terça-feira, abril 23, 2024

POR TODA A VIDA...


 



Quando tinha 16, escrevia o nome dele nas folhas do seu diário, completava páginas e páginas só com aquele nome.
Quando tinha 26, escrevia o nome dele dentro dos pensamentos, em um segredo bem guardado.
Quando tinha 56, desenhava o nome dele na fantasia do momento do prazer, acompanhado ou solitário
Quando fez 66, desenhou o nome dele no seu peito arfante, embaixo dos lençóis que cobriam os dois na cama desarrumada
E depois de tanto tempo, deu adeus sem olhar para trás, para que pudesse continuar a desenhar o nome dele, com o mesmo amor, na eternidade...


 23/04/2024

ENCONTRO INESPERADO

 



Entro na estação do Metrô e passo por ele sem ver. Ocupada eu estava em ligar meu celular. Chega o trem, entro apressada, sento e ligo o celular, mas não dá mais tempo.

Olho o sapato parar na minha frente e ouço a voz:

Não me conhece mais, não quer falar comigo Inez?

Vou subindo o olhar bem devagar...pernas (longas) vestidas na calça jeans, camisa polo e o rosto bonito e sorridente esperando eu responder.

Poxa desculpa, não te vi...sabe sou meio cega sem óculos (eu não podia escolher fala pior!)

Ele se abaixa pra falar comigo, pergunta de um, pergunta de outro, pergunta de mim...

Como está a Fulana, o Sicrano.....e você, casou novamente?

Vou respondendo rapidamente sobre os outros e suspiro por mim.

Botafogo chega, descemos os dois. Eu em casa e ele ainda pra pegar a linha 2.

O papo termina, mas não sem antes me fazer refletir...

Quando um abraço apertado e um sussurro no ouvido te dizendo delícia, te tiram do eixo, do prumo e do chão é porque está na hora de arrumar um peguete, Inez!

Ainda sorrindo aceno tchau e alcanço a rua.

Deixo a brisa apagar o rubor do rosto.

E retorno, finalmente, pra casa.


16/4/2015

quarta-feira, maio 04, 2022

Livre Arbítrio

 



Ninguém rouba uma pessoa da outra. Na verdade a pessoa vai embora por vontade própria. Porque a relação esta desgastada, porque a relação não é mais nada ou nunca significou nada, porque precisa respirar novos ares. Ninguém prende alguém que não queira ser preso. Não adiantam os métodos, não adiantam os recursos, as tentativas, não adianta amar sem reciprocidade. Ninguém fica se quiser ir.


Ninguém é culpado pelos erros dos outros. Não existe má influência, má companhia. Existe aquele que a vida leva, que não tem força de dizer, espera aí, isso não é bom para minha vida. Não é bem isso que eu desejo. E vai remando contando com a sorte de ser bem aceito, bem sucedido.


Ninguém tem condições de viver a vida do outro. De mudar o jeito do outro. De minar a essência do outro. Se o outro não tiver o interesse, nada acontece.


Penso então que, quem desejar ser amiga, mulher, amante, precisa ter intensidade e desprendimento suficiente para mergulhar nos seus próprios infernos e entender que ninguém é dono de ninguém.



domingo, maio 01, 2022


 

Então...Murphy me ama. Mas nem é sobre ele que eu vou escrever aqui.
Na quinta cai na rua, uma lombada no asfalto eu atravessando apressada o pé virou e lá fui eu. Caí em frente de um bar onde algumas pessoas assistiam algo na TV. O que quero contar começa exatamente nesse ponto.
_Senhora, não se assuste. Posso lhe ajudar?
Eu estava sentada no chão e do meu ângulo só vi os pés. Descalços, imundos como quase sempre estão os moradores em situação de rua.
_ Não precisa já vou levantar. É só parar de doer.
_Não fica com medo. Eu sou técnico de enfermagem. Posso tirar o seu tênis?
Ele estava abaixado na minha frente e algo naquele olhar me convenceu.
_Pode...eu respondi chorando bastante.
Ele tirou o meu tenis, virou meu pé para um lado, para o outro, pra cima, para baixo, pediu que eu mexesse os dedos.
Olha, com certeza não é uma fratura grave ou a senhora não conseguiria fazer esses movimentos. Era bom ir tirar um rx. Colocar bastante gelo, passar algo tipo o "doutorzinho".
Eu olhei pra ele sem uma palavra.
_ A senhora deixa eu levantar?
Balancei a cabeça que sim. Ele era tão magro, estava tão sujo.
_Você me aguenta?
_Pode deixar eu sei fazer isso.
Me segurou pelo dois braços, quase um abraço e me colocou de pé.
_Quer que eu lhe acompanhe até em casa?
_Não meu filho, tem uma pessoa me esperando ali bem pertinho.
_Vai com Deus e coloca gelo!
Bem...naquela tarde acabei na São José e depois de um rx foi descoberta uma microfratura no tornozelo. Nada grave, como disse o meu amigo da rua.
E desde então eu só penso nele e no tanto de preconceito que temos com quem esta em situação de rua. A gente não sabe a história por trás da pessoa, por vezes eles nos são até invisíveis. Quantos motivos levam uma pessoa a essa condição? Nem todos são agressivos, ladrões, desocupados, drogados.
Ele foi a única pessoa que levantou de onde estava e veio me ajudar.
Um anjo, desses que a gente encontra no caminho disfarçado de gente.
Que Deus o proteja pra todo o sempre. Quanto a mim, quando eu puder vou catar esse rapaz em Copacabana e vou sentar e conversar com ele, quem sabe e se ele quiser eu consigo ajudar e retribuir o tanto de carinho que ele me deu....ah vou mesmo!

terça-feira, março 22, 2022

GATILHOS


 

Andrea Beltrão vive um personagem que é um enorme gatilho pra mim. Ela na faixa dos 50 e eu na faixa dos 60 anos.
A autora Licia Manso colocou na boca e no corpo de Rebeca experiências vividas por mim ao longo da minha "envelhecência". Passei por tudo e mais um pouco do que ela descreveu. A visão distorcida que se tem sobre o trabalho de quem envelhece, os retoques nas fotos, as traições nas relações, o sexo solitário, a auto aceitação, a limitação do corpo e principalmente o amor por alguém muito mais novo.
Amei muito um homem que tem menos vinte anos que eu. Ele 29 e eu 49, naquela época. Fomos namorados, tremendamente felizes, irresponsáveis, amigos, amantes e eu devo a ele a minha redescoberta. Durou o tempo que devia durar. Não sou contra a relações com grandes diferenças, mas a verdade é que amor desse tipo também envolve renúncia na hora certa.
Assim como Rebeca eu deixei ir, sem luta, sem um pio. Porque ele tinha que viver, coisas que eu já tinha vivido. Não dá pra ser egoísta e querer segurar quem precisa voar.
Lá se vão quase 17 anos e o tempo só provou que não errei nem um tiquinho. Nem quando disse sim e nem quando aceitei o não.
Coisa boa é ter história pra lembrar!


By Inez Sodré em 22/3/2022

domingo, março 13, 2022

DOIS ANOS DE ISOLAMENTO - PANDEMIA


 

Acabei de descobrir que hoje é dia 13/3. Há exatamente um ano eu fechei meu computador de trabalho depois de uma daquelas reuniões de última hora, peguei o ônibus da Fiocruz para atravessar a Avenida Brasil, entrei no 483 lotado feliz da vida achando que seria apenas um final de semana até voltar.
Que coisa louca é a vida que muda tudo e você não tem o controle de nada.
Naquele dia senti tanto alívio de ir para casa, passei no mercado para as comprinhas de toda sexta e bati a porta do meu apartamento pensando que seriam somente dois dias.
No sábado recebi a mensagem da minha chefe dizendo que não voltaríamos na segunda.
No domingo encontrei minha família no Porco Amigo para darmos o abraço que não poderíamos dar depois.
Como todo mundo eu pensei que seriam poucos meses. Hoje faz um ano.
E tudo que quero é, vacinada, chegar ao trabalho numa segunda e ficar sonhando com o final de semana...de descanso.
Saudade imensa dos meus olímpicos...Thatiana, Cristina, Denise, Leonan.
Que se cumpra o prazo do calendário de vacinação é tudo que desejo e peço a Deus. 13/03/2021 ***********************************************************************************************

Dois anos...exatamente.
Amanhã começo o retorno ao presencial, em rodízio solitário na sala 1016A, mas presencial!
Na semana passada a Cristina contou pra todo mundo que eu chorei na hora que conversamos sobre a volta e é verdade. É difícil acreditar que passei dois anos quase sem contato nenhum com amigos, com equipe... enfim tô voltando!
Ainda invicta de contágio, com medo, mas enfiando a cara (de máscara sempre) no mundo!
Bora Minha Fiocruz...sou grata por quase vinte anos de trabalho e agora, sou grata pela minha vida. Foi nos boletins, nas falas dos pesquisadores, nas notícias do Portal Fiocruz., na chegada da vacina (as duas primeiras foram Astrazeneca), que coloquei minha âncora. Pouco me importei com políticos, com todo mundo dizendo que eu ia enlouquecer, que era exagero, que estava cansada de máscara, álcool e isolamento. Meti na minha cabeça que meu objetivo é conseguir ver meus netos se formarem e se Deus achar que posso, farei isso!
Existe uma lei divina chamada Lei da Conservação. E uma das coisas que devemos buscar durante nossas encarnações é cuidar bem do corpo que nos foi dado. Fiz isso. Não me prejudiquei e nem contaminei ninguém a minha volta.
Sou muito guerreira, poderosa e corajosa...como toda filha de Oyá! 13/03/2022


quinta-feira, março 03, 2022

PORQUE MEU SANGUE É AZUL E BRANCO!


Eu não nasci em Nilópolis.
Eu não venho de família de sambistas.
Eu não cresci ouvindo falar de escola de samba.
Eu não sei sambar direito. Aliás, eu nem gosto de quadra de escolas de samba. Até alguns anos atrás eu nunca tinha pisado em uma quadra. Na adolescência eu dizia que era Portela, porque achava estranho todos terem uma escola para torcer e eu nem me importar com isso.

Entrei na Beija Flor pelas mãos da Nívea Frutuoso. Ela gostava do que eu escrevia e queria porque queria fazer um samba comigo hehehe. Entrei no ano do enredo sobre Roberto Carlos. Pisei em Nilópolis e na quadra pela primeira vez quando fomos entregar o CD do nosso samba. Um arrepio, uma vontade de chorar, uma intimidade e uma alegria foi o que eu senti nesse dia.


Nos próximos três anos estive presente em todas as eliminatórias de samba e em vários ensaios da comunidade. Eu ficava no espaço da família e amigos do Laíla, mas confesso que invejava aquelas pessoas ensaiando no chão, suadas, vibrantes. Algumas vezes eu descia só para sentir mais de perto aquela energia. Apenas uma vez o Sr. Osvaldo me viu e me chamou para ensaiar junto com eles. Pronto. Estava comprovado o meu pertencimento. Eu era parte daquele ritual. Eu me batizei como nascida e criada em Nilópolis naquele dia e posso dizer que o Sr. Osvaldo foi o meu padrinho. E ai de quem disser que eu não sou parte da comunidade Nilopolitana da Beija Flor!

No ano do Mangalarga fomos para a final. Emoção imensa. Mas meu único pensamento era: Imagina a minha comunidade cantando o nosso samba na Avenida? Não vencemos e a história dessa parceria foi tão traumatizante, para mim, que nunca mais quis saber de fazer samba. A partir desse ano, eu me virava nas caronas, me inscrevi na ala do Beto, andava de trem, voltava rachando táxi às 4 da madrugada, trabalhava virada no dia seguinte, até que vi um rapaz puxar uma arma e atirar em outro bem na minha frente na rua da quadra. Perdi a coragem, achei que não desfilaria mais.
Então veio a oportunidade do ensaio na Cidade do Samba. No Grupo Arte na Veia, comandado por Claudio Armanni, desfilei nos últimos três anos. Uma oportunidade diferenciada para as pessoas que residem distante da quadra, mas que tem um sonho, uma vontade, um amor pela Beija Flor. Esse ano fomos 4 vezes (uma por mês) a Nilópolis.

E aqui começa meu desabafo.
Desde agosto o Laíla falava de como seria o desfile. Dizia que seria diferente. Dizia que as fantasias seriam levíssimas, dizia que que o samba deveria conter o tribal e ser cadenciado para o desfile de uma tribo com componentes livres para movimento e canto. E ele não mentiu. Todos pareciam ter comprado a ideia. Aliás, se tivéssemos ganho eu não estaria escrevendo esse desabafo. Todos estariam elevando o diretor e a comissão a categoria de deuses. Na minha humilde opinião, de leiga de Carnaval, mesmo os jurados não entendendo a nossa proposta, não perdemos por conta disso. Perdemos para nós.

Minha decepção com algumas pessoas é imensa. Pegar a fantasia e começar a postar nas redes sociais que não gostou, que está feia, que não tem brilho (também não tinha peso e nem machucava), que não era de luxo....não ajudou em nada a formar uma opinião de quem estava fora do desfile. Fazer galhofa, ironia com um samba aclamado na quadra e premiado por pessoas que realmente entendem de música, letra, andamento...não ajudou em nada a formar uma opinião de quem estava fora do desfile. Reclamar de um enredo brasileiro dizendo que preferia falar do Egito por ser mais luxuoso....não ajudou em nada a formar uma opinião de quem estava fora do desfile. Apoiar uma verdadeira revolução inovadora na forma de desfilar e agora dizer que isso foi errado, inclusive falando da Harmonia (nota dez), da comissão de carnaval (que tantos títulos nos deu) e do nosso Diretor de Carnaval que dá até a saúde em nossa defesa, é no mínimo incoerência e ingratidão. Dizer que o nosso casal perdeu pontos por causa da roupa apesar do bailado perfeito é triste de se ler. Dizer que esse Carnaval é para ser esquecido é cruel.

Lembro da comunidade da Vila Isabel defendendo a sua escola quando vieram vestidos de calcinha e cueca e me pergunto...cadê o amor pela bandeira?

Quanto a mim... Adorei o desfile. O melhor que vivi até hoje. Cantei o samba junto com quem me via passar. Minha fantasia não pesava, não me machucava, não me fez desmaiar de calor ao chegar na Apoteose, não tolhia meus movimentos e fiz toda a coreografia ensaiada.
De ruim só o tempo de concentração. Entendendo que de meia noite às quatro era o tempo para a maquiagem, para todos chegarem, para arrumar a escola, ainda assim acho muito. Mas não estava previsto o atraso por conta do acidente da Tuiutí e do Trelelê da presidente do Salgueiro para limpar o chão antes dela passar. Isso nos deixou seis horas na espera e com um cansaço natural de quem já está com a malha e parte da fantasia sem ter onde sentar e com banheiros imundos e também nos fez desfilar com o dia claro e sem o efeito das luzes.

É isso...Estarei lá amanhã com o nariz quase encostando nas nuvens de tanta cabeça erguida. Acredito que seja o meu último desfile, porque a artrite em ambos os pés torna doloroso desfilar com os sapatos das fantasias. Mas vou deixar pra pensar nisso mais pra frente...rsrs Essa é a minha opinião. Se você não concorda eu entendo, mas me dê o direito de expressa-la, como eu dou a você o direito de ter a sua concordando com ela ou não.

03/03/2017

domingo, janeiro 16, 2022

TEMPO DE AMAR


 


Da primeira vez que te vi

já se passaram 50 anos...

Como explicar então o coração

que ainda acelera descontrolado

e parece querer sair pela boca?

Como entender o rubor na face,

o brilho nos olhos, o suor nas mãos?

Como esconder que nunca te esqueci

Que não te deixei perdido nos anos?

Como saber olhar para você

E não te falar de amor?


terça-feira, agosto 10, 2021

CARAMBOLAS!


 

Na sexta feira fui ao mercado e dei de cara com uma bancada de carambola. Comprei para experimentar fazer caipivodka no sábado a noite. Mas acontece que Júlia nasceu e hoje precisei comer carambola de sobremesa, senão iria estragar na geladeira.

Na primeira mordida, com o sumo escorrendo por entre os dedos, o sabor doce/azedo me levou para uma das poucas lembranças que tenho da minha primeira infância em Niterói.

Não sei porque carambola me lembra da casa de minha avó Juraci e do tempo em que vivi lá. Percebam que aos 5 anos eu fui morar em Copacabana. Então são lembranças bem ocultas no passar do tempo.
Lembro da boneca de roupa engomada que ficava em cima da cama, da grade na minúscula varandinha de onde se via o pátio das brincadeiras e de onde a Eunice, do andar de cima, me chamava para brincar.
Lembro da panelada de galinha ensopada onde ela colocava até os pés da bicha e eu tinha pavor de olhar aquilo (rs), lembro da banana picada com arroz e feijão, lembro da garrafa de Mineirinho nos finais de semana.

Lembro daquela senhora tão pequenina quanto forte. De óculos sempre no rosto, dos cabelos cacheadíssimos mostrando a "mulatinidade" ancestral, lembro de cantar para eu dormir, lembro de me levar ao hospital onde trabalhava como enfermeira e ao consultório onde era atendente.

Lembro de lágrimas nos nossos olhos quando ela me levava de volta nas barcas.
Lembro do abraço apertado...lembro do seu amor...lembro tanto que até sinto vontade de chorar.

Quero ser para a Júlia ao menos um pouco do que minhas avós foram para mim.
E tudo por causa de uma simples e gostosa Carambola!

By Inez Sodré 10/08/2017

quinta-feira, junho 24, 2021

NÃO!



Qual foi a parte do não que vc não entendeu???
Entendi todas.
Dessa vez eu entendi cada uma.
O não da vontade.
O não a distância
O não da idade.
O não tem mais dúvida
O não tem jeito
O não te quero.
Mas que palavrinha difícil é esse tal de não.
Nunca é indolor.
Porém é necessário pra desfazer ilusões.
Para seguir em frente.
Para tocar a vida.
Para virar a página sem mais vontade de reler o texto.
O não é inconfundível, indisfarçável.
O sim às vezes pode trazer um não escondido.
Mas o não é e sempre será não.


By. Inez Sodré

domingo, agosto 09, 2020

 

Desde cedo estou segurando esse texto que teima em voltar a minha cabeça, em pular do meu coração e ganhar espaço nas homenagens de hoje.

Eu não posso pensar que hoje é o dia dos pais, sem lembrar dele desde que acordei, sem rezar para que ele esteja bem no plano espiritual, sem sentir uma puta de uma saudade. E sentir também o quanto eu tenho que agradecer.
Nascemos na família que escolhemos para mais uma encarnação. E escolhemos por diversos motivos. Eu nasci onde precisava nascer. E sendo assim, eu vim fazer parte dessa família que tem tanta história. Família de um lado, família de outro, enrolação, desenrolação.
E por essa e outras tantas coisas, tantos momentos, tenho por ele esse amor filial desde que me conheço por gente. Meu tio, exemplo, referência de homem e pessoa íntegra. Super pai e excelente marido. Assim, tenho primos que amo como irmãos. Tenho tia que amo como se mãe fosse. E tenho esse aconchego no peito de quem sempre se sentiu muito amada.
De onde ele está sei que olha por mim. Sei que somos espíritos próximos, simpáticos entre si, de uma mesma família espiritual e guardo a certeza de que quando eu me for ele será a primeira pessoa que irá me receber.
❤

By Inez Sodré 09/08/2015

VEM VER O MAR

 




Que maldade você fez
Sumir dos meus olhos, de vez
Isso não se faz!
Cadê a cumplicidade?
Cadê a vontade disfarçada?
Cadê o sorriso escondido?
Se eu pudesse te falar alguma coisa
Seria, arrisca e deixa o que te fez sofrer.
O passado, passou
O futuro a nós pertence.
Já pensou nisso?
Quantas vezes você teve vontade e não fez.
Quantas vezes não teve nada e foi como se tivesse...
Pega o leme do teu barco
Não deixe as ondas te tragarem,
não deixa o vento te arrastar
Acende as luzes e não se perca de mim
Decide, pega um avião e vamos ver o mar!


By Inez Sodré 9/8/2018

quinta-feira, julho 23, 2020

MILAGRES DA VIDA




Devia ter no máximo 18 anos. Nos pés uma meia suja e sandália havaiana. Trajava bermuda e uma camiseta imunda. Cheirava mal. Nas mãos um canivete e umas folhas de palmeira.
Entrou no Metrô. Imediatamente as pessoas, amedrontadas pela violência urbana, franziram sobrancelhas, fecharam o rosto, endireitaram os corpos no banco e encararam.
Tranquilamente ele sentou no chão, no canto perto da porta e começou a descascar as folhas com o canivete e a montar pequenas flores. Fez uma, duas, três...com uma rapidez impressionante. Levantou-se e com um sorriso no rosto entregou para mulheres que o olhavam perplexas, inclusive eu.
Sentou de novo, dessa vez bem ao meu lado. Sorriu quando eu falei:
- Que lindo trabalho.
Pensativo respondeu:
- É o que dá pra fazer, moça.
E sem mais, fez um resumo objetivo e cruelmente direto de sua trajetória:
_ Sai de um abrigo pra viver na rua. Não consegui trabalho ainda e cada vez é pior. Eu sei que não tenho roupa e nem estudo pra um trabalho direito. Nem documento eu tenho. Mas não quero roubar e tenho fome. Dormir a gente dorme na rua, mas acho que a gente não deve comer lixo. Então eu estava na praia e vi um negão fazendo essas artes e pedi pra me ensinar. Me ensinou a fazer flor que era mais fácil. Comecei a dar flor e não pedir esmola. Quem recebe a flor me dá o que pode ou me dá um sorriso que já tá bom. A pessoa me diz pra ir com Deus que já é bom também. Mas na maior parte das vezes ganho dinheiro e compro comida e outras coisas. Pode ser que um dia alguém me de um trabalho. Eu quero melhorar. Nem quero mais droga, mas só paro se melhorar a vida.
Enquanto isso ele acabou mais três flores, distribuiu e começou aquele discurso que já é conhecido de todos:
Senhores passageiros, desculpa por incomodar a sua viagem....
Dei um real, a moça ao meu lado também, um homem que estava sentado em frente deu dois e pediu que ele tirasse as folhas que tinha deixado no chão pra não deixar o vagão sujo.
E lá foi ele, pra outro vagão, pra rua, pro mundo, pra vida.
Enquanto existirem meninos sem nome, mas com sonhos dentro da cabeça e bondade no coração...nada está perdido.
23 de julho de 2015


quinta-feira, setembro 05, 2019

A LUA E EU





Eu sou uma enamorada da lua...
Talvez porque a lua seja tão bela quanto belos são meus pensamentos quando olho assim para ela.
Talvez porque eu seja tão independente e tão solitária quanto ela, numa noite sem brisa, como hoje.
Talvez porque a certeza de olhos amados olharem a mesma lua que eu, faça-me acreditar que estamos mais próximos do que distantes.
Talvez porque a minha vida seja uma sucessão de paixões não correspondidas, não vividas, não terminadas e eu pense que não sou daqui...talvez eu seja da lua!
Sei lá...só sei que cheguei em casa, tomei banho, apaguei as luzes e estou há muito tempo olhando pra ela em silêncio...a cabeça?
Ah! A cabeça está como sempre...no Mundo da Lua!
(Então pensa rápido e tira uma foto antes que ela suma...ela é dessas.)

05/09/2017

quinta-feira, junho 06, 2019

VERDADE...






Vou te contar uma coisa...fico vidrada em homem que fala a verdade.
Sou o tipo de pessoa que prefere uma verdade doída do que uma mentira piedosa. Por esse motivo, sempre vou preferir o parceiro que ao errar, assume o erro, mesmo correndo o risco de não ser entendido ou desculpado. Que, se não está a fim, diz não e se recusa a fazer algo porque esperam que faça.
Não tem praga pior do que homem mentiroso que vai emendando um enredo no outro até que fica uma história tão inverossímil que é preciso ter nascido ontem pra acreditar.
Um homem mentiroso não ama ninguém. Quem mente é incapaz de se colocar no lugar do outro. Quem mente não se importa com a dor que vai causar e nem com o problema que pode arrumar. Quem mente desenvolve uma patologia em que no fim até ele acredita na sua própria mentira.
Ainda tem um detalhe...eu tenho uma sintonia fina para descobrir mentira. Mesmo que eu feche os olhos, vire a cara, passe por cima, não tem jeito...a verdade vem a mim. Eu tenho uma intuição investigativa que por vezes não gostaria de ter. Ela me tira ilusões...mesmo as mais deliciosas de sentir...mesmo as que só acontecem dentro da minha cabeça.
Falo com propriedade pois tive, recentemente, na minha vida, um mentiroso incorrigível. Demorei a me libertar e nunca mais quero cruzar com um. Por isso, uso todo meu poder de avaliação interna quando desconfio de palavras e sempre considero palavras acompanhadas de atitudes.
Se livrar das mentiras em uma relação é fundamental para mim.
Meu homem precisa ser Cúmplice e para ser assim terá que ser Verdadeiro...

06/06/2017

domingo, dezembro 30, 2018

DAQUILO QUE NÃO SE ESQUECE...


Tem umas coisas na vida...
 
Bom ter tempo de andar calmamente pelas ruas de Copacabana e deixar o pensamento solto.
 
Sabe aquela esquina onde sempre ganhava um beijo de despedida?
Sabe aquele menino que passava em frente da sua janela todo dia no caminho pra escola e que criou calo no cotovelo de tanto esperar?
Sabe aquele banco da praça onde tantas vezes você desabafou e ouviu desabafos com suas melhores amigas?
Sabe aquele cantinho onde se fazia roda de violão?
Sabe aquela rua que você várias vezes subiu cantarolando e desceu chorando?
Sabe aquela rua deserta onde todos iam só pra se agarrar um tiquinho a mais?
Sabe aquele prédio verde que remete a festinha americana, a dança agarradinha e a ficantes casuais?
Sabe aquela praça que ainda tem jeito de Festa Junina?
Sabe aquela igreja...ahhhhh..aquela igreja!?
Sabe aquele sinal, onde não tem muito tempo, você foi pega num beijo, ouviu que teu beijo não mudou nada em 40 anos e ficou surpresa não com o beijo, mas com a lembrança que te fez sorrir e o coração disparar?

Acredito que faça parte de envelhecer a memória ficar tão detalhista exatamente no que foram os melhores momentos.
Que eu possa desencarnar aqui...nesse lugar...onde fui e sou tão feliz!

29/12/2018
 

segunda-feira, agosto 27, 2018

AMOR







Ela nunca poderia adivinhar...
Chegou cansada.
Tomou um banho prolongado.
Vestiu o pijama e fez um sanduíche.
Ligou o micro e definiu como seria sua noite de sexta.

Do MSN veio o convite.
A festa é hoje, é perto da sua casa, você vem?
Ela pensou, decidiu e foi.
Sem conhecer ninguém, ela foi.
Ele espera por ela.
Sorri. Ela sente um leve arrepio no corpo.
Coração acelerado.
Estranha essa reação.
Ela fala com um, fala com outro.
Ele a segue com o olhar.
Você não vai dançar comigo, não?
Ela abre os braços e vai.
Ele usa Azarro, ela gosta.
Fecha os olhos.
Quer uma bala?
Sim.
Beijo de bala ou bala de beijo.
Gosto de Halls.
Muitos, vários, intermináveis beijos.
Muitas, várias, intermináveis risadas.
A festa termina.
Chega o táxi.
Entram juntos.
Sentem que vem aí uma despedida.
Ele fala de repente.
Vamos comigo?
Ela sente que é inevitável.
Sim.
...
Ela abre os olhos e já se passaram exatamente nove anos.
E ele sempre esteve lá.
Não em sua vida
Mas dentro do seu coração

By Inez Sodré
27/08/2015

domingo, julho 29, 2018

FRAGILIDADES


Eu tinha uns dez anos quando meus tios voltaram da Europa e entre os tesouros que trouxeram estava um par de lindos palhacinhos de Murano.
Dois palmos e meio de altura e muito colorido nas roupas, nos sapatos, nos cabelos na cara sorridente de palhaço. Foram colocados em cima do móvel da sala, cada um de um lado do relógio.
Fiquei encantada, mas não podíamos nem chegar perto.
É frágil! Quebra à toa! Você é muito desastrada! Se fosse bailarina ia pisar no pé do maestro! E por aí vai...


A verdade é que hoje, cinquenta anos depois, os dois palhacinhos ainda estão lá em cima do móvel. Com alguns pedaços faltando, outros colados, mas estão lá!


Com toda essa história, eu indo a uma fábrica de cristais de Murano, alguém adivinha qual a primeira coisa que quis comprar?
Claro que comprei. Mas também compreendi o porque de tanto cuidado.
São muito, muito caros os Cristais de Murano. São artesanais, feitos com sopros no vidro incandescente, com cuidado e presteza no corte, com arte na mistura de textura, cores e materiais de acabamento.
São tão caros que vem com certificado de autenticidade. Porque os chineses já estão falsificando até os palhaços de Murano...rs


Não tive bala na agulha para comprar do mesmo tamanho e muito menos dois.
O meu tem um palmo de altura e parece que vai quebrar só de você tocar nele. Coloquei na cristaleira em nome de ser mesmo, como meu tio dizia, desastrada demais.


Ainda trouxe de lá dois chames para a pulseira Pandora, um meu e outro da minha nora.
Além disso trouxe dois enfeites de Papai Noel para a primeira árvore de Natal da Julinha.
Foi quando comprei esses enfeites que fiz valer a fama.
A vendedora (italiana simpática oh!) Me mandou pegar o que eu queria levar. O primeiro coloquei em cima do balcão, o segundo tentei...
Esbarrei a mão no primeiro e paf...quebrou. Fiquei até pálida e a moça na mesma hora pegou o minúsculo enfeite, disse que eu não ficasse aborrecida (EU?), que os cristais eram assim frágeis mesmo, mas cautelosa foi ela mesma pegar outro para embalar.


A embalagem é uma obra de arte, caixa com palha, plástico bolha, jornal e embrulho.

Fiquei o resto do dia tensa...bem tensa....com meus tesouros em uma sacolinha.
Finalmente no hotel, tomei a decisão de comprar uma bolsa de mão para colocar tudo que fosse quebrável e levar comigo no avião. Foi nessa hora que decidi não trazer nenhum vinho...Vai, que...rs


Tanto cuidado valeu a pena!
Tenho hoje, na cristaleira, um palhacinho colorido, italiano, de cristal e de Murano.
E mais do que a paixão que "garrei" nele...sei porque comprei...para homenagear o meu amado tio Macahyba. 


Onde ele está, deve pensar assim: Muito lindo Maria Inez, mas cuidado pra não quebrar!!!

quinta-feira, julho 12, 2018

TAMANHO ÚNICO!



Se teve uma coisa que fiz na Itália foi andar de barco. Sem grandes navios. De barco mesmo. Barco com muita gente, barco somente com nosso grupo, lancha tranquila, lancha com emoção.
Fui a diversas ilhas. Desde as fantásticas que formam o arquipélado de “ Cinque Terre”, até algumas famosas como Portofino ( A pérola da Riviera) o destino dos ricos e famosos em suas férias de verão.
Mas foi em Isola Bella que aconteceram os fatos que vou narrar.

Cheguei na ilha um tanto enjoada por conta do barqueiro italiano que fez acrobacias com a lancha, o que além de me provocar medo me irritou profundamente. Ora, se eu quisesse emoção ia para Everest na Disney.
Ao desembarcar o guia nos levou até um museu que tinha um lindo jardim...por 30 euros. Perguntei a recepcionista que tipo de museu era, ela com a simpatia italiana disse:
_ Não sei...
Se ela não sabia, porque eu deveria saber.
Sai dali e fui gastar os 30 euros em outro lugar.

Sem ser o museu, a única atração de Isola Bella é uma mini Feirinha de Itaipava. E lá vou eu catar coisinhas pra comprar e passar o tempo.
Um imã de geladeira aqui, uma pashmina ali...até que dei de cara com a blusa.
Linda, com uma estampa bem moleca da Audrey Hepburn!
Parei no ato e me aproximei toda sorridente. Pequei na pontinha da blusa e olhei para a vendedora dizendo:
_ Quanto costa?
A garota me olhou de cima a baixo e balançou a cabeça negativamente. Perguntei novamente:
_Quanto costa?
Ela nem me respondeu, pegou grosseiramente a camisa da minha mão e apontou a etiqueta – taglia unica.
E completou com um olhar de desprezo:
_ non per te
Virei imediatamente e sai dali me sentindo a Mobi Dick em pessoa.
Um misto de tristeza e indignação. A blusa era grande! Tamanho único grande!

Continuei andando amuada e umas duas barracas a frente encontrei meu grupo, fomos tomar um café num bar de roqueiros e depois eles foram tirar fotos.
Eu estava inquieta. A blusa não me saia da cabeça. Muito menos a atitude da vendedora.
Parei para olhar umas bolsas e acabei falando em português. Uma surpresa quando uma italiana que passava traduziu para a vendedora o que eu perguntei.
Sorriu pra mim e disse que amava muito o Brasil. Que o seu sonho era morar aqui.
De repente seus olhos encheram de agua e ela falou que seu grande amor era brasileiro e que tinha morrido em um acidente.
Eu esbocei falar alguma coisa em italo-espanhol-libras.
Quando ela ligou o celular e me mostrou a tela.
Fiquei boquiaberta.
Seu amor era Ayrton Senna.
Falamos dele. De seu Instituto no Brasil. Da última corrida naquele 1º de março. De sua carreira. Do homem que era.
As duas bem emocionadas.
Depois ela me deu um abraço muito apertado e disse que sentia felicidade quando ouvia alguém falando português e se foi.

Não tive coragem de perguntar se ela teve mesmo algo com ele ou se era só um amor platônico de fã.
Mas aquela mulher linda mudou meu dia.

Mudou tanto que voltei na barraca da blusa.
Não disse nada. Peguei a blusa. Peguei os 15 euros, preço que estava escrito na etiqueta e disse:
_ Embrulha, vou levar!
_ Não entendeu minha filha? Embrulha...é minha!
E sai toda feliz. Quando cheguei no hotel a primeira coisa que fiz foi vestir.
E deu! Ficou justa...vai ficar melhor se eu emagrecer uns dois quilos...mas deu...e se eu quiser usar assim, agarradinha no corpo, problema meu.
Nenhuma italiana antipática vai dizer o que eu posso ou não posso usar!

Conclusão: O que não faz uma história de amor na vida de uma brasileira!