Devia ter no máximo 18 anos. Nos pés uma meia suja e sandália havaiana. Trajava bermuda e uma camiseta imunda. Cheirava mal. Nas mãos um canivete e umas folhas de palmeira.
Entrou no Metrô. Imediatamente as pessoas, amedrontadas pela violência urbana, franziram sobrancelhas, fecharam o rosto, endireitaram os corpos no banco e encararam.
Tranquilamente ele sentou no chão, no canto perto da porta e começou a descascar as folhas com o canivete e a montar pequenas flores. Fez uma, duas, três...com uma rapidez impressionante. Levantou-se e com um sorriso no rosto entregou para mulheres que o olhavam perplexas, inclusive eu.
Sentou de novo, dessa vez bem ao meu lado. Sorriu quando eu falei:
- Que lindo trabalho.
Pensativo respondeu:
- É o que dá pra fazer, moça.
E sem mais, fez um resumo objetivo e cruelmente direto de sua trajetória:
_ Sai de um abrigo pra viver na rua. Não consegui trabalho ainda e cada vez é pior. Eu sei que não tenho roupa e nem estudo pra um trabalho direito. Nem documento eu tenho. Mas não quero roubar e tenho fome. Dormir a gente dorme na rua, mas acho que a gente não deve comer lixo. Então eu estava na praia e vi um negão fazendo essas artes e pedi pra me ensinar. Me ensinou a fazer flor que era mais fácil. Comecei a dar flor e não pedir esmola. Quem recebe a flor me dá o que pode ou me dá um sorriso que já tá bom. A pessoa me diz pra ir com Deus que já é bom também. Mas na maior parte das vezes ganho dinheiro e compro comida e outras coisas. Pode ser que um dia alguém me de um trabalho. Eu quero melhorar. Nem quero mais droga, mas só paro se melhorar a vida.
Enquanto isso ele acabou mais três flores, distribuiu e começou aquele discurso que já é conhecido de todos:
Senhores passageiros, desculpa por incomodar a sua viagem....
Dei um real, a moça ao meu lado também, um homem que estava sentado em frente deu dois e pediu que ele tirasse as folhas que tinha deixado no chão pra não deixar o vagão sujo.
E lá foi ele, pra outro vagão, pra rua, pro mundo, pra vida.
Enquanto existirem meninos sem nome, mas com sonhos dentro da cabeça e bondade no coração...nada está perdido.
23 de julho de 2015
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