câmara Municipal de Lisboa.
Para o vereador responsável pelos espaços públicos da cidade, José Sá Fernandes, o edifício é "medonho". Já o seu colega que tem a cargo a pasta do Urbanismo, o arquitecto Manuel Salgado, defende a liberdade criativa de Troufa Real. E diz que não está disposto a mandar os seus serviços reanalisar o processo que conduziu ao licenciamento da obra - apesar de a Assembleia Municipal de Lisboa ter ontem aprovado uma recomendação do CDS-PP nesse sentido.
À excepção do PSD, todas as forças políticas votaram favoravelmente o documento - incluindo os socialistas - onde se pede à câmara que "reveja o projecto e zele pelo cumprimento da legalidade, nomeadamente no que respeita à área de construção", e ainda que promova um debate público sobre a matéria.
Mas mesmo assim Manuel Salgado entende que o processo só deve ser reanalisado se houver uma deliberação camarária nesse sentido, ou seja, se a maioria das diferentes forças políticas representadas no executivo assim o entender. O facto de se tratar de um edifício isolado, "que não está inserido na malha urbana", de ter funções religiosas e de "ter sido proposto por uma comunidade", os paroquianos do Restelo, são pressupostos que legitimam, no entender do vereador do Urbanismo, a sua construção.
O autarca menoriza a polémica de que o projecto tem vindo a ser alvo: "O Centro Cultural de Belém [de que foi co-autor] também foi alvo de fortíssima contestação. Hoje está feito, e a contestação apagou-se", recorda, acrescentando ainda o exemplo de outro templo que levantou críticas na altura da sua construção e cujo valor arquitectónico é hoje reconhecido, a igreja do Sagrado Coração de Jesus.
"As obras de ruptura levantam sempre polémica, porque não são anódinas", observa Manuel Salgado, que se recusa a questionar a estética do edifício. "Eu não faço aquela arquitectura, mas não a vou contestar."
"Um projecto proposto por uma comunidade não é a mesma coisa que outro proposto por um qualquer cidadão que pretende fazer negócio imobiliário", considera ainda.
A página do Facebook contra o projecto de Troufa Real, que começou a ser construído na semana passada, tinha ontem ao final do dia mais de 1500 fãs. Muitos dos detractores desta obra comparam-na a um bolo de noiva. Troufa Real diz que é uma alusão à época dos descobrimentos.»
...
Convenhamos que, apesar de tudo, não é comparável esta obra freak com o CCB, nem sequer às Amoreiras ou à ex-sede do BNU na Av. 5 de Outubro, nem sequer a outro pequeno freak, digno de W.C., que é aquela coisa verdosa no sítio onde havia o cinema Avis, no Arco do Cego, também da autoria do Sr. Arq. Troufa Real. Desta vez estamos perante a sublimação do conceito "freak".
Por Ana Henriques
«Vereador dos Espaços Públicos não gosta do edifício, mas vereador do Urbanismo defende liberdade criativa do arquitecto
A igreja colorida em forma de caravela que o arquitecto Troufa Real desenhou para o Alto do Restelo continua a dividir opiniões, mesmo entre o executivo que governa a Câmara Municipal de Lisboa.
Para o vereador responsável pelos espaços públicos da cidade, José Sá Fernandes, o edifício é "medonho". Já o seu colega que tem a cargo a pasta do Urbanismo, o arquitecto Manuel Salgado, defende a liberdade criativa de Troufa Real. E diz que não está disposto a mandar os seus serviços reanalisar o processo que conduziu ao licenciamento da obra - apesar de a Assembleia Municipal de Lisboa ter ontem aprovado uma recomendação do CDS-PP nesse sentido.
À excepção do PSD, todas as forças políticas votaram favoravelmente o documento - incluindo os socialistas - onde se pede à câmara que "reveja o projecto e zele pelo cumprimento da legalidade, nomeadamente no que respeita à área de construção", e ainda que promova um debate público sobre a matéria.
Mas mesmo assim Manuel Salgado entende que o processo só deve ser reanalisado se houver uma deliberação camarária nesse sentido, ou seja, se a maioria das diferentes forças políticas representadas no executivo assim o entender. O facto de se tratar de um edifício isolado, "que não está inserido na malha urbana", de ter funções religiosas e de "ter sido proposto por uma comunidade", os paroquianos do Restelo, são pressupostos que legitimam, no entender do vereador do Urbanismo, a sua construção.
O autarca menoriza a polémica de que o projecto tem vindo a ser alvo: "O Centro Cultural de Belém [de que foi co-autor] também foi alvo de fortíssima contestação. Hoje está feito, e a contestação apagou-se", recorda, acrescentando ainda o exemplo de outro templo que levantou críticas na altura da sua construção e cujo valor arquitectónico é hoje reconhecido, a igreja do Sagrado Coração de Jesus.
"As obras de ruptura levantam sempre polémica, porque não são anódinas", observa Manuel Salgado, que se recusa a questionar a estética do edifício. "Eu não faço aquela arquitectura, mas não a vou contestar."
"Um projecto proposto por uma comunidade não é a mesma coisa que outro proposto por um qualquer cidadão que pretende fazer negócio imobiliário", considera ainda.
A página do Facebook contra o projecto de Troufa Real, que começou a ser construído na semana passada, tinha ontem ao final do dia mais de 1500 fãs. Muitos dos detractores desta obra comparam-na a um bolo de noiva. Troufa Real diz que é uma alusão à época dos descobrimentos.»
...
Convenhamos que, apesar de tudo, não é comparável esta obra freak com o CCB, nem sequer às Amoreiras ou à ex-sede do BNU na Av. 5 de Outubro, nem sequer a outro pequeno freak, digno de W.C., que é aquela coisa verdosa no sítio onde havia o cinema Avis, no Arco do Cego, também da autoria do Sr. Arq. Troufa Real. Desta vez estamos perante a sublimação do conceito "freak".
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20/11/2009
Troufa Real responde às críticas com nova proposta de torre
In Público (20/11/2009)
Por Ana Henriques
«Autor do polémico projecto da igreja do Restelo inspira-se em Hieronimus Bosch. E chama "talibãs da arquitectura" aos detractores
Câmara de Lisboa mantém-se em silêncio
O arquitecto Troufa Real vai inspirar-se na obra do pintor Hieronimus Bosch para redesenhar a torre da polémica igreja que projectou para o Restelo, em Lisboa, e que começou esta semana a ser construída.
Troufa Real assegura, em declarações ao PÚBLICO, que esta alteração não se prende com nenhum pedido que lhe tenha sido feito para modificar o seu projecto inicial, mas sim com o facto de já não se rever na torre de tipo manuelino que desenhou, há diversos anos, para aquele espaço. "Já vou na quinta torre" para a Igreja de S. Francisco Xavier, explica o arquitecto, acrescentando que uma das versões previa uma torre com vitrais.
Desta vez a fonte de inspiração será "o quadro As Tentações de Santo Antão" - uma obra do séc. XVI de Bosch - "e José Saramago". Inicialmente concebida para ter cem metros de altura, a nova torre será mais baixa ou mantém as mesmas dimensões? "Não sei", responde Troufa Real. "Gosto muito de tudo o que é alto. Lisboa ficou a perder por não se terem construído as torres de Siza Vieira em Alcântara. Seja como for, não há pressa, uma vez que a construção desta parte da igreja será feita mais tarde."
Quanto ao resto do projecto, o arquitecto insiste em mantê-lo tal como o criou. A nave da igreja, pintada em dourado do lado de fora, imita, pela sua forma, "uma caravela num temporal, toda dobrada". Depois, além da torre com 17 sinos, há a casa do pároco, "que é uma referência à casa portuguesa do arquitecto Raul Lino". E, por fim, o centro social, reservado para a segunda fase, "que será uma réplica das antigas fortalezas portuguesas da época dos descobrimentos". As paredes vermelhas, cor-de-laranja, verdes e brancas são uma referência à Índia (destino de viagem de S. Francisco Xavier) e a Portugal.
"A minha arquitectura está ligada ao mundo do fantástico, é de raiz simbólica. Não sou um arquitecto moderno, sou antimoderno", explica o autor do projecto, considerando que colegas seus, como Teotónio Pereira (que classificou, ontem, no PÚBLICO, este projecto uma "aberração"), não compreendem a sua linguagem. "Odeiam o simbolismo do antigo império. É um bando de velhos, autênticos talibãs da arquitectura que não se reciclaram e não percebem o que se está a passar no mundo", acusa. E volta à carga: "Odeiam outras culturas. Só sabem fazer peixe podre, peixe passado".
Direito à arquitectura
O arquitecto que dirige o departamento do patriarcado responsável pela construção das novas igrejas, Diogo Lino Pimentel, também não sai ileso desta polémica. Depois de ter dito que o edifício para o Restelo dava muito nas vistas, recebe agora a resposta de Troufa Real. "Ele quer é fazer as igrejas no atelier dele. Mas quando esta igreja foi objecto de apreciação na Ordem dos Arquitectos, no tempo da bastonária Olga Quintanilha [entre 1999-2001], ele também esteve lá e não disse nada".
Troufa Real argumenta que o projecto foi devidamente apresentado e discutido, há cerca de dez anos, tanto na Ordem como na Cordoaria, além de ter estado exposto numa galeria da Câmara de Lisboa.
Para Troufa Real, esta sua obra é nem mais nem menos que um "cadáver esquisito". Uma expressão que usa para definir um trabalho colectivo surrealista, lembrando que convidou diferentes artistas, como Lagoa Henriques - entretanto falecido - para participar neste projecto.
Esta não é a sua primeira obra religiosa. Tem em construção outra igreja em Miraflores, Oeiras, e projectou um templo dedicado a Shiva para Loures, obra que ainda não saiu do papel. "Sou um maçon católico e respeito muito os cânones da igreja", declara. A morar em Angola, terra onde nasceu, Troufa Real deixa um recado a todos os que criticam o seu trabalho: "Deixem-me ser livre. Tenho direito à minha arquitectura de autor".»
...
Bosch? LOL. Manuelino? LOL. O problema não é aquele minarete fálico mas sim toda aquela massa disforme, aquela aberração diarreica que alguém designou por projecto. Como se a trava, e, sobretudo, quem a trava, esse é que é o problema.
Por Ana Henriques
«Autor do polémico projecto da igreja do Restelo inspira-se em Hieronimus Bosch. E chama "talibãs da arquitectura" aos detractores
Câmara de Lisboa mantém-se em silêncio
O arquitecto Troufa Real vai inspirar-se na obra do pintor Hieronimus Bosch para redesenhar a torre da polémica igreja que projectou para o Restelo, em Lisboa, e que começou esta semana a ser construída.
Troufa Real assegura, em declarações ao PÚBLICO, que esta alteração não se prende com nenhum pedido que lhe tenha sido feito para modificar o seu projecto inicial, mas sim com o facto de já não se rever na torre de tipo manuelino que desenhou, há diversos anos, para aquele espaço. "Já vou na quinta torre" para a Igreja de S. Francisco Xavier, explica o arquitecto, acrescentando que uma das versões previa uma torre com vitrais.
Desta vez a fonte de inspiração será "o quadro As Tentações de Santo Antão" - uma obra do séc. XVI de Bosch - "e José Saramago". Inicialmente concebida para ter cem metros de altura, a nova torre será mais baixa ou mantém as mesmas dimensões? "Não sei", responde Troufa Real. "Gosto muito de tudo o que é alto. Lisboa ficou a perder por não se terem construído as torres de Siza Vieira em Alcântara. Seja como for, não há pressa, uma vez que a construção desta parte da igreja será feita mais tarde."
Quanto ao resto do projecto, o arquitecto insiste em mantê-lo tal como o criou. A nave da igreja, pintada em dourado do lado de fora, imita, pela sua forma, "uma caravela num temporal, toda dobrada". Depois, além da torre com 17 sinos, há a casa do pároco, "que é uma referência à casa portuguesa do arquitecto Raul Lino". E, por fim, o centro social, reservado para a segunda fase, "que será uma réplica das antigas fortalezas portuguesas da época dos descobrimentos". As paredes vermelhas, cor-de-laranja, verdes e brancas são uma referência à Índia (destino de viagem de S. Francisco Xavier) e a Portugal.
"A minha arquitectura está ligada ao mundo do fantástico, é de raiz simbólica. Não sou um arquitecto moderno, sou antimoderno", explica o autor do projecto, considerando que colegas seus, como Teotónio Pereira (que classificou, ontem, no PÚBLICO, este projecto uma "aberração"), não compreendem a sua linguagem. "Odeiam o simbolismo do antigo império. É um bando de velhos, autênticos talibãs da arquitectura que não se reciclaram e não percebem o que se está a passar no mundo", acusa. E volta à carga: "Odeiam outras culturas. Só sabem fazer peixe podre, peixe passado".
Direito à arquitectura
O arquitecto que dirige o departamento do patriarcado responsável pela construção das novas igrejas, Diogo Lino Pimentel, também não sai ileso desta polémica. Depois de ter dito que o edifício para o Restelo dava muito nas vistas, recebe agora a resposta de Troufa Real. "Ele quer é fazer as igrejas no atelier dele. Mas quando esta igreja foi objecto de apreciação na Ordem dos Arquitectos, no tempo da bastonária Olga Quintanilha [entre 1999-2001], ele também esteve lá e não disse nada".
Troufa Real argumenta que o projecto foi devidamente apresentado e discutido, há cerca de dez anos, tanto na Ordem como na Cordoaria, além de ter estado exposto numa galeria da Câmara de Lisboa.
Para Troufa Real, esta sua obra é nem mais nem menos que um "cadáver esquisito". Uma expressão que usa para definir um trabalho colectivo surrealista, lembrando que convidou diferentes artistas, como Lagoa Henriques - entretanto falecido - para participar neste projecto.
Esta não é a sua primeira obra religiosa. Tem em construção outra igreja em Miraflores, Oeiras, e projectou um templo dedicado a Shiva para Loures, obra que ainda não saiu do papel. "Sou um maçon católico e respeito muito os cânones da igreja", declara. A morar em Angola, terra onde nasceu, Troufa Real deixa um recado a todos os que criticam o seu trabalho: "Deixem-me ser livre. Tenho direito à minha arquitectura de autor".»
...
Bosch? LOL. Manuelino? LOL. O problema não é aquele minarete fálico mas sim toda aquela massa disforme, aquela aberração diarreica que alguém designou por projecto. Como se a trava, e, sobretudo, quem a trava, esse é que é o problema.
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19/11/2009
Padre quer acabar com as missas num barracão
In Correio da Manhã (19/11/2009)
«Igreja polémica
O padre da paróquia de S. Francisco Xavier, em Lisboa, aguarda com entusiasmo a construção da nova igreja no prazo previsto de um ano. "É fundamental ter uma igreja", sublinha António Colimão ao CM, recordando que "desde 1990 as missas são realizadas num barracão, na rua Diogo Afonso", no Restelo.
O padre diz ter dificuldade em compreender porque surgiram vozes críticas após o início das obras, há dois dias. "O projecto conta com mais de dez anos e levou os cerca de dez mil fiéis da paróquia a reunirem três milhões de euros em peditórios sem haver contestação", disse.
Pelo abuso das cores, a obra levou o movimento cívico Fórum Cidadania a colocar em causa a necessidade da nova construção. O próprio director do secretariado das novas igrejas do Patriarcado, Diogo Lino Pimentel, sublinhou que "uma igreja dos nossos dias deve ser mais discreta". O mesmo responsável chegou à conclusão de que agora não há nada a fazer para impedir a construção: o Patriarcado tomou a decisão de construir a igreja há já alguns anos.
A igreja é um projecto oferecido pelo arquitecto Troufa Real sem qualquer traço de discrição. O corpo central do templo é uma caravela dourada encostada a um paredão vermelho. A obra conta também com uma torre panorâmica de cem metros. A igreja será erguida num lote cedido pela Câmara Municipal de Lisboa com cerca de 3300 m2 no Alto do Restelo (delimitado, a nascente, pela avenida Ilha da Madeira).
A obra de Troufa Real baseia-se na vida do Apóstolo do Oriente, S. Francisco Xavier, da Índia ao Japão, e na aventura portuguesa dos Descobrimentos, com uma elevada carga simbólica. A igreja em forma de caravela dourada homenageia, assim, o papel evangelizador português na Ásia. Numa segunda fase será erguida a torre que lembra um minarete.
APONTAMENTOS
MEIO SÉCULO
A paróquia foi criada há meio século e autonomizada de Santa Maria de Belém em 1990. A devoção a São Francisco Xavier resulta da ligação do Restelo aos Descobrimentos. Pela colina circulavam pessoas e bens que partiam para o Oriente.
EVANGELIZADOR
S. Francisco Xavier nasceu em 1506, em Navarra (Espanha), e morreu em 1552, em Sanchoão (China). A Igreja Católica Romana considera que tenha convertido mais pessoas ao Cristianismo do que qualquer outro missionário desde São Paulo.
SEIS BLOCOS
O templo será construído em seis blocos: 1.º (em construção) é a igreja; 2.º a torre e baptistério; 3.º serviços de apoio ao culto e casa do pároco; 4.º salas de formação religiosa; 5.º auditório e salas de audiências; 6.º salas de acção social»
«Igreja polémica
O padre da paróquia de S. Francisco Xavier, em Lisboa, aguarda com entusiasmo a construção da nova igreja no prazo previsto de um ano. "É fundamental ter uma igreja", sublinha António Colimão ao CM, recordando que "desde 1990 as missas são realizadas num barracão, na rua Diogo Afonso", no Restelo.
O padre diz ter dificuldade em compreender porque surgiram vozes críticas após o início das obras, há dois dias. "O projecto conta com mais de dez anos e levou os cerca de dez mil fiéis da paróquia a reunirem três milhões de euros em peditórios sem haver contestação", disse.
Pelo abuso das cores, a obra levou o movimento cívico Fórum Cidadania a colocar em causa a necessidade da nova construção. O próprio director do secretariado das novas igrejas do Patriarcado, Diogo Lino Pimentel, sublinhou que "uma igreja dos nossos dias deve ser mais discreta". O mesmo responsável chegou à conclusão de que agora não há nada a fazer para impedir a construção: o Patriarcado tomou a decisão de construir a igreja há já alguns anos.
A igreja é um projecto oferecido pelo arquitecto Troufa Real sem qualquer traço de discrição. O corpo central do templo é uma caravela dourada encostada a um paredão vermelho. A obra conta também com uma torre panorâmica de cem metros. A igreja será erguida num lote cedido pela Câmara Municipal de Lisboa com cerca de 3300 m2 no Alto do Restelo (delimitado, a nascente, pela avenida Ilha da Madeira).
A obra de Troufa Real baseia-se na vida do Apóstolo do Oriente, S. Francisco Xavier, da Índia ao Japão, e na aventura portuguesa dos Descobrimentos, com uma elevada carga simbólica. A igreja em forma de caravela dourada homenageia, assim, o papel evangelizador português na Ásia. Numa segunda fase será erguida a torre que lembra um minarete.
APONTAMENTOS
MEIO SÉCULO
A paróquia foi criada há meio século e autonomizada de Santa Maria de Belém em 1990. A devoção a São Francisco Xavier resulta da ligação do Restelo aos Descobrimentos. Pela colina circulavam pessoas e bens que partiam para o Oriente.
EVANGELIZADOR
S. Francisco Xavier nasceu em 1506, em Navarra (Espanha), e morreu em 1552, em Sanchoão (China). A Igreja Católica Romana considera que tenha convertido mais pessoas ao Cristianismo do que qualquer outro missionário desde São Paulo.
SEIS BLOCOS
O templo será construído em seis blocos: 1.º (em construção) é a igreja; 2.º a torre e baptistério; 3.º serviços de apoio ao culto e casa do pároco; 4.º salas de formação religiosa; 5.º auditório e salas de audiências; 6.º salas de acção social»
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Teotónio Pereira considera que igreja do Restelo é uma aberração
In Público (19/11/2009)
Por Ana Henriques
«Um dos autores do plano de urbanização do bairro do Restelo, Nuno Teotónio Pereira, considera “uma aberração” a igreja que ali começou a ser construída na terça-feira. Para este arquitecto, a gravidade do caso deveria levar a Câmara de Lisboa a mandar parar a obra e a exigir outro projecto.
Autor do plano de urbanização do Restelo defende que a obra tem de ser travada
Desenhada pelo arquitecto Troufa Real, a nova igreja do Restelo inclui uma torre de cem metros de altura em forma de minarete e uma paleta cromática ousada, com paredes pintadas de dourado, vermelho, verde e cor-de-laranja. O edifício tem, num dos lados, a forma bojuda de um barco assente numas cornucópias que imitam ondas, numa alusão à época dos descobrimentos.
Autor de várias igrejas – uma das quais, a do Sagrado Coração de Jesus, em Lisboa, classificada como monumento nacional –, Teotónio Pereira não tem dúvidas sobre a obra que está a nascer no Restelo: “Ofende de forma muito grave a paisagem urbana e os princípios basilares da arquitectura contemporânea.”
No seu entender, o projecto está completamente desenquadrado do conjunto urbano que planeou juntamente com Nuno Portas, nos anos 70, e, se for por diante, vai descaracterizar toda a encosta que se estende até ao rio. “Pela sua dimensão excessiva para as necessidades do local e pelo seu custo, nunca acreditei que fosse construído”, admite. “E, do ponto de vista da arquitectura religiosa, parece-me um completo disparate. A arquitectura das igrejas deve pautar-se pela pureza de formas e pela beleza”.
“Espanta-me por isso que o patriarcado e a própria câmara tenham consentido na sua construção”, prossegue. “A câmara deveria estar vigilante e defender os interesses da cidade”.
Movimento de opinião
Teotónio Pereira ressalva que lhe custa estar a criticar a obra de um colega – até porque partilha do princípio de que a liberdade de criação dos arquitectos não deve ser limitada. “Mas, perante este caso, não posso ficar em silêncio”, observa. “Devia formar-se um grande movimento de opinião para impedir esta obra”.
O PÚBLICO tentou perceber os meandros da aprovação deste projecto, cujos passos decisivos foram dados nos mandatos de João Soares e de Santana Lopes. Mas a consulta do respectivo processo camarário não foi esclarecedora. Tentámos, igualmente, chegar à fala quer com Troufa Real, quer com a vereadora de Santana Lopes que aprovou o projecto de arquitectura, Eduarda Napoleão, sem sucesso. Igualmente infrutíferas foram as tentativas para obter declarações por parte do actual vereador do Urbanismo, o arquitecto Manuel Salgado.
Em 2007, a propósito da escultura de Rui Chafes que o escritório de advogados de José Manuel Júdice colocou em frente à sua sede, na Avenida da Liberdade, o presidente da autarquia, António Costa, mostrou-se de acordo com uma sugestão do PCP para a constituição de uma comissão municipal de estética. Este organismo serviria para evitar a profusão de “mamarrachos”. A comissão, que de resto se destinava apenas à arte pública, acabou por não vingar.
Processo pouco claro
Apesar do seu exotismo, o projecto da igreja de Troufa Real para o Restelo foi apreciado pelos técnicos camarários como se de outro qualquer se tratasse. Não há, no processo consultado ontem pelo PÚBLICO na Câmara de Lisboa, qualquer referência dos técnicos nem à torre de cem metros, nem tão-pouco às cores a usar ou ao facto de a igreja ter a forma de um barco com ondas por baixo. Os funcionários apenas repararam em questões menores, como o número de lugares de estacionamento ou as taxas de construção a pagar pela igreja à autarquia. E estas, no valor de 198 mil euros, foram perdoadas, dada a finalidade da obra.»
...
AVANCEM!
Por Ana Henriques
«Um dos autores do plano de urbanização do bairro do Restelo, Nuno Teotónio Pereira, considera “uma aberração” a igreja que ali começou a ser construída na terça-feira. Para este arquitecto, a gravidade do caso deveria levar a Câmara de Lisboa a mandar parar a obra e a exigir outro projecto.
Autor do plano de urbanização do Restelo defende que a obra tem de ser travada
Desenhada pelo arquitecto Troufa Real, a nova igreja do Restelo inclui uma torre de cem metros de altura em forma de minarete e uma paleta cromática ousada, com paredes pintadas de dourado, vermelho, verde e cor-de-laranja. O edifício tem, num dos lados, a forma bojuda de um barco assente numas cornucópias que imitam ondas, numa alusão à época dos descobrimentos.
Autor de várias igrejas – uma das quais, a do Sagrado Coração de Jesus, em Lisboa, classificada como monumento nacional –, Teotónio Pereira não tem dúvidas sobre a obra que está a nascer no Restelo: “Ofende de forma muito grave a paisagem urbana e os princípios basilares da arquitectura contemporânea.”
No seu entender, o projecto está completamente desenquadrado do conjunto urbano que planeou juntamente com Nuno Portas, nos anos 70, e, se for por diante, vai descaracterizar toda a encosta que se estende até ao rio. “Pela sua dimensão excessiva para as necessidades do local e pelo seu custo, nunca acreditei que fosse construído”, admite. “E, do ponto de vista da arquitectura religiosa, parece-me um completo disparate. A arquitectura das igrejas deve pautar-se pela pureza de formas e pela beleza”.
“Espanta-me por isso que o patriarcado e a própria câmara tenham consentido na sua construção”, prossegue. “A câmara deveria estar vigilante e defender os interesses da cidade”.
Movimento de opinião
Teotónio Pereira ressalva que lhe custa estar a criticar a obra de um colega – até porque partilha do princípio de que a liberdade de criação dos arquitectos não deve ser limitada. “Mas, perante este caso, não posso ficar em silêncio”, observa. “Devia formar-se um grande movimento de opinião para impedir esta obra”.
O PÚBLICO tentou perceber os meandros da aprovação deste projecto, cujos passos decisivos foram dados nos mandatos de João Soares e de Santana Lopes. Mas a consulta do respectivo processo camarário não foi esclarecedora. Tentámos, igualmente, chegar à fala quer com Troufa Real, quer com a vereadora de Santana Lopes que aprovou o projecto de arquitectura, Eduarda Napoleão, sem sucesso. Igualmente infrutíferas foram as tentativas para obter declarações por parte do actual vereador do Urbanismo, o arquitecto Manuel Salgado.
Em 2007, a propósito da escultura de Rui Chafes que o escritório de advogados de José Manuel Júdice colocou em frente à sua sede, na Avenida da Liberdade, o presidente da autarquia, António Costa, mostrou-se de acordo com uma sugestão do PCP para a constituição de uma comissão municipal de estética. Este organismo serviria para evitar a profusão de “mamarrachos”. A comissão, que de resto se destinava apenas à arte pública, acabou por não vingar.
Processo pouco claro
Apesar do seu exotismo, o projecto da igreja de Troufa Real para o Restelo foi apreciado pelos técnicos camarários como se de outro qualquer se tratasse. Não há, no processo consultado ontem pelo PÚBLICO na Câmara de Lisboa, qualquer referência dos técnicos nem à torre de cem metros, nem tão-pouco às cores a usar ou ao facto de a igreja ter a forma de um barco com ondas por baixo. Os funcionários apenas repararam em questões menores, como o número de lugares de estacionamento ou as taxas de construção a pagar pela igreja à autarquia. E estas, no valor de 198 mil euros, foram perdoadas, dada a finalidade da obra.»
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AVANCEM!
18/11/2009
Ainda o Mono do Restelo
É neste terreno vago entre o empreendimento EPUL e a escola que vai nascer, se ninguém o travar, mais um dos imbróglios herdados da ex-Vereadora Eduarda Napoleão, que aprovou esta aberração, Proc. 96233/EDI/2001.
A licença de obras de construção é a nº 10/C/2007 e é válida até 26 de Set. de 2010. Portanto, há que recorrer a outras "formas de luta".
Por exemplo: QUE ANDA A FAZER A JUNTA DE FREGUESIA DE SÃO FRANCISCO XAVIER? Talvez fosse boa ideia organizar-se um debate, para se desmistificar essa ideia absurda que são os moradores da zona que querem esse mono.
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Especialista do patriarcado acha que igreja de Troufa Real para o Restelo dá muito nas vistas
In Público (18/11/2009)
Por Ana Henriques
«"Uma igreja dos nossos dias deve ser mais discreta", diz o responsável do patriarcado pelas novas igrejas
A igreja em forma de barco que Troufa Real desenhou para o Alto do Restelo, e cuja construção começou ontem, "dá muito nas vistas", admite o arquitecto que preside ao departamento do patriarcado encarregado de dar parecer sobre os novos templos.
"É um edifício que se impõe. Uma igreja dos nossos dias deve ser mais discreta", observa Diogo Lino Pimentel, director do secretariado das novas igrejas do patriarcado. Mas, segundo o mesmo responsável, já não há nada a fazer, uma vez que a decisão de permitir a sua construção foi há muito tomada pela hierarquia eclesiástica. O edifício tem sido alvo de al-guma contestação, quer por causa da sua forma, quer por causa da paleta de cores prevista para as fachadas e paredes - dourado, vermelho, cor de laranja e verde. O projecto inclui uma torre de cem metros de altura, em forma de minarete.
Diogo Lino Pimentel recorda-se que quando o secretariado das novas igrejas foi chamado a pronunciar-se sobre o projecto, em 2001, emitiu um parecer que abordava a questão por dois prismas: "O da liberdade criativa do arquitecto e, por outro lado, a questão de saber se aquele projecto era aceitável em termos pastorais, da imagem que a igreja quer dar de si própria". Foi em relação a este segundo aspecto que o arquitecto levantou algumas questões. "Mas esta reflexão que propus acabou por nunca ser feita", relata. O tempo foi passando e o projecto acabou por ser aprovado pelo patriarcado, apesar das objecções levantadas.
O assunto também não é pacífico entre os paroquianos do Restelo. "Estou farta de dizer ao prior que não gosto da igreja", diz um deles. Outra paroquiana que se tem empenhado na obra admite que ela "tem umas coisas mais bonitas que outras".
"Mas quem gosta, gosta. Quem não gosta come menos", observa.»
Por Ana Henriques
«"Uma igreja dos nossos dias deve ser mais discreta", diz o responsável do patriarcado pelas novas igrejas
A igreja em forma de barco que Troufa Real desenhou para o Alto do Restelo, e cuja construção começou ontem, "dá muito nas vistas", admite o arquitecto que preside ao departamento do patriarcado encarregado de dar parecer sobre os novos templos.
"É um edifício que se impõe. Uma igreja dos nossos dias deve ser mais discreta", observa Diogo Lino Pimentel, director do secretariado das novas igrejas do patriarcado. Mas, segundo o mesmo responsável, já não há nada a fazer, uma vez que a decisão de permitir a sua construção foi há muito tomada pela hierarquia eclesiástica. O edifício tem sido alvo de al-guma contestação, quer por causa da sua forma, quer por causa da paleta de cores prevista para as fachadas e paredes - dourado, vermelho, cor de laranja e verde. O projecto inclui uma torre de cem metros de altura, em forma de minarete.
Diogo Lino Pimentel recorda-se que quando o secretariado das novas igrejas foi chamado a pronunciar-se sobre o projecto, em 2001, emitiu um parecer que abordava a questão por dois prismas: "O da liberdade criativa do arquitecto e, por outro lado, a questão de saber se aquele projecto era aceitável em termos pastorais, da imagem que a igreja quer dar de si própria". Foi em relação a este segundo aspecto que o arquitecto levantou algumas questões. "Mas esta reflexão que propus acabou por nunca ser feita", relata. O tempo foi passando e o projecto acabou por ser aprovado pelo patriarcado, apesar das objecções levantadas.
O assunto também não é pacífico entre os paroquianos do Restelo. "Estou farta de dizer ao prior que não gosto da igreja", diz um deles. Outra paroquiana que se tem empenhado na obra admite que ela "tem umas coisas mais bonitas que outras".
"Mas quem gosta, gosta. Quem não gosta come menos", observa.»
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17/11/2009
Igreja-caravela de Troufa Real arranca hoje
In Público (17/11/2009)
Por Ana Henriques
«Uma torre com cem metros e a profusão de cores, incluindo um casco dourado, fazem com que o edifício projectado para o Alto do Restelo não seja nada pacífico
Câmara aprovou
Começa hoje no Alto do Restelo a construção da nova igreja da paróquia de S. Francisco Xavier. Com uma torre de cem metros de altura e uma paleta cromática pouco habitual - haverá paredes em dourado, laranja, verde e vermelho -, o templo em forma de barco desenhado pelo arquitecto Troufa Real motivou já alguns protestos. Mas a Câmara de Lisboa diz que a obra está licenciada desde 2004/2005.
O movimento cívico Forum Cidadania pôs há um mês em causa a necessidade da nova construção, "quando o Patriarcado tem a Igreja de S. Vicente de Fora fechada, porque está a cair aos bocados". E aproveitou para dar vários outros exemplos de património eclesiástico existente na cidade a necessitar de obras de conservação.
Só a primeira fase dos trabalhos - que compreende a construção da estrutura e fundações - vai custar três milhões de euros. Depois será preciso mais dinheiro para os acabamentos. Em forma de minarete, a torre albergará um elevador panorâmico e só será erguida numa segunda fase da obra.
O Forum Cidadania (http://cidadanialx.blogspot.com) criticou também o projecto de Troufa Real, chamando-lhe "um empreendimento digno de Ceaucescu" [o antigo ditador romeno]. Num abaixo-assinado online (por enquanto pouco concorrido) fala-se em "aberração urbanística".
"O projecto de arquitectura baseia-se na vida do apóstolo do Oriente S. Francisco Xavier, da Índia ao Japão, e na aventura portuguesa dos Descobrimentos", explica o folheto informativo da paróquia. O PÚBLICO não conseguiu falar com o pároco da freguesia, que se encontrava fora do país, nem com Troufa Real. Certo é que também entre os responsáveis do Patriarcado houve quem não gostasse do projecto. Mas a liberdade criativa do arquitecto foi mesmo assim respeitada. "Gosto de ideias que se aproximam do limiar entre o kitsch e o piroso", assumiu, em 2004, Troufa Real, que trabalhou a título gracioso para esta obra.
Segundo a Construtora de Vila Franca, encarregada da primeira fase da empreitada, o edifício terá uma área de construção de 2700 metros quadrados, e nele serão consumidos 3600 metros cúbicos de betão e 500 toneladas de aço em varão. O projecto inclui diversos edifícios de menor dimensão para serviços paroquiais, mas do ponto de vista construtivo o mais complicado de fazer será a igreja propriamente dita, por incluir uma estrutura metálica - revestida por um casco dourado, se o orçamento o permitir - semelhante ao cavername de um barco. "Talvez tenhamos de recorrer a uma empresa da indústria naval", admite o responsável pela obra na construtora, André Silva. A paróquia ainda só conseguiu juntar um milhão de euros dos três necessários para a primeira fase dos trabalhos.»
...
Ceaucescu ou Saddam, tanto faz, o certo é que estamos perante algo que se arrisca a ser o símbolo de toda uma nova corrente nas artes: Arte Freak. Pobre Lisboa.
Corre na Net a seguinte petição: http://www.euparticipo.org/lisboa/ordenamento/Nao-a-construcao-da-Igreja-Caravela-Restelo
Por Ana Henriques
«Uma torre com cem metros e a profusão de cores, incluindo um casco dourado, fazem com que o edifício projectado para o Alto do Restelo não seja nada pacífico
Câmara aprovou
Começa hoje no Alto do Restelo a construção da nova igreja da paróquia de S. Francisco Xavier. Com uma torre de cem metros de altura e uma paleta cromática pouco habitual - haverá paredes em dourado, laranja, verde e vermelho -, o templo em forma de barco desenhado pelo arquitecto Troufa Real motivou já alguns protestos. Mas a Câmara de Lisboa diz que a obra está licenciada desde 2004/2005.
O movimento cívico Forum Cidadania pôs há um mês em causa a necessidade da nova construção, "quando o Patriarcado tem a Igreja de S. Vicente de Fora fechada, porque está a cair aos bocados". E aproveitou para dar vários outros exemplos de património eclesiástico existente na cidade a necessitar de obras de conservação.
Só a primeira fase dos trabalhos - que compreende a construção da estrutura e fundações - vai custar três milhões de euros. Depois será preciso mais dinheiro para os acabamentos. Em forma de minarete, a torre albergará um elevador panorâmico e só será erguida numa segunda fase da obra.
O Forum Cidadania (http://cidadanialx.blogspot.com) criticou também o projecto de Troufa Real, chamando-lhe "um empreendimento digno de Ceaucescu" [o antigo ditador romeno]. Num abaixo-assinado online (por enquanto pouco concorrido) fala-se em "aberração urbanística".
"O projecto de arquitectura baseia-se na vida do apóstolo do Oriente S. Francisco Xavier, da Índia ao Japão, e na aventura portuguesa dos Descobrimentos", explica o folheto informativo da paróquia. O PÚBLICO não conseguiu falar com o pároco da freguesia, que se encontrava fora do país, nem com Troufa Real. Certo é que também entre os responsáveis do Patriarcado houve quem não gostasse do projecto. Mas a liberdade criativa do arquitecto foi mesmo assim respeitada. "Gosto de ideias que se aproximam do limiar entre o kitsch e o piroso", assumiu, em 2004, Troufa Real, que trabalhou a título gracioso para esta obra.
Segundo a Construtora de Vila Franca, encarregada da primeira fase da empreitada, o edifício terá uma área de construção de 2700 metros quadrados, e nele serão consumidos 3600 metros cúbicos de betão e 500 toneladas de aço em varão. O projecto inclui diversos edifícios de menor dimensão para serviços paroquiais, mas do ponto de vista construtivo o mais complicado de fazer será a igreja propriamente dita, por incluir uma estrutura metálica - revestida por um casco dourado, se o orçamento o permitir - semelhante ao cavername de um barco. "Talvez tenhamos de recorrer a uma empresa da indústria naval", admite o responsável pela obra na construtora, André Silva. A paróquia ainda só conseguiu juntar um milhão de euros dos três necessários para a primeira fase dos trabalhos.»
...
Ceaucescu ou Saddam, tanto faz, o certo é que estamos perante algo que se arrisca a ser o símbolo de toda uma nova corrente nas artes: Arte Freak. Pobre Lisboa.
Corre na Net a seguinte petição: http://www.euparticipo.org/lisboa/ordenamento/Nao-a-construcao-da-Igreja-Caravela-Restelo
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12/11/2009
Vem aí o mono do Restelo!
A tal igreja "arrojada" vem aí, mais depressa do que se pensava. Segundo notícia de hoje, as obras arrancam ESTA TERÇA-FEIRA!
Esta coisa inqualificável tem passado incólume porque ninguém nunca acreditou que fosse possível ser concretizada. Mas o certo é que se continua a dizer que a CML aprovou este mono, do qual restam algumas dúvidas, tais como:
Quem aprovou? com que argumentos? quem está por detrás do negócio? será de inspiração divina ou simplesmente um produto delirantemente kitsch-freak?
Que alguém apareça para protagonizar uma oposição clara a este atentado à inteligência, é o que desejo.
Fotos
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10/10/2009
Igreja "arrojada" com torre de cem metros vai nascer no Restelo
In Público (10/10/2009)
Por Inês Boaventura
«Além da igreja, dourada e com forma de caravela, o projecto de Troufa Real inclui construções em branco, verde e laranja, evocando a bandeira indiana
A nova Igreja de São Francisco Xavier, em Lisboa, cuja construção deverá arrancar nos próximos dias, "foi concebida como um barco, na evocação do que foram os grandes feitos missionários de S. Francisco", segundo a explicação do padre António Colimão. O pároco admite que o projecto, da autoria do arquitecto Troufa Real e que inclui uma torre "com cerca de cem metros", "é arrojado" e já está a contar com a oposição dos chamados "velhos do Restelo".
"Valeu a pena rezar, esperar e ter paciência", diz o padre numa "folha informativa" escrita no início do mês, na qual lembra que o arranque da construção vai exigir dos paroquianos "maior entrega, generosidade e planos para angariar o dinheiro necessário que é muito". Segundo António Colimão, que na missa do último domingo já avisou que agora se vai tornar "um bom pedinchão", a primeira fase da obra vai estar pronta em 12 meses e "está orçamentada em cerca de três milhões de euros", dispondo a paróquia de "cerca de um milhão".
O projecto da nova igreja "foi oferecido" pelo arquitecto Troufa Real, explica o padre, que, num folheto distribuído à população, acrescenta que o processo se iniciou no mandato de Krus Abecassis, "com a cedência do terreno" com cerca de 3.300 metros quadrados junto à Rua de Antão Gonçalves, tendo a obra sido aprovada já na presidência de Santana Lopes.
Nesse folheto explica-se que o projecto de Troufa Real (que o PÚBLICO não conseguiu ouvir) é constituído por seis blocos, cujas cores se relacionam "com o imaginário dos Descobrimentos e valores simbólicos da Nação indiana". No centro da composição haverá uma torre (com campanário), que, de acordo com o pároco de São Francisco Xavier, terá "cerca de cem metros" e só será construída numa segunda fase.
A igreja propriamente dita, com capacidade para 450 pessoas sentadas, "tem a forma de uma caravela" e está previsto que seja dourada, cor que António Colimão admite que seja alterada por questões orçamentais. Haverá ainda um edifício para os serviços paroquiais e residência do padre, um quarto bloco dedicado à formação (em laranja), um quinto para receber conferências (em verde) e um último, a construir numa terceira fase e separado dos restantes por "um paredão" vermelho, para instalações de apoio social para crianças e idosos.
António Colimão admite que se trata de um projecto "polémico, no sentido em que é arrojado" e manifesta a convicção de que "vai ser um edifício emblemático na cidade".
...
Bom, aqui está o primeiro Velho do Restelo a jogar a primeira pedra contra essa pesada herança (que só podia ser de quem é, diga-se). À parte a inoportunidade do empreendimento - quando a Fé se transformou em fé, e quando, por ex., o Patriarcado tem São Vicente de Fora fechada porque está a cair aos bocados - e a zona do Restelo onde o mesmo será feito não ter já nada a preservar (veja-se a foto Google Earth), a verdade é que pelo que é dito no artigo há 2-3 constatações de facto:
- No desenho mostrado na foto do Público, e se nada tivesse sido dito antes, seria de crer que se tratava de um daqueles empreendimentos dignos de Ceaucescu, mas, voilà, sob a forma de "templo dourado", cruzamento de religiões em honra da vida e obra São Francisco Xavier, e por isso, talvez com um campanário/minarete de 100m de altura (mas isso são questões de outro foro) - um projecto assim só podia ser oferecido!;
- Parece-me estranho que a população de São Francisco Xavier já tenha juntado 1 milhão de € para o bolo de 3 milhões. Não fazia ideia de tanto benemérito naquela zona (será que também querem ajudar Caselas? Será que estarão disponíveis para fazer aquilo a que a CML e o MC se recusam fazer e salvsr a Casa da Rua de Alcolena, ou é demasiado esotérica para alguns? Será que querem ajudar a Sé de Lisboa? São Vicente de Fora? São Julião? Santo Amaro? São Domingos? Nossa Senhora da Conceição Velha? O Santíssimo Sacramento? São José Carpinteiro? São Cristóvão e São Lourenço? Santo Estêvão? É que as respectivas igrejas estão em muito más condições...);
- Parece-me ainda mais estranho que o projecto não tenha já caducado, pois se foi aprovado há mais de 5 anos (e foi-o em sessão de CML? é que se não foi talvez seja já ... nulo), então é bom que volte a ser aprovado em sessão de CML.
E pronto, que venham outras pedras.
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