Tenho um irmão com alma de poeta, uma presença de espírito invejável, um coração enorme e uma vontade cúmplice de evidenciar, por meio da sua palavra, a liberdade e a responsabilidade que é VIVER...
Ju, maridão da Vanessa(diga-se de passagem também cúmplice dessa arte e se diverte muito com os devaneios dele) e pai da minha pequena Sophia, ele tem se revelado aqui nesse mundinho onde as palavras alcançam uma dimensão imensurável de poder e magia.
Eu gostaria de respondê-lo, primeiramente, dizendo que temos além do prazer, a obrigação de fazê-lo: FALAR ou ESCREVER, não importa. Não podemos nos acovardar diante da realidade opressora de uma grande maioria que não tem coragem nem condições para fazê-lo. Sejamos então, os ouvidos dos outros, desmascarando e sendo o estorvo que não se calará JAMAIS...
E gostaria de responder também com a poesia de Paulo Henriques Britto, um poeta carioca e professor universitário que desenvolve sua arte com autonomia admirável, evidenciando que o território da poesia é de íntima estranheza... Um prosador poético que com sua magia nos torna cúmplices, mesmo que seja pela IRONIA...
De Vulgari eloquentia
por Paulo Henriques Britto
A realidade é coisa delicada,
de se pegar com as pontas dos dedos.
Um gesto mais brutal, e pronto: o nada.
A qualquer hora pode advir o fim.
O mais terrível de todos os medos.
Mas, felizmente, não é bem assim.
Há uma saída - falar, falar muito.
São as palavras que suportam o mundo,
não os ombros. Sem o "porquê", o "sim",
todos os ombros afundavam juntos.
Basta uma boca aberta
(ou um rabisco num papel)
para salvar o universo.
Portanto, meus amigos, eu insisto:
falem sem parar.
Mesmo sem assunto.
E para terminar, quero parafrasear Paulo Henriques...
Portanto, meu irmão e amigos, eu insisto:
escrevam sem parar.
Mesmo sem assunto...
Desabafo da Escrevente...
Carla Stopa