Para escrever
Afronto o ponto
De partir do início do meu fim
E começo mesmo aqui.
Apago os contornos
E ultrapasso os limites
Dos olhos da inquisição.
Varo os umbrais da memória
E ultrajante, afronto a história.
Sonho os castelos e as masmorras
Da minha alma.
Aprisiono-me e liberto-me
Ao som dos pássaros que invento
Para me alegrar no dia triste.
Voo com as estrelas,
Sobrevoo os terreiros
De laranjais floridos
Com cheiros de flores e de ti.
Invento-te na intenção
de Pierrots e Arlequins.
E eu, Colombina,
de vestido de festa,
tomo-te meu
no jardim da casa do rei.
Ousadia!
No jardim da casa do rei?
E se ele vê?
Sem medo,
Que os olhos do rei não entendem de alma.
Não podem ver-me a alma.
É nela que vivo imagens
Perfeitamente confiáveis
De amores e de toda ousadia sonhável...
E, além do mais tudo,
Em alma de poeta
Quem não deve não teme,
Pelo contrário,
Escreve...
Escrevência que não se contradiz jamais...
Porque poeta inventa,
Mente a dor
E simula a intenção de alegria
Só pra não morrer de dor...
Nem de amor.
Pela Escrevente...
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