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quarta-feira, 28 de março de 2012

A relação humano-maquinico no imaginário cinematográfico








INTRODUÇÃO   

CAP. 1 - SIGNOS DE CRIAÇÃO E DESTRUIÇÃO NA FICÇÃO CIENTÍFICA: NOVOS MUNDOS, NOVAS FORMAS DE VIDA.

1.1 O movimento cyberpunk   
1.2 A figura do ciborgue no imaginário de ficção científica   

CAP. 2 - O SIGNO METRÓPOLIS E SEU OBJETO: A OPOSIÇÃO ENTRE O HUMANO E O MAQUÍNICO NA REPÚBLICA DE WEIMAR

2.1 A ficção científica e o pós-guerra   
2.2 Expressionismo cinematográfico alemão   
2.3 A estética expressionista e as vanguardas modernas   
2.4 O signo arquitetônico em Metrópolis   
2.5 Representações do tempo em Metrópolis   
2.6 Maria: o ser humano ideal e a metáfora da Torre de Babel   
2.7 Robotrix   
2.8 O híbrido Robot-Maria: criação e destruição na República de Weimar
2.9 Os interpretantes de Metrópolis   

CAP.  3 - BLADE RUNNER E A FLUIDEZ NA RELAÇÃO HUMANO-MÁQUÍNICO

3.1 O desenvolvimento da Teoria Cibernética
3.2 Deckard: um observador no caos urbano   
3.3 O signo arquitetônico em Blade Runner: um precursor do     ciberespaço
3.4 Os interpretantes de Blade Runner   

CAP. 4 -     MATRIX E O ALTO NÍVEL DE INTERAÇÃO SIMBÓLICO ENTRE O HUMANO E O MAQUÍNICO

4.1 A cultura digital   
4.2 O advento do pós-humano   
4.3 O ciberespaço e o predomínio do legi-signo simbólico   
4.4 Causação final, mente e mediação em Matrix   
4.5 Os interpretantes de Matrix   

CONSIDERAÇÕES FINAIS   
REFERÊNCIAS


A relação humano-maquinico no imaginário cinematográfico -Maristela Sanches Bizarro [ Download ]

terça-feira, 27 de março de 2012

Cyberpunk 2.0 - Fiction and Contemporary




Contents
INTRODUCTION: THE MATRIX RELOADING (update) 
FOREWORD: WHAT DOES THE FUTURE RESERVES TO SUCH A PRESENT? (update) 

I
INTRODUCING THE CYBERPUNK IMAGINARY
CYBERPUNK – BETWEEN PUNKS AND CYBORGS
WHY CYBER?
AND WHY PUNK? 
THE RELEVANCY OF CYBERPUNK
ABOUT CYBERSPACE AND THE MATRIX
THE CYBERPUNK VISUAL ARTIFACTS
THE CYBERPUNK PREMISES

II
FAMOUS CYBERPUNK ICONS 
BLADE RUNNER: RIDLEY SCOTT’S 1982 MOVIE 
NEUROMANCER: WILLIAM GIBSON’S 1984 NOVEL

III
OTHER CYBERPUNK FICTION
COMICS
AKIRA 
DARK MINDS (update)
GHOST IN THE SHELL
MOVIES 
DARK ANGEL (update) 
ESCAPE FROM NEW YORK 
GHOST IN THE SHELL 2: INNOCENCE (update)
JOHNNY MNEMONIC 
MAX HEADROOM 
STRANGE DAYS 
TERMINATOR 2 3-D: BATTLE ACROSS TIME (update) 
TERMINATOR: THE SARAH CONNOR CHRONICLES (update) 
THE MATRIX TRILOGY (update) 
THE TERMINATOR 
TOTAL RECALL 
UNTIL THE END OF THE WORLD
SONGS 
NEUROMANCER (BILLY IDOL, 1993) 
SHOCK TO THE SYSTEM (BILLY IDOL, 1993) 
VIDEOGAMES 
ANOTHER WORLD
BENEATH A STEEL SKY
BLADE RUNNER
CYBERSPACE
DELTA V 
ENTER THE MATRIX (update) 
GHOST IN THE SHELL 
INTERPHASE 
MIRROR’S EDGE (update)
SKYNET (update) 
SYNDICATE/SYNDICATE WARS
THE MATRIX: ONLINE (update)
THE MATRIX: PATH OF NEO (update)
THE TERMINATOR: FUTURE SHOCK (update)

IV
CONTEMPORARY CYBERPUNK FIGURES
ROMANTIC CYBORGS
FUTURE SHOCK: NO FUTURE VERSUS NEW FUTURE
THE END OR GENERALIZING CYBERPUNK?
GRAFFITER: THE INTERTEXTUALITY HIP-HOPPER
RHACKER: WHEN ROCKER AND HACKER ARE CYBORGED
RAVER: THE ACID POLYRHYTHM SURFER
FASHION PUNKS IN MATRIX STYLE (update) 
BANKSY: POSTCOMPUTER GRAFFITI (update)
TETSOO: MOTION DESIGN SHOCKWAVES (update) 
CULTURE JAMMING: REDESIGN CORPORATE LOGOS (update)
TECKTONIK: BRANDING DANCE CULTURE (update)

V
THE ACOUSTIC CYBERSPACES
OF PRESENT DAY’S ELECTROCULTURE
SOUNDSCAPES: THE SONIC LANDSCAPES 
TECHNO: THE CYBERDELIC MUSIC
RAVES: THE CONCENTRATION CAMPS OF THE 90’s 
AFTERWORD: SCANNING THE FUTURE (update) 
REFERENCES 
BOOKS
ONLINE DOCUMENTS (update) 
MUSIC (update)
FILMOGRAPHY
VIDEOGRAPHY (update) 
GLOSSARY (update)






Cyberpunk 2.0 - Fiction and Contemporary [ Download ]
Herlander Elias

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

segunda-feira, 18 de julho de 2011

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Um tributo ao gênero cyberpunk, este curta nos dá uma perspectiva bastante singular de um futuro cyberpunk, onde VR é a droga para fugir da dura realidade.

 

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Entrevista com Bruce Sterling




Gunhead: Sou um estudante e me considero um ciberpunk de segunda geração. Deram-me a missão de entrevistar alguém de uma subcultura para um trabalho acadêmico e percebi que seu nome estava sempre entre os mais citados na comunidade ciberpunk.

Bruce Sterling: O que tem em mente?

Gunhead: Uma das coisas que a comunidade tem falado muito é sobre a possibilidade da vida moderna se aproximar tanto da ficção ciberpunk, que o gênero literário se tornaria obsoleto. Qual sua opinião sobre isso, e como você acha que isso está afetando ou afetará a literatura ciberpunk?

Bruce: Bem, não há realmente como a vida moderna ficar semelhante à literatura, é o que diz Rudy Rucker visionário ciberpunk. O mundo não está ficando mais parecido com um romance de Pat Cadigan. Não vejo isso como um problema sério. Nenhum movimento literário se tornou obsoleto por suas histórias serem muito realistas.

O mundo parece muito com uma ficção ciberpunk na Rússia moderna, e lá nunca ninguém ligou para ciberpunk. Eu diria que as pessoas mais interessadas em ciberpunk hoje são provavelmente do Brasil e da África do Sul. Eu suspeito que seja porque suas sociedades atingiram um estágio de transição técnica, onde as pessoas se surpreendem e se excitam ao ver um monte de ciber-coisas acontecendo.

Pessoas de outros países que poderiam ter sido escritores cyberpunk já não se importam muito sobre nada "ciber." Eles provavelmente não tem muito tempo para escrever novelas. É preciso um determinado conjunto de circunstâncias históricas para alimentar um movimento como esse. Quando revistas, jornais e livrarias estão obsoletos, quando máquinas de escrever manuais são desconhecidas, você pode ser levado a achar que a cultura ciberpunk, criada no início de 1980, é em si mesma obsoleta. Não que os livros fossem de alguma forma proféticos, é que as circunstâncias mudaram.

Gunhead: Então neste caso, você vê o resto da subcultura como a moda, os filmes e a música, sobrevivendo sem este componente literário, ou você acha que terão que inventar algo novo?

Bruce: Bem, claramente o componente literário está em menos apuros do que os filmes e a música. Todas essas empresas que tinham raízes em meios analógicos de produção e distribuição tem problemas semelhantes.

A tendência é para uma cultura que não está nem mesmo ciente que é uma cibercultura, já que uma vez que tudo é ciber, nada é ciber, e o ciber fica banal e chato.

Escritores de ficção científica têm geralmente fortes interesses que não são tradicionalmente literários. Se você for ver, o que, digamos Cory Doctorow, é claro que ele não é um "autor típico”, mesmo assim escreve best-sellers. Neal Stephenson gosta de trabalhar em laboratórios de foguetes. William Gibson desenvolve e vende roupas. Eu passo meu tempo com designers industriais e pessoas que trabalham com realidade aumentada. É muito difícil dividir uma cibercultura em seus componentes. É tudo misturado.

O steampunk parece lidar com isso melhor. Há alguns romancistas steampunk, mas eles não são realmente considerados líderes criativos daquela cena. São as pessoas com hobbies tecnológicos, social-networkers que ditam o ritmo do steampunk.

Gunhead: Se essa é a tendência que a massa, o público em geral está seguindo, então não seria a reação da contracultura, óbvio, ganhar a consciência do 'ciber’? Hoje em dia, quanto mais você navega na rede mais poder você pode exercer, e temos visto algumas revoluções por conta disso... Você acha que ciberpunk se tornará mais sobre política e aspectos técnicos, como ocorre em Pequeno Irmão (Little Brother) de Doctorow?

Bruce: Não, não mesmo. A contracultura é como a sombra de uma cultura, não é o oposto de uma cultura. É como imaginar uma contracultura sem eletricidade. Uma vez que você obtêm energia elétrica confiável, não é mais revolucionária (como a eletricidade foi para Lênin). 

Pequeno Irmão é principalmente sobre sindicatos. Talvez estes sindicatos industriais antiquados, que têm estado em declínio durante décadas, voltem como redes sociais radicais. Eu não diria que Cory está de alguma forma prevendo o inevitável, mas parece ao menos plausível.

Ciberpunks sempre tiveram um ponto fraco quanto à questão dos dissidentes da Europa oriental nos anos 80. Era tipo uma espécie de aliança literária obscura do período. No final desta década havia revoluções e as redes samizdat (prática de tornar público material censurado), mas nunca "exercendo seu poder".

É muito claro hoje que temos grandes divergências entre a antiga estrutura formal de poder - "a comunidade internacional" - e a da internet mundial, que é mais como um flash mob (multidão que aparece em locais pré-determinados e realiza uma atividade e se dispersa em poucos minutos). Haverá muito mais disso por ai, pirotecnia política, mas não faz muito sentido chamar isso de uma situação “ciberpunk moderna”. Os adolescentes líbios no Facebook que querem acabar com Gadaffi, esses caras são os revolucionários modernos, mas não são ciberpunks.

Gunhead: Interessante. Enquanto a comunidade vem tentado constantemente definir o termo ciberpunk e aprender a lidar com a aridez de livros ciberpunk, outros aspectos como a moda e o cinema continuam a evoluir. Bandas e músicos estão descrevendo-se como ciberpunks mais agora do que antes, parece que estamos caminhando na direção de uma subcultura tradicional. Você acha que vai decolar com a garotada, da mesma maneira que dizem a subcultura gótica fez?

Bruce: Não acho. O gótico já era bem sucedido, já tinha elementos comportamentais antigos de contracultura, é mais correto dizer que o gótico persistiu. Nunca houve muitos garotos ciberpunks. Os caras que inventaram o ciberpunk na década de 80 eram adultos em seus vinte e tantos anos, trinta até. Os adolescentes liam, mas ela não foi criada por adolescentes.

Brian Eno disse que a cultura popular evolui em um cenário a partir de uma adaptação mal compreendida do que está acontecendo em algum lugar distante. Existe um caso clássico com Lauren Beukes, que é uma jornalista de música de Cape Town, que após ter uma filha, decidiu tentar escrever romances ciberpunk ('Moxyland' se passava na Cidade do Cabo do futuro e 'Zoo City', uma história de ação que se passa em Johannesburg e venceu o prêmio Arthur C. Clarke de 2011). Lauren começou realmente escrevendo ciberpunk, mas também sobre "township tech", que é um tipo de tecno-music da África do sul. É impossível de prever que algo que foi inventado em Vancouver, Austin ou San Francisco, encontre eco na Cidade do Cabo ou São Paulo ou Belgrado. Pode acontecer ou não, ou pode acontecer em outro tempo e ter outro nome. Muitos críticos vêem o ciberpunk como um eco distante e tardio da Ficção Científica New Wave londrina Talvez tenha sido.

Gunhead: Talvez. Obrigado pelo seu tempo Bruce, foi um prazer conversar com você. Algo a dizer para o pessoal do Cyberpunk Review?

Bruce: Bem, é sempre bom compreender as ferramentas e as abordagens - o que as pessoas criativas estão fazendo e como o fizeram - então colocar coisas legais de que você gosta tudo junto e dizer: "Eu vou fazer desse jeito".
 

http://www.cyberpunkreview.com/

sexta-feira, 3 de junho de 2011

A segunda revolução de Ishii: Electric Dragon 80.000 V



Até a metade final dos anos noventa, o cinema ciberpunk japonês começava a diminuir seu ritmo, tendo sido ultrapassado em termos de projeção internacional, pelos sanguinolentos filmes sobre yakuza  (filmes de Kitano e Mike) que por sua vez também seriam ofuscados pela nova onda sobrenatural, "J-Horror", filmes que surgiram na virada do século, como The Ring (1998) e The Ring 2 (1999) de Hideo Nakata.

Rubber Lover's de Fukui foi o último filme ciberpunk underground dos anos noventa e, possivelmente para sempre. Após a sua conclusão e depois de receber uma versão limitada para o vídeo, Fukui colocou o cinema de lado e foi trabalhar em uma  produtora de vídeo. Tsukamoto mudou também, continuando a sua exploração amadurecida da simbiose entre a cidade e o cidadão. Seus filmes Tokyo Fist (1995) e Bullet Ballet (1998) abstêm-se praticamente de todas as  imagens de ficção científica e terror que havia caracterizado seu trabalho anteriormente.

O ciberpunk seria mantido vivo no Japão graças às indústrias de mangá e anime, até retornar ao cinema na virada no milênio.

O ano de 2001 viu o lançamento de dois filmes que dariam ao subgênero um novo sopro de vida.





O primeiro deles foi Avalon, de Mamoru Oshii, um live-action japonês/polonês sobre um jogo de simulação virtual viciante e que foi o primeiro filme de Oshii, desde seu anime de sucesso internacional, a adaptação cinematográfica de Ghost in the Shell (1995) - que teria uma sequência; Ghost in the Shell 2: Innocence (2004).





Filmado na Polônia com atores poloneses e uma equipe japonesa, o tema de Avalon, a realidade virtual (VR), o coloca no mesmo patamar de vários filmes ciberpunk americanos produzidos durante os anos noventa: The Lawnmower Man (1992), Strange Days (1995), Thirteenth Floor (1999), The Matrix (1999) e eXistenZ (1999) de Cronenberg, por exemplo. Também foi impregnado de diversos lançamentos de animes com temas semelhantes - para o cinema e televisão - que surgiram durante a mesma década que fenômeno da internet começou a fazer o mundo parecer ainda menor; a própria adaptação de Oshii de Ghost in the Shell e Serial Experiments Lain (1998) de Ryutaro Nakamura foram especialmente indicativos destas alterações tecnológicas e culturais. Outro exemplo notável e precursor de muitos dos trabalhos sobre VR, e que iria aparecer na década de noventa é o anime de quatro partes Megazone 23 (1985-1989), que explora a idéia de uma Tokyo pós-apocalíptica existindo como uma simulação virtual futurista.





O segundo filme foi Electric Dragon 80.000 V de Sogo Ishii , que serviu não só para o retorno de Ishii ao cinema punk, após uma década de meditação, mas assim como Burst City, encabeçou uma nova geração de filmes com o espírito do ciberpunk japonês evoluído em um novo e estranho animal.

Tal como aconteceu com o cinema de assalto sensorial de Tsukamoto e Fukui, Electric Dragon 80.000 V é um filme para se experimentar e não assistir, estimulando as partes mais primitivas do cérebro com um tsunami de som e imagem.





A premissa é bastante simples: um rapaz descobre a capacidade de canalizar energia depois de receber várias descargas elétricas em sua terapia de eletro-choque, para tratamento de seu comportamento violento. Agora adulto, com megawatts de energia percorrendo através dele, Dragon Eye Morrison é um investigador profissional de répteis, buscando lagartos perdidos em becos. O equilíbrio é perturbado pela chegada de Thunderbolt Buda, um técnico em reparos que se tornou um vigilante, e que tem os mesmos talentos eletrocondutores, adquiridos a partir de um acidente na infância com linhas de força. Os dois se encontram e lutam pela supremacia sobre os telhados de Tokyo.

Como Burst City, Electric Dragon inclina-se menos para o ciber e mais para o aspecto punk do subgênero, com Ishii seguindo a linha de pensamento que ele empregou com seus vídeos musicais e filmes de concertos durante os anos oitenta.  O título do filme também faz referência aos velhos tempos, em parte derivado de 'Live Spot 20.000 V', um local de concerto, que desempenha um papel central em Burst City e um dos primeiros curtas de Ishii, The Solitude of One Divided by 880.000 (1978).




Electric Dragon é menos sobre o pesadelo e mais sobre a expressão anárquica em desacordo com o universo pós-moderno.

No entanto, alguns traços significantes se mantêm: o gritante cenário opressivo da Tokyo monocromática, a atitude fetichista com as linhas de alta tensão, antenas, dutos de ventilação e outros onipresentes aparelhos tecnológicos, o hiperativo expressionista; seu baixo orçamento, e tática de guerrilha, assim como Tetsuo, o conceito de dois personagens ampliados através da tecnologia, dando-lhes poderes que não podem controlar totalmente, chegando às vias de fato.



 
Dragon Eye Morrison se prende à cama de metal à noite, enquanto a atração deThunderbolt Buddha por dispositivos eletrônicos para auxiliar em suas excursões noturnas, o faz ter que lutar pelo controle de seu próprio corpo.





Os temas psicosexuais que dominavam o ciberpunk japonês do passado foram substituídos por uma noção igualmente primordial de magnetismo animal. A energia elétrica de Morrison é derivada do "Dragão" que está embutido em todas as coisas vivas. Sua fúria desbloqueia a força do dragão, o que significa que ele pode aproveitar a energia sugando-a de eletrodomésticos ou criando a partir de sua guitarra, uma cacofonia de alta tensão de ruído e expressão, anunciando que o espírito punk de Ishii ainda está vivo e bem.

Na verdade, o ator principal Tadanobu Asano, ocasionalmente convidado do conjunto punk-noise industrial Mach 1,67 de Ishii, provê a trilha sonora propulsora do filme.



 
O filme seria usado mais tarde para acompanhar os shows ao vivo do grupo, uma estratégia pioneira de Ishii em 1983, quando fez o curta-metragem Ásia Strikes Back – a porção ciberpunk pouco conhecida e que serviu de modelo para as experiências underground de Shozin Fukui - serviria de fundo para o álbum e a turnê do super grupo punk The Bacillus Army, de vida curta.

Similar a Tetsuo de Tsukamoto, os diálogos em Electric Dragon 80.000 V são mínimos, portanto a narrativa é alimentada principalmente pela imagem e segue um modelo similar, o protagonista é visto adquirir seu poder, o antagonista então o desafia para o combate final. Tudo isso embrulhado em alta energia, um pacote de sessenta minutos sem gorduras.

O filme de Ishii não é só um regresso ao manifesto ciberpunk dos anos oitenta, mas nos lembra que, em vez de ser caracterizado por pesados conceitos da ficção científica, como ocorreu no Ocidente, o ciberpunk japonês era definido por sua atitude de independência, sua vontade de criar algo a partir de nada.


A ascensão do splatterpunk

Nos anos seguintes a Electric Dragon 80.000 V, uma nova onda de filmes de terror/ficção científica de baixo-orçamento começaram a surgir, em grande parte graças ao aumento da distribuição em DVD, técnicas de produção mais baratas e alcance cada vez maior da internet.





Filmes como Hellevator: The Bottled Fools (Hiroki Yamaguchi, 2004), Meatball Machine (Yudai Yamaguchi e Junichi Yamamoto, 2005), The Machine Girl (Noboru Iguchi, 2008) e Tokyo Gore Police (Yoshihiro Nishimura, 2008), inaugurou uma nova era de filmes 'gore', que passaram a ser chamados de splatterpunk.




Estes filmes splatterpunk compartilhavam o mesmo espírito independente de seus precursores, substituindo o 8mm e o 16mm pela tecnologia digital barata, mantendo o orçamento disponível para efeitos de maquiagem, figurino e efeitos. Muitos dos efeitos desses filmes retratando mutação e alteração corporal; são recriações das fusões de metal de carne de Tetsuo e o perverso armamento biológico de Tetsuo II.





Semelhante ao horror "splatstick" de Sam Raimi e dos filmes iniciais de Peter Jackson, os efeitos e transformações inclinam-se para o ridículo, para o efeito cômico. Um personagem mutante em Tokyo Gore Police, possui um enorme canhão de carne contorcida saindo de sua virilha, muito parecido com um pênis ereto, o que sugere - de  uma forma muito irônica - a distorção entre sexo e violência explorada por Tsukamoto e Fukui.




Meatball Machine de Yamaguchi  é talvez o mais próximo do antigo ciberpunk japonês; alienígenas parasitas infectam pessoas desavisadas, que prontamente se transformam em macabros monstros homem-máquina.





De muitas maneiras, essa fase “splatterpunk” é também uma reminiscência da corrida por efeitos especiais que ocorreu com os filmes de terror americano na década de 80; Cronenberg incluído.
Como os efeitos se tornaram mais avançados, uma aparentemente interminável onda de filmes foram produzidos, tentando diferenciar-se um dos outros usando o estilo gore.
O mesmo pode ser dito aqui, pois parece continuamente aumentar à medida que cada novo lançamento surge contorcendo o corpo, se transformando em algo cada vez mais elaborado e de forma grotesca.

Uma razão para isso é que muitos dos diretores dessa fase vieram dos efeitos especiais: Yoshihiro Nishimura que dirigiu Tokyo Gore Police, por exemplo, supervisionava efeitos especiais para produções gore modernas incluindo Machine Girl e Robot Geisha (2009) de Noboru Iguchi.



Na verdade, muitos desses filmes foram feitos através da mesma Fundoshi Corps, uma produtora fundada por Nishimura, Iguchi e o produtor de cinema Yukihiko Yamaguchi, que se especializou em produções baratas. Este provou ser um modelo de negócio bem sucedido, e que está permanentemente alimentando uma fanbase internacional, à procura de conteúdo pervertido, violento e estranho.

As pedras de toque do erotismo e perversão combinados, também estão presentes.
No entanto, renunciaram o tecno-fetichismo em favor do contemporâneo V-Cinema (feito para o vídeo) e do Pink film (cinema erótico). Machine Girl, por exemplo, utiliza imagens típicas, como a estudante japonesa - um conceito popular para a indústria de anime, manga e pornografia japonesa - e leva a novos níveis abjetos como o hardware de seus membros decepados concedendo-lhe a capacidade de crescer armamentos a partir de sua coluna vertebral; tudo com a saia levantada, é claro.





Infelizmente, parece que live-action ciberpunk japonês afastou-se da origem ousada, do underground experimental de onde veio. O resto de suas idéias são utilizados no gore violento, feito para chocar, desprovidos do potencial imediato e filosófico de seus progenitores.

O movimento, que fora uma expressão de atitude, das preocupações e da frustração com o mundo, do jeito que está estruturado e da tecnologia utilizada - e não apenas a exploração de uma zona cinzenta entre a ficção científica e o terror - parece ter desaparecido.

No entanto, em 2009 Shinya Tsukamoto anunciou seu retorno ao mundo do ciberpunk com um terceiro projeto Tetsuo.





Tetsuo: The Bullet Man, não é apenas um retorno, mas um novo começo para Tsukamoto; seu primeiro filme em inglês, uma tentativa de expor o mundo demente de Tetsuo para um público mais amplo. Ele estreou em 2009 no Festival de Veneza com destaque. Exibições subseqüentes como a de 2010 no Tribeca Film Festival, por exemplo, têm encontrado uma crítica favorável, mas um hiato fundamental permanece...

Como a cena punk que o originou, o cinema ciberpunk japonês era pertinente e indissoluvelmente ligado a uma determinada hora e lugar. Mais do que um subgênero, ele abordava a ansiedade daquele tempo, em que outras formas de expressão convencionais falhavam.

Mas agora que estamos no tecnologicamente dependente século 21 - e o pesadelo pós-humano agora é uma triste realidade - poderá este cinema ainda ser relevante?





Midnight Eye - The World of Japanese Ciberpunk Cinema

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Quando a angústia mental ultrapassa a dor física: 964 Pinocchio e Rubber's Lover



Na esteira do sucesso surpreendente de Tetsuo no Japão e internacionalmente, alguém poderia pensar que ele teria agido como um catalisador, desencadeando uma onda de filmes do mesmo estilo.

Em retrospecto, não foi isso que ocorreu.

O ex-colega Shozin Fukui foi um dos poucos a aceitar a desafio. Como Tsukamoto e Izumiya antes dele, Fukui é um discípulo do cinema independente de Sogo Ishii do final dos anos setenta,  bem como da música que o inspirou. Nascido em 1961, e após se mudar para Tokyo no início dos anos oitenta,


Shozin Fukui



Fukui rapidamente tornou-se encantado com a cena musical punk underground que florescia e começou a formar sua própria banda com os amigos. Estes mesmos amigos serviriam como elenco/equipe em suas primeiras incursões no cinema, como Metal Days (1986) e os curtas Gerorisuto (1986) e Caterpillar (1988).

Depois de servir como assistente de direção tanto para Tsukamoto quanto para Ishii - em Tetsuo e no curta-metragem The Master of Shiatsu (Shiatsu Oja, 1989), respectivamente - Fukui começou a escrever e dirigir seus próprios filmes.

O primeiro foi 964 Pinocchio (1991), mesmo não compartilhando as mesmas tendências filosóficas de Tetsuo, dois anos antes, foi um manifesto eficaz para as preocupações temáticas de Fukui, como o impacto do aumento tecnológico sobre a natureza frágil e potencialmente volátil da mente humana.




A história concentra-se no protagonista, Pinocchio, um indivíduo que sofreu uma lavagem cerebral, cientificamente modificado para funcionar como escravo sexual. Após ser desprezado por seus clientes, que demandam por serviços sexuais de uma fêmea, Pinocchio vaga nas ruas da Tokyo de hoje, onde encontra Himiko, uma indigente. Ela oferece proteção a Pinocchio, que começa a se apaixonar por ela, estimulando o retorno de memórias previamente apagadas. Quando Pinocchio percebe o que aconteceu com ele, e sabe quem é o responsável, ele planeja vingar-se. Enquanto isso, sua empresa proprietária, organiza um grupo de busca para recuperar seu produto desaparecido.




964 Pinocchio é frequentemente comparado a Tetsuo por entusiastas ciberpunks e acadêmicos. Ambos os filmes representem a estréia em longas de Fukui e Tsukamoto respectivamente, e ambos os filmes apresentam a execução da mesma forma enérgica e maníaca. Pode-se argumentar que o estilo de Fukui está em débito com Tsukamoto, devido à sua atuação como assistente do diretor. O curta anterior de Fukui, Caterpillar – realizado ao mesmo tempo que Tetsuo – possui características técnicas semelhantes, incluindo a filmagem hiperativa na mão e animação em stop motion, bem como imagens semelhantes de montes de sucata, a onipresente vida urbana e de carne mesclando-se com as máquinas.

No entanto, existem algumas diferenças importantes. A mais evidente é inerente a mise en cene do filme: 964 Pinocchio é colorido (com exceção de sua abertura), enquanto Tetsuo é preto e branco - apesar de sua seqüência ser em cores. Tematicamente, ao contrário da noção de tecnologia de Tsukamoto como uma doença orgânica mutante, o  filme de Fukui retrata o corpo transformado como o resultado direto da intervenção do homem, similar aos primeiros trabalhos de Cronenberg - Shivers (1975) e Rabid (1977), por exemplo -, bem como Frankenstein, de Mary Shelley (1818). Como o monstro na obra seminal de Shelly, Pinocchio é à principio alheio à sua condição, mas o mundo real faz com que ele perceba sua existência artificial, e parte em busca de vingança contra seu criador. Ao contrário do monstro de Frankenstein, Pinocchio não foi construído a partir do zero, ele é o seu homônimo reverso - um ser humano tornado produto através da neuro-adulteração e limpeza de sua memória.

Fukui parece sugerir que a modernidade está programando a população a se preocupar com nada além de  sexo, um sentimento que é facilmente perceptível na mídia e na publicidade.

Pode-se argumentar então, que 964 Pinocchio possui um texto ciberpunk mais preciso, oferecendo uma postura especulativa sobre o potencial das tecnologias futuras, ou seja, a alteração da vida através da assistência cibernética. Como sugerido em Tetsuo, essas mudanças tecnológicas causam um impacto perverso sobre o sexo, Pinocchio é compelido a mamar nos seios de Himiko devido a uma lesão cerebral - sem conhecer nada melhor - enquanto a namorada do assalariado é atraída para o recentemente desenvolvido pênis-broca de seu amante.

A conclusão de 964 Pinocchio vê a transformação para além das fronteiras esotéricas como previamente estabelecido. Como o fetichista de metal e o assalariado, Pinocchio e Himiko - vítimas do flerte científico das corporações - se fundem de maneira e estilo que lembra Bad Taste (1987) de Peter Jackson, sugerindo o início de uma nova e tecnologicamente alterada meta-raça, em consonância com a filosofia-corpórea “New Flesh” de Cronenberg.

Devido ao sucesso mundial de Tetsuo - junto com o trabalho de outros emergentes, como o corajoso Violent Cop (1989) de Takashi Kitano - 964 Pinocchio teve uma pitada de sucesso cult, graças a demanda internacional pelo cinema ultra-violento japonês.

Tomoo Haraguchie


Empresas como a Toho Film começaram a atender a este novo interesse pela distribuição especializada no segmento de baixo orçamento sensacionalista. Um destes beneficiados foi Tomoo Haraguchie seu Mikadroid: Robokill Beneth Disco Club Layla (1991), um ciber-horror steampunk sobre um super-soldado tecnologicamente alterado construído por cientistas japoneses durante a segunda guerra mundial, que fora enterrado e é reativado para um massacre violento.




Praticamente inédito, o filme é talvez mais notável por caracterizar uma virada na qualidade do então pouco conhecido ator Kiyoshi Kurosawa, que mais tarde viria a dirigir obras de renome internacional, como Cure (1997), Pulse (2001) e Tokyo Sonata (2008).


Kiyoshi Kurosawa


Ambos, 964 Pinocchio e Mikadroid, seriam ofuscados pelo lançamento de maior orçamento de Tsukamoto a sequência de Tetsuo, que chegou no ano seguinte. Entretanto, Fukui já planejava o próximo projeto, que levaria cerca de cinco anos para gestar e executar.






O resultado foi Rubber Lover (1996), segundo e até o momento, último filme de Fukui, um pesadelo subterrâneo pós-industrial de experimentação humana e destruição do corpo.





Um grupo clandestino de cientistas realizam experimentos em cobaias humanas, indigentes retirados das ruas, visando destravar seus poderes psíquicos. Isto é conseguido através de uma combinação de interfaces de computador, privação sensorial e injeções regulares de éter, geralmente resultando numa morte horrível e explosiva.

Muitas vezes, interpretado como uma prévia de 964 Pinocchio, Rubber's Lover, apesar das semelhanças também representa um contraste distinto. As diferenças mais aparentes são o uso da fotografia preto e branco - uma decisão tomada por Fukui, que não gostou do visual SM quando filmado em cores - e do ritmo subjugado, favorecendo a atmosfera ao invés do impulso. No entanto, seu tropos pré-estabelecido permanece: tecnologias invasivas; práticas sexuais bizarras como um subproduto de tais tecnologias; equipamentos retrógrado/obsoletos; mutação, e um fetiche por fluidos corporais - pus, sangue, vômito, etc.


Como Tetsuo, Rubber's Lover representa a criação de uma nova ordem mundial através da simbiose corpóreo-tecnológica: a co-existência biológica entre a carne e o metal e a destruição das barreiras físico-mentais, respectivamente.

Rubber's Lover também tem grande prazer em distorcer as fronteiras e explorar a zona cinzenta entre sexo e violência; muito mais do que em 964 Pinocchio.

Em uma cena se vê um personagem rasgando freneticamente a carne de outro, meio  que copulando na cama de um hospital, enquanto um babaca corporativo ri no canto da sala.




O bem sucedido Motomiya – um ex-membro da equipe que se tornou viciado em éter - usa um estranho traje de borracha sado-masoquista acrescido com extensões tecnológicas improvisadas como monitores, fios e aparelhos ultrapassados. Seu sistema de injeção de éter é especialmente fálico e de uso retal, para "efeito imediato", sugerindo uma noção de perversão que transcende o sexo e a violência, para os domínios da ciência e tecnologia.





A visão pervertida da ciência de Rubber's Lover não é apenas eco do imaginário e dos temas de Death Powder de Izumiya  (e em menor medida, Mikadroid de Haraguchi), mas vem da vida real,  experimentos humanos realizados pelos militares japoneses da infame Unidade 731 em prisioneiros de guerra chineses durante a década de trinta e quarenta, que descreve um cenário apocalíptico que vê a raça humana se desfazer na busca do conhecimento científico e superioridade tecnológica.

O vício de éter de Motomiya é causado por um de seus colegas de pesquisa. O mesmo colega que mais tarde seqüestra e estupra uma representante do benfeitor do projeto, enviada para supervisionar seu desligamento. Ela também é subjugado pelo DDD  (Digital Direct Drive), o aparelho utilizado nos testes do projeto. O fascínio de Fukui com a fragilidade e destrutibilidade da mente humana começa a dar frutos, pois Motomiya enlouquece sobrecarregado com os recém desbloqueados poderes psíquicos que não pode controlar.

Como em 964 Pinocchio, Rubber's Lover examina a transformação mental que as tecnologias invasivas causam sobre a condição humana. Isto está em contraste com Tetsuo de Tsukamoto, centrado essencialmente na transformação física, causada pelos mesmos fatores, o que talvez sirva como a principal diferença entre estes filmes dentro deste subgênero.


A seguir: A segunda revolução de Ishii: Electric Dragon 80.000 V

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Metal-morfose: Tetsuo: The Iron Man e Tetsuo II: The Body Hammer





Frequentemente reverenciado como o exemplo definitivo de ciberpunk japonês extremo e um pilar fundamental na reconstrução do cinema japonês contemporâneo, Tetsuo: The Iron Man é uma história de sucesso internacional desconcertante, levando muitos céticos do futuro cinematográfico do Japão a voltar sua atenção para o oriente. Com pouco mais de uma hora de duração, Tetsuo foi uma lufada de ar fresco; um assalto sensorial que renovou o cinema japonês e lançou seu diretor, Shinya Tsukamoto, que passou a ser um dos mais respeitados artistas do país.

Durante sua turnê inédita e prolongada pelos festivais internacionais de cinema, não só Tetsuo foi apontado como uma nova e excitante possibilidade do cinema japonês contemporâneo, mas o incluiu perfeitamente em um panteão de diretores como Ridley Scott, James Cameron, David Lynch, David Cronenberg, Sam Raimi e Clive Barker.

Sua opção cinematográfica cinética, edição rápida e bricolagem, com um orçamento zero para efeitos especiais, serviu como um convite, um chamado às armas se preferir, para cineastas independentes para produzirem um cinema único e desafiador.

No entanto, o estilo inovador do filme se deve na sua maior parte, a promover a fusão de uma variedade de influências, incluindo o da câmera hiperativa de Ishii, o terror corpóreo de Cronenberg em Videodrome (1983) e The Fly (A Mosca, 1986); as perversões biomecânicas do artista HR Giger, a literatura de JG Ballard - particularmente Crash (1973) - e a animação stop-motion de Jan Svankmayer.

Há também um sentimento estranho de nostalgia da era do kaiju (filmes de monstro) e de filmes e séries de televisão que Tsukamoto assistiu enquanto crescia numa Tokyo pós-reconstrução, em processo acelerado de expansão e modernização, na preparação para hospedar os Jogos Olímpicos de 1964.

Como Ishii, seu desenvolvimento precoce passou pelo 8 mm quando adolescente nos anos 1970, usando seu irmão mais novo e amigos, como elenco/equipe. Na idade adulta, o cinema de Tsukamoto virou sua atenção cada vez mais em direção ao palco, formando uma trupe de teatro com estudantes universitários. Uma das peças que escreveu seria posteriormente adaptada para um filme, A Aventura de Denchu Kozo (1987) de seu teatro batizado 'Teatro Kaiju'. Foi este mesmo grupo que também trabalhou em Tetsuo, juntamente com um companheiro cineasta, Shozin Fukui, que iria fazer a sua própria ciberpunk durante a década de noventa.

A principal preocupação em Tetsuo é o impacto da tecnologia na sociedade e, posteriormente - e mais especificamente - na forma humana. Tsukamoto sugere que a tecnologia é uma doença, irrompendo o inesperado e o inexplicável como evidenciado na transformação do assalariado - ao mesmo tempo lembra The Fly de Cronenberg e Akira de Otomo - onde um fragmento de metal é o ponto de partida para a mutação. Como o personagem Seth Brundle, o assalariado sente tanto repulsa quanto curiosidade quanto ao que ele está se transformando e, coincidentemente, sua evolução partilha o homônimo do caráter da transformação, como Akira: Tetsuo significa "homem de ferro" ou “pensamento claro/homem filosófico”. Tsukamoto abraça ambas as interpretações no título de seu filme. Por um lado é a transformação literal da carne  em ferro e por outro lado, a investigação filosófica sobre a tecnologia consumindo a natureza e a simbiose entre a cidade e o cidadão.







No entanto, uma investigação mais minuciosa revela outras preocupações, como aquela evidenciada por Steven T. Brown, autor de “Tokyo ciberpunk: Pós-humanismo na cultura visual japonesa” na qual diz: "... a mistura da carne e do metal em Tetsuo  “não é apenas intensamente violenta, mas também obscuramente erotomecânica e tecno-fetichista, que evoca práticas e prazeres sexuais sados-masoquistas, bem como os medos da sexualidade masculina e feminina fugirem ao controle”.

A este respeito, Tsukamoto dá ao terror e ao erotismo igual atenção: o assalariado tem um pesadelo envolvendo sua namorada (interpretada por Kei Fujiwara) sodomizando-o com um apêndice mecânico semelhante a uma cobra, amarrado à sua virilha. Essa reversão de gênero não é apenas uma das temáticas favoritas de David Cronenberg, mas também as alusões do diretor canadense Ballardian quanto a hipermasculinidade e conotações homoeróticas.


Quando o antagonista do filme, Yatsu (significa 'Cara') - um fetichista de metal (interpretado por ele próprio, Tsukamoto) sofrendo com a mesma aflição homem-máquina  - chega ao apartamento, ele presenteia com flores o assalariado, numa paródia de galanteio que acaba em assimilação física.



 

Este Eros mecânico continua quando, em um estágio inicial de sua transformação, o pênis do assalariado torna-se uma oscilante broca que usa na sua namorada com resultados gráficos. Ao final do filme, ele batalha e funde-se com o fetichista de  metal, e o resultado é uma enorme monstruosidade qual um tanque de guerra, com o objetivo sugerido de dominação do mundo. Sua recente natureza irreprimida efetivamente destrói seu relacionamento heterossexual, apenas para começar um  novo relacionamento com outro alguém - outro macho - passando por mudanças semelhantes de seu corpo.

A capacidade metafórica do filme é obtida principalmente através da execução abstrata e surrealista que tem semelhanças com Un Chien Andalou de Luis Buñuel (1929) - como foi observado por Brown em Tokyo ciberpunk (p.60-64) - e Eraserhead  de David Lynch. Esta última é uma comparação freqüente, levando muitos a se referirem a Tetsuo como o "Eraserhead japonês". Embora ambos os filmes compartilhem uma fidelidade ao pós-humanismo e da iconografia industrializada,  Eraserhead queima mais lentamente, com uma abordagem mais atmosférica. Tetsuo por outro lado, adota uma postura surpreendentemente agressiva desde o início; combinando câmera na mão, edição rápida e a pancada musical do compositor  Chu Ishikawa - que serviria como compositor para projetos futuros de Tsukamoto - para criar um ataque invasivo sensorial.

Um ethos transitando para a próxima década do cinema underground.

Depois de completar seu segundo longa, a adaptação do mangá Hiruko, o Duende (1990), Tsukamoto retornou ao mundo do mutante de sucata, com um segundo filme sobre Tetsuo. Tetsuo II: The Body Hammer (1992), mais um complemento do que  como uma sequência.





É uma nova interpretação da mesma premissa básica - a transformação homem-máquina -, mas em uma escala maior. Tomorowo Taguchi reinterpreta seu papel como outro assalariado. Dessa vez ele vive em um  apartamento de luxo, estéril, com sua esposa e seu jovem filho. Sua metamorfose é acionada quando seu filho é seqüestrado por uma facção de skinheads, que querem aproveitar os poderes cibernéticos do assalariado, para que possam aumentar os  armamentos biológicos de seus corpos, a fim de provocar destruição em massa.

Se o ethos do primeiro Tetsuo estava relacionado com The Fly, o segundo filme talvez carregue mais na similaridade com Scanners (1981) de Cronenberg , do modo como o assalariado trata seu irmão (interpretado por Tsukamoto), o líder do grupo skinhead. Ao fazer isso, Body Hammer afasta-se do horror surreal macabro do seu antecessor e  avança mais em direção ao modelo de ação/ficção científica, embora muitos dos adornos de vanguarda continuam a conectar as idéias. Como resultado, Tsukamoto opera dentro de uma narrativa um pouco mais convencional, em última análise, de  estrutura mais acessível e a inclusão de um orçamento maior significa que ele é capaz de realizar plenamente o cenário de fim de mundo, sugerido nos momentos finais do primeiro filme. Como por desejo de Tsukamoto, Tokyo é arrasada.




 
Como no primeiro filme, Body Hammer confunde a distinção entre forma e conteúdo. Ele também recria os conceitos aos quais pouca atenção foi dada na primeira vez, a obsessão do fetichista de metal com a perfeição física, como sugerido pelas fotos de atletas bem-sucedidos que adornam seu esconderijo, sugere que o culto skinhead consiste de atletas, fisiculturistas e lutadores que levam o treinamento físico ao extremo - um tema que dominará seu projeto cinematográfico subsequente.
É um possível indicio deste fenômeno obsessivo da cultura ao corpo, que surgiu na década de 1980 e que levou mais e mais pessoas a academias, tirando partido de melhorias artificiais tais como cirurgia plástica, numa época onde havia uma forte  ênfase na perfeição física e na beleza.

O filme também aponta para a direção que Tsukamoto iria começar a tomar com as futuras produções: o foco ambiental mudando pouco a pouco da expansão urbana decadente à funcionalidade estéril do centro da metrópole, e com uma ênfase maior na relação entre o assalariado e sua esposa, um casamento destruído por elementos invasivos. O catalisador para a transformação desta vez não é uma infecção ou uma maldição, como sugerido no original, mas o ódio.A perspectiva do filho ser morto pelos skinheads provoca a primeira instância de transformação, que ocorre novamente  quando sua mulher é seqüestrada, fazendo com que várias armas surjam de seu peito e membros. A raiva passaria a transformar os protagonistas de Tsukamoto em futuros filmes, como Tokyo Fist (1995) e Bullet Ballet (1998), embora no sentido figurado, em vez do literal.








A seguir: Quando a angústia mental ultrapassa a dor física: 964 Pinocchio e Rubber's Lover

terça-feira, 31 de maio de 2011

Do punk ao ciberpunk: Burst City, Death Powder e Akira



Do punk ao ciberpunk: Burst City, Death Powder e Akira

Nenhum outro filme capturou a intensidade, o pessimismo, a delinqüência e as bravatas do movimento punk japonês como Burst City de Ishii, uma ousada, impetuosa e anárquica cápsula do tempo do zeitgeist do início dos anos oitenta.

No entanto, apesar da sua esmagadora influência - não só da forma como das convenções do ciberpunk japonês, mas o futuro do cinema japonês contemporâneo como um todo - Burst City permanece desconhecido. É freqüentemente ofuscado pela maior visibilidade, a nível internacional de seguidores de renome: Tsukamoto, Takashi Miike e Takashi Kitano, entre outros, todos em dívida com o trabalho de Ishii de alguma forma.

No entanto, Ishii sempre desempenhou o papel de rebelde: assistia a aula de cinema na Universidade Nihon apenas quando precisava tomar emprestado mais equipamento; desaparecia por longos períodos de tempo; fazia filmes de comprimento comercialmente inviável como os 55 minutos de Electric Dragon 80.000 V (2001) , desafiava os cinéfilos convencionais com seus filmes punk para em seguida desafiar os fãs de seu trabalho com filmes hipnóticos como Angel Dust (1994) e Labyrinth of Dreams (1995).

É este ethos que move Burst City; dirigir através das estradas desertas de Tokyo e terrenos baldios industriais, que são da sua exposição inicial, e o colapso anárquico do seu ato de encerramento.




A estética visual do Burst City é uma mistura eclética de industrialização punk e imagens de deserto pós-apocalíptico que lembra os dois primeiros filmes de Mad Max (1979 e 1981), com alguns enfeites de ficção científica, como os canhões futuristas usados pela polícia para dispersar tumultos, por exemplo.

Burst City porém, vai além da habitual pompa do gênero. Ele tem o imediatismo e a atmosfera de um documentário, mostrando tanto pessoas quanto a música, enquanto usa do cenário distópico ao redor como uma metáfora para a ansiedade, a infelicidade e alienação vivida pelos jovens do Japão na época. Este documentário é reforçado pelo manejo inovador da câmera. Seu uso altamente dinâmico, na mão, quase um fluxo de consciência entrelaçado com a igualmente agressiva edição estilo metralhadora, não só capta a energia e agitação da música - que é muito importante – que influencia bastante Tsukamoto na execução do seu trabalho.




Os ambientes industrializados do filme - os armazéns abandonados e salas de caldeiras, onde as gangues de motoqueiros e as bandas punk residem - se tornaria um aspecto fundamental para o ciberpunk japonês, ao descrever Tokyo como uma favela de concreto. A noção de metrópole como entidade opressora começa a tornar-se evidente aqui e é interessante notar que este filme foi feito no mesmo ano de Blade Runner, que por sua vez, exibe conotações similares. A participação prévia de Ishii no movimento punk lhe permitiu reunir um conjunto impressionante da vida real das bandas punk  japonesas  - The Rockers, The Roosters e The Stalin, entre outras - como parte do elenco, assim como o cantor e compositor dos anos 70, Shigeru Izumiya.


Shigeru Izumiya



Curiosamente, Izumiya também foi creditado como autor do filme e diretor de  arte, sugerindo que tinha uma forte participação na estética de Burst City. Isto serve como um elo vital de como Izumiya iria escrever e dirigir seu próprio filme, um filme que iria passar a cristalizar muitas das convenções e das idéias do ciberpunk japonês que posteriormente seria explorada por Tsukamoto e Fukui.




 Death Powder (1986) de Shigeru Izumiya introduz um visual pouco ortodoxo e abstrato que se provaria instrumento para a execução do futuro ciberpunk japonês. Como Burst City, o som também desempenha um papel vital aqui, ainda que as bases para o assalto sensorial viria a ser definido e refinado por Tsukamoto. Izumiya, como Ishii, possui uma forte ligação musical, cantor popular e compositor, bem como compositor de trilhas sonoras - compôs a música para Ishii em Crazy Thunder Road.





Perdido no purgatório do domínio público há décadas, Death Powder mal existe, disponível somente em DVD pirata e só recentemente segmentos surgiram na Internet. A compreensão ocidental do filme foi em grande parte incoerente e mal sucedida devido a má tradução para o inglês e, como resultado, Death Powder é frequentemente ignorado. No entanto, sua influência é bem clara e é, sem dúvida, o primeiro filme do movimento ciberpunk japonês extremo, exemplificando o surrealismo invasivo corpóreo que se seguiria ao longo dos dez anos seguintes.





Situado em Tokyo dos dias de hoje ou num futuro próximo, o filme acompanha um grupo de pesquisadores e sua Guernica, um andróide cibernético feminino capaz de vomitar poeira venenosa de sua boca. Para Karima (interpretada por Izumiya) é  dada a guarda da andróide, mas que parece perder a cabeça, atacando os outros dois - Noris e Kiyoshi - quando retornam. Kiyoshi inala o pó de Guernica e começa a se transformar em consequência disso. Ela também começa a alucinar na medida que seu subconsciente começa a se fundir. Uma seqüência intitulada "Dr. Loo Made Me" - sugere que a andróide está tentando se comunicar com Kiyoshi - onde vemos o projeto Guernica em seus estágios iniciais, com os três pesquisadores, bem como o excêntrico Dr. Loo, liderando a operação. As alucinações fornecem a Kiyoshi a onisciência, revelando o amor de Karima por Guernica, bem como a investigação de um grupo de homens desfigurados pela carne que se deteriora incontrolavelmente.

O tema da carne, a fronteira entre a vida e a morte e a noção do que significa ser humano entra em jogo regularmente, enquanto o filme deriva de uma situação surrealista a outra. Death Powder levanta uma questão: se você deixa de ser carne, você  deixa de ser humano?







Esta é uma idéia que rotineiramente é explorada no ciberpunk, mas enquanto exemplos ocidentais como Blade Runner e Neuromancer focam nas implicações em larga escala, Death Powder - e a maioria da produção japonesa ciberpunk posterior - aborda as mudanças dentro do indivíduo. No primeiro caso, as tecnologias invasivas já foram realizadas com sucesso na sociedade, tornando-se prática comum.
No entanto, as tecnologias exploradas neste último, ainda estão em seus estágios primordiais, são obras em andamento e extremamente esotéricas, com resultado extremamente volátil e imprevisível.

Death Powder também estabelece a tendência no ciberpunk japonês de colocar as imagens antes de sua narrativa, um aspecto fundamental ao não impor barreiras sensoriais ao estilo de assalto exibido. Como resultado, história e propósito são  evidenciados a partir do que é visto, ao contrário do que é dito, permitindo aos filmes subseqüentes, uma qualidade tonal e filosófica.

Como muitos filmes de espírito semelhante que viriam a seguir, Death Powder destaca a natureza destrutiva e  desumanizante da tecnologia. A grande dica vem do andróide Guernica que partilha o mesmo nome da pintura de Pablo Picasso de 1937, retratando o famoso bombardeio de Guernica pelos aviões nazistas (em apoio a Franco), durante a Guerra Civil Espanhola. O mural de Picasso, mostra uma orgia de corpos retorcidos, animais e edifícios, deformados pela guerra, ou mais amplamente, pela tecnologia depravada que lhe dá este poder. No fim do filme se vê o grupo fundido e contorcendo-se em um oceano de carne monstruosa, a forma humana, consumida e destruída nas mãos da ciência interventora.

Apesar da influência estética e temática de Death Powder, ele passou com pouco alarde e nunca mais foi vista fora do Japão até anos mais tarde. O filme posterior e de espírito semelhante, Android of Notre Dame (Kuramoto, 1988) foi ligeiramente melhor, em parte devido à infâmia que cercou a série de filmes que era parte de uma coleção de sete filmes, conhecido como Guinea Pig series; do gênero exploitation, voltado para tortura, assassinato e outros processos destrutivos, filmes planejados para parecem realistas (snuff movie).





Android of Notre Dame não conseguiu alcançar um público mais vasto e desde então tem se revolvido na obscuridade do culto junto com seus filmes-irmão.





No entanto, tudo mudou quando o ciberpunk japonês começou a rastejar para baixo dos  holofotes internacionais, com uma adaptação em anime para o cinema  do popular mangá de Katsuhiro Otomo, Akira (1988). Embora este artigo se concentre principalmente na produção live-action ciberpunk, a chegada de Akira foi tão importante e influente para o sub-gênero, que precisa ser reconhecido.






Akira conseguiu duas coisas: primeiro introduziu praticamente sozinho, o anime e o mangá para um público global (especialmente no Reino Unido e EUA) e segundo por que perpetuou o ethos ciberpunk em maior escala,  combinando a metrópole néon de alta tecnologia e baixa qualidade de vida de Blade Runner e Neuromancer, com toques de terror. O filme condensa a narrativa do magnum opus gigantesco de Otomo (de seis volumes),  em apenas duas horas e dirigido pelo próprio Otomo. Um marco dentro do ciberpunk japonês, pois foi a primeira vez que um sub-gênero não só teve sucesso comercial no mercado interno, mas também conseguiu encontrar um público estrangeiro receptivo.

Situado entre os indigentes da superlotação da Neo Tokyo futurista, a história gira em torno de motoqueiros assassinos juvenis e melhores amigos, Kaneda e Tetsuo. Durante uma briga com uma gangue rival, Tetsuo é ferido mas é misteriosamente levado por militares e cientistas. Experimentos com alteração química transformam Tetsuo em um semideus com poder psicocinético incontrolável. Ele entra numa fúria destrutiva na busca de Akira, uma entidade muito poderosa que destruiu Tokyo décadas antes.

Parte do sucesso de Akira inevitavelmente reside na atenção ao detalhe e enorme pretensão.
Um orçamento astronômico para um anime na época - cerca de um bilhão e cem milhões de ienes (aproximadamente quatorze milhões de dólares no câmbio hoje) - quantia adquirida através da parceria de várias grandes empresas de comunicação japonesas, incluindo a Toho e a Bandai. Este orçamento propiciou produzir centenas de milhares de células de animação para criar um movimento fluído - especialmente na sua ação - e captar nuances que caso contrário não teriam existido. Otomo também se dedicou ao trabalho de fazer gravação de som sincronizado ao movimento labial, a primeira vez para um anime, resultando em altos custos de produção. O filme estabeleceu recordes de bilheteria de um anime no Japão durante o lançamento no verão de 1988, faturando mais de seis bilhões e trezentos milhões de ienes (aprox. setenta e sete milhões de dólares). Internacionalmente, teve uma exibição limitada nas salas de cinema nos Estados Unidos e no Reino Unido logo após - semeando um imenso culto de fãs ocidentais de que goza até hoje -, mas só conseguindo distribuição em vídeo caseiro no início dos anos noventa.

Temas de mutação, modernidade e efervescência social são abundantes em Akira. A gangue de motoqueiros de Kaneda e Tetsuo são como uma revisão dos delinqüentes vistos em Crazy Thunder Road e Burst City de Ishii, enquanto a para-normalidade de  Tetsuo e sua subsequente transformação, define-o firmemente no território do horror corpóreo de Cronenberg. Sua eventual fusão com o metal - o que resulta em um terrível híbrido homem-máquina que transforma Tetsuo no mestre de um novo universo - não só é evocativa da noção da tecnologia ciberpunk corrompendo a forma humana (neste caso, literalmente), mas também serve como um importante precursor visual para o próximo avanço do movimento.






A seguir: Metal-morfose: Tetsuo: The Iron Man e Tetsuo II: The Body Hammer