Tudo nasce, cresce e morre.
Fim.
Desculpem a ausência, mas tenho andado por feiras de artesanato aqui pelo Algarve, por isso, tem sido muito difícil vir ao meu cantinho.
Beijinhos e boas férias a todos:)
Quando puder, apareço*
Encontraram-se como por acaso naquele entardecer.
Não encontraram as palavras necessárias para concretizar o momento.
Não encontraram os espelhos da alma nos olhos de cada um.
Não encontraram as cores do toque na pele suave.
Encontraram-se por mero acaso naquele banco de jardim, abrigo de cada um, mas não era abrigo dos dois.
Perderam-se na magia do encontro sem o ser.
Perderam-se nas palavras que voaram e nos sorrisos que faltaram.
Perderam-se como uma melodia que toca num entardecer em frente a um banco de jardim, abrigo dos que almejam amar, mas que temem a travessia do Cabo da Boa Esperança.
Ela olhou e disse: Pára com essa máquina fotográfica!
Ele olhou e disse: Como podes pedir-me que evite a minha deusa?
Ela vislumbrou o horizonte: Porque não fotografas as ondas do mar?
Ele vislumbrou o seu horizonte: Para quê ir tão longe?
Ela enxergou as estrelas: Olha para o céu e observa a noite.
Ele enxergou a sua estrela: Estou a admirar a mais bela.
Deito-me na varanda do teu coração,
esperando pela tua sinfonia de aroma adocicado.
Inspiro o sabor da tua voz ao encostares a tua alma
à parede de chocolate que para ti construi.
Toco os teus cabelos de carvão
e desenho no meu peito uma constelação.
Meu aquário, sou o teu peixe verde, não digas adeus.
Raphaela Blat
Os dedos alongam-se ao redor da viagem.
As mãos unem-se em pleo voo, são asas.
Os lábios são a cor da liberdade inquietante, vibrante.
O som dos sorrisos de espuma desfaz-se no cansaço da travessia.
A nossa chegada anunciou-se na manhã do entardecer,
no penhasco sobre vale, no mundo do contraste,
onde o branco e o preto são uma e a mesma cor,
na inquestinável brisa doce do mar.
Caminhamos num mundo ao contrário,
mas é tão apetecível sentir o nosso corpo
inspirar a melodia das borboletas
e, no final, aniquilar o choro cravado na face da pedra,
pois de pedra são os nossos corações
neste nosso mundo de guerreiros.
Perdoem-me, mas por aqui fico.
Quedo-me na contrariedade que me acalenta o peito.
Raphaela Blat
Criámos as horas, os minutos, os segundos.
Até décimas de segundo se tornaram importantes em competições. Inventámos o relógio de sol, o relógio de pulso.
Regulamos a nossa vida a partir das horas. As horas em que acordamos, as horas em que vamos para o trabalho, as horas em que almoçamos, as horas em que dormimos...
Teremos nós mandado no Tempo ou seremos apenas seus escravos?
Choram as árvores mortas.
Riem as pedras que correm do rio.
Rodopio, rodopio.
Balanço a cabeça escutando a canção do mar.
Rodopio, rodopio.
Danço ao som da visão do sol poente.
Pinto os olhos da cor do céu,
por vezes cinzento, por vezes azul.
É a luz que oferece ao meu olhar essa hipótese.
Choram as ondas vivendo.
Riem as flores do jardim.
Será alfazema? Será jasmim?
Não, é a beleza de um amor-perfeito,
nascido no seio de um quadro que jamais fora pintado,
pois assim o enviaram os deuses.
Raphaela Blat
A mim parece-me um sonho mau... o senhor que via nas feiras de artesanato com as suas peças das lendas celtas de Artur que eu tanto gostava mas que não tinha dinheiro para comprar. O senhor que vinha conversar com a minha mãe e que eu achava tão fofinho com a sua barbinha e seu ar de velhote sem o ser. Sim, que o querido Fernando Bizarro pode ter todos os nomes, mas lá velhote é que não era, pelo menos no coração. Velhote só se for mesmo de sabedoria. O senhor Bizarro, como todos lhe chamavamos, que encontrei por acaso na blogosfera e me chamava carinhosamente amiga borboleta.
Diga-me que é só um sonho senhor Bizarro, diga lá. Ainda quero vê-lo tantas vezes. E mesmo que não o encontre nesta vida, encontrá-lo-ei certamente noutra.
A minha despedida
Choro.
Lágrimas tão salgadas escorrem deste amargo rosto.
Meu amigo, se gostava de si era meu amigo.
Queria dizer-lhe não parta já,
segurar-lhe as mãos, prendê-lo aqui.
Não tenho tamanhos poderes
e cada um tem o seu momento na hora da partida.
Cheguei tarde, meu amigo. Quando de ti soube
o sol já tinha adormecido na sua agonia.
Fica na paz dos deuses.
Marisa Aires
Enchi um balão com o vento de ontem.
Soprou tão forte, tão selvagem
e agora no meu balão está quieto, dormindo.
Ficou sem a bravura de ontem, o ar dentro do meu balão.
Ficou sem a cor da força, sem o aroma a maracujá
que tão ardentemente me seduzia.
Perdeu fervor, calor. Perdeu-se
e a cada ontem que atravesso, perde-me.
Era um vento tão valente e eu, no meu encanto,
aprisionei-o para ser o meu vento.
Quisera eu prejudicar ninguém, só sonhava em tê-lo por perto.
Mas como prender o vento se o destino dele é o mundo?
Ao amanhecer acordei-o, soltando o balão
e deixando-o voar.
Segue o teu fado, meu querido.
Raphaela Blat
P.S.: Peço desculpa pela ausência. Não tenho conseguido escrever. Hoje lá consegui, foi uma sorte. Amanhã venho visitar-vos. Beijos esvoaçantes:)
Não sei qual a mania de ter
como mais-valia a palavra do poeta.
O que digo é tão somente
um exagero premente do que afinal sinto.
E verás que eu não minto
ao dizer-te que não leves tão a sério
o que o poeta diz, pois todo o seu mistério
é somente escrito a giz.
Raphaela Blat
Olho os céus com um sabor amargo nos lábios
que outrora tocaste com tanto querer.
Disseste: espera-me
e foi o único gesto que tive desde então: esperar.
Primaveras sucederam a primaveras.
Nasceram folhas e flores, amadureceram os frutos.
Cresceram cidades movediças, nasceu a cegueira.
Instalou-se a ferrugem no coração dos homens.
Dedos de velha, toque de moça.
O meu corpo envelheceu, mas eu suspendi o tempo da alma
[nesta espera].
Raphaela Blat
foto de António Manuel Pinto da Silva
Abro a janela e encaro a luz do sol,
inquisidor de fogo. Tanto calor, mas
não me aquece a alma nem o coração,
esse continua de tons frios, sem a vivacidade de outrora.
Pego num fio de algodão, faço uma nuvem
e colo-a no céu, tapando o sol.
Suspiro. Agora já não pode mostrar-me
as flores que não quero ver,
as cores que não quero ter.
Mas é fina a nuvem ainda, tão translúcida.
Encho-a, então, de mágoa e torno-a bem cinzenta.
Todos os seres sabem que as
manhãs cinzentas aprisionam a alma.
Fico. É agora impossível ao sol iluminar
o mais pequeno pedaço de algo.
Assim estou protegida, penso. Vedei o caminho.
Mas uma brisa do mar, daquele mar que venero,
vem e afasta esta nuvem que fiz.
Escondo-me ao vislumbrar o sol
com a sua luz tão viva, mas tomo coragem,
inspiro esta brisa e beijo o amanhecer com o olhar.
Raphaela Blat
Não me encontras.
Não sabes da flor de outrora,
do jardim que criaste para mim.
Perdeste os sorrisos feitos das asas da borboleta
e os olhares líquidos de azul e cinza.
O que perdeste ficou trancado a sete chaves,
como dizem nas histórias,
pois eu não sou o que alcanças quando
enxergas da janela o horizonte.
O que vês são gotas salgadas e não o mar.
O que vês são riscos no céu e não o céu estrelado.
Raphaela Blat
Hoje escutei palavras. Sempre escuto.
Mas hoje escutei palavras.
Escutei-as com a alma.
Escutei-as com os olhos.
Escutei-as com o coração.
Hoje escutei palavras.
Não eram da cor da noite,
nem murchavam a flor do meu jardim.
Não eram frias como o inverno,
nem inconsequentes como crianças.
Eram um sussuro feiticeiro, um sorriso de paz.
Eram uma voz de bem querer
com um sabor a mirtilos acabados de colher.
E os olhares perderam-se nas palavras sem som.
E na despedida, as mãos se encontraram,
agradecendo o conforto dos olhares,
as almas se abraçaram
e parti.
Raphaela Blat
Então não é que o meu blog fez um anito e eu não reparei.
Foi um começo em que nem sabia bem o que queria fazer, só sabia que queria fazer algo. Comecei por escrever, de mãos trémulas, porque poucas coisas produtivas ainda tinha feito. As letras foram saindo, de início tão frágeis, mas depois de palavras carinhosas que encontraram do outro lado, de abraços invisíveis, ganharam coragem e foram-se fortalecendo.
Hoje a isa xana, Marisa no mundo físico, Raphaela Blat nos poemas, está tão orgulhosa do que contruiu como dos amigos que fez.
Este blog nasceu e cresceu e tornou-se algo que me fez sorrir a cada dia.
Nunca antes tinha escrito poesia assim.
Senti-me tão satisfeita a primeira vez que fui ao ICAG entregar poesias, registá-las, dizer a mim mesma: "Fizeste algo, Marisa. Isto é teu e, mesmo que ninguém goste, é teu e tu orgulhas-te disso e isso é que importa. Brotou de ti algo."
Cada pessoa que conheci fez-me tão bem. Vocês acolheram-me, meus amigos, meus amigos sim, porque não?:)
E mesmo que a ausência pese por vezes, o meu lápis e papel estão sempre aqui e ficarão sempre aqui e serão sempre aqui.
Obrigada por tudo. Beijos esvoaçantes desta borboleta:)
Liberdade
Aqui me encontro.
Aqui as cores do céu são a minha pele.
Aqui a água é meu corpo, a terra meus cabelos.
Aqui tudo e nada sou em doses bem medidas.
Aqui todos me sentem, mas ninguém me toca.
Aqui sou a imortalidade do tempo passado,
um rasgo de luz no céu estrelado.
Aqui, só aqui.
E neste espaço infinito, um querer
que se esconde nos beijos guardados,
que me afoga e me devolve à vida,
um querer que vejo em teus olhos
me rouba de mim e me entrega no mesmo instante,
pinta carmim no meu coração,
um carmim intenso, imenso em cada batimento.
Aqui me quedo,
pois és um bálsamo para os venenos do mundo
e o teu amor é o mágico que tenho na alma
e me oferece o bem maior,
a liberdade.
Estou aqui. Sou aqui.
Raphaela Blat
Coloco este poema novamente por achar que se enquandra bem neste meu post.
Deste-me o veneno de te bem querer.
Veneno sim,
porque se almejo não querer-te,
esse desejo se desvanece ao sentir-te
tocando a minha alma a cada amanhecer.
Os meus braços amputados ficam
quando ouso abrir a porta e partir.
Ou então é ela, a porta, sabida,
que se tranca e se ri do meu querer.
É ela, minha desdita,
que torna o meu corpo fraco, o meu espírito leve.
É ela este veneno que me aprisiona e me liberta.
Como ouso querer não querer-te?
Como ouso amar não amar-te?
É como
desejar viver e morrer no mesmo instante,
desejar o sol e a noite num só.
Raphaela Blat
A chuva bravejava na cidade que não dormia. A noite nada mais era que um sinal do estado das vidas, da escuridão da alma das pessoas que ali habitavam. Cidade dos homens, cidade da noite, cidade do negro, cidade da pedra. Pedra, sim, que com tanto sofrimento o seu coração era pedra já. De quando em vez um sorriso, tão pequeno tão sem luz, que logo se apagava do rosto com um pedido de desculpa sem som. Os olhos estavam cegos, estavam mudos. O sentimento vinha de cada tijolo que compunha a cidade, de cada flor velha, de cada cruzar de corpos. A tristeza era intrínseca às pessoas, era o seu âmago. Era um mal-estar geral que conduzia à indiferença, que levava ao nada. Não havia a viva vida de outros tempos. O mundo mudara, ou se não mudara o mundo, mudaram elas, as pessoas. Não existia amor, em todas as suas formas. Não existia a vida. Tudo comido, deglutido e tranformado em nada.
Os pensamentos eram parcos e já de si sobejos para o espírito daquela gente. E elas não sabiam e pareciam pouco interessados em saber onde tudo tivera início, onde o seu caminho começara a ser trilhado por veios escarpados e sofridos.
Os sorrisos, minha gente, onde pairam os sorrisos? Mais que o sorriso dos lábios é o sorriso dos olhos que almejo. Ai, o olhar tem o mais belo sorriso que alguma vez enxerguei. Voltem para o outro caminho, desejo. Voltem.
Quero o sorriso dos olhos.
Desculpem a ausência. Beijos esvoaçantes:)
gosto de vocês. gosto dos sorrisos que não vejo, das lágrimas que não sinto. gosto das palavras doces e até das amargas feitas de chocolate. gosto do sentimento que nasce em mim por estar convosco. gosto de estar aqui. gosto de ser aqui. gosto de vos ler aqui. gosto deste espaço que é meu e vosso e que sem vocês estaria murcho, morto. gosto da partilha, da amizade que nasce entre palavras, entre imagens, entre sons, da amizade sem corpo, só alma. gosto dos beijos deixados, dos abraços tão apertados que quase me sufocam sem mesmo em tocarem.
gosto de gostar.
«amanhecia um dia de verão na pequena e úmida belém do pará cravada na beira do rio. mas o que importava não era o sol ou o azul do céu ou as mães carinhosas levando seus bebês ao passeio matinal. nem o cata-vento nas minhas mãos de infância que não tenho mais. eu só tinha olhos pra menina que comia estelas-cadentes e despertava girassóis pra me salvar da dor.» douglas d.
Ando ausente, bem sei. Não é por querer, arranjei trabalho por uns dias e tive que aproveitar. Vir para a universidade acarreta muitos gastos. Gosto muito da minha residência :) Desde que para lá fui foram todos muito queridos comigo. Metem-se comigo e, chamando-me caloira carinhosamente, apresentam-se. Da universidade já não gosto tanto, estou a dar coisas que não acho importantes e que são muito valorizadas, como por exemplo matematica. Sempre gostei de matemática, mas agora nem a posso ver à frente. A maior parte das pessoas do meu curso não têm matemática há uns anos, estamos enferrujados e apresentam-nos coisas complicadérrimas que nunca ouvimos falar. Estou em Comunicação Social!!! Concordo que tenha que ter algumas noções para fazer estatísticas e assim, mas é sobejamente mais importante ter uma disciplina de linguística ou algo que treine a minha escrita porque a escrita da imprensa não é como escrever uma história. Mas isto digo eu, não quem delineou o curso. Bem, deixando para traz os meus pensamentos, deixo-vos um grande beijo de saudade.