A Avenida do Brasil em Lisboa é um triste exemplo de como temos deixado o espaço das nossas cidades ser conquistado pelo automóvel. Esta avenida é particularmente interessante por ser uma avenida (1) moderna, (2) larga, (3) numa das áreas onde houve planeamento urbano digno desse nome, (4) central, (5) com metro a 300m, (6) servida por imensos autocarros, (7) foi abençoada pelo plano de ciclovias, resumindo, teria tudo para ser um bom exemplo.
7. Pilaretes
Existem ocasionalmente alguns pilaretes ao longo da Avenida, mas o seu propósito não é bem claro. Estes parecem garantir que ninguém estacione em frente a entradas de garagens. O estacionamento no resto do passeio é bem-vindo:
Estes dizem que há um bocadinho do passeio onde não se deve estacionar:
Os seguintes (que já mereceram um post) têm uma mensagem muito clara: estacionar no passeio não é problema, desde que não se tape a publicidade.
8. "Mas há falta de estacionamento"
Se cabe aos moradores arranjar um local para morar, e aos lojistas um local para venderem, não percebo porque haveria de caber à câmara arranjar espaço para estacionar... Mas enfim, talvez a razão pela qual os proprietários acham que há poucos lugares seja porque estes venderam os espaços que havia disponíveis para outros fins, com óbvio proveito próprio, como por exemplo para comércio:
9. "Ciclovia"
A "ciclovia" foi criada por gente com boas intenções que infelizmente se teve que submeter servilmente ao automóvel. Não se podendo roubar espaço ao automóvel, meteu-se a "ciclovia" no passeio.
E sejamos justos, não chega a ser uma ciclovia. São uns bocados de passeio pintados de vermelho,
sendo que nos bocados não pintados o ciclista é convidado a meter-se pelos espaço exíguo dos peões - nunca pelo meio do automóvel:
Nos cruzamentos seria complicado determinar o percurso da ciclovia, de modo que mais vale deixar o ciclista desenrascar-se. Neste caso parece-me que a ideia é que o cruzamento seja sobrevoado, já que não existe ciclovia de um ponto ao outro:
Sendo que se optou por uma ciclovia bi-direcional (o tipo de ciclovia mais perigosa), também não há preocupação com a segurança nos cruzamentos. Os carros não são avisados que vão cruzar uma ciclovia quando viram à direita:Há ainda obstáculos colocados pela câmara (nunca vi pilaretes no meio da ciclovia noutros países)
e obstáculos tolerados pela câmara.
Quando tentei circular na ciclovia perdi a conta ao número de sinais de perda de prioridade que existem (como se vêem em algumas fotos acima). Uma via a direito com constantes perdas de prioridade, isso chega a ser uma via para circular?