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Mostrando postagens de outubro, 2008

"Se o brilho das estrelas..."

Comecei a reler Clarice e às vezes tenho a sensação de que ela sou eu, é você, é aquele outro. De que ela já escreveu sobre quase tudo daquilo que todos nós sentimos e pensamos um dia... Abaixo alguns trechos de "Perto do Coração Selvagem", o primeiro livro que li dela, há quinze anos atrás, e que continua atual e muito perto do meu coração selvagem... "Se o brilho das estrelas dói em mim, se é possível essa comunicação distante, é que alguma coisa quase semelhante a uma estrela tremula dentro de mim."  (...) "Mal posso acreditar que tenho limites, que sou recortada e definida. Sinto-me espalhada no ar, pensando dentro das criaturas, vivendo nas coisas além de mim mesma." (...) "Também me surpreendo, os olhos abertos para o espelho pálido, de que haja tanta coisa em mim além do conhecido, tanta coisa sempre silenciosa." (Clarice Lispector, Perto do Coração Selvagem)

Desliga o botãozinho do tempo?

(O frio só estava na minha lembrança registrada em fotos, semana de neve em Malmö, fevereiro de 2007) A Suécia é uma coisa louca. Há umas semanas atrás eu tinha me esquecido completamente como era sentir frio nessa terra. O calor era tanto, as cores eram tão intensas e a alegria tremenda que a gente rapidamente se esquece e começa a pensar coisas impossíveis como: "se fosse assim sempre..." Agora eu já não me lembro mais como era possível uma vida daquelas lá, daquele verão passado, na mesma terra que agora estamos.  Eis os quatro lados de uma mesma Suécia! Embora ainda falte quase dois meses pro inverno do calendário chegar, aqui a gente já tá sentindo um frrrriiiiio no meio da rua que ui! Já tenho saudade daqueles doze graus de duas semanas atrás. Tava tudo tão quentinho e eu me sentia toomm adaptada !  Acordamos hoje com 5 no termômetro (ainda positivo, mas nem parece!). Nesse momento temos vento de 42 km por hora e no fim de semana tem previsão de neve, menos alguma cois

O que nosso esporte preferido diz sobre nós mesmos

Dias atrás, eu voltava da academia depois de fazer uma aula de boxe pela primeira vez. Minhas amigas, Ângela e Xu-Muié , haviam posto fogo na minha fogueira, mas acabaram não podendo comparecer na aula. O resultado foi que fiz parceria com uma professora que não se importou que eu era iniciante e me socou horrores. Tudo de briiiincadeirinha forte. Fiz a aula tudo bonitinho. Dei os socos, levei socos e me senti bastante forte depois. Foi bom pro meu corpo e tudo o mais, mas eu voltei pedalando, pelo canal frio e a cidade escura, com uma idéia certeira na cabeça: boxe? nunca mais! Nos longos cinco ou seis minutos que dura a pedalada da SATS até minha casa eu matutei bastante sobre o seguinte: o nosso esporte preferido diz muito sobre quem somos, mas por que será que a gente vive se enfiando em atividades que são exatamente o contrário daquilo que desejamos? Cheguei à conclusão que sou o tipo que aguenta uma natação. É tranquilo, relaxa, faço no meu tempo e saio toda revigorada. Gosto e

Horário de Inverno na Suécia

("Inverno na Fifth Avenue", Patrick Antonelle ) Hoje começou o horário de inverno na Europa, então, a gente atrasou os relógios em uma hora para acordar com um pouco mais de luz e não enquanto ainda está tão escuro.  Como vocês aí no Brasil já estão no horário de verão, a diferença fica apenas de três horas agora e não mais de cinco como antes. Agora fica um pouco mais fácil para falar com a família no skype e mais fácil para se adaptar nas férias e na volta.  E que venha o inverno!

"Chuva, chuvisco, chuvarada..."

"Ábúúá!", Ângelo provando minha tese sobre a chuva e os suecos, hoje de manhã, Malmö, outubro de 2008 ) Aqui não pára de chover faz muitos dias. Temos uns dois dias de sol no meio de muitos com muita água. Os dias já estão curtinhos e sete e meia da manhã é praticamente noite. Tenho cantado muito com o Ângelo uma música adorável do "Cocoricó", " Chuva, chuvisco, chuvarada" ... A gente tem vontade de ficar comendo bolinho e tudo o mais, como aí no Brasil, mas há uma grande diferença entre o que acabamos por fazer com as crianças aí, num dia assim e o que fazemos aqui. Me lembro que dia de chuva era até bom de desculpa para tentar faltar na escola. Tentar, embora a mãe não deixasse... Aqui, mesmo com o tempo assim, a molecada quer ficar na rua. E os pais deixam. Nada de dizer: "moleque, sai da chuva!". A criançada se espatifa em folhas molhadas ou pula em poças, rola na lama e na areia molhada. De roupa quente, super capa de chuva e galochas não h

"Em algum lugar sobre o arco íris..."

(I srael Kamakawiwo'ole) Eu e Renato estávamos, há pouco, olhando um programa sueco qualquer que trazia como tema de fundo uma das canções mais lindas que já ouvi até hoje. Tenho-a aqui comigo num cd que minha amiga Janete me deu e que eu sempre páro para ouvir.  Entretanto, só hoje, depois de ouvir pela TV sueca, tive a curiosidade de buscar alguma informação sobre o cantor e a letra completa etc. Para minha surpresa, o dono de uma das vozes mais lindas que tenho entre todos os meus cds, não tinha necessariamente a "cara" que eu imaginava.  Gigante, em muitos sentidos, o havaiano, e não americano como eu pensava, Bradda Israel Kamakawiwo'ole , põe todos os estereótipos por terra. Depois de ler sobre sua história de vida por alguns minutos, ouvindo " Somewhere over the rainbow ", é impossível (para mim foi) não se apaixonar também pela figura de IZ.  A vida tem de muitas coisas e a música é algo magnífico, porque, quando meu encantamento por essa música come

"Suíte das Folhas"

(O caminho de árvores na esquina de casa pelo qual me apaixono em cada estação, Malmö, outubro de 2008) Domingo é dia de família pra mim.  Domingo é dia de saborear um prato gostoso e comer uma sobremesa caprichada. Domingo é dia de soneca depois do almoço ou de filme no fim do dia. Domingo é dia de prece silenciosa pela semana que passou. Domingo é dia de se jogar nas almofadas e ouvir nossas canções preferidas. Domingo é o dia De... fazer tudo aquilo que passa pela cabeça durante a semana, sem deixar que o sonho escorregue por entre os dedos.  ("Maissss, maissss", Ângelo curtindo o outono e o domingo em seu carro possante, Malmö, outubro de 2008) Passeando novamente pelas folhas amareladas das árvores hoje, vi que muita tem saído às ruas com sua câmera fotográfica... As crianças se espalham pelas folhas e os pais ficam atrás das câmeras. E muitos tentam fotografar as folhas amareladinhas caindo ou então jogam-nas para cima, querendo capturar esse momento de profunda delic

O que vocês prometem?

Infelizmente sou uma pessoa relapsa demais para ter conseguido falar com minha adorável amiga Gláucia pelo telefone hoje, mas hoje acordei com aquela sensação gostosa de quando você vai a um casamento de alguém muito querido. Apesar de muita chuva aqui, estou o tempo inteiro imaginando a Glau entrar pela igreja e olhar para o Daniel lá na frente. No ano passado acabei escrevendo uma trilogia (ainda incompleta) " Um Romeu para a Julieta ", depois de ter me inspirado na linda história dos dois pombinhos, ex-vizinhos de muitos anos.  Eu sou o tipo muito romântica, mas não gosto nada de ter que aceitar convenções só porque os outros acham que é preciso ou para agradar os outros, mas quando a gente faz lá do fundo do coração, faz porque o gesto faz sentido, faz porque a vida é cheia de celebrações e vale a pena, muito a pena celebrar a união com uma alma gêmea, eu fico totalmente emocionada. E toda vez que vou a um casamento (só uma única vez aconteceu de eu não sentir absolutam

"Pode o outono voltar, eu quero estar junto a ti..."

(Igreja St. Pauli, bem pertimmm de casa, Malmö, outubro de 2008) Se vocês se lembram da cor da paisagem aqui perto de casa no verão precisavam estar aqui com a gente agora pra verem a cor da nova estação. (Caminho de árvores até Igreja St. Pauli, Malmö, outubro de 2008) O outono chegou com muita chuva, temperatura na casa dos 10 e muito, muito amarelo.  As ruas estão tão lindas que parecem poesia. Passear de bike ou a pé pelo meio das árvores e das folhas que caem com o vento é uma experiência quase musical. É uma delícia! (O mesmo caminho, no sentido contrário, olhando da Igreja em direção nossa casa, Malmö, outubro de 2008) Eu falei muitas vezes de como os europeus, sobretudo o povo escandinavo, parece ter a natureza refletida em seu humor , mas, cada vez mais, tenho notado como eles se espelham também na natureza para se vestirem. Tem hora que parece até exagero, mas essa é a verdade. As lojas aproveitam bem isso e substituíram todas as cores do verão passado por marron, ocre, verm

A "perca" da língua

(Ilustração de  Laia Feliu Aguirre ) Semana passada eu estava tagarelando sobre tudo com minha amiga Jéssica , quando no meio da conversa ela me disse:  - ... "e, então, é preciso marcar uma consulta com a ginecóloga..." Ginecóloga? Que estranho, pensei, mas fingi não perceber e deixei que ela continuasse.  Mais adiante, num tema mais moderninho, ela continuou toda posuda dizendo algo mais ou menos assim:  - "sim, eles vão modernizerar tudo..." (Tô inventando, mas foi parecido com o que eu já tinha ouvido ela fazer que é misturar as línguas, como nesse exemplo: modernisera do sueco com modernizar, do português. Modernizerar? Uau! Isso é bem estranho, pensei, e não me contendo eu disse: - Acho que você tá esquecendo o português, porque tá misturando as duas línguas o tempo todo e às vezes diz uma palavra na forma errada.  - Quem eu? Perguntou ela toda inocente. Nossa... não percebi! O que foi que eu fiz? Expliquei e aí ela arrematou: - É... nossa... Mas você sabe que

...nas Teresas, nas Gis e nas Marias todas, amém!

" Em Teresa brotou a Rosa " é o título dessa tela que fiz há algum tempo e que foi comprada pela querida Gi - Gislaine. Ela e o Christian caíram de amores pela "Teresa" e foram buscar a tela em São Paulo. Desde então, ela está na sala deles lá nas Suíças... A "Teresa" acompanhou os primeiros tempos do casamento dos dois apaixonadíssimos e pôde ver a Gi de barrigona, coisa que eu não consegui. Nessa foto que "tomei" do álbum da Gi as duas estão tão cara de uma, barriga de outra que a impressão que tenho é que pintei "Teresa" a partir da Gislaine, embora engravidar fosse apenas um projeto da Gi, quando ela conheceu minha pintura.  É interessante demais pensar em como o que vemos e sentimos pode afetar o que somos. Enquanto alguém pode olhar pra esse mesmo quadro e sentir algo ruim, ou detestar a idéia e as cores, outra pessoa pode ficar em êxtase com ela. Eu acho magnífico o que uma pintura, uma poesia, uma música pode fazer com a gente..

Meu pé de jaboticaba

("Jaboticabas, foto de Bruno Guimarães )   No quintal do sítio de minha amigona do coração, Susette , havia os pés de jaboticaba mais lindos que eu já vi na vida. Em uma das minhas idas à Bragança Paulista, em novembro de muito tempo atrás, os pés estavam carregadíssimos. Elas estavam grandes, brilhantes e era impossível não querer comê-las aos montes. Eu e Mércia, outra amigona, nos desesperamos. Tomamos nossas camisetas, assim, como quem puxa um avental, e fomos colhendo. Colhendo e chupando ao mesmo tempo. Parecíamos crianças desesperadas e sem controle. A cada bolota preta na boca, um estouro... Uma delícia. Um gosto tão doce. Um gosto tão especial e único... Comemos sem conseguir pensar. E ficamos duas semanas sem conseguir... pensar.  Foi terrível. Desde então, passo pelas feiras de São Paulo e meus olhos brilham. Tento não deixar a criança gulosa dentro de mim me dominar, então, compro sempre um pacotinho muito pequeno. Com pacote pequeno não tenho problema de me entupir. M

Papo cabeça com o taxista inglês

(Em Londres, os táxis são um dos charmes e atração da cidade... Aqui, alguns taxistas de nariz empinado, em frente a Abadia de Westminster, setembro de 2008)  Um taxista super inglês, com cara de se chamar "Sir John Alguma Coisa", pai de cinco - cinco! - filhos e amante de sua cidade, me encheu de perguntas durante o trajeto da casa de minha amiga Lujan até o aeroporto London City. "John" quis saber tudo sobre o Brasil, os brasileiros e também sobre o que eu achava da Suécia. Tudo isso, numa simpatia tremenda e num sotaque inglês lindíssimo. Coisas que, à primeira vista, nem combinariam assim. A certa altura, depois de querer saber o que eu havia estudado e eu ter lhe dito "Filosofia", ele me perguntou: - Você estudou Filosofia? Hum... Interesting... E qual é a sua filosofia de vida? Não desdenhei a pergunta... Ao contrário. Olhei pelo vidro do carro, com as mãozinhas do Ângelo nas minhas e respondi mais ou menos assim: - Trabalhar apenas naquilo que gost

Ainda bem que a gente muda...

(Rotina do inverno no fim de semana: Renato e Ângelo brincando na chuva,  antes de pegar o pão no mercadinho da esquina para o café, setembro de 2008) Agora há pouco eu estava voltando da academia, pedalando minha Madalena . Passei pelo canal, com névoa em cima da água, e fiquei olhando as árvores já sequinhas à beira dele. Os 9 graus no termômetro não são nada do outro mundo mais, mas algo em que consigo me sentir "confortável" e, muitas vezes, bem feliz. Não preciso de casacos terrivelmente quentes e nada próximo do que usava quando cheguei com a mesma temperatura, porque sinto que meu corpo se adaptou muito neste um ano e pouco. É quase inacreditável que sou a mesma que, há alguns anos, usava meia, cachecol e casaco com 25 graus e reclamava de frio com vinte e poucos. Talvez eu seja a mesma, mas, claro, não seja mais a mesma. E isso é fantástico. É legal ver como se pode aproveitar o dia, ainda que seja com chuva, com frio ou com neve. Num lugar onde não faz trinta e pouco

"No ritmo escandinavo..."

O charmosão da foto é nada mais nada menos que uma das pessoas mais citadas neste blog. O meu querido, e quase famoso Renato , está na Época Negócios dessa semana. Para quem quiser conferir a entrevista é só procurar aquele rapaz um pouco mais famoso, porém não tão charmoso quanto ele, o Bill Gates, na capa. O número traz o título "Capitalismo criativo" e a reportagem é de Marcelo Coppola, com a chamada "De vendedor a criador".  Coppola fala um pouco dos desafios do Renato ao ter trocado o Brasil pela Suécia e ter assumido uma nada fácil empreitada de se colocar como o brasileiro que cria celulares para o mundo, em meio a gente boa do mundo todo, na unidade de Lund. Além disso, traz a questão que eu vivo discutindo aqui, de como o ritmo escandinavo de vida é algo que vale a pena experimentar e algo bem fácil de se gostar e querer. Li, gostei, aprovei e rrrrecomendo! 

Outono em mim

(Ilustração de Glyn Brewerton ) A chegada do outono tem deixado a cidade de uma cor amarelo-alaranjada linda. São milhares de folhas voando com o vento forte e se espalhando pelas ruas e avenidas. Nossa principal diversão - minha e do Ângelo - no meio disso tem sido chutar os montes de amarelos fofos que encontramos por aí... Com a temperatura em onze durante o dia e oito durante a noite a gente com certeza se despediu daqueles dias que passamos estirados ao sol nesse verão passado e um sentimento novo vai tomando conta de todos por aqui: uma necessidade de se aquietar num cantinho aconchegante e aproveitar a companhia de gente próxima querida. Com as noites longas o corpo sente vontade de descanso e é hora de começar a ir pra cama com as galinhas suecas... Boa noite...

A única coisa que eu sei...

(Meu triângulo amoroso, Londres, setembro de 2008) A gente corre pra lá, a gente corre pra cá. A gente estuda, trabalha, rala, se dói e se mata. A gente planeja o futuro e tenta superar o passado. A gente faz assim, faz assado para tentar ser melhor. Mas é bom que a gente não se esqueça de jeito maneira de que, lá no fundo, só algumas coisas realmente importam. Eu sei que vou te amar ..."Eu sei que vou te amar Por toda a minha vida Eu vou te amar A cada despedida Eu vou te amar Desesperadamente Eu sei que vou te amar... E cada verso meu será Prá te dizer Que eu sei que vou te amar Por toda a minha vida..." Caetano Veloso