Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











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terça-feira, maio 03, 2011


http://letrasdeferro.blogspot.com/2011/05/intervencao-de-carlos-narciso-na.html

quarta-feira, janeiro 13, 2010

enviem livros para Timor

pedido chegado por email:


"Caros amigos,
Alguns sabem e outros nem por isso (e assim aqui vai a notícia) mas estou em Timor a dar aulas na UNTL (Universidade Nacional de TimorLeste) no âmbito de uma colaboração com a ESE do Porto. Aquilo que vos venho pedir é o seguinte: livros. Não vou dar a grande conversa que é para montar uma biblioteca ou seja o que for, porque não é. O que se passa é o seguinte... não sei muito bem como funcionam as instituições, nem fui mandatada para angariar seja o que for, mas o que é certo é que sou (somos!) muitas vezes abordados na rua por pessoas que desejariam aprender português mas não possuem um livro sequer e vão pedindo, o que é mto bom. O que é certo é que a minha biblioteca pessoal não suportaria tanta pressão e nem eu, nos míseros 50 quilos a que tive direito na viagem, pude trazer grande coisa para além dos livros de trabalho de que necessito.
COMO MANDAR? Basta dirigirem-se aos correios (CTT) e mandarem uma encomenda tarifa económica para Timor (insistam porque nem todos os funcionários conhecem este tarifário!) e mandam a coisa por 2,49 €. Claro que a encomenda não pode exceder os 2 quilos para poder ser enviada por este preço. Devem enviar as encomendas em meu nome (Joana Alves dos Santos) para: Embaixada de Portugal em Díli, Av. Presidente Nicolau Lobato, Edifício ACAIT, Díli - TIMOR LESTE
E O QUE MANDAR? Mandem por favor livros de ficção, romances, novela, ensaio, livros infantis etc, etc. Evitem gramáticas e manuais escolares. Dicionários, mesmo que um pouquinho desatualizados são bem vindos. Este critério é meu e explico porquê. Alguns timorenses (estudantes e não só) são um bocado fixados em aprender gramática mas ainda não têm os skills básicos de comunicação. Parece-me melhor ideia que possam ler outras coisas, deixar-se apaixonar um bocadinho pelas histórias mesmo que não entendam as palavras todas, do que andarem feitos tolinhos a marrar manuais e gramáticas. O caso dos dicionários é outro. Um aluno, por exemplo, usa um dicionário português-inglês para tentar adivinhar o significado das palavras. Como o inglês dele tb não é grande charuto imaginam como é a coisa.
Bom, espero ter vendido bem o peixe do povo timorense. Falam pouco e mal mas na sua grande maioria manifesta simpatia pela língua portuguesa. De qualquer forma isto não vai lá (muito sinceramente) com umas largas dezenas de professores portugueses por cá. É preciso ter a língua a circular em vários meios e suportes. Espero que respondam ao meu apelo!! Eu por cá andarei sempre com um livrito na carteira para alguém que peça!
beijos grandes

j."

terça-feira, novembro 17, 2009

Do meu blog preferido





Não deixem que se torne em mais um livro clandestino. Comprem-no. Leiam-no. É a história da Isabela.

sábado, outubro 10, 2009

Livro escondido


mensagem elecrónica de um amigo:


Caros,

Tentei comprar o livro "Um país sob escuta" de A. Garcia Pereira, na FNAC do Allegro (Alfragide) e pasmei... não tinham. Pior, o livro não consta sequer na base de dados da FNAC.Foi necessário convidar o funcionário a fazer uma pesquisa online para lhe provar que o livro existe mesmo... e com aquele nome. Não se trata de um engano meu.

Cumprimentos,

JS

sexta-feira, outubro 09, 2009

Acasos da História


Os desígnios da política são insondáveis, cada vez menos podemos acreditar na aparência dos actos que os políticos praticam.
O meu camarada José Milhazes, correspondente da Agência Lusa em Moscovo, acaba de publicar (saiu hoje mesmo, mas o lançamento não foi notícia num único jornal...) um livro baseado numa investigação que fez aos arquivos da extinta URSS.
Descobriu Milhazes que, nos anos 60, Nikita Krutschev, secretário-geral do Partido Comunista soviético, decide reconhecer Holden Roberto e a FNLA como representantes do povo angolano na luta anti-colonial e que foi Álvaro Cunhal a conseguir, in extremis, emendar a mão de Nikita e levá-lo a proclamar Agostinho Neto como aliado preferencial. Um esforço bem sucedido e que veio a ter consequência na História africana. Ou como as coisas mais extraordinárias acontecem sem que os próprios intervenientes tenham verdadeira consciência disso..

quinta-feira, maio 31, 2007

Arquivos da Humanidade

Há um livro, recentemente editado, que deveria ser de leitura obrigatória para todos. Todos, sem excepção. Cada página desse livro é uma lição de coragem e desassombro.
Comprei-o agora e ainda nem o li. Mas fiz a experiência de o abrir à toa, aleatoriamente. Na página 282, por exemplo, li o seguinte:

“Ao que acabo de referir sobre a situação tão precária dos Direitos Humanos para boa parte da população mundial, como se já não bastasse, temos de acrescentar, como factor particularmente nefasto para a situação actual dos Direitos Humanos no mundo, a vigente, perversa e espúria tendência, assumida às claras, de se substituir a força do Direito pelo direito da força que gera, ipso facto, como corolário imediato e infelizmente amiúde observado, o surgimento de caldos políticos incentivadores ou permissivos à tortura com comportamentos particularmente desumanos, cínicos e hipócritas que importa desde já estigmatizar e arquivar na nossa memória colectiva a fim de que não possam ser negados amanhã por aqueles que os estimularam, defenderam e praticaram recorrendo a todo o tipo de manipulações, mentiras e demagogias fossem eles governantes, políticos, “pensadores”, analistas, jornalistas, polícias ou militares… Dispondo de arquivos, a sociedade humana democrática poderá confrontá-los, assim o entenda, com as suas atitudes passadas.”

O autor de “Gritos contra a Indiferença” é Fernando Nobre, presidente da AMI, uma daquelas pessoas de quem eu gostaria de ter oportunidade de ser amigo e não apenas conhecido.


quarta-feira, maio 23, 2007

Pormenores

Quem leu o livro de Alcides Sakala, “Memórias de um Guerrilheiro”, sabe como foram dramáticos os últimos meses da resistência armada da UNITA, que só terminou com a morte de Savimbi.
No livro, percebe-se que Savimbi fintou a morte mais do que uma vez, ao longo desses últimos meses, jogando ao gato e ao rato com as forças inimigas que o perseguiam. Mas o cerco apertava-se a cada dia que passava, como se o exército governamental soubesse onde Savimbi andava. Há várias teorias sobre isso. Uns dizem que os satélites militares americanos espiavam a marcha da coluna de Savimbi, dando indicações sobre a sua localização ao governo angolano. Outros dizem que o dirigente da UNITA foi localizado pelos americanos, sim, mas através do sinal do telefone satélite que era frequentemente utilizado para contactos com membros e aliados da UNITA no exterior de Angola. Provavelmente, as duas teorias estão certas e os EUA utilizaram toda a tecnologia disponível para ajudar Luanda a vencer aquela guerra. O que é certo é que, de facto, Savimbi tinha pelo menos um telefone satélite. Do meu espólio desses tempos de brasa em Angola, mostro-vos a folha do meu bloco onde está anotado o número desse telefone satélite: 00871382082111.

sábado, março 31, 2007

Tempo de catanas e kalashnikovs





É jornalismo do melhor que há. Não sei se o livro está à venda por cá. Comprei-o em Nairobi, já lá vão uns anitos. Precisei, agora, de o reler.

Eu e Scott Peterson andámos pelos mesmos sítios, na mesma altura. Ele teve o talento de escrever este livro. Eu tenho a sorte de o poder ler.
Foi uma oportunidade para me arrepiar de novo, como dantes.


Me Against My Brother, at war in Somalia, Sudan and Rwanda, Scott Peterson, Routledge, New York.

ISBN 0-415-92198-8

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Ryszard Kapuscinski, "o africano"

Ao ouvir a rádio, esta manhã, quando distribuía os meus filhos pelas escolas, ouvi a notícia da morte de Kapuscinski, um estranho polaco que contou África como poucos.
Ryszard Kapuscinski escreveu coisas espantosas sobre os africanos, durante décadas. Correu o continente de lés a lés, sempre atrás das revoluções, golpes de estado e guerras sem fim. Escrevia notícias e escrevia livros.

Os relatos de Kapuscinski levaram-me para o jornalismo e, talvez, para África. A notícia da sua morte só podia recebê-la de outro africano, realmente. Todos nós, africanos, acabamos de perder alguém que admirávamos.
Durante décadas, Kapuscinski escreveu sobre o que viu e sentiu: a exaltação das independências africanas, a esperança no futuro, as desilusões, a amargura das guerras, o tribalismo e o racismo de que os africanos são vítimas e prevaricadores.


Contava histórias de gente simples, do quotidiano das aldeias, de “uma África que não existe”, tal como ele disse.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Edmundo Pedro


Ontem estive na apresentação do livro de Edmundo Pedro, o primeiro volume da biografia de uma vida exaltante. Fui levado pela mão de amigos que conhecem o Edmundo de há muito.
Vou ler este testemunho de alguém que sempre teimou em ser cidadão inteiro.
Acho que vou aprender muito.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Leopoldo, o Indigno

“The river where he had landed would be known by Europeans for most of the next five hundred years as the Congo”, assim começa, na prática, uma história horrível relatada no livro que agora estou a ler. Uma história com início em 1492, com a chegada de Diogo Cão à foz desse imenso rio.
É um livro sobre um homem e os povos que ele dominou. O homem é o Rei Leopoldo II da Bélgica, por muitos ainda hoje considerado um grande humanista, filantropo, protector da ciência e da dignidade humana. Nunca um só homem beneficiou de uma mentira tão grande. E é isso que este livro desmascara. Um homem que vitimou os povos que viviam no imenso território que ele, no alto da sua imensa arrogância, reclamou para si próprio: o Congo.
A colonização belga do Congo vitimou 8 a 10 milhões de seres humanos. Foi um genocídio à dimensão do holocausto e, no entanto, não se fala dele. Ainda hoje, o silêncio impera sobre o que sucedeu no Congo nos últimos anos do século XIX. Ainda hoje, quem for a Tervuren, nos arredores de Bruxelas, pode continuar a ser enganado ao visitar o Museu da África Central com que Leopoldo II maravilhou o Mundo com os leões empalhados, as cabeças de gorilas e as peles de crocodilos que as expedições belgas traziam de África. Mas Leopoldo esqueceu-se de dizer que tinha outros troféus: mãos e pés decepados de seres humanos que ousavam desafiar a ordem instituída. Mãos e pés decepados aos milhares. Um sofrimento difícil de descrever, mas que vem contado neste livro de que vos falo: O Fantasma do rei Leopoldo. Existe uma tradução em português, da Caminho, mas preferi comprar a versão inglesa, a original.
A primeira vez que ouvi falar nestes relatos foi, precisamente, no Congo e, em rigor, num dos locais onde esse terror foi vivido: na província Equatoriale, no norte do país.
Foi durante a expedição científica organizada por Karl Ammann e que seguiu as pisadas de uma dessas expedições coloniais belgas do século XIX, no caso a liderada pelo explorador Le Marinel, mas disso já vos falei aqui. Foi num fim de tarde, no acampamento, que Ammann me falou deste livro. Desde então que estava para o ler. Foi agora.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Mercenários

O José Milhazes publicou, no seu blog, uma história onde fala da presença de militares soviéticos a combater ao lado das tropas governamentais angolanas durante a guerra civil. Milhazes resume um livro que leu (e que eu adorava ler, também) intitulado “Tropas Especiais Russas em África” e menciona a participação de conselheiros militares soviéticos nos combates em Cuito Cuanavale, a “Estanilegrado angolana”.
De todas as vezes que andei por Angola confesso que nunca vi nenhum soldado soviético em combate. No entanto, vi vestígios e ouvi vários testemunhos relativos à presença deles. Depois da queda do muro e da desintegração da URSS, houve até russos e ucranianos que foram contratados para combater ao lado da UNITA. Em 1999, na derradeira ofensiva de Savimbi contra a capital do Bié, a cidade do Cuito, os blindados da UNITA eram pilotados por brancos eslavos de nacionalidade incerta. Alguns morreram na batalha de Kunge, no planalto sobranceiro ao Cuito. Estive lá, vi os blindados destruídos, vi as campas onde os brancos foram enterrados e vi os restos das fardas que vestiam. E falei com quem os matou, simples soldados rasos, tipos sem manhas políticas nem qualquer interesse aparente em contar histórias aldrabadas.
Curiosamente, no livro de Alcides Sakala (que já referi aqui), “Memórias de Um Guerrilheiro”, não vi nenhuma menção à presença de mercenários russos nas hostes da UNITA. Nem todas as verdades são para serem reveladas… sabe-se lá porquê. Sakala menciona várias vezes a participação de pilotos brasileiros nos bombardeamentos a populações afectas à UNITA, mas nunca mencionou a presença de russos combatentes.
Em 1998, conheci outros conselheiros militares que participaram activamente na guerra como combatentes, mas eram portugueses. Sim, militares portugueses enviados para Angola em missões de cooperação, supostamente para instrução militar, participaram muito activamente na guerra. Não vou referir nomes, por questões óbvias. Não seria bom para mim, nem para esses homens. Mas, pelo menos, posso dizer que eram oficiais, tenentes, capitães e majores, do (à época, extinto) Regimento de Comandos, que não se limitavam a treinar a tropa especial angolana. Esses militares portugueses tinham um estatuto especial, nitidamente. Andavam sempre de camuflado, tinham sempre uma kalashnikov debaixo do banco do carro, conduziam veículos do exército angolano e nunca eram mandados parar pela polícia.
Uma noite, um desses capitães deixou-nos um recado. Tínhamos um jantar combinado, mas ele teve de se ausentar repentinamente. Quando voltasse telefonaria. Telefonou 6 dias depois. Sobre o que tinha andado a fazer ou onde tinha ido, pediu-nos para não lhe fazermos perguntas, porque ele nada nos poderia dizer. Pareceu-me bastante cansado e stressado.

terça-feira, dezembro 12, 2006

A Partilha do Indivisível

Com a caixa de correio electrónico inundada de pedidos de explicações e, também, devido à minha própria surpresa, tratei de saber o que se passava com “A Partilha do Indivisível”, o livro que vos recomendo muito para oferecerem este Natal.
Pois, nem imaginava que a história fosse tão complicada…


A distribuição foi contratada com uma distribuidora que, na prática, monopoliza o mercado. É a que distribui livros para os supermercados e que, a pouco e pouco, tem vindo a tomar conta do mercado, devido à desistência da concorrência. É uma técnica velha do capitalismo: fazer dumping para, depois, quando já só houver cadáveres à volta, ficar rei e senhor do território. Na distribuição de livros, parece que é o que está a acontecer. Bom, acontece que essa empresa considerou que o livro estava muito barato, demasiado barato, o que desvalorizava os seus outros produtos (leia-se livros) e, assim, resolveu “esquecer-se” do nosso livro no armazém.
Esta atitude prova duas coisas: primeiro, que os livros só não são mais baratos porque as distribuidoras não deixam; segundo, que os livros não são olhados como veículos culturais mas, sim, como pacotes de manteiga.
Assim, depois de muitas vicissitudes e tentativas de ultrapassar este monopólio instaurado, o livro chegou, só agora, à rede de distribuição da FNAC. Deve ser posto à venda no próximo fim-de-semana.
Até lá, quem quiser comprá-lo, tem de se dirigir à Rua da Palma, ao Arquivo Fotográfico Municipal, onde está patente a exposição de fotografias que integram o livro. Lá há livros disponíveis.
Só mais um pormenor: imaginem que a ACEP (a ONG que editou a obra) está à procura de alguém que queira patrocinar a oferta de um livro para cada uma das 154 bibliotecas municipais existentes em Portugal. Para este fim, a ACEP disponibiliza cada exemplar de “A Partilha do Indivisível” a 9 €… são… (deixa cá fazer as contas…) 1.386 € (mil trezentos e oitenta e seis euros) e está difícil encontrar um mecenas… que país miserável!


sexta-feira, novembro 24, 2006

Nas melhores livrarias do país

A Partilha do Indivisível está à venda a partir de hoje. É um livro de fotografias de dois repórteres, um moçambicano e outro cabo-verdeano. Tem oito textos, também. O sexto, sobre a pandemia da Sida, foi escrito por mim.


O livro dá uma excelente prenda de natal. É um bocado como comprar aqueles cartões da UNICEF. Só que aqui ajudamos a ACEP - Associação para a Cooperação Entre os Povos, uma ONG portuguesa dedicada à educação para o desenvolvimento.
Para mim, é o primeiro sucedâneo deste blog... parte do texto foi aqui escrito primeiro.

sábado, novembro 18, 2006

Os armazéns de marfim e a espiral da História

O reino do Benim era rico. Dizia-se que esse rei tinha armazéns cheios de dentes de marfim e pepitas de ouro. Além disso, para controlarem completamente o comércio no Golfo da Guiné, os cônsules ingleses exigiam que o reino fosse conquistado. Os ingleses estavam fortificados na foz do rio Benim. Mas o interior do território era controlado pelos negros.
Em Fevereiro de 1897, foi feito o ataque. Os ingleses conquistaram a cidade, pilharam-na e incendiaram-na. Nunca chegou a averiguar-se quantos habitantes de Benim foram mortos pelas tropas britânicas. O que veio nos jornais ingleses da época foram os relatos dos bárbaros sacrifícios humanos praticados por aqueles selvagens. A acreditar nesses relatos, nunca algum habitante do Benim teria morrido de causas naturais… de modo que, o ataque, a invasão e o extermínio levados a efeito pelos ingleses acabaram por ser justificados pela necessidade de salvar, pela civilização, as pessoas do Benim sujeitas a hábitos tão incivilizados.
Esta e muitas outras histórias relativas à colonização de África podem ser lidas em “Exterminem Todas as Bestas”, livro escrito por Sven Lindqvist, um viajante sueco que escreve sobre as terras por onde passa. E já escreveu mais de 30 livros…
Agora, transponham esta história que acabo de relatar para a actualidade. Uma outra potência invade um estado bastante mais fraco, sob o pretexto de ir livrar a população da opressão exercida pelos dirigentes políticos locais. Tudo acaba numa chacina inútil, em que ninguém se dá ao trabalho de contar as dezenas de milhar de mortos de um lado, mas sabe-se com exactidão que já morreram 2.263 marines do outro lado. Tudo isto, finalmente, apenas para controlar os “armazéns de marfim”…

sexta-feira, novembro 10, 2006

As coisas que um homem lê

Dedicado à memória de todas as 150 milhões de mulheres que já foram mutiladas.
É um livro obrigatório. Uma reportagem de investigação exemplar.
Escrito com serenidade, apesar de tudo.


É um livro que mete raiva.

terça-feira, outubro 24, 2006

Memórias de um guerrilheiro

“Memórias de um guerrilheiro” é um livro espantoso. Não pela qualidade literária, que realmente não tem, mas pelo testemunho que dá dos últimos anos da vida de Savimbi.
O livro é um diário de Alcides Sakala, que começa em Dezembro de 1998 e termina uns dias depois da morte de Savimbi, em Março de 2002.

É o diário de uma viagem alucinante pelo centro e leste de Angola, grande parte feita a pé, de armas na mão, tentando evitar o inevitável: a derrota militar e a morte do líder da UNITA.
Inevitável porque Savimbi não percebeu que o mundo tinha mudado depois da desagregação da URSS. Savimbi parece ter acreditado que os aliados da UNITA jamais o atraiçoariam e não entendeu que seriam os amigos de ontem a espetar-lhe a faca nas costas. Ele, Savimbi, que consumia as biografias de todos os grandes estrategas e líderes mundiais, não foi capaz de prever o mais óbvio: que em política a traição se legitima pelos resultados que obtém.
Segundo Alcides Sakala, Savimbi foi atraiçoado por alguém que lhe era muito próximo e em quem ele confiava. O relato lança algumas pistas, mas não concretiza qualquer acusação. No final de contas, o traidor poderá ter sido o próprio autor, ou outro qualquer derrotado pela fome e por sacrifícios inimagináveis que este livro relata muito bem.


O livro trata alguns acontecimentos que testemunhei. Em 1998 passei o último semestre em Angola e, portanto, o diário de Sakala inicia-se quando eu ainda lá estava. Posso dizer, por isso, que este livro fala verdade. Talvez não, num ou noutro pormenor, ou quando toca as crenças mais profundas do autor, porque a fé tem muito pouco que ver com a verdade dos factos. Para já, apenas quero dizer que também penso que a opção militarista foi tomada, realmente, pelo governo de Angola. Foi de José Eduardo dos Santos e do seu círculo político-militar a responsabilidade pelo reacender da guerra. Isso foi dito, preto no branco, em Luanda, por vários ministros e chefes militares. Em 1998 não foi a UNITA a primeira a disparar, tal como julgo que não tinha sido em 1992, nos confrontos que inviabilizaram a 2ªvolta das eleições presidenciais e que resultaram no massacre de muitos quadros políticos da UNITA.

quinta-feira, outubro 05, 2006

Um tipo diz que o Papa João Paulo I foi assassinado. E escreveu um livro.

O livro foi apresentado hoje, na FNAC do Colombo. Não teve muita gente, o autor deve ter assinado uma dúzia de exemplares, por aí. Assinou o meu. Para um livro que está a vender como pãezinhos quentes (nº2 no ranking da FNAC), achei meio estranho. Talvez a editora Saída de Emergência (também desconhecia…) não se tenha aplicado o bastante na divulgação do evento…

Agora, talvez queiram saber porque falo neste livro… primeiro, porque acho extraordinário que este livro, que é apresentado como obra de ficção, chame todos os bois pelo nome próprio. Isto é, Albino Luciani é o Papa João Paulo I, Paul Marcinkus é o arcebispo norte-americano que dirigia o Banco do Vaticano, Roberto Calvi é o banqueiro italiano conhecido como o “Banqueiro de Deus” e que foi encontrado enforcado debaixo de uma ponte em Londres, depois da morte do Papa, Lúcia dos Santos é a “nossa” irmã Lúcia, entre outros personagens que participam na história.
Este livro, portanto, antes de tudo o mais, é um acto de coragem. Depois, porque me apetece. Vou ler o livro e depois vos direi o que penso da trama.

quarta-feira, setembro 06, 2006

Luanda revisitada, os roboteiros

" …o carpinteiro se comprometia a fazer um cangulo de madeira, para ele se tornar roboteiro. O mais difícil podia ser arranjar a roda… (…)… o serviço de roboteiro, sempre dependente da clientela precisando de transportar produtos ou compras pesadas e sem dinheiro para alugar uma carrinha."

Pepetela, Predadores, p.329

É o trabalho possível para a casta dos intocáveis de Angola, os mais pobres entre os pobres. Em Luanda, só se encontram nos bairros pobres porque, nos outros, la bourgeoisie tem criadagem própria e jeeps para ir às compras. A última moda no que respeita aos todo-o-terreno é o trambolho dos Hummer, um carro de combate que o exército americano amaricou para vender a bimbos endinheirados. Luanda deve ser a cidade com mais Hummer por metro quadrado em toda a África, quiçá no Mundo.Os cangulos, esses, são todos iguais. De madeira e pesados. Os roboteiros (não descobri porque lhes chamam assim…) trabalham sem horário e só param quando não têm mais clientes. Estes homens (nunca vi uma mulher roboteira) passam o dia a empurrar os cangulos, sempre por pouco dinheiro. Não vale a pena aumentar a tarifa, porque a clientela não tem mesmo como pagar mais… além de que a concorrência existente nesta actividade impossibilita que os preços subam. É que há sempre alguém disposto a fazer o frete por menos uns kuanzas. É a perfeição do sistema capitalista, da lei da oferta e procura. Irónico, não é?

segunda-feira, setembro 04, 2006

Luanda revisitada, a zungaria

… tinha medo, sim, quando os via a cobiçar algum aparelho que ele mostrava aos possíveis compradores que passavam nos carros. Já tinha sido penteado duas vezes por polícias, de uma vez perdeu uma ventoinha portátil, a pilhas, e de outra vez foi um rádio… (…)… aliás, quando os caíngas apareciam na banda logo um miúdo gritava pente, pente. Era a debandada, cada um para seu lado, para não serem penteados das coisas que serviam de seu sustento. Depois como podiam comprar outras para revender? Perder o capital era dramático, situação só possível de resolver roubando alguma coisa, o que não só era difícil como perigoso.

Pepetela, Predadores, pp.246 e 247


Mas acontece com muita frequência, podem crer. Estive na cidade apenas duas semanas e vi isso acontecer mais do que uma vez. Isto é, vi aquela malta a fugir da polícia com a tralha às costas, uma vez no bairro Azul, outra na estrada que atravessa o bairro da Koreia. E se fugiam, por alguma coisa seria…
A verdade é que, em Luanda, há centenas de milhar de pessoas que não têm outro modo de vida, senão o de zungar pela cidade à procura de quem lhes compre alguma coisa. E, podem crer, vende-se de tudo na zungaria…Os zungeiros compram os produtos nos armazéns dos chineses, a preços muito baixos, e procuram revender, depois, pelas ruas, procurando um mínimo de margem de lucro, apenas o suficiente para comer naquele dia e, no dia seguinte, voltar a comprar outra traquitana qualquer para revenderem de novo. Quem tem a sorte de morar à beira de uma rua mais movimentada, monta banca mesmo na porta de casa.
Também há quem invada o espaço público para erguer mais uma barraca, encostada a um muro qualquer, para montar negócio com uma prestação de serviço de bastante procura. Na foto que vos mostro, trata-se de um barbeiro, mas vi cabeleireiros de senhoras, lojas de mercearia, oficinas de automóveis…É assim, um dia de cada vez…

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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