Editorial
Quem escreve literatura fantástica sabe que não tem um mercado comprador por aí além.
É um facto que pagar pelo acto de escrever é só por si algo que ainda não faz parte de muitos dos usos e costumes do panorama editorial português. De modo que ter uma oportunidade e um veículo como o NOVA presente no horizonte, tornou-se importante. Tanto mais porque possibilita aos autores uma via de correcta compensação pelo seu trabalho, como também aponta para uma mais correcta postura editorial e de mercado.
Nos diversos géneros do fantástico isto é particularmente sentido. Quando fui convidado pelo Ricardo Loureiro para o trabalho editorial (e o que mais houvesse) na revista, na sequência da sua aceitação do meu conto O Animal que também podem ler neste número, senti que esse pequeno pormaior era um dos factores de distinção que urgia reclamar para um canto literário ainda a braços com bastantes dificuldades de expansão e implantação. Mas também outras coisas me fizeram aceitar alegremente a proposta: o trabalho de ler e avaliar textos e a prática no NOVA de fazer um trabalho editorial mais «à americana». Porque no nosso mercado não há uma tradição de análise e discussão dos textos com os autores de modo a produzir melhores produtos finais; infelizmente, ainda há algum estigma decorrente de muita gente pensar que a «sua» obra é intocável e/ou que um escritor tem o «direito absoluto» ao seu texto.
Ora, a realidade é que, primeiro, não existem textos perfeitos; segundo, que «mesmo no
melhor pano cai a nódoa»; e terceiro, be m importante, é que a literatura é uma arte de constante avaliação por outrém, ou seja, todos avaliam todos, desde críticos a editores, de autores a revisores, e acima de tudo, todos estes são avaliados pelos leitores.
E os leitores são a alma deste negócio. Sem ele s o escritor, o editor, e todos os outros, nada
são. A literatura fantástica é uma área especialmente vocacionada e alimentada pelos seus leitores e fãs, mais do que qualquer outro género (ou não-género) literário, de modo que agradar-lhes, ao mesmo tempo que se lhes proporciona uma garantia de qualidade, é algo que assume ou pode a ssumir um cariz de missão, coisa que o NOVA respira e transpira. Procurar traduzir bons autores, e publicar os valores nacionais é algo que faz parte da filosofia editorial deste produto que têm diante dos olhos.
E se esse trabalho deu frutos! João Barreiros, João Ventura, Douglas Smith e Richard Lovett. Um elenco de luxo para vosso gáudio e voraz consumo. Not bad indeed!
Nuno Fonseca, co-editor Outubro, 2008
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